•
Eeefm Doutor Francisco De Albuquerque Montenegro
Libere conteúdos
sem pagar
Ajude estudantes
Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.
Libere conteúdos
sem pagar
Ajude estudantes
Libere conteúdos
sem pagar
Ajude estudantes
Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.
Libere conteúdos
sem pagar
Ajude estudantes
Libere conteúdos
sem pagar
Ajude estudantes
Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.
Libere conteúdos
sem pagar
Ajude estudantes
Libere conteúdos
sem pagar
Ajude estudantes
Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.
Libere conteúdos
sem pagar
Ajude estudantes
Libere conteúdos
sem pagar
Ajude estudantes
Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.
Libere conteúdos
sem pagar
Ajude estudantes
Prévia do material em texto
<p>Psicologia do Esporte e do Exercício: Modelos Teóricos,</p><p>Pesquisa e Intervenção</p><p>P��������� �� E������ � ��</p><p>E��������: M������ T�������,</p><p>P������� � I����������</p><p>Organização</p><p>E���� C����</p><p>A������ F���������</p><p>L������ A�����</p><p>A������ P������</p><p>C��������� C�������</p><p>�974</p><p>Copyright © 2019 Organizadores</p><p>Psicologia do esporte e do exercício © Editora Pasavento</p><p>Editores</p><p>Marcelo Nocelli</p><p>Rennan Martens</p><p>Revisão</p><p>Natália Souza</p><p>Design e editoração eletrônica</p><p>Negrito Produção Editorial</p><p>Produção de ebook</p><p>S2 Books</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (���)</p><p>Bibliotecária Juliana Farias Motta (��� 7/5880)</p><p>Psicologia do esporte e do exercício: modelos teóricos, pesquisa e intervenção / Organização Erick Conde... [et al.]. –</p><p>São Paulo: Pasavento, 2019.</p><p>416 p.; 16 × 23 cm.</p><p>���� 978-85-68222-42-3</p><p>Outros autores: Alberto Filgueiras, Luciana Angelo, Adriana Pereira, Cristianne Carvalho</p><p>1. Esportes – Aspectos psicológicos. 2. Autorrealização. 3. Sucesso. �. Filgueiras, Alberto. ��. Angelo, Luciana. ���.</p><p>Pereira, Adriana. ��. Carvalho, Cristianne. �. Título: Modelos teóricos, pesquisa e intervençã.</p><p>��� 158.1</p><p>Índices para catálogo sistemático:</p><p>1. Esportes – Aspectos psicológicos</p><p>2. Autorrealização</p><p>3. Sucesso</p><p>Todos os direitos desta edição reservados à:</p><p>E������ P��������</p><p>www.pasavento.com.br</p><p>http://www.s2books.com.br/</p><p>http://www.pasavento.com.br/</p><p>Sumário</p><p>Capa</p><p>Folha de rosto</p><p>Créditos</p><p>Prefácio. Por Katia Rubio</p><p>Unidade I. Conhecendo a Psicologia do Esporte e do</p><p>Exercício</p><p>Capítulo 1. A psicologia como ciência do esporte e do</p><p>exercício no Brasil - Por Cristianne Almeida Carvalho</p><p>Capítulo 2. Perspectivas históricas e sociais - Por Adriana</p><p>Bernardes Pereira</p><p>Capítulo 3. Campos de atuação - Por Luciana Angelo e</p><p>Franco Noce</p><p>Capítulo 4. Aspectos biopsicossociais no contexto da</p><p>iniciação esportiva e do desenvolvimento infantil - Por</p><p>Adriana Lacerda e Caroline Muniz</p><p>Unidade II. Modelos de Estudo e Aplicação</p><p>Capítulo 5. Abordagens qualitativas em psicologia do</p><p>esporte - Por Juliana A. de Oliveira Camilo</p><p>Capítulo 6. Abordagens quantitativas em psicologia do</p><p>esporte - Por Gislane F. de Melo e Alberto Filgueiras</p><p>kindle:embed:0002?mime=image/jpg</p><p>Capítulo 7. Treinamento de competências psicológicas:</p><p>planejamento e periodização - Por Maurício Pinto Marques</p><p>e Marisa Markunas</p><p>Capítulo 8. Modelos de atuação multidisciplinar e</p><p>interdisciplinar em Psicologia do Esporte e do exercício -</p><p>Por Andréa Duarte Pesca e Roberto Moraes Cruz</p><p>Capítulo 9. Modelos de atuação com base tecnológica em</p><p>psicologia do esporte - Por Erick Conde e Juliana</p><p>Rodrigues</p><p>Unidade III. Abordagens Teóricas</p><p>Capítulo 10. O que faz um psicanalista no esporte? Por</p><p>Clarice Medeiros</p><p>Capítulo 11. Abordagem centrada na pessoa na prática da</p><p>psicologia do esporte - Por Maíra Ruas Justo</p><p>Capítulo 12. A dinâmica dos grupos esportivos na</p><p>abordagem gestáltica - Por Adriana Amaral do Espírito</p><p>Santo</p><p>Capítulo 13. Terapia cognitivo-comportamental aplicada ao</p><p>esporte - Por Aline Arias Wolf e Lucia E. Novaes Malagris</p><p>Capítulo 14. Perspectiva fenomenológica em psicologia do</p><p>esporte e do exercício - Por Thabata Castelo Branco</p><p>Telles</p><p>Capítulo 15. Análise do comportamento no esporte - Por</p><p>Alberto da Silva Santos e Eduardo N. Pedrosa de Cillo</p><p>Unidade IV. Relatos de Experiências Profissionais</p><p>Capítulo 16. Uma trajetória da psicologia do esporte no</p><p>futebol do Rio de Janeiro - Por Paulo Ribeiro</p><p>Capítulo 17. Psicologia sobre duas rodas: uma experiência</p><p>de acompanhamento psicológico no ciclismo competitivo -</p><p>Por Erika Höfling Epiphanio</p><p>Capítulo 18. Preparação psicológica e transição de</p><p>carreira: o relato de uma experiência com uma atleta de</p><p>bodyboarding - Por Thabata Castelo Branco Telles e</p><p>Tássia Oliveira Ramos</p><p>Capítulo 19. Preparação psicológica no beach soccer - Por</p><p>Cristianne Almeida Carvalho e Maria Emília Miranda</p><p>Álvares</p><p>Capítulo 20. Psicologia analítica nas pistas do atletismo:</p><p>intervenções em um projeto social - Por Rodrigo Pieri e</p><p>Júlia Amato</p><p>Capítulo 21. Relatos de experiência com vôlei de praia -</p><p>Por Sâmia Hallage e Alberto Filgueiras</p><p>Sobre os autores</p><p>Prefácio</p><p>O desenvolvimento de um campo de saber, ou de uma área de trabalho,</p><p>envolve o esforço e o envolvimento de muitos espertos, amantes e curiosos</p><p>que, ao seu tempo, e com os recursos disponíveis no momento em que vivem</p><p>o processo, deixam marcas e marcos possíveis em uma linha tortuosa que</p><p>não seria ousadia chamar de história. Da construção de teorias e métodos que</p><p>expliquem um fenômeno ou objeto, à prática do exercício profissional que</p><p>envolve o ser que realiza uma ação, são necessários esforços coletivos. O</p><p>conhecimento, longe de ser uma ação individual inspirada, é antes de tudo</p><p>fruto de trabalho conjunto, de troca incessante de perspectivas teóricas e</p><p>acima de tudo, respeito e atenção à informação e ao conhecimento partilhado</p><p>pelo e com o outro. A produção de conhecimento é em si uma fonte geradora</p><p>de inquietação e desestabilização por questionar tudo aquilo que se considera</p><p>estabelecido.</p><p>A década de 1990 marcou o início um grande movimento na Psicologia</p><p>brasileira movido pela busca da especificidade dentro de uma grande área que</p><p>contempla saberes próximos às humanidades e às ciências biológicas, que</p><p>favoreceu a criação das especialidades e dentre elas, a Psicologia do Esporte.</p><p>Diferentemente de outras especialidades cujo referencial teórico nacional</p><p>estava bem estruturado, a Psicologia do Esporte iniciava a sua consolidação</p><p>de prática profissional, com alguns psicólogos atuando em clubes e seleções</p><p>nacionais pontualmente, nos incipientes projetos sociais e uma parca</p><p>produção acadêmica específica para o universo da universidade brasileira.</p><p>Essa ausência de referencial teórico foi a razão para a organização de um</p><p>livro, produzido pelo grupo denominado Comissão de Esporte do Conselho</p><p>Regional de Psicologia de São Paulo [ 1 ], que se mostrava preocupado com o</p><p>demasiado apego a modelos teóricos desenvolvidos em outros países. Nessa</p><p>obra buscava-se fazer não apenas uma crítica à dependência epistemológica</p><p>externa, mas principalmente apontava para a diversidade criativa dos</p><p>psicólogos do esporte brasileiros, que afirmavam a unidade da ação, na</p><p>diversidade teórica possível para pensar e fazer a Psicologia do Esporte, a</p><p>partir do necessário entendimento da especificidade desse contexto e também</p><p>do atleta brasileiro. Isso porque durante décadas tentou-se adaptar teorias e</p><p>técnicas estrangeiras sem considerar a especificidade das instituições</p><p>esportivas bem como a cultura dos atletas do Brasil.</p><p>Passadas quase duas décadas, é possível se observar que essa</p><p>construção avançou e se multiplicou. A busca pela alteridade provocou</p><p>diversidade de formas de atuação dos profissionais psicólogos brasileiros, mas</p><p>principalmente, ampliou a produção acadêmica com a formação de mestres e</p><p>doutores, que se dedicaram a criar métodos, protocolos e modelos de</p><p>pesquisa e intervenção para o esporte e a atividade física no país.</p><p>Permanece atual a afirmação de que “nem toda Psicologia aplicada ao</p><p>Esporte é Psicologia do Esporte” [ 2 ]. A diversidade sugerida pelo amplo</p><p>espectro de settings, de populações e de expectativas sugere um suporte</p><p>teórico também variado que explique os diversos fenômenos estudados.</p><p>Partindo da Psicanálise, do Cognitivismo, do behaviorismo radical, do</p><p>psicodrama, da Psicologia Social, da Psicologia Analítica, da Fenomenologia</p><p>ou da Gestalt como referencial teórico, um grupo crescente de psicólogos tem</p><p>se dedicado a desenvolver a Psicologia do Esporte brasileira, tendo como</p><p>meio e fim o estudo do ser humano envolvido com a prática do exercício, da</p><p>atividade física e esportiva competitiva e não competitiva. A consequência</p><p>desse esforço pode ser observada no desenvolvimento de métodos</p><p>específicos de psicodiagnóstico e intervenção, considerando as</p><p>particularidades das modalidades no país e dos atletas que convivem com</p><p>uma realidade específica, cuja produção acadêmica se apoia em abordagens</p><p>qualitativas e quantitativas.</p><p>Ressalte-se ainda que a Psicologia do Esporte brasileira segue hoje, muito</p><p>proximamente,</p><p>e suas diferentes culturas, deve-se</p><p>pensá-las como um sistema de regras próprias, sem antinomias, tendo por</p><p>pressuposto que, se existem fronteiras entre opostos que se completam, elas</p><p>somente terão sentido dentro de um sistema cultural de referência. É nessa</p><p>acepção que os filósofos pós-modernos quebram fronteiras, diluem os opostos</p><p>e criam metáforas explicativas para a dissolução do humano, que tem nos</p><p>atletas um exemplo concreto a partir de sua fusão com a tecnologia utilizada</p><p>nos suplementos, roupas, equipamento etc., como faz Haraway (2001).</p><p>Os modernos diriam: a verdade é igual para todos, ela é aquilo que é</p><p>verdadeiro em todos os lugares, no sentido de universalidade. Assim sendo,</p><p>seus elementos só podem ter sentido quando estão dentro de um sistema</p><p>social com cultura própria, na qual esses elementos façam (ou não) sentido</p><p>para aquela respectiva cultura internamente, ou seja, na dialogicidade dos</p><p>repertórios que são construídos dentro da sociedade. E mais, esses elementos</p><p>teriam origem social e instituiriam relações de poder (Foucault, 2006).</p><p>Resumindo, os tipos sociais atletas e todos os envolvidos com esportes são</p><p>internos a cada sociedade/cultura e se configuram por relações de poder</p><p>descritas em redes e matrizes sociais, tramas ou rizomas, dependendo de sua</p><p>complexidade (Deleuze, 1974). É importante ressaltar que na filosofia pós-</p><p>moderna não há o relativismo amplo, como fundamento de seus postulados.</p><p>Para os pós-modernos, as antinomias não deixam de existir. Verdadeiro e</p><p>falso não se diluem na incerteza de sua fusão; todavia, existem dentro de um</p><p>contexto e não de forma universal. Não é impossível ver o certo ou o errado, o</p><p>verdadeiro e o falso; porém, estes requerem um contexto, uma cultura para</p><p>que possam ser analisados. Não é que não exista lógica, mas a lógica interna</p><p>de uma cultura pode parecer ilógica aos olhos de indivíduos pertencentes a</p><p>outra cultura.</p><p>Então, se as ciências humanas não cabem nos moldes das ciências</p><p>naturais, como pensá-la fora dos padrões de certo/errado? Sabemos que a</p><p>ciência é apenas uma entre as muitas maneiras de se conhecer o mundo e os</p><p>seres humanos que nele habitam. A relatividade pós-moderna está</p><p>exatamente em aceitar que os sentidos podem ser variados de acordo com as</p><p>diferentes culturas e com as diferentes formas de aquisição do saber.</p><p>Para Jameson (1999), a pós-modernidade teve seu início em 1960 e a</p><p>efervescência de sua problematização ocorreu em 1970. Foi descrita pelo</p><p>autor como a racionalidade do capitalismo tardio, que veio questionar os</p><p>conceitos modernos de sujeito, progresso, verdade, razão e legitimidade. Os</p><p>sonhos advindos do projeto iluminista, que fundamentavam a modernidade,</p><p>viraram pesadelo.</p><p>Em sua reflexão sobre a modernidade, Bauman (1999, 2004) a considera</p><p>uma transformação, deixando de existir na forma sólida e passando a existir</p><p>na forma líquida, metáfora representativa do tempo que deixava de ser estável</p><p>para outro tempo, agora volátil, mutável, inconstante e instável. Na</p><p>modernidade, as expressões culturais como a arte, a pintura e a literatura</p><p>foram nutridas pelos valores rígidos da tradição e das raízes, tão bem</p><p>expressos nas antinomias em que oscilavam a descrição dos juízos de valor</p><p>de uma época. Os conceitos de estética, ética e ciência, antes tão sólidos, se</p><p>desmancharam no ar, apresentando efeitos em todas as manifestações</p><p>culturais.</p><p>A partir daí, então, surgiram questões pontuando o que estaria</p><p>acontecendo. Estaria decretada a morte, o fim da modernidade, ou de um</p><p>período que, inserido na modernidade, estabeleceu uma nova condição,</p><p>especificada por um novo conjunto de engrenagens ou formas de relações</p><p>(perpassadas pelo desenvolvimento tecnológico e informacional), que se</p><p>denomina pós-modernidade.</p><p>De acordo com Lyotard (1989), pensando a cultura contemporânea, a</p><p>condição pós-moderna caracteriza-se exatamente pela incredulidade quanto</p><p>aos mecanismos de legitimação do conhecimento na atualidade. Habermas</p><p>(2000, p. 47) afirma ser a pós-modernidade “a modernidade diante de um</p><p>projeto inacabado” e que “deveríamos aprender com os desacertos que</p><p>acompanham o projeto. ”. Projeto inacabado, segundo o autor, refere-se à</p><p>finalidade de promover igualdade social, independentemente das questões</p><p>multiculturais que a modernidade, enquanto planejamento racional</p><p>intersubjetivo, havia começado a encetar.</p><p>Falar de esporte, cultura e sociedade na condição pós-moderna implica</p><p>viajar no tempo e pousar na contemporaneidade, o passado presentificado</p><p>nos permite entender os processos sociais, as práticas discursivas e as redes</p><p>de materialidades que são constituintes da matriz esportiva na atualidade.</p><p>Assim, essa condição baseia-se na apropriação de uma lógica racional</p><p>específica, globalizadora, individualista e necessariamente reflexiva; (Giddens,</p><p>2001, 2002; Spink, 2001).</p><p>Considerando a fluidez da cultura e as novas determinações para a relação</p><p>espaço–tempo, que fazem do esporte um palco privilegiado de relações de</p><p>poder, as teorias que se apresentam como sócio históricas, culturais e</p><p>construcionistas, objetivam problematizar como ocorre a construção do atleta</p><p>no contexto esportivo, como ele é mantido, que personagens atuam e</p><p>sustentam sua rede de relações sociais, que se caracteriza como uma matriz e</p><p>acaba por influenciar todo o seu processo de formação. Cada uma delas com</p><p>fundamentos formados no tempo em que foram propostas e tendo em comum</p><p>a exaltação dos aspectos sociais, históricos, culturais e linguísticos cada um à</p><p>sua maneira.</p><p>Percebe-se que existem alguns elementos que caracterizam essa</p><p>construção social e que configuram o imaginário sobre o que é ser atleta de</p><p>alto rendimento, detentor de saúde, vigor, dinheiro, fama e disposição acima</p><p>de qualquer suspeita. Problematizar essas ideias, geralmente recebidas como</p><p>verdades, é uma maneira de entender como essas construções são feitas. Daí</p><p>se amplia o olhar sobre o mundo e, por conseguinte, sobre nós mesmos</p><p>(Ibáñez, 1993; Íñiguez, 2003).</p><p>Alguns elementos presentes e indispensáveis na análise perpassam</p><p>questões de classe/trabalho e de linguagem, que fundamentam a construção</p><p>social da categoria atleta a partir de elementos que vão além da sua</p><p>objetividade, dos aspectos biológicos e das verdades postas. Inclui-se aqui o</p><p>ponto de vista histórico e cultural. Sendo assim, é possível, por meio do</p><p>entendimento das práticas discursivas e da produção de sentidos nos micro</p><p>processos sociais, compreender as redes de relações envolvidas na</p><p>construção de conceitos e, mais especificamente, o que se chama de tipo</p><p>social. Isso se faz importante, pois esses conceitos subjazem às formas de</p><p>percepção e pensamento humanos sobre o social. O momento</p><p>contemporâneo, como definido por alguns (Guareschi; Bruschi; Medeiros,</p><p>2003; Hall, 2001), ou pós-moderno, como desejam outros (Harvey, 2002;</p><p>Jameson, 1999; Lyotard, 1989; Santos, 1989), é considerado uma mudança</p><p>iniciada pelo modernismo e que se configura como outro contexto para</p><p>análises sociais.</p><p>Entende-se aqui a pós-modernidade não como consequência ou</p><p>desdobramento do moderno, mas como um movimento de renovação interna</p><p>inerente ao moderno. Assim, tendo o moderno como referência de partida, a</p><p>condição chamada pós-moderna se desenvolveu e se atualizou dentro do</p><p>próprio período denominado moderno, condição esta em que o conhecimento</p><p>se tornou a principal força econômica de produção. O ponto central, para</p><p>Lyotard (1989), é o debate sobre a criação de um novo referencial</p><p>epistemológico, capaz de responder às novas condições do conhecimento</p><p>impostas pelas transformações sociais. O autor defende a tese de que o saber</p><p>científico é uma espécie de discurso, e aponta o quanto as transformações</p><p>tecnológicas afetam o saber e criam novas linguagens, alterando não apenas</p><p>a produção do conhecimento, mas também o senso comum. E assim, tanto o</p><p>saber científico como os avanços tecnológicos apresentam marcos de uma</p><p>sociedade pós-industrial, terreno fértil no qual a condição pós-moderna se</p><p>desenvolve. Embora necessária no momento contemporâneo, a discussão</p><p>sobre a</p><p>pós-modernidade está distante de ser consensual e se dispersa em</p><p>diversas perspectivas teóricas.</p><p>Jameson (1999) preconiza que a pós-modernidade é o que se tem quando</p><p>o processo de modernização é findo e a natureza iluminada se foi para</p><p>sempre. Esse é um mundo mais que humano (no sentido de ganhos</p><p>tecnológicos individuais e perda de valores coletivos), no qual a cultura se</p><p>tornou uma segunda natureza. Sendo assim, a condição pós-moderna não é</p><p>uma dominante cultural de uma ordem social totalmente nova, mas apenas um</p><p>aspecto concomitante de mais uma modificação sistêmica do capitalismo.</p><p>Nessa condição, a própria cultura e seus elementos se tornaram um produto; o</p><p>mercado tornou-se seu substituto, isto é, um produto exatamente igual a</p><p>qualquer um dos itens que o constitui. A cultura, necessariamente, expandiu-</p><p>se a ponto de se tornar praticamente co-extensiva à economia, como base</p><p>sintomática de algumas das maiores indústrias do mundo e também de</p><p>maneira muito mais profunda, uma vez que todos os objetos e serviços</p><p>(materiais e imateriais) se tornaram, de forma inseparável, uma marca</p><p>manipulável ou um produto vendável.</p><p>De maneira análoga, a cultura esportiva, no Brasil e no mundo, constitui-se</p><p>como inevitável tecido da vida no capitalismo avançado e apresenta-se como</p><p>uma segunda natureza para os que dela fazem parte ou por ela se interessam.</p><p>Cabe ressaltar que, por mais que sugira uma exaltação muitas vezes acrítica</p><p>do uso das tecnologias, principalmente quando os objetivos são desempenho,</p><p>rendimento e lucro, negando qualquer expressividade humana, a condição</p><p>pós-moderna apresenta um potencial que, se for aproveitado, pode levar o</p><p>atleta a possibilidades de ganho pessoal e coletivo. O que ele não pode é</p><p>deixar de compreender o funcionamento da matriz a que pertence e sua</p><p>capacidade de atuação e valor diante de toda a engrenagem. Conhecendo a</p><p>sociedade e seus mecanismos articulares, o esportista pode fazer escolhas</p><p>mais conscientes diante do que lhe é apresentado sem alienar-se.</p><p>Para que isso ocorra, faz-se necessário que como psicólogos sociais do</p><p>esporte saibamos que nessa sociedade sobressaem o espetáculo de</p><p>superficialismo, a competição, os ganhos, a exaltação dos patrocinadores, a</p><p>competição entre marcas tecnológicas que não visam o ritual nem tampouco</p><p>qualquer celebração de mitos ou sentido superior de virtudes. É imprescindível</p><p>perceber que, nesse momento, há uma transformação dos valores presentes</p><p>na Paidéia Grega – do corpo belo, da formação completa do humano,</p><p>realizada por meio das experiências dos sentidos com a música e as artes, da</p><p>cognição com a matemática e do corpo com os esportes –, mas que ele não é</p><p>massa de manobra dos interesses alheios. Na Paidéia, a espada era</p><p>instrumento de luta e acompanhava o sentido coletivo de suas conquistas;</p><p>agora, o corpo é moldado por técnicas de condicionamento físico calibradas</p><p>por suplementos alimentares, técnicas de condicionamento bio-</p><p>psicofisiológicos, acessórios high tech, interfaces de controle que o focam,</p><p>moldam e inventam realidades virtuais, sem, porém, formá-lo ou emancipá-lo.</p><p>Se, por um lado, a exacerbação dos valores físicos, acompanhada da</p><p>ingerência midiática para o consumo, destrói o conceito de emancipação no</p><p>sentido da utilização da razão como mecanismo esclarecedor e crítico, por</p><p>outro, o atleta, sabedor de tudo isto, pode reconstruir seus objetivos de</p><p>trabalho associando desenvolvimento técnico com crescimento pessoal. A</p><p>prática esportiva, desejada pelo psicólogo social do esporte, que</p><p>aparentemente se tornara espetáculo, palco de tipos que atuam</p><p>intencionalmente e são assistidos por outros tantos apaixonados e</p><p>manipulados dentro do jogo de interesses mercadológicos, deve também levar</p><p>à formação de um atleta crítico e transformador. Paixão e manipulação oscilam</p><p>como um pêndulo em função do senso crítico ou da falta dele quanto à</p><p>consciência do tipo social atleta e da matriz que o sustenta. No entanto,</p><p>segurar esse pêndulo sabendo o que determina seu movimento pode fazer</p><p>com que os atletas se transformem em senhores de seus próprios destinos,</p><p>tomando as rédeas de muitas situações nas quais, de outro modo, seriam</p><p>meras marionetes.</p><p>Hoje, mesmo sendo a maneira clássica de gerar conhecimento, o formato</p><p>cartesiano de ciência perdeu, pelo menos em parte, sua hegemonia como</p><p>detentora de todas as certezas. Já não é tão real que possa garantir que seu</p><p>processo seja suficientemente claro e preciso para predizer e controlar</p><p>eventos como idealizado anteriormente. Sua trajetória pode ser seguida nas</p><p>tramas da construção de fatos, como fizeram Latour (1999, 2000) e Latour e</p><p>Woolgar (1997) em suas obras. Os benefícios cotidianos, principalmente os</p><p>tecnológicos, apresentam múltiplas possibilidades e, ao mesmo tempo, uma</p><p>dependência idêntica. O controle dos corpos e mentes, muito presente nas</p><p>atividades esportivas, começa a ser questionado e, por vezes, desacreditado</p><p>como condição única e exclusivamente humana.</p><p>Sendo assim, é importante problematizar o conhecimento, tornando a</p><p>condição pós-moderna clara no que diz respeito ao direito de desafiar a</p><p>ciência clássica como única instância legitimadora do que é e do que não é</p><p>conhecimento. Para tanto, se faz necessário aceitar que não existem certezas</p><p>nas afirmações e descobertas científicas, mas formas posicionadas de</p><p>explicação, versões legitimadas de saberes que não devem invalidar métodos</p><p>e metodologias, porém situá-los, deixando claro que apenas uma perspectiva</p><p>parcial, posicionada, pode gerar uma visão objetiva e ampla, com conexões</p><p>claras e responsáveis (Haraway, 1995).</p><p>Fica claro que adotar uma única forma de pensar e a tudo responder é fugir</p><p>da angústia latente e da dúvida constante, cujo fascínio advém do poder</p><p>dogmático de livrar os sujeitos das agonias da escolha individual, retirando-</p><p>lhes a determinação de suas próprias vidas e dando-lhes um sentido que</p><p>legitime seus atos. O fundamentalismo é um exemplo de ausência crítica, ou</p><p>de irracionalismo, que não pode ser confundido com a pós-modernidade</p><p>apenas por estar presente também no período pós-moderno.</p><p>Assim sendo, devemos pensar a própria atuação do psicólogo e seu status</p><p>quo visando construir, criticamente, uma psicologia do esporte, que também</p><p>tenha preocupações sociais, e seja, portanto, problematizadora, formadora e</p><p>quiçá transformadora. Além disso, precisam ser desenvolvidos procedimentos</p><p>e técnicas adequados de treinamento que também reflitam as construções da</p><p>cultura do seu povo, das linguagens em uso, das materialidades e</p><p>socialidades que a sustentam e das interações existentes entre os diversos</p><p>atores. Para tanto, são necessários estudos que venham a preencher a lacuna</p><p>de informações sobre vários aspectos envolvidos nesse contexto. Além disso,</p><p>propomos pensar uma forma de atuação mais emancipadora no que se refere</p><p>ao saber disciplinar da psicologia do esporte, tendo por base diferentes</p><p>noções de conhecimento e atuando de maneira a fundamentar e a formar</p><p>pessoas mais livres, éticas, críticas e justas, diferenciando-as de uma relação</p><p>que se apresenta como politicamente correta, desejada e lucrativa, a qual, no</p><p>entanto, anula ou enevoa o questionamento de fatos sociais.</p><p>Apresentar as redes de relações sociais no esporte e as matrizes que,</p><p>simultaneamente, as libertam e engessam, bem como os constituintes</p><p>humanos e não-humanos dessa matriz, favorece a compreensão das relações</p><p>sociais na condição pós-moderna. Uma vez descrita e apresentada, a matriz</p><p>faz questionar o que parece natural, ou seja, verdades tidas como certas, tal</p><p>como encarar o esporte como sinônimo de ascensão social, saúde,</p><p>companheirismo, alegria, descontração e festa.</p><p>As possibilidades de resistência, de contraposição ao sistema e de</p><p>aquisição de conhecimentos que levem a uma transformação social visando</p><p>melhoria das condições de vida da coletividade, que vê o esporte como um</p><p>processo de individuação, consistem, primordialmente, no entendimento do</p><p>sistema social. Entendê-lo, por conseguinte, requer o movimento de descrevê-</p><p>lo, compreendê-lo e sair da alienação</p><p>para efetivamente conhecer.</p><p>Reconhecer a construção social dos fatos que norteiam o contexto</p><p>esportivo, a sua história e a interconstituição da relação entre indivíduo e</p><p>sociedade é o primeiro passo para a sua compreensão da matriz social deste</p><p>tipo. Estranhar, questionar, desnaturalizar, resistir e, com isso, suportar a</p><p>tensão e os conflitos adjacentes ao fato de se constituir dessa forma, talvez</p><p>possam, além de fazer do atleta uma pessoa capaz de avaliar seu processo</p><p>de construção enquanto tipo, produzir uma pessoa que seja capaz de exercer</p><p>uma transformação social que não seja auto referida. Sendo assim, é possível</p><p>produzir novos efeitos naqueles que seguem o tipo e constantemente</p><p>atualizam sua matriz e, desta forma, a autonomia poderá ser gerada e até se</p><p>tornar outra lógica de referência para a mesma universalidade que adere ao</p><p>consumo de produtos associados ao atleta.</p><p>Referências bibliográficas</p><p>Bauman, Z. (1999). A busca da ordem. Modernidade e ambivalência, Rio de Janeiro: Jorge</p><p>Zahar.</p><p>Bauman, Z. (2004). Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos: Rio de Janeiro:</p><p>Jorge Zahar.</p><p>Debord, G., & do Espetáculo, A. S. (1992). Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de</p><p>Janeiro: Contraponto.</p><p>Deleuze, G. (1988). Foucault: U of Minnesota Press.</p><p>Deleuze, G., Morey, M., Molina, V., & T. (1974). Lógica del sentido: São Paulo: Perspectiva.</p><p>FoucaultT, M. (1986). A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária.</p><p>Foucault, M. (1987). Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Tradução: Raquel Ramalhete.</p><p>Petrópolis/Rio de Janeiro: Ed. Vozes.</p><p>Foucault, M. (1994). Doença mental e psicologia. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.</p><p>Foucault, M. (1995). Ordem do discurso (A) (Vol. 1): Edições Loyola.</p><p>Foucault, M. (1999). As palavras e as coisas (Vol. 4): Martins Fontes São Paulo.</p><p>Foucault, M. (2006). Seguridad, territorio y población, Curso en el Collège de France (1977-</p><p>1978): Fondo de Cultura Económica, Buenos Aires.</p><p>Gomes, N. G. (2007). Da sabedoria de vida à ética científica. Do Círculo de Viena à Filosofia</p><p>Analítica Contemporânea. Viana do Castelo: Livros de Areia</p><p>Guareschi, N. d. F., Medeiros, P. d., & Bruschi, M. E. (2003). Psicologia social e estudos</p><p>culturais: rompendo fronteiras na produção do conhecimento. Psicologia social nos estudos</p><p>culturais: perspectivas e desafios para uma nova psicologia social, 23-49.</p><p>Habermas, J. (2000). Teoría de la acción comunicativa: Madrid: Taurus.</p><p>Hall, S. (2001). A identidade cultural na pós-modernidade: Rio de Janeiro: DP&A.</p><p>Haraway, D. (1995). Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio</p><p>da perspectiva parcial. Cadernos pagu(5), 7-41.</p><p>Ibáñez Gracia, T. (1993). La dimensión política de la psicología social. Revista latino</p><p>americana de psicología, 25(1).</p><p>Iñiguez, L. (2003). La psicología social en la encrucijada postconstruccionista: historicidad,</p><p>subjetividad, performatividad, acción. XII Encontro Nacional da ABRAPSO(12), 1-15.</p><p>Jameson, F. (1999). Cinco teses sobre o marxismo atualmente. Wood, Ellen Meiksins; Foster,</p><p>John Bellamy. Em defesa da História: marxismo e pós-moderminismo. Rio de Janeiro: Jorge</p><p>Zahar.</p><p>Latour, B., & Woolgar, S. (1997). A vida de laboratório: a produção dos fatos científicos:</p><p>Relume Dumará Rio de Janeiro.</p><p>Latour, B. (1999). Pandora’s hope: essays on the reality of science studies: Harvard university</p><p>press.</p><p>Latour, B. (2000). Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora:</p><p>Unesp.</p><p>Lyotard, J.-F. (1989). A condição pós-moderna. Lisboa: Gradiva.</p><p>Pereira, A. B. (2008). Ciência e futebol na pós-modernidade: por uma perspectiva crítica.</p><p>Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, 2(2), 1-22.</p><p>Pereira, A. B. (2015). A construção social do tipo jogador de futebol profissional no Brasil sob</p><p>o olhar da psicologia social do esporte. Curitiba, Appris.</p><p>Rorty, R. (1988). A filosofia e o espelho da natureza (J. Pires, Trad.). Lisboa: Dom Quixote.</p><p>(Publicado originalmente em 1980).</p><p>Rorty, R. (2000). Verdad y progreso, escritos filosóficos No. 3: Paidós. Barcelona.</p><p>Rouanet, S. P. (1998). Teoria crítica e psicanálise Teoria crítica e psicanálise: Tempo</p><p>Brasileiro.</p><p>Rubio, K. (2000). O trajeto da Psicologia do Esporte e a formação de um campo profissional.</p><p>Psicologia do Esporte: interfaces, pesquisa e intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo,</p><p>15-28.</p><p>Rubio, K. (2001). O atleta e o mito do herói: o imaginário esportivo contemporâneo: São</p><p>Paulo: Casa do Psicólogo.</p><p>Rubio, K. (2004). Rendimento esportivo ou rendimento humano. O que busca a psicologia do</p><p>esporte? Psicología para America Latina, v. 1, p. 1-6.</p><p>Samulski, D. (2002). Psicologia do esporte: conceitos e novas perspectivas: Manole.</p><p>Santos, B. d. S. (1989). Introdução a uma ciência pós-moderna. Rio de Janeiro: Graal. Para</p><p>um novo senso comum: a ciência, o direito e a política na transição paradigmática.</p><p>Saussure, F. d. (1995). Curso de lingüística geral. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo</p><p>Paes e Izidoro Blikstein: São Paulo: Cultrix.</p><p>Spink, M. (2001). Os contornos do risco na modernidade tardia: re flexões a partir da</p><p>psicologia social. Psicologia e Sociedade, 12(1/2), 156-173.</p><p>Weinberg, R. S., & Gould, D. (2001). Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício:</p><p>Artmed editora.</p><p>CAPÍTULO 3</p><p>Campos de atuação</p><p>Luciana Angelo</p><p>Franco Noce</p><p>Os primeiros capítulos deste livro demonstraram que, nas últimas décadas,</p><p>o avanço técnico e teórico da Psicologia do Esporte, no que se refere à sua</p><p>contribuição para a constituição de metodologias e modelos de atuação nas</p><p>áreas do rendimento, saúde e bem-estar, vem possibilitando uma inserção</p><p>progressiva às necessidades das populações atendidas. Ao adentrar o</p><p>contexto esportivo, ainda vivemos o reasseguramento de uma ciência que</p><p>busca assentamento de seu conhecimento em várias teorias psicológicas</p><p>advindas muitas vezes da clínica tradicional e que, contudo, teve de ser várias</p><p>vezes repensada, reestruturada, adaptada e ainda abandonada para encontrar</p><p>um lugar seguro de atuação.</p><p>Falar desse “lugar” nem sempre é confortável. Quando um psicólogo(a)</p><p>inicia sua atuação no esporte, por vezes é tomado por um desconforto,</p><p>advindo possivelmente da defasagem a que é submetido. Isso se deve ao fato</p><p>de consolidarmos a especialidade com suas possibilidades e limitações.</p><p>Necessário e real é a atuação do psicólogo em conjunto com profissionais das</p><p>demais Ciências do Esporte, constituindo um campo de atuação com</p><p>discussões sobre o preparo contextualizado, sobre o mercado de trabalho a</p><p>ser descoberto, sobre a ampliação de seu foco de atuação tendo a</p><p>proximidade com o sujeito e suas dores, desejos, medos, conquistas,</p><p>sucessos, esperanças e esforços.</p><p>Este capítulo tem como objetivo expressar o que, na prática, tem sido feito</p><p>por psicólogos no campo aplicado, desenvolvendo uma cultura institucional</p><p>para a Psicologia do Esporte que possibilita a presença de uma visão</p><p>humanizada e holística da pessoa que pratica esporte, exercício ou atividade</p><p>física.</p><p>Campos de atuação da Psicologia do Esporte no mundo e no Brasil</p><p>A constituição dos campos de atuação está relacionada diretamente a</p><p>história de cada país e as entidades representativas do Esporte e do</p><p>Exercício. Entenda-se aqui a importância de compreendermos as causas do</p><p>desenvolvimento suficiente ou não do campo de atuação frente às políticas</p><p>nacionais adotadas em relação ao tema. Valdes (2007) brincou ao se deparar</p><p>que “um país que já tem 180 milhões de habitantes, dos quais a grande</p><p>maioria é amante do esporte” a presença da Psicologia do Esporte e do</p><p>Exercício é insuficiente. Este dado é fundamental para que levemos em conta</p><p>não somente o ponto de vista da atuação profissional, mas a precariedade dos</p><p>recursos alocados no esporte e no exercício. Vale a pena ressaltar o esforço e</p><p>o auxílio de instituições de ensino e órgãos nacionais e internacionais na</p><p>elaboração de dados a este respeito. Citamos como exemplo, o Diagnóstico</p><p>Nacional do Esporte (DIESPORTE Cadernos 01 e 02) [ 18 ]e o Relatório</p><p>Nacional de Desenvolvimento Humano 2017</p><p>- Movimento é Vida: Atividades</p><p>Físicas e Esportivas para todas as pessoas [ 19 ], este último organizado por</p><p>pesquisadores nacionais a convite do Programa das Nações Unidas para o</p><p>Desenvolvimento (PNUD).</p><p>De fato, o Brasil apesar de ter apontado para uma política onde o esporte</p><p>tornou-se oficialmente um Ministério, depois de passados os grandes eventos</p><p>esportivos, tem tido dificuldade em justificar a existência de legados.</p><p>Portanto, o que a princípio nos parecia um campo fértil para incluirmos a</p><p>ciência psicológica no campo do desporto, desenvolvendo recursos</p><p>emocionais e comportamentais para sustentarem a prática de saúde esportiva</p><p>e populacional, infelizmente ainda foi incipiente perto do que se pode</p><p>desenvolver.</p><p>Promovendo a alteridade e as idiossincrasias, o campo relacional da</p><p>atuação profissional nos apresenta as seguintes possibilidades de atuação:</p><p>Pesquisa</p><p>De forma geral, a pesquisa em Psicologia do Esporte está relacionada com</p><p>a produção científica e acadêmica, com o desenvolvimento de métodos de</p><p>investigação, pesquisa laboratorial e estudo de campo. Valdes (2007) aponta</p><p>os primeiros 50 anos do século XX como estruturantes dos laboratórios de</p><p>pesquisa e centros de investigação nos Estados Unidos, Rússia e Alemanha.</p><p>Apesar de não ser nova a indagação de como estímulos físicos se convertem</p><p>em fatores subjetivos, os centros de investigação ficaram restritos aos</p><p>laboratórios e o interesse pela aplicação ocorreu no quarto seguinte do século</p><p>XX. O autor destaca que:</p><p>na Rússia, o esporte era entendido como instrumento de educação da</p><p>disciplina e das capacidades de enfrentamento ao adversário. O esporte</p><p>era tido como arma de luta ideológica e a psicologia do Esporte e do</p><p>Exercício era disciplina acadêmica e sua aplicação era realizada por</p><p>treinadores. Foi muito importante o programa espacial soviético e a ioga,</p><p>levando os cientistas a estarem vinculados ao limite humano, a estudarem</p><p>os processos de autorregularão, de fato, temas da Psicologia do Esporte</p><p>Aplicada.</p><p>nos Estados Unidos de 1938 a 1965, poucas e esporádicas foram as</p><p>publicações sobre o tema e quando ocorriam eram temas de pesquisa</p><p>voltados aos laboratórios, aos ambientes de controle e de pouca</p><p>aplicabilidade para a realidade esportiva. Somente na década de 1980,</p><p>ocorreu a virada na área com Martens, Danish e Hale apresentando</p><p>resultados expressivos na pesquisa de campo.</p><p>na Alemanha, o autor destaca a Alemanha Oriental como pioneira no</p><p>trabalho realizado direto com os pais. Programas de apoio e de orientação</p><p>a família foram e ainda servem como modelos para a área. Ainda na</p><p>Alemanha Ocidental, destaca-se como referência a Escola Superior de</p><p>Esportes de Colônia [ 20 ] (fundada em 1947) e, em especial, o Instituto de</p><p>Psicologia [ 21 ] que possui um departamento específico de psicologia da</p><p>performance que desenvolve a décadas estudos na área da cognição e do</p><p>comportamento.</p><p>um impulsionador importante na organização desta ciência no mundo foi a</p><p>criação, na década de 1960, da Sociedade Internacional de Psicologia do</p><p>Esporte [ 22 ] (Roma, 1965) e da Federação Europeia de Psicologia do</p><p>Esporte [ 23 ] (França, 1969).</p><p>Assim, Rubio (2001) ressalta que os temas relevantes de pesquisa na área</p><p>foram: nas décadas de 1950/60 a influência dos estudos sobre a</p><p>personalidade; na década de 1970/80 as pesquisas experimentais e 1980/90</p><p>tendo o cognitivismo como corrente predominante. A autora (2002) aponta que</p><p>nos anos 2000, diante de uma procura pela forma brasileira de se fazer a</p><p>Psicologia do Esporte e do Exercício, o que se viu foram instrumentos e</p><p>técnicas sendo adequados e adaptados à realidade vivida por profissionais do</p><p>esporte no contexto amador e profissional. Segundo alguns autores, o</p><p>resultado dessa busca pela alteridade pode ser observado na diversidade de</p><p>formas de atuação, seja com a base da psicanálise, do cognitivismo, do</p><p>behaviorismo radical, do psicodrama, da psicologia social, da psicologia</p><p>analítica ou da gestalt como referencial teórico. Cada vez mais os profissionais</p><p>de psicologia têm se dedicado a desenvolver uma Psicologia do Esporte</p><p>brasileira, considerando as particularidades das modalidades no país e dos</p><p>atletas que convivem com uma realidade específica (Angelo, 2000; Cillo, 2000;</p><p>Franco, 2000, Matarazzo, 2000).</p><p>Apesar do avanço desta ciência no Brasil, de acordo com os dados de 2015</p><p>do portal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico</p><p>(CNPq), encontramos 36 grupos de pesquisa, distribuídos nas universidades</p><p>do país. A maior parte se concentra na região sudeste e sul (aproximadamente</p><p>64%), a maioria dos grupos, cerca de 75% pertencem ao departamento de</p><p>Educação Física (Noce et al., 2016).</p><p>Um campo a ser desenvolvido, precisa de um Grupo de Trabalho (GT) e a</p><p>reunião anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em</p><p>Psicologia (ANPEPP) apareceu como situação propícia para tal congregação</p><p>de acadêmicos, pesquisadores e profissionais. Assim, o GT em Psicologia do</p><p>Esporte [ 24 ], composto pela primeira vez por profissionais de formações</p><p>acadêmicas distintas e membros da pós-graduação de diversas instituições de</p><p>ensino nacionais aconteceu no XVI Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio</p><p>Científico da ANPEPP, realizado em Maceió (AL), em junho de 2016. Segundo</p><p>Barreira e Conde (2016),</p><p>A concepção do GT surgiu diante de uma diversidade de ações e trocas interdisciplinares</p><p>nas diferentes ramificações do campo da Psicologia do Esporte no âmbito acadêmico e</p><p>profissional. Essa interlocução evidenciou a necessidade de fortalecer e expandir a</p><p>consistência científica do leque de investigações e, concomitantemente, da formação de</p><p>profissionais, tanto daqueles que ensinam no nível superior como daqueles que fazem uso</p><p>aplicado da Psicologia do Esporte.</p><p>Os autores ao comentarem sobre a expansão das redes de colaboração</p><p>acadêmicas acreditam que envolver e articular saberes com a pós-graduação</p><p>de Psicologia favorece a perspectiva do campo e “avançam em</p><p>especificidades da área referentes às práticas profissionais da Psicologia,</p><p>qualificando também práticas de outros profissionais da área esportiva, como</p><p>os de Educação Física.”</p><p>O GT teve como encaminhamentos, projetos relacionados à área didático-</p><p>científica buscando apresentar conhecimentos já produzidos, fomentar</p><p>discussões da formação profissional para os que compõem a área e os que</p><p>virão a constituí-la, além de fortalecer publicações acadêmicas relacionadas à</p><p>Psicologia do Esporte.</p><p>Educação e Ensino</p><p>Em educação/ensino a relação se estabelece com a preparação dos</p><p>envolvidos nessa prática, buscando assessorar na educação de alunos,</p><p>treinadores e futuros profissionais que trabalharão com o esporte.</p><p>Podendo ser compreendida como uma especialidade da Psicologia em que</p><p>os saberes se inter-relacionam, a psicologia do esporte ganha cada vez mais</p><p>interesse na área da investigação científica e demonstra ganhar espaço nos</p><p>cursos de graduação de Psicologia onde as áreas clínica e organizacional</p><p>possuem um espaço maior (Vieira et al., 2013; Carvalho, 2008). A</p><p>interdisciplinaridade consiste na heterogeneidade dos saberes propondo</p><p>discussões e conteúdos originários de diferentes visões de mundo.</p><p>No âmbito universitário, através da política nacional de extensão</p><p>universitária a extensão é compreendida de uma forma ampla, e vem</p><p>fortalecer o processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político</p><p>que promove a interação transformadora entre Universidade e outros setores</p><p>da sociedade. Destaca-se nesse sentido o preceito constitucional da</p><p>indissociabilidade entre o Ensino, a Pesquisa e Extensão (UFMG, 2017) [ 25 ].</p><p>Em institutos livres, a educação e o ensino podem seguir as regras oficiais</p><p>do Ministério da Educação e Cultura (MEC) para viabilizarem cursos de</p><p>aperfeiçoamento, aprimoramento e especialização. Esse é o caso do Instituto</p><p>Sedes Sapientiae (SP) [ 26 ], que desde os anos 2.000 oferece a extensão em</p><p>Psicologia do Esporte, atual Aprimoramento e Especialização em Psicologia</p><p>do Esporte e da Atividade Física, com grade horária compatível</p><p>com os cursos</p><p>lato sensu das universidades brasileiras.</p><p>Fato hoje é que existe no mercado presencial e virtual uma série de cursos</p><p>de extensão, aprimoramento e especialização em Psicologia do Esporte. A</p><p>orientação aos interessados é que entrem em contato com as instituições</p><p>proponentes e acessem o site do MEC para maiores informações antes de</p><p>realizarem inscrição [ 27 ].</p><p>Intervenção</p><p>Uma extensa literatura nos apresenta aspectos do campo de intervenção</p><p>aplicado focando o alto rendimento. Porém, na realidade brasileira temos</p><p>campos que se revelam com força e práticas contundentes. Vamos abordá-los</p><p>a partir de exemplos e os relacionaremos com as funções que a psicologia do</p><p>Esporte e do Exercício deve desempenhar.</p><p>Avaliando o que foi proposto pelo Colégio Oficial de Psicólogos de Espanha</p><p>(1998, 2006), por autores nacionais em diferentes obras (Rubio, 1999, 2000,</p><p>2007; Brandão e Machado, 2007;Becker Jr, 2008; Samulski, 2009) e pela</p><p>resolução no. 02/2001 do CFP propomos o seguinte esquema:</p><p>Tabela 1: Adaptado do Colégio Oficial de Psicólogos de Espanha (1998, 2006)</p><p>Avaliação e diagnóstico</p><p>• Testes, questionários</p><p>• Entrevistas</p><p>• Observação e registro</p><p>• Registros e indicadores psicofisiológicos</p><p>Planejamento e assessoria</p><p>• Variáveis psicológicas</p><p>• Rendimento e/ou atuação</p><p>• Aderência a atividade</p><p>• Habilidades sociais</p><p>• Estabelecer objetivos</p><p>Intervenção • Direta: treinamento psicológico</p><p>• Indireta: desenho e aplicação de estratégias psicológicas</p><p>Educação e/ou formação</p><p>• Aos treinadores, árbitros, familiares e demais agentes do contexto esportivo</p><p>• Graduação e pós-graduação</p><p>• Congressos, seminários, simpósios</p><p>Investigação • Básica e Aplicada</p><p>Alto rendimento</p><p>O alto rendimento provavelmente é o campo de atuação mais conhecido</p><p>por ser veiculado na mídia, além de ser tema de uma produção científica</p><p>extensa e focada em técnicas para melhoria de performance. Raras vezes</p><p>apresenta a experiência de sofrimento psíquico como algo que faça parte do</p><p>seu contexto, porém, é na disfuncionalidade do mesmo que um dos lugares do</p><p>psicólogo surge como atuação possível.</p><p>Na relação com o desempenho, o psicólogo do esporte atua na avaliação</p><p>psicológica e diagnóstica (avaliação da personalidade, aspectos e cognitivos e</p><p>outros), programas de treinamento de habilidades mentais juntamente com</p><p>medidas de aconselhamento e acompanhamento e encaminhamento para</p><p>outros profissionais da saúde quando se fizer necessário (Vieira et al., 2010).</p><p>Para tanto, a formação em Psicologia fomenta as bases para as atividades</p><p>descritas.</p><p>Rubio (1999) apresenta desdobramentos no campo de atuação profissional</p><p>do psicólogo do esporte:</p><p>“o especialista em psicodiagnóstico – faz uso de instrumentos para avaliar potencial e</p><p>deficiências em atletas; o conselheiro – profissional que atua apoiando e intervindo junto a</p><p>atletas e comissão técnica no sentido de lidar com questões coletivas ou individuais do</p><p>grupo; o consultor – busca avaliar estratégias e programas estabelecidos, otimizando o</p><p>rendimento; o cientista – produz e transmite o conhecimento da e para a área; o analista –</p><p>avalia as condições do treinamento esportivo, fazendo a intermediação entre atletas e</p><p>comissão técnica; o otimizador – com base numa avaliação do evento esportivo busca</p><p>organizar programas que aumentem o potencial de performance.</p><p>No campo de intervenção do esporte de rendimento, a atuação do</p><p>psicólogo (a) visa potencializar o desempenho esportivo, podendo utilizar</p><p>diferentes métodos e abordagens, que vão variar de acordo com sua</p><p>formação. Rubio (2007) divide a intervenção da psicologia no esporte de alto</p><p>rendimento em modalidades individuais e em modalidades coletivas.</p><p>No caso das modalidades individuais, em que o foco da intervenção é o próprio atleta e</p><p>sua atuação, atividades voltadas para a concentração, o controle da ansiedade e o manejo</p><p>das variáveis ambientais costumam ser os principais objetivos da intervenção psicológica.</p><p>No entanto, a forma e o tempo que esse trabalho levará para ser desenvolvido irá variar</p><p>conforme o referencial teórico do psicólogo que o aplica”. Já nas modalidades esportivas</p><p>coletivas “o foco da intervenção recai sobre as relações grupais, a formação de vínculo e</p><p>organização de liderança, e aqui também a diversidade de procedimentos é grande. São</p><p>amplamente utilizados os jogos dramáticos advindos do psicodrama, o desenvolvimento de</p><p>autoconhecimento por meio das técnicas de senso-percepção, bem como procedimentos</p><p>verbais originários da psicanálise de grupos.</p><p>Para ilustrar tais questões, temos o exemplo de Paula, atleta de tiro com</p><p>arco, treina cinco vezes na semana, entre duas a três horas com sua equipe.</p><p>Iniciou sua prática após dos 30 anos de idade, com resultados expressivos em</p><p>competições regionais e nacionais em que o técnico avaliou que a atleta tinha</p><p>potencial para o alto rendimento. Apesar disso, a atleta apresentou “pânico do</p><p>amarelo” ou “target panic”, estado conhecido por muitos atletas da</p><p>modalidade, que ocorre quando o arqueiro não pode controlar o tiro por mais</p><p>que ele tente. Este fato levou a atleta e o técnico a procurarem auxílio de um</p><p>psicólogo do esporte.</p><p>Esporte recreativo</p><p>No esporte recreativo, segundo Salmuski (2009), o bem-estar deve ser o</p><p>foco principal. A prática voluntária pode levar a compreensão do significado do</p><p>fazer para a pessoa e como foi feito. Várias faixas etárias, diferentes classes</p><p>econômicas e atuações profissionais estão diretamente relacionadas aos</p><p>motivos, interesses e atitudes. A educação e a saúde fazem parte este</p><p>contexto quando fortalecem os laços do movimento com a regulação psíquica</p><p>por meio da conduta esportiva (Angelo et al., 2010; Angelo, 2003).</p><p>No contexto do esporte recreativo, a relação da pessoa com a prática</p><p>esportiva incentiva o estudo das teorias de adesão e aderência ao exercício</p><p>(Prochaska et al., 2009; Prochaska& Marcus, 1994) e da autodeterminação</p><p>(Deci e Ryan, 1985), por exemplo. E é comum, que o “setting” seja o local da</p><p>própria atividade (Rubio, 2007).</p><p>Situações psicológicas ocorrem na prática do esporte recreativo.</p><p>Compreendendo, por exemplo, quais os motivos que levam as pessoas a</p><p>praticar, associamos motivações que se relacionam ao alívio de dor, melhora</p><p>de uma condição de saúde, sensação de fazer algo por si, de ser competente,</p><p>de ser reconhecido pelo seu esforço, entre outros. Por outro lado, surgem os</p><p>receios em “não fazer da forma correta” e mesmo no tempo livre, a presença</p><p>de níveis de estresse.</p><p>Fundamental é acessar o modo de vida dos praticantes e seus familiares</p><p>para que possamos oferecer as melhores soluções que incentivem praticar</p><p>atividade física de forma tranquila, com esforço adequado e com emoções</p><p>positivas.</p><p>Em outra ilustração, temos o exemplo de Cintia, que praticava escalada</p><p>pelo menos uma vez a cada quinze dias. Depois de experimentar esportes</p><p>considerados clássicos, experimentou uma parede de escalada indoor e</p><p>passou a fazer passeios aos paredões das montanhas em torno de sua cidade</p><p>natal. Essa prática a levou a formar grupos de escalada e escolher a</p><p>modalidade como lazer em pelo menos um período das suas férias de trabalho</p><p>e em finais de semana.</p><p>Projeto social</p><p>Nos projetos sociais temos propostas relacionadas a socialização de</p><p>pessoas de diferentes idades, com o objetivo de apresentar um conjunto de</p><p>práticas através do esporte que possibilitam trabalhar temas como violência,</p><p>discriminação racial e de gênero, uso de drogas licitas e ilícitas, entre outros.</p><p>Rubio (2007) aponta que os conhecimentos de “educação e da educação</p><p>física são fundamentais no desenvolvimento de atividades tanto com os</p><p>usuários do projeto como com a equipe de profissionais que trabalha e atende</p><p>esse público”. As intervenções são dinâmicas, ora exigindo acompanhamento</p><p>de problemas emergentes, ora de situações pedagógicas.</p><p>De fato, a presença do psicólogo do esporte no campo de atuação dos</p><p>projetos sociais fomenta a comunicação, a troca, o encontro, o entendimento</p><p>entre pessoas que estão se relacionando em práticas ora corporais e ora</p><p>intelectuais, mas que estão construindo o reconhecimento da alteridade</p><p>necessária para o campo relacional. O lugar para experimentarmos emoções</p><p>se faz presente e por muitas vezes, possibilita a expressão do sofrimento</p><p>psíquico. Aqui cabe ao psicólogo estender seus conhecimentos do campo</p><p>esportivo para alívio das dores da alma, acolhendo, aconselhando, educando</p><p>e trabalhando com elogios, gratidão e consciência frente aos dilemas éticos</p><p>presentes.</p><p>Neste campo, podemos ilustrar com o exemplo de Pedro, que tem 13 anos,</p><p>mora em uma cidade grande e está inscrito em um Projeto Social que atende</p><p>meninos e meninas, dos 7 aos 17 anos, residentes na sua comunidade. As</p><p>atividades esportivas oferecidas são diversas e o objetivo é incentivar a</p><p>Educação pelo Esporte. Porém, a realidade que Pedro vive na comunidade o</p><p>faz refletir sobre o que de fato tem aprendido nos três dias por semana em que</p><p>participa do Projeto Social e na escola estadual que estuda, já que em sua</p><p>classe, um colega o convida todos os dias a participar de um grupo que ganha</p><p>reconhecimento por criar um comércio rentável de produtos piratas.</p><p>Iniciação esportiva</p><p>A iniciação esportiva é um campo de atuação que encontra nas crianças e</p><p>adolescentes um intenso investimento de energia (psíquica e física). Além</p><p>deles, pais, técnicos e amigos participam ativamente das práticas esportivas</p><p>pedagógicas e competitivas.</p><p>A habilidade motora que pode levar ao aprimoramento do gesto esportivo</p><p>tem desafiado psicólogos do esporte a lidar com seus limites e possibilidades,</p><p>além de gerenciarem influências sociais que podem acarretar em escolhas</p><p>que alteram os níveis de adesão à modalidade praticada.</p><p>Podemos considerar o psicólogo do esporte nesse campo como mediador e</p><p>facilitador das relações sociais, tendo no esporte a possibilidade de</p><p>desenvolvimento do indivíduo, na busca da autonomia, fortalecendo sua</p><p>autoestima, proporcionando educação e saúde. Além disso, a cultura esportiva</p><p>incentiva a aceitação e o enfretamento da condição de potência e impotência</p><p>de cada um.</p><p>Para exemplificar este campo, temos o caso de Jair, que começou a</p><p>praticar skate aos 08 anos de idade. Hoje, com 11 anos, vive a emoção de sua</p><p>modalidade integrar os Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio, no Japão.</p><p>Residente de um bairro de classe média, em uma capital brasileira, está</p><p>voltando às pistas após lesão e afastamento por mais de doze meses. Ele tem</p><p>apoio de seus pais para participar de competições e seu treinador acredita que</p><p>possa se recuperar para dar continuidade a sua prática. A família, o técnico e</p><p>o atleta concordam que será preciso um programa de desenvolvimento</p><p>esportivo que integre os aspectos psicofísicos e, por isso, estão formando uma</p><p>equipe de trabalho com profissionais de saberes distintos, mas relacionados.</p><p>Esporte escolar</p><p>No esporte escolar, segundo Salmuski (2009), o objetivo é a formação,</p><p>norteada por princípios socioeducativos, preparando seus praticantes para a</p><p>cidadania e para o lazer. O psicólogo do esporte tem como objetivo incentivar</p><p>na prática do esporte e do exercício os processos de socialização e</p><p>desenvolvimento. Entende-se que no Brasil, não temos até o presente</p><p>momento, uma organização esportiva (Sistema Esportivo Nacional) que seja</p><p>consistente, diferentemente dos países da América do Norte e por isso, nossa</p><p>atuação profissional até o presente momento não ganha força nesse campo</p><p>de atuação.</p><p>Marco, 14 anos, morador da zona rural de um município com menos de 20</p><p>mil habitantes, vai à escola todos os dias de ônibus da prefeitura. Do sítio até</p><p>lá, são mais ou menos 20 km. Como estuda muito cedo, sai de casa por volta</p><p>das 6h15 da manhã. Nas aulas de Educação Física Escolar, Marco aparenta</p><p>estar cansado e pouco disposto. A justificativa para o cansaço é o trabalho</p><p>que faz à tarde, todos os dias quando está no sítio: pelo menos de uma a duas</p><p>horas, auxilia o pai a cuidar da horta, do galinheiro, do curral, entre outras</p><p>atividades. O professor observa o interesse do aluno nas aulas de dança</p><p>sertaneja e seu pouco interesse por outras atividades esportivas. Marco ilustra</p><p>uma demanda possível para atuação nesse campo, onde demandas comuns</p><p>são excesso de atividades acadêmicas e a dificuldade de alunos que precisam</p><p>ter jornadas extras de trabalho.</p><p>Esporte de reabilitação</p><p>No esporte de reabilitação, o psicólogo do esporte pode atender pessoas</p><p>que sofreram algum tipo de lesão ou possuem algum tipo de deficiência física</p><p>ou mental, alterações de estado de humor, entre outros, utilizando o esporte</p><p>como alternativa terapêutica, física ou mental, de socialização ou</p><p>desenvolvimento.</p><p>Estudos apontam o papel e a função da atividade física descrevendo</p><p>mecanismos biológicos e psicológicos para explicar a relação entre exercício e</p><p>a dimensão psicológica (Mello & Tufik, 2004). Ganhos percebidos: maior</p><p>interação social, ganho de condicionamento físico, que proporciona um</p><p>sentimento de realização promovido pela melhoria dos movimentos,</p><p>influenciando os sentimentos negativos, como desesperança e desamparo.</p><p>Disfunções em substâncias químicas como na atividade das monoaminas</p><p>(dopamina e serotonina, por exemplo) são, com frequência, associadas aos</p><p>distúrbios depressivos. Experimentos científicos evidenciaram que o exercício</p><p>físico eleva os níveis de enforfina, aumentam a síntese das monoaminas e</p><p>reduzem níveis de colesterol, resultando em uma série de efeitos positivos e</p><p>terapêuticos na promoção da saúde física e mental (Mesquita, 2001).</p><p>No contexto do alto rendimento é possível participar na recuperação de um</p><p>atleta em uma situação cirúrgica ou de uma lesão (Angelo et al, 2010;</p><p>Markunas, 2000, 2003). Segundo Rubio (2007) “isso implica no</p><p>acompanhamento, juntamente com a equipe médica e fisioterápica, de todo o</p><p>processo clínico, pré e pós-cirúrgico e na preparação emocional para o retorno</p><p>a treinos e competições. ” Nesta forma de atuação, o lema é reabilitar para</p><p>performar.</p><p>Em situações psicológicas difíceis, com algum grau de sofrimento psíquico,</p><p>estresse e necessidade de esforço adaptativo é necessário que o psicólogo(a)</p><p>do esporte atue de forma a qualificar a assistência, evitando tensões e</p><p>trabalhando na construção subjetiva do sentido do cuidar de si mesmo, ou</p><p>seja, autocuidado.</p><p>Para ilustrar um caso nesta área, citaremos o caso da Ana, professora do</p><p>ensino médio, 40 anos, que foi a uma consulta médica para avaliar seu</p><p>cansaço frequente e sua labilidade de humor (chora com facilidade). O médico</p><p>sugeriu que Ana demonstrava sintomas clínicos de depressão relacionados à</p><p>sua carga de trabalho, ao sedentarismo e ao ganho de peso dos últimos</p><p>meses. Além disso, aumentos súbitos de pressão arterial têm levado a</p><p>hipótese diagnóstica de hipertensão (pressão arterial acima dos ≥ 140 e/ou 90</p><p>mmHg). Imaginem como os aspectos psicológicos se manifestam e carecem</p><p>de atençãoo profissional nesse caso.</p><p>Prática de exercício físico – academias, consultorias</p><p>A prática de exercícios físicos necessita de uma avaliação pré-participação</p><p>que é tema de muitas controvérsias na literatura médica e “novidade” na</p><p>Psicologia do Esporte. Sabemos que adultos jovens envolvidos com atividades</p><p>esportivas têm 2,5 vezes maior risco de morte súbita do que a população em</p><p>geral. O desafio é desenvolver uma avaliação pré-participação que seja eficaz</p><p>em detectar casos considerados de alto risco para a prática esportiva (Angelo</p><p>et al, 2010).</p><p>De início, quando se procura o local para se praticar esporte de forma</p><p>organizada e rotineira, a tendência é que algo motiva esta integração de</p><p>hábito. Entender os fatores motivacionais que levam as pessoas a escolherem</p><p>determinadas práticas esportivas, seus objetivos e sua intencionalidade</p><p>desperta o autoconhecimento corporal, incluindo as práticas ritualizadas e</p><p>convocando a presença no impulso, etapa e sequencias, tendo como foco a</p><p>intenção do movimento.</p><p>Viana-Meireles et al. (2015) apontam que as academias de ginástica são</p><p>espaços onde o psicólogo do esporte pode auxiliar os usuários a potencializar</p><p>escolhas por estilos de vida saudável, o cuidar</p><p>de si mesmo. Aspectos</p><p>relacionados ao acolhimento das demandas e expectativas com resultados</p><p>que o exercício pode oferecer, além de ações de aderência e adesão ao</p><p>exercício são fundamentais para a elaboração de um programa de</p><p>intervenção.</p><p>Para exemplificar, podemos citar o caso de Sophia que tem 19 anos e está</p><p>fazendo cursinho. Passa muitas horas estudando para o vestibular de</p><p>medicina e uma das recomendações médicas é que fizesse algum tipo de</p><p>exercício para lidar com a tensão e o estresse produzidos nessa fase de</p><p>transição da vida escolar para a acadêmica. Assim, ela que já havia tentado</p><p>alguns exercícios em aparelhos na academia, se motivou a experimentar aulas</p><p>de circo oferecidas por um grupo de novos professores da academia.</p><p>Finalizando</p><p>Apresentados os campos de atuação, ilustrando com alguns exemplos</p><p>comuns, mas que não representam a totalidade das demandas e questões</p><p>pertinentes à Psicologia do Esporte e do Exercício. Acreditamos que tenhamos</p><p>finalizado o desafio de descrever e apontar possibilidades profissionais aos</p><p>psicólogos do esporte. As práticas nos revelam o esperado e o inusitado e por</p><p>isso, as imprevisibilidades são bem-vindas na construção da atuação</p><p>profissional. Antecipar estudos diagnósticos sobre o futuro da psicologia do</p><p>esporte nos parece um caminho interessante para indicar a importância dos</p><p>investimentos ou desinvestimentos a serem realizados. Atualmente, a</p><p>demanda tem preconizado o desenvolvimento do ensino e pesquisa na</p><p>especialidade para que a responsabilidade da aplicação tenha respaldo em</p><p>relação ao que consideramos fundamental para a Psicologia do Esporte</p><p>brasileira.</p><p>Sendo assim, o psicólogo(a) do esporte trabalha e considera sua história, o</p><p>campo de conhecimento que deve estudar e se aprimorar, além da integração</p><p>com novas áreas do conhecimento, constituindo a rede de interdisciplinaridade</p><p>preciosa para um bom desempenho profissional.</p><p>Atividades</p><p>Para que você tenha um bom aproveitamento da leitura do capítulo e</p><p>verifique os conteúdos nele apresentados, sugerimos que responda as</p><p>questões abaixo tendo como base os exemplos apresentados:</p><p>1. Qual a forma de trabalho que o psicólogo do esporte poderá potencializar o</p><p>rendimento esportivo da atleta de tiro com arco no alto rendimento?</p><p>2. Como trabalhar com Cintia a sua prática recreativa elaborando com ela</p><p>metas a serem cumpridas a fim de manter a sua qualidade de vida?</p><p>3. Que tipo de ação psicológica relacionada às práticas esportivas oferecidas</p><p>pelo projeto social você poderia propor para que o menino possa refletir</p><p>sobre perdas e ganhos?</p><p>4. O skatista está retornando a sua prática. Quais as medidas e os tipos de</p><p>trabalho possíveis para fortalecer a ludicidade da prática e sua</p><p>continuidade? Como trabalhar e com quem?</p><p>5. Você como psicólogo do esporte que participa das atividades do ambiente</p><p>escolar, como poderá auxiliar o professor da lidar com a desmotivação</p><p>parcial de Marco?</p><p>6. Você trabalha em equipe de saúde que é a responsável pela indicação de</p><p>tratamento não-medicamentoso. Estruture um programa de atendimento a</p><p>Ana a fim de que ela possa retomar o seu exercício físico com segurança.</p><p>7. Sophia parece ter se animado com as aulas de circo. Você que trabalha na</p><p>academia e participou das discussões sobre o novo programa de aulas</p><p>como elaborar um programa de adesão ao exercício?</p><p>Referências bibliográficas</p><p>Angelo, L.F.; Dias, E.T.; Rubio, K (2010). A psicologia e a busca da compreensão dos</p><p>processos emocionais na atividade física e no esporte competitivo. In: Cardiologia do</p><p>exercício: do atleta ao cardiopata. Carlos Eduardo Negrão & Antonio Carlos Pereira Barreto</p><p>(Eds). 2ª. ed., 675-697, Ed. Barueri, Sp: Manole.</p><p>Angelo, L. F. ; Matos, L.D.N.J.; Oliveira, P.A.(2010) Aspectos psicológicos da morte súbita. In:</p><p>Psicologia e cardiologia:um desafio que deu certo. Ana Lucia Alves Ribeiro & Mayra Luciana</p><p>Gagliani (orgs). 1ª. ed., 37-46, São Paulo, Editora Atheneu.</p><p>Angelo, L. F. (2003).Saúde, psicologia, esporte e atividade física: um encontro necessário. In:</p><p>Kátia Rubio. (Org.). Psicologia do esporte: teoria e prática. 1a.ed.São Paulo: Casa do</p><p>Psicólogo, 2003, v. , p. 91-111.</p><p>Angelo, L. F. (2000). Psicanálise e Psicologia do Esporte: é possível tal combinação?. In: Kátia</p><p>Rubio. (Org.). Psicologia do Esporte – Interfaces, Pesquisa e Intervenção. 1a.ed.São Paulo:</p><p>Casa do Psicólogo, 2000, p. 55-65.</p><p>Barreira, C. R. A. & Conde, E. (2016). A psicologia do esporte na ANPEPP: um inédito grupo</p><p>de trabalho inaugura sua participação. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, 6 (2), 2-</p><p>13.</p><p>Becker Jr, B. (2008). Manual de Psicologia do Esporte e Exercício. Porto Alegre: Nova Prova.</p><p>Brandão, M.R. & Machado, A. A.(2007).Coleção Psicologia do Esporte e do Exercício. Teoria e</p><p>Aplicação. Vol. 1. São Paulo: Ed. Atheneu.</p><p>Cantón C., E. (2010). La psicologia del deporte como profesión especializada. Papelesdel</p><p>Psicólogo, 31(3), 237-245.</p><p>Carvalho, C. A. (2016). Psicologia do esporte: construindo sua história a partir da Educação</p><p>Física. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte (6), 70-88.</p><p>Carvalho, C. A. (2008). Psicologia do esporte: percurso e possibilidade de atuação. Ciências</p><p>Humanas em Revista, 6(2), 1-10.</p><p>Casal, H M.V. (2007). Fatos e reflexões sobre a história da Psicologia do Esporte. In: Maria</p><p>Regina Ferreira Brandão e Afonso Antonio Machado. Coleção Psicologia do Esporte e do</p><p>Exercício, Teoria e Aplicação (1)01-29. São Paulo: Editora Atheneu.</p><p>Cillo, E.N.P.(2000). Analise do comportamento aplicada ao esporte e a atividade física: a</p><p>contribuição do behaviorismo radical. In: Katia Rubio. (Org.). Psicologia do esporte:</p><p>interfaces, pesquisa e intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000, v. 1, p. 90-101.</p><p>Colegio Oficial de Psicólogos de España (1998, 2006). Perfiles profesionalesdel psicólogo.</p><p>Madrid: COP.</p><p>Deci, E. L. e Ryan, R. M. (1985). Intrinsic motivation and self-determination in human behavior.</p><p>New York: Plenum.</p><p>Espírito Santo, A. A. & Jacó Vilela, A. M. (2016). As invisibilidades da história: Athayde Ribeiro</p><p>da Silva e a psicologia do esporte no Brasil. Memorandum (Belo Horizonte),(1), 56-79.</p><p>Franco, G. S. (2000). Quando o esporte encontra o psicodrama. In: Rubio, K. (orgs) Psicologia</p><p>do Esporte. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.</p><p>Gill, D. L. (1986). Psychological dynamics ofsport. Champaign, IL: HumanKinetics.</p><p>Hernandez, J. A. E. (2011). João Carvalhaes, um psicólogo campeão do mundo de futebol.</p><p>Estudos e Pesquisas em Psicologia, 11(3), 1027-1049. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?</p><p>script=sci_arttext&pid=S1808-42812011000300017&lng=pt&tlng=pt</p><p>International Society of Sport Psychology.ISSP, (2017). CodeofEthics. Disponível em:</p><p>http://www.issponline.org/p_codeofethics.asp?ms=3. Acesso em 27/ago/2017.</p><p>León, E. &Cantón, E. (2008). La formacióndelprofesional de la psicologia del deporte. In: J. A.</p><p>Mora y F. Chapado (Eds.), Visiónactual de lapsicologíadel deporte (pp. 654-660). Sevilla:</p><p>Editorial Wanceulen.</p><p>Lox, C. L., Martin Ginis, K. A., &Petruzzello, S. J. (2014). The psychology of exercise:</p><p>Integrating theory and practice (4th ed.). Scottsdale, AZ: Holcomb Hathaway.</p><p>Machado, A. A. (1997). Psicologia do Esporte: sua história. In: A. A. Machado (org), Psicologia</p><p>do Esporte: temas emergentes, 1. Jundiaí: ÁPICE.</p><p>Matarazzo,F. (2000). A tipologia junguiana e sua utilização no Esporte. In: Rubio, K. (Org.).</p><p>Psicologia do Esporte: Interfaces, Pesquisa e Intervenção. 1ªed. São Paulo: Casa do</p><p>Psicólogo, 2000, v. 1, p. 67-85.</p><p>Markunas, M. (2003). Reabilitação psicológica de atleta lesionado. In: Katia Rubio. (Org.).</p><p>Psicologia do Esporte Aplicada. 1ªed.São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003, p. 173-191.</p><p>Markunas, M. (2000). Reabilitação esportiva ou esporte como reabilitação?. In: Katia Rubio.</p><p>(Org.). Psicologia do Esporte: interfaces, pesquisa e intervenção. 1ed.São Paulo: Casa do</p><p>Psicólogo, 2000, p. 139-153.</p><p>Mello, M.T.; Tufik, S. (2004) Atividade física, exercício físico e aspectos psicobiológicos. Rio de</p><p>Janeiro: Ed. Guanabara Koogan S.A.</p><p>Mesquita, R.M. (2001) “A atividade</p><p>física para adultos depressivos”. Simpósio Internacional de</p><p>Psicologia do Esporte, Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo,</p><p>Departamento de Pedagogia do Movimento do Corpo Humano.CD-Rom.</p><p>Noce, F.; Vieira, L. F.; Costa, V.T. (2016). Brazil. In: R.J. Schinke, K.R. McGannon, & B. Smith.</p><p>(Eds.). Routledge International Handbook of Sport Psychology.Routledge: New York. 56-64.</p><p>Prohaska T, Eisenstein A, Satariano W, Hunter R, Bayles C, Kurtovich E, Ivey S. Walking and</p><p>the preservation of cognitive function in older populations. The Gerontologist. 2009;49(Suppl.</p><p>1): S86-S93. doi:10.1093/geront/gnp079. [PubMed]</p><p>Prochaska, J.O. & Marcus, B.H. (1994). The transtheoretical model: Applications to exercise.</p><p>In R.K. Dishman (Ed.). Advances in Exercise Adherence (pp. 161-180). Champaign, III:</p><p>Human Kinetics.</p><p>Queiroz, F.S.;Fogaça J.L.; Hanrahan S. J.;&Zizzi, S. (2016): Sport psychology in Brazil:</p><p>Reflections on the past, present, and future of the field. International Journal of Sport and</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812011000300017&lng=pt&tlng=pt</p><p>Exercise Psychology, 14 (2), 168-185. https://doi.org/10.1080/1612197X.2016.1154090</p><p>Rubio, K. (2007). Da psicologia do esporte que temos à psicologia do esporte que queremos.</p><p>Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, 1(1), 01-13.</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-</p><p>91452007000100007&lng=pt&tlng=pt.</p><p>Rubio, K. (2002). Origens e evolução da psicologia do esporte no Brasil. Biblio 3W, Revista</p><p>Bibliográfica de Geografía y CienciasSociales, Universidad de Barcelona, volume VII, nº</p><p>373, 10 de mayo de 2002. http://www.ub.es/geocrit/b3w-373.htm [ISSN 1138-9796]</p><p>Rubio, K. (2001). De la psicologia general a la psicologia del deporte: marcos teóricos,</p><p>relaciones y dependências. Revista de Psicologia del Deporte (Barcelona), 10 (2).</p><p>Rubio, K. (2000). Psicologia do Esporte. Interfaces, pesquisa e intervenção. São Paulo: Casa</p><p>do Psicólogo.</p><p>Rubio, K. (1999). A psicologia do esporte: histórico e áreas de atuação e pesquisa.Psicologia:</p><p>Ciência e Profissão, 19(3), 60-69. https://dx.doi.org/10.1590/S1414-98931999000300007</p><p>Samulski, D. (2009). Psicologia do Esporte: conceitos e novas perspectivas. Barueri-SP:</p><p>Editora Manole.</p><p>Thatcher, J.; Day, M.; Rahman, R. (2011).Sport and exercise psychology.Publisher: Sage</p><p>Publications Ltd; 1 edition.</p><p>Viana-Meireles, L.G.; Bomfim, Z.A.C.; Conde, E. F.Q.; Oliva, A. D.(2015). Reflexões sobre o</p><p>trabalho do psicólogo do esporte em uma academia de ginástica. Motrivivência 27(46), 171-</p><p>184.</p><p>Vieira, L., Nascimento Jr, J.R., Vieira, J.L. (2013). O estado da arte da pesquisa em Psicologia</p><p>do Esporte no Brasil. Revista de Psicologíadel Deporte, 22(2), 501-507.</p><p>Vieira, L. F.;Vissoci, J. R. N.; Oliveira, L. P. & Vieira, J. L. L. (2010). Psicologia do esporte: uma</p><p>área emergente da psicologia. Psicologia em Estudo, 15(2), 391-399.</p><p>https://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722010000200018</p><p>Weinberg, R. S. & Gould, D. (2001). Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício (2ª.</p><p>Ed.), Maria Cristina Monteiro (Trad.). Port</p><p>https://doi.org/10.1080/1612197X.2016.1154090</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-91452007000100007&lng=pt&tlng=pt</p><p>http://www.ub.es/geocrit/b3w-373.htm</p><p>https://dx.doi.org/10.1590/S1414-98931999000</p><p>https://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722010000200018</p><p>CAPÍTULO 4</p><p>Aspectos biopsicossociais no contexto da iniciação esportiva</p><p>Adriana Lacerda</p><p>Caroline Muniz</p><p>A Psicologia do Esporte é a ciência que realiza intervenções na prática</p><p>esportiva visando bem-estar emocional e a otimização da performance do</p><p>atleta, defendendo que a iniciação esportiva seja uma prática adaptada ao</p><p>nível de desenvolvimento infantil.</p><p>O esporte proporciona maturidade ao desenvolvimento infantil, porém,</p><p>dependendo da sua aplicabilidade, o esporte pode trazer prejuízos à criança.</p><p>A preocupação com a especialização precoce para o alto rendimento pode ser</p><p>um fator negativo na vida esportiva da criança. Deve-se evitar uma inserção</p><p>que visa o imediatismo de resultados, trabalhando os treinamentos de acordo</p><p>com a faixa etária da criança, obedecendo seus limites e sem pular etapas,</p><p>trabalhando a longo prazo e respeitando seu desenvolvimento biológico,</p><p>psicológico e social. Também é de extrema importância os quesitos nutrição,</p><p>educação e lazer se encaixarem nessa rotina sem haver prejuízos. A iniciação</p><p>esportiva é considerada um campo de atuação da Psicologia do Esporte, que</p><p>possui o objetivo de utilizar o esporte como ferramenta de desenvolvimento</p><p>humano, não priorizando apenas a formação de atletas em contextos</p><p>competitivos, mas também a formação de seres humanos integrais (educação,</p><p>relações afetivas, relações sociais e saúde física e mental).</p><p>1 Psicologia do Desenvolvimento</p><p>1.1 Formação da personalidade</p><p>A Psicologia do Desenvolvimento engloba aspectos presentes desde o</p><p>nascimento até a idade adulta do indivíduo, isto é, seus processos biológicos,</p><p>suas relações com o mundo e seus processos culturais, sociais, emocionais,</p><p>motores e cognitivos. De acordo com Piaget & Inhelder (1999), a psicologia da</p><p>criança estuda o crescimento mental que trata do desenvolvimento das</p><p>condutas. É o estudo dos comportamentos e da consciência até a inserção do</p><p>indivíduo na sociedade adulta.</p><p>Segundo Mussen (1966), personalidade é um conceito que envolve as</p><p>predisposições de um indivíduo para determinados comportamentos e como</p><p>este se ajusta ao meio em que vive. A formação da personalidade é um fator</p><p>extremamente importante no desenvolvimento infantil, pois esta formação</p><p>engloba uma série de aspectos emocionais, como metas, valores,</p><p>autoconfiança, motivação, responsabilidade, crenças e percepções. É na</p><p>infância que a personalidade forma a base de comportamentos e condutas</p><p>que se desenvolverá até a vida adulta. A criança inicia suas interações com o</p><p>ambiente e com os outros indivíduos e, a partir disso, estabelece suas</p><p>primeiras referências, seus gostos, seus medos e suas possibilidades.</p><p>Chiappin (2012) reflete sobre o desenvolvimento da personalidade humana,</p><p>enfatizando os primeiros momentos da criança em relação com o mundo, onde</p><p>traz consigo uma herança biológica de seus antepassados, mas ainda não</p><p>alcançou as percepções com a realidade, pois só fará isso em contato com o</p><p>mundo social, de maneira lenta e gradual.</p><p>Para Mussen (1966, p. 89), “o desenvolvimento da personalidade é um</p><p>processo imensamente complexo” e modificado por pelo menos quatro tipos</p><p>de influências, conhecidas como fator biológico, cultura, experiências e</p><p>situações vividas, que exercem funções no comportamento infantil.</p><p>As influências biológicas na formação da personalidade, segundo Mussen</p><p>(1966), são limitadas e indiretas – os fatores genéticos, a hereditariedade, a</p><p>aparência física e o ritmo de maturação biológica – que se interligam com o</p><p>meio e com a aprendizagem, gerando impactos na personalidade. A</p><p>personalidade é formada e modificada através da interação que o indivíduo,</p><p>como ser geneticamente biológico, realiza com o meio social que está</p><p>inserido.</p><p>É na relação com o outro que a criança distinguirá suas características</p><p>físicas das características de outras crianças, como olhos, cabelos, cor da</p><p>pele, altura e peso. Essas diferentes características podem gerar na criança</p><p>confiança ou insegurança. A partir dessas relações e suas características</p><p>físicas, a criança se confrontará com a aceitação ou não dos padrões culturais</p><p>sociais e, diante disso, ela pode desenvolver características positivas ou</p><p>negativas à sua personalidade com forte autoestima ou isolamento, com</p><p>timidez ou confiança, por exemplo. A adolescência é outro momento no qual</p><p>essas relações ganharão relevância neste mesmo aspecto, só que agora no</p><p>desenvolvimento e no ritmo da maturação biológica, onde as mudanças no</p><p>corpo geram diversas interpretações do indivíduo adolescente causadas pela</p><p>maturação tardia ou precoce, impactando na personalidade.</p><p>Vale ressaltar que cada pessoa reage e aceita de forma diferente as</p><p>transformações</p><p>e situações que vivenciam, uma vez que os processos</p><p>psicológicos são vastos e complexos e são respondidos pelos indivíduos de</p><p>maneira individual e distinta. Essas características podem afetar ou não a</p><p>formação e o desenvolvimento da personalidade, dependendo de como é</p><p>vivenciada e aceita por cada pessoa.</p><p>A cultura também faz parte do conjunto de influências que regulam a vida</p><p>do indivíduo, ou seja, o meio social com seus costumes, regras e</p><p>características como crenças, hábitos familiares e morais, a lei que rege</p><p>determinado lugar, as manifestações artísticas e/ou religiosas e outros tipos de</p><p>crenças, criados na antiguidade por outras pessoas, influenciam</p><p>significativamente nossos comportamentos. Este é o retrato da teoria</p><p>Vygotskiana, que une os processos históricos, sociais e culturais como parte</p><p>predominante do desenvolvimento do sujeito.</p><p>Os estudos de Filho, Ponce & Almeida (2009), em conformidade com o</p><p>pensamento Vygotskiano, entendem que a cultura é o principal alicerce para o</p><p>desenvolvimento do homem. Através dela, alcançam-se aptidões relacionadas</p><p>às funções superiores, ou seja, o sujeito se transforma pelo contato com a</p><p>cultura, e este caráter ocorre pela atividade e a mesma permite ao ser humano</p><p>modificar, transformar, produzir e criar propriedades que supram suas</p><p>necessidades.</p><p>As compreensões de Filho, Ponce e Almeida (2009) sobre a teoria</p><p>Vygotskyana permitem entender que o desenvolvimento cultural acontece</p><p>primeiramente no âmbito social e, posteriormente, no âmbito psicológico.</p><p>Assim, o homem se desenvolve primeiro por meio da relação com o ambiente</p><p>e outros indivíduos e, então, ao inserir este processo em sua história,</p><p>desenvolve suas funções psíquicas superiores. A formação da memória,</p><p>atenção e percepção, ocorre através do contato que o indivíduo tem com o</p><p>mundo exterior e suas relações sociais.</p><p>As características culturais variam e se diferenciam de uma cultura para</p><p>outra. O ambiente que estamos inseridos é um forte influenciador das</p><p>características que estruturam a personalidade do indivíduo. É em contato</p><p>com a cultura que o sujeito estabelece padrões de obediência, através das</p><p>regras e da moral impostas por aquela determinada sociedade.</p><p>Para Piaget & Inhelder (1999, p.8), “a psicologia da criança não poderia,</p><p>portanto, recorrer apenas a fatores de maturação biológica, visto que os</p><p>fatores que hão de ser considerados dependem assim do exercício ou da</p><p>experiência adquirida como da vida social em geral”. Todos os fatores que</p><p>influenciam na formação e no desenvolvimento da personalidade não</p><p>funcionam isoladamente, mas sim se complementando neste universo</p><p>complexo e extenso que é a personalidade humana.</p><p>A teoria piagetiana (1995), defende que as experiências permitem que a</p><p>criança evolua e forme aspectos cognitivos, que ocorrem em diferentes</p><p>estágios da infância. Para Piaget (1995), o indivíduo estabelece relações ao</p><p>decorrer da vida que necessitam acontecer no tempo certo do</p><p>desenvolvimento. Tais relações ocorrem com a família, amigos, escola,</p><p>atividade esportiva e por outras relações; estas relações formam o aspecto</p><p>psicossocial do indivíduo e através delas a criança adquire aprendizados.</p><p>Filho, Ponce & Almeida (2009), em seus estudos sobre Piaget, concluem que</p><p>o aspecto psicossocial se manifesta nas aprendizagens por transmissão, isto</p><p>é, a aprendizagem que determinado indivíduo adquire através de outro ser</p><p>humano.</p><p>Para Mussen (1966), através da socialização a criança adquire diferentes</p><p>escolhas comportamentais. Esses padrões são escolhidos de acordo com os</p><p>padrões aceitáveis pelo grupo familiar e pelo meio social. Desta maneira o</p><p>indivíduo adquire certas características para sua personalidade e outras não.</p><p>Essas experiências do contexto familiar, social e cultural constituem as</p><p>características da sua própria personalidade.</p><p>É de grande importância que essas relações da infância, sejam com os</p><p>pais, pares, escola ou treinador, tenham como base o afeto, o apoio emocional</p><p>e o incentivo em suas atividades cotidianas. Além disso, é necessário que a</p><p>criança receba apoio para elaborar as experiências negativas. Isso acontecerá</p><p>de acordo com seu desenvolvimento, lembrando que cada indivíduo possui</p><p>um tempo particular próprio para assimilar algo novo.</p><p>Os condicionamentos sociais e culturais propostos ao indivíduo durante o</p><p>seu desenvolvimento impactam diretamente no processo de construção da</p><p>sua personalidade. Nascer e crescer diante de condicionamentos saudáveis</p><p>fortalece a estruturação do mundo pessoal do indivíduo, tornando-os</p><p>confiantes, expressivos e com boa estabilidade psíquica. Já os</p><p>condicionamentos negativos, podem gerar agravos na estruturação da</p><p>personalidade, como timidez excessiva, insegurança, desconfiança ou</p><p>agressividade (Chiappin, 2012).</p><p>Para a criança perceber a experiência como positiva, é necessário haver</p><p>equilíbrio em sua formação, e não repreensão e proteção em excesso, mas</p><p>que, através do diálogo e de uma educação democrática, possa aprender o</p><p>que é certo e errado, sempre de maneira equilibrada e respeitando as etapas</p><p>do seu desenvolvimento. O equilíbrio engloba todos os aspectos que uma</p><p>criança necessita para se desenvolver saudável e feliz – afeto, educação,</p><p>alimentação, lazer e o bem-estar emocional – este equilíbrio evita problemas</p><p>em seu desenvolvimento e na vida adulta. Como aponta Chiappin (2012,</p><p>p.44), “o equilíbrio de condicionamentos e estruturações pessoais levará</p><p>fluentemente a formar crianças, jovens e adultos positivos, adaptados ao bom</p><p>senso do real, ao equilíbrio emocional, à autodeterminação responsável e</p><p>feliz”.</p><p>Outro fator de grande influência na formação da personalidade são as</p><p>variáveis situacionais, ou seja, os comportamentos e as reações do indivíduo</p><p>diante de uma situação presente. Segundo Mussen (1966, p.128), “o fato de</p><p>que determinadas situações podem levar a modificações no comportamento</p><p>das crianças muito novas demonstra que, nessa idade, as características da</p><p>personalidade não são fixas, nem imutáveis”.</p><p>Durante a vida, o indivíduo enfrentará muitas situações de estresse e</p><p>frustração e a maneira que a criança enfrenta estas situações é extremamente</p><p>importante. Mussen (1966) conclui, com base em suas experiências, que as</p><p>reações imaturas e desajustadas das crianças podem ser melhoradas</p><p>trazendo para a criança maior tolerância à frustração, independência e</p><p>persistência para enfrentar as dificuldades.</p><p>Tem-se que os fatores biológico e cultural, as experiências e a situação</p><p>presente fazem parte da formação da personalidade humana e que um não se</p><p>sobrepõe ao outro, mas se complementam com suas peculiaridades. É</p><p>indispensável para a formação da criança que esses fatores sejam respeitados</p><p>e estimulados em seu tempo certo, obedecendo as etapas do</p><p>desenvolvimento infantil e enxergando a criança como um ser biopsicossocial.</p><p>2 A Criança e a Iniciação Esportiva</p><p>2.1 Personalidade da criança desportista</p><p>Como já mencionado anteriormente, a cultura é um dos aspectos</p><p>fundamentais presente na formação da personalidade e sua manifestação é</p><p>capaz de se introduzir na construção pessoal dos indivíduos. O esporte</p><p>também é uma manifestação cultural com valores e uma dimensão grandiosa</p><p>no processo de ensino e aprendizagem, principalmente quando o público alvo</p><p>são crianças. É por este motivo que Rubio (2003) ressalta a atuação da</p><p>Psicologia do Esporte em paralelo com a Psicologia Social. A Psicologia do</p><p>Esporte atua para otimizar o rendimento esportivo, enxergando o ser humano</p><p>além do atleta. Já a Psicologia Social, neste contexto, contempla as</p><p>compreensões do atleta-sujeito inserido em um determinado lugar e as ações</p><p>dessas interações.</p><p>Segundo Becker Jr. & Teloken (2000), a idade na qual as crianças iniciam a</p><p>prática esportiva gira em torno dos doze anos, isto é, o início da adolescência.</p><p>Baseado nisso, a criança esportista já está inserida na prática do exercício</p><p>físico antes de desenvolver completamente as aptidões motoras, cognitivas,</p><p>físicas e psicológicas. A prática esportiva e as relações adquiridas através do</p><p>esporte também</p><p>influenciam na formação de aspectos da personalidade da</p><p>criança.</p><p>Becker Jr. & Teloken (2000) expõem que os motivos da inserção da criança</p><p>na prática esportiva podem ser pela alegria em praticar uma modalidade ou</p><p>um exercício, adquirir e desenvolver competências e habilidades, formar</p><p>pessoas, status social, saúde ou prescrição médica, liberação de energia e</p><p>influência de outras pessoas, mídia ou ídolos. Nesta faixa etária, quem</p><p>responde pela criança são seus responsáveis, os quais promovem a inserção</p><p>da criança na prática esportiva. Comumente, a criança não escolhe a</p><p>modalidade esportiva, os pais optam pelo esporte mais acessível ou mais</p><p>conveniente. Ela pode se adaptar e gostar do esporte no qual está inserida ou</p><p>não, caso não goste, desmotivação e conflitos podem surgir afetando seu</p><p>desenvolvimento biopsicossocial. Por esta razão, é essencial que a escolha da</p><p>modalidade esportiva na infância oportunize possibilidades de vivências em</p><p>um conjunto de modalidades esportivas, para que sua prática seja uma</p><p>escolha a partir de identificação da criança com o esporte praticado e não algo</p><p>imposto a ela. A aptidão pela prática esportiva não vem associada à sua</p><p>personalidade, afinal, essa se molda a partir do conjunto de influências</p><p>assimiladas com suas vivências.</p><p>Para Weinberg & Gould (2001, p. 50), a “personalidade é a soma das</p><p>características que tornam uma pessoa única. O estudo da personalidade</p><p>ajuda-nos a trabalhar melhor com estudantes, atletas e praticantes de</p><p>exercícios”. À vista disso, a personalidade é o que nos faz seres humanos</p><p>singulares, nos difere do outro pela maneira de pensar, agir e sentir. A</p><p>personalidade sofre influências culturais e, no esporte infantil, está relacionada</p><p>ao desempenho da performance, na relação com o grupo, na pressão ou</p><p>incentivo transmitida por pais-treinadores-torcida, no ambiente social esportivo</p><p>e no modo como as habilidades técnicas são ensinadas.</p><p>A personalidade da criança desportista sofre influências através das fontes</p><p>de cobrança relacionadas ao jovem atleta na trajetória esportiva. Os pais,</p><p>treinadores, dirigentes, amigos e professores englobam o conjunto de pessoas</p><p>pelas quais a criança adquire suas aprendizagens. A maneira com a qual os</p><p>educadores transmitem ensinamentos reproduz na criança consequências</p><p>boas ou ruins. É recomendável a transmissão de conhecimentos exposta de</p><p>maneira lúdica e, respeitando as diversas etapas do desenvolvimento</p><p>humano, conforme dito anteriormente, como uma construção, na qual a</p><p>criança alcança etapas de dificuldade crescente. Ainda no processo de</p><p>ensino-aprendizagem esportivo é fundamental a criança não ser idealizada</p><p>como uma fábrica de pontos, mas como um ser em constante construção.</p><p>No estudo da personalidade e seus comportamentos é necessário</p><p>considerar um conjunto de variáveis mantenedoras da persuasão dos fatos.</p><p>Ao considerar o atleta inserido em suas diversas esferas, o psicólogo esportivo</p><p>tem como base a compreensão do ser humano em sua totalidade, isto é, o</p><p>sujeito como ser biológico, psicológico, social, emocional, situacional e</p><p>interacional. Por isso, psicólogos, não apenas da área esportiva, mas também</p><p>em outros campos práticos, utilizam-se de entrevistas, história de vida</p><p>pregressa e atual, testes, inventários e uma gama de instrumentos</p><p>psicológicos na identificação da intervenção psicológica mais adequada.</p><p>De Rose Jr. (2009) afirma que as crianças têm se interessado cada vez</p><p>mais cedo pela prática esportiva e isto se deve a grande proporção pela qual</p><p>os meios de comunicação exibem informações do mundo esportivo e,</p><p>principalmente, com a identificação delas com seus ídolos que retratam figuras</p><p>referenciais, personalidade heroica, excelentes condições financeiras, altas</p><p>habilidades esportivas, felicidade, motivação e status.</p><p>A influência dos pais é um aspecto fundamental na formação da</p><p>personalidade da criança desportista, esses são considerados figuras</p><p>modeladoras do comportamento dos filhos. Os pais precisam ter equilíbrio ao</p><p>apoiar o filho-atleta, falta de apoio ou um apoio exagerado podem trazer</p><p>consequências para o rendimento do atleta, como por exemplo, desmotivação</p><p>ou pressão emocional. No caso de pais ex-atletas, é necessário ter cautela</p><p>evitando projetar no filho o atleta que ele foi ou que não conseguiu ser</p><p>(Samulski, 2009).</p><p>A escola e o lazer também influenciam a prática esportiva. Na escola, ainda</p><p>que o esporte não seja de rendimento, através das aulas de Educação Física,</p><p>a criança pode conhecer novas modalidades esportivas e criar vínculo social.</p><p>O lazer para jovens desportistas, geralmente, não os mantém afastados do</p><p>esporte. Nos tempos livres, eles convivem com outros colegas atletas,</p><p>praticam esporte por diversão e estão conectados diariamente com as notícias</p><p>esportivas, através dos meios de comunicação (Samulski, 2009).</p><p>Atualmente, um grande número de crianças tem iniciado sua prática em</p><p>alguma modalidade esportiva. Muitas se adaptam à realidade esportiva da</p><p>especialização precoce, criando vínculo com o esporte e desenvolvendo</p><p>comportamentos refletidos na personalidade dos esportistas profissionais,</p><p>como por exemplo, motivação, felicidade ou altas habilidades esportivas.</p><p>Outras também desenvolvem vínculo com o esporte, mas possuem outros</p><p>tipos de características em sua personalidade, não esperadas e estudadas em</p><p>atletas, como por exemplo, a introversão ou um baixo índice de</p><p>competitividade. Algumas podem criar vínculo não competitivo e agregar os</p><p>valores do esporte em sua formação, mas não se tornam atletas, como por</p><p>exemplo, indivíduos que se beneficiam da formação esportiva direcionando os</p><p>valores e aprendizagens para a vida cotidiana ou praticam o esporte por</p><p>saúde e lazer. E ainda há aquelas que não criam vínculo com o esporte e</p><p>acabam acarretando problemas físicos e/ou psicológicos por uma prática não</p><p>orientada e não correspondente à sua idade, como por exemplo, atletas que</p><p>sofrem pressão dos pais para praticarem determinada modalidade pela qual</p><p>não possuem identificação pessoal ou ainda não desenvolveram prontidão</p><p>para realizar determinada prática.</p><p>Com o intuito de evitar o surgimento de traumas durante a vida esportiva de</p><p>uma criança, é importante estudar as abordagens da personalidade e, através</p><p>delas, entender que a criança deve ser considerada pelos aspectos internos e</p><p>pelo contexto social no qual está inserida. Não há um esporte mais adequado</p><p>para um tipo de personalidade, há tendências a serem desenvolvidas pelos</p><p>praticantes de esporte de alta performance. Entender como a criança percebe</p><p>e reage a essas fontes de cobranças e proporcionar apoio ao seu</p><p>desenvolvimento, pode resultar em uma boa conciliação do contexto social,</p><p>um bom rendimento esportivo e bem-estar emocional.</p><p>2.2 Benefícios da prática esportiva</p><p>Praticar esporte [ 28 ] ou exercício [ 29 ] proporciona bem-estar físico,</p><p>emocional e social ao indivíduo. Por esta razão, o esporte é considerado uma</p><p>prática promotora de saúde e qualidade de vida. A atividade física [ 30 ]</p><p>proporciona benefícios a todas as idades, possibilitando prevenir, fortalecer ou</p><p>reabilitar aspectos físicos e psicológicos. O esporte pode funcionar como</p><p>ferramenta em diversas situações, como, por exemplo, promovendo o bem-</p><p>estar e a saúde, prevenindo doenças causadas pelo sedentarismo,</p><p>contribuindo para o fortalecimento da musculatura e da motricidade, como</p><p>auxílio para desportistas e, ainda, como reabilitador de traumas e lesões ou</p><p>como inclusão de portadores de deficiência na sociedade.</p><p>Para uma melhor assimilação dos benefícios proporcionados pela prática</p><p>esportiva, é necessário que a aprendizagem da modalidade esportiva seja</p><p>ensinada de maneira pedagógica, a partir de instrumentos lúdicos e um</p><p>planejamento educativo, adequados à faixa etária que a criança se encontra.</p><p>Como citado anteriormente, para Piaget (1995) a aprendizagem não é</p><p>simplesmente dada, mas um processo construído de acordo com as etapas do</p><p>desenvolvimento.</p><p>Almeida (1996) exemplifica os benefícios da prática esportiva na infância</p><p>através de três estágios: a iniciação</p><p>os passos, avanços e recuos tanto da Psicologia como do</p><p>Esporte. Isso representa por um lado o compromisso com a construção</p><p>rigorosa da teoria que fundamenta uma prática em desenvolvimento e por</p><p>outro, a instabilidade das instituições esportivas que dizem desejar o rigor da</p><p>profissionalização, mas que ainda convivem com o amadorismo no</p><p>gerenciamento dos clubes e grande parte das Federações e Confederações</p><p>esportivas.</p><p>Resistir à inércia de multiplicar aquilo que já está constituído e</p><p>sacramentado em outros países e continentes é mais do que uma ação</p><p>revolucionária, é antes de tudo vital para a superação de um colonialismo</p><p>acadêmico que se impõe sobre áreas de saber tidas como insipientes ou</p><p>emergentes, como foi o caso da Psicologia do Esporte.</p><p>O que essa obra representa é um movimento de resistência gestado na</p><p>primeira edição do grupo de trabalho em Psicologia do Esporte da Associação</p><p>Nacional Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia</p><p>(ANPEPP), momento de celebração do reconhecimento da área como</p><p>significativa para a produção de conhecimento da Psicologia brasileira. Ali se</p><p>reuniram diferentes gerações de pesquisadores, preocupados em afirmar a</p><p>potência da área, dentro da universidade, uma vez que a alocação das linhas</p><p>de pesquisa ainda se encontra pulverizada nos programas de pós-graduação</p><p>em psicologia, educação física, educação ou outros transdisciplinares,</p><p>refletindo a pluralidade de entendimentos sobre o que é a Psicologia do</p><p>Esporte, afirmando assim a unidade na diversidade.</p><p>Esse livro marca a passagem da puberdade para o mundo adulto da</p><p>Psicologia do Esporte brasileira, com uma produção que demonstra não</p><p>apenas a extensão teórico-metodológica, mas também geográfica, com</p><p>autores originários de diferentes regiões do Brasil, ampliando assim o</p><p>entendimento sobre os atletas, usuários e do próprio fenômeno esportivo. Os</p><p>relatos de experiência apontam para a ousadia criativa desejada há décadas,</p><p>provando que o fazer está diretamente relacionado com as condições</p><p>materiais do lugar onde a psicologia do esporte é aplicada, bem como à</p><p>cultura que cerca o atleta desde sua formação até a profissionalização.</p><p>E que prevaleça o respeito à alteridade e à diversidade, tanto da psicologia</p><p>como dos psicólogos que teorizam e praticam a psicologia do esporte</p><p>brasileira.</p><p>P��������� D��. K���� R����</p><p>Universidade de São Paulo (USP)</p><p>Escola de Educação Física e Esporte</p><p>UNIDADE I</p><p>C��������� � P��������� �� E������ � �� E��������</p><p>CAPÍTULO 1</p><p>A psicologia do esporte no Brasil como ciência do esporte e</p><p>do exercício</p><p>Cristianne Almeida Carvalho</p><p>O percurso do saber psicológico no meio científico sempre foi árduo em</p><p>função da diversidade e peculiaridade dos objetos de estudo que a Psicologia</p><p>tem se proposto a estudar, considerando a complexidade da dinâmica</p><p>existencial do ser humano. A possibilidade de a Psicologia estar presente em</p><p>contextos sociais diversos, possibilita o surgimento de novas práticas</p><p>psicológicas a exemplo da Psicologia de riscos e desastres [ 3 ], Psicologia e</p><p>Políticas Públicas, como atuações recentes que ainda estão se constituindo</p><p>teórica e metodologicamente.</p><p>No entanto, algumas referências como a publicação do Conselho Federal</p><p>de Psicologia (CFP), “O Psicólogo Brasileiro” (Achcar, 1994) [ 4 ] e autores</p><p>como Rubio (1999), Vieira, Vissoci, Oliveira e Vieira (2010) que servem de</p><p>referências aos interessados pelo tema, consideravam em suas publicações a</p><p>Psicologia do Esporte (PE) também como uma área emergente. Veremos que</p><p>o processo de constituição da Psicologia do Esporte no Brasil acompanhou o</p><p>percurso histórico da Psicologia brasileira, a partir das primeiras décadas do</p><p>século XX, mas, atualmente, não lhe cabe mais o status de emergente, uma</p><p>vez que quase um século depois, configura-se como um campo de atuação</p><p>diversificado para o psicólogo legitimado como especialidade pelo Conselho</p><p>Federal de Psicologia desde 2000. [ 5 ]</p><p>Para além dos desafios e avanços que a Psicologia do esporte ainda tenha</p><p>em seu caminho, vale ressaltar que esse título, no âmbito profissional de seus</p><p>órgãos reguladores, “[...] embora não constitua condição obrigatória para</p><p>exercício profissional, atesta o reconhecimento da atuação da psicóloga ou do</p><p>psicólogo à determinada área da especialidade, qualificando a formação do</p><p>profissional. ” (CFP, 2017, p. 1).</p><p>Para que tais práticas profissionais se estabeleçam de forma consistente,</p><p>em seus aspectos teórico e metodológicos e adquiram reconhecimento social,</p><p>um processo de construção e desenvolvimento com a participação de</p><p>pessoas, eventos e outros campos de saber foram necessários. Tais ações</p><p>podem ser consideradas emergentes para a construção da Psicologia do</p><p>Esporte.</p><p>Segue-se que nesse capítulo, abordaremos a Psicologia do Esporte no</p><p>Brasil, como esta é definida na condição de especialidade, ilustrando o</p><p>percurso histórico de seu surgimento, os desdobramentos e consequente</p><p>aplicação nos diversos campos de atuação.</p><p>Psicologia do esporte: ciência do esporte e uma especialidade da psicologia</p><p>A Psicologia no Brasil configura-se como uma área de conhecimento</p><p>regulamentada em 1962, segundo a Lei n. 4.119 (1962), com a formação de</p><p>Psicologia nas Universidades oficializadas pelo Conselho Nacional de</p><p>Educação através do Decreto n. 403/1962 [ 6 ]. No entanto, desde o fim do</p><p>século XIX, para Massimi (2006), já se tem registros significativos do saber</p><p>psicológico no país nas diversas áreas, ainda que a serviço de outros saberes</p><p>como disciplina nos cursos de Medicina, Educação Física, Pedagogia, entre</p><p>outros.</p><p>Aos poucos o saber psicológico foi se consolidando a partir de práticas e</p><p>interfaces diversas, por personagens de áreas de conhecimentos distintos,</p><p>desde as primeiras décadas do século XX. Assim, considera-se que a</p><p>psicologia do Esporte é um exemplo disso, primeiro como Psicologia do</p><p>Desporto e, depois, Psicologia do Esporte. Diante de sua amplitude de</p><p>atuação, hoje também é denominada de Psicologia do Esporte e do Exercício.</p><p>Antes de configurar-se como uma nova prática psi, os fenômenos</p><p>psicológicos e seus conteúdos teóricos são inicialmente absorvidos em</p><p>disciplinas aplicadas a esse contexto. No entanto, dificuldades teóricas,</p><p>metodológicas e interdisciplinares compareceram, uma vez que o psicólogo se</p><p>insere em um contexto já definido, nesse caso o universo esportivo, o qual, a</p><p>priori, é composto por profissionais de outra área de saber, nesse caso a</p><p>Educação Física.</p><p>Mais tarde, essa inserção teórica suscitou a necessidade de aquisição de</p><p>novos conhecimentos para além da Psicologia e sua compreensão sobre a</p><p>subjetividade. Aproximando-se por essa via, no cenário das modalidades</p><p>esportivas, aos poucos a Psicologia vai edificando um saber e um fazer</p><p>diferenciado capaz de compor as chamadas Ciências do Esporte [ 7 ],</p><p>juntamente com Antropologia, Filosofia, Sociologia, Medicina, Fisiologia e</p><p>Biomecânica do Esporte.</p><p>Embora seus indícios de surgimento no Brasil datem nas primeiras décadas</p><p>do século XX, como aponta Carvalho (2012) e Carvalho e Jaco-Vilela (2009),</p><p>só em 2001, a Psicologia do Esporte se legitima como prática profissional e</p><p>especialidade do saber psicológico conforme a Resolução CFP nº 1 (2000).</p><p>Para Degani-Carneiro (2014) esse processo não ocorreria se já não houvesse</p><p>um movimento anterior de uma categoria profissional emergente. A referida</p><p>resolução apresenta a atuação do psicólogo do esporte</p><p>[...] voltada tanto para o esporte de alto rendimento, ajudando atletas, técnicos e</p><p>comissões técnicas a fazerem uso de princípios psicológicos para alcançar um nível ótimo</p><p>de saúde mental, maximizar rendimento e otimizar a performance, [...]. Estuda, identifica e</p><p>compreende teorias e técnicas psicológicas que podem ser aplicadas ao contexto do</p><p>esporte e do exercício físico, tanto em nível individual – o atleta ou indivíduo praticante –</p><p>como grupal – equipes esportivas ou de praticantes de atividade física. [...] Sua atuação é</p><p>tanto diagnóstica, desenvolvendo e aplicando instrumentos para determinação de perfil</p><p>individual e coletivo,</p><p>desportiva, o aperfeiçoamento desportivo</p><p>e a introdução ao treinamento. Na iniciação desportiva, a criança adquire</p><p>aquisição de habilidades motoras e destrezas específicas e globais; esta é a</p><p>base da prática esportiva, onde aprende a realizar as ações mais genuínas</p><p>referentes à motricidade e a internalizar as primeiras aprendizagens. O</p><p>aperfeiçoamento desportivo é a introdução de regras, aspectos técnicos e</p><p>táticos ao treinamento esportivo; nesse estágio acontece o estímulo à</p><p>competitividade, à cooperação e ao cumprimento de deveres. Na introdução</p><p>ao treinamento, ocorre o aperfeiçoamento das técnicas esportivas e dos</p><p>sistemas táticos; é onde a criança alcança maturidade para compreender</p><p>situações mais complexas e novas formas de aprender.</p><p>Crianças e adolescentes praticantes do exercício físico adquirem benefícios</p><p>para o aparelho cardiorrespiratório, força muscular e flexibilidade. Portanto, o</p><p>esporte pode prevenir problemas no desenvolvimento motor do praticante.</p><p>Os benefícios imediatos adquiridos na infância através da prática esportiva</p><p>são: diminuição da obesidade infantil, aumento da saúde mental (como queda</p><p>dos sintomas depressivos e da ansiedade), melhora da qualidade de vida,</p><p>aumento da aptidão física (melhora da aptidão cardiorrespiratória e da força) e</p><p>a melhora da pressão arterial e da massa mineral óssea (reserva de cálcio). Já</p><p>os benefícios a longo prazo da atividade física, isto é, aqueles que se</p><p>estendem até a vida adulta e ao envelhecimento, são a prevenção da</p><p>osteoporose, aumento dos níveis de atividade física e estilo de vida saudável</p><p>(Florindo & Ribeiro, 2009).</p><p>O esporte também está inserido nas políticas públicas para promover saúde</p><p>e mostrar o quanto sua prática pode prevenir e/ou auxiliar o tratamento de</p><p>diversas doenças. Os estudos de Florindo & Ribeiro (2009) afirmam que a</p><p>obesidade precoce pertence a este quadro de saúde pública e exemplificam</p><p>que a atividade física previne ou contribui na intervenção da obesidade</p><p>precoce. Rech & Siqueira (2010) afirmam que o alto índice de obesidade na</p><p>sociedade contemporânea, principalmente no Brasil, vêm crescendo de</p><p>maneira preocupante e tornando-se um grande problema de saúde pública.</p><p>Segundo Taddei (como citado em Rech & Siqueira, 2010), a obesidade é</p><p>um distúrbio nutricional onde ocorre um aumento de energia na relação do que</p><p>foi consumido pelo organismo e o gasto calórico, que resulta no aumento do</p><p>tecido adiposo e causa prejuízo à saúde. Além de prejudicar a saúde física, a</p><p>obesidade infantil introduz na criança ou no adolescente outra série de</p><p>questões como baixa motivacional, isolamento, falta de autoconfiança e</p><p>comportamentos depressivos, o que inibe ainda mais o gasto de energia,</p><p>como as brincadeiras e atividades relacionadas à motricidade. Aliado a uma</p><p>consciência alimentar saudável, o esporte funciona como instrumento</p><p>reabilitador para o tratamento e para a prevenção da obesidade,</p><p>proporcionando saúde física e trazendo bem-estar emocional.</p><p>Weinberg & Gould (2001) explicam a relação entre o corpo e a mente</p><p>através do bem-estar psicológico que o esporte proporciona. No âmbito</p><p>fisiológico, há aumento no fluxo sanguíneo cerebral, alteração dos</p><p>neurotransmissores cerebrais (como, por exemplo, a serotonina), liberação de</p><p>oxigênio para o cérebro, diminuição da tensão muscular e mudanças nas</p><p>estruturas cerebrais. Ao mesmo tempo, no âmbito psicológico, há um equilíbrio</p><p>na relação com os problemas cotidianos, aumento de controle, sentimentos de</p><p>competência e auto eficácia, melhora nas interações sociais e na autoestima.</p><p>Weinberg & Gould (2001, p. 378) defendem que “a prática regular de</p><p>atividades físicas está associada com reduções na ansiedade e na</p><p>depressão”. A falta de práticas de exercícios se associa a altos níveis de</p><p>depressão. Já a prática de atividade física proporciona ao praticante prazer,</p><p>regula a respiração, diminui a fadiga e a raiva, aumenta a energia e o bem-</p><p>estar.</p><p>O esporte é uma ferramenta social, um mecanismo de inclusão que</p><p>contribui de maneira didática para a aprendizagem, criando vínculos afetivos e</p><p>valores positivos para o desenvolvimento da criança. Sanches & Rubio (2011)</p><p>afirmam que o esporte, quando é conduzido pelo caminho da educação,</p><p>proporciona ao desenvolvimento humano valores projetados para outras áreas</p><p>da vida do atleta. O esporte promove benefícios para formação do caráter,</p><p>como, por exemplo, tolerância, solidariedade, respeito, companheirismo,</p><p>cooperação, responsabilidade e justiça.</p><p>Além de agregar benefícios à formação do caráter [ 31 ], o esporte integra</p><p>valores ao desenvolvimento da criança, ensina questões relacionadas a</p><p>vitórias e derrotas e ao jogo limpo, a importância da coletividade e a gerenciar</p><p>sentimentos. Muitas vezes, as situações vivenciadas pela criança no âmbito</p><p>esportivo são projetadas para outras áreas do cotidiano, auxiliando na tomada</p><p>de decisão dentro e fora do campo esportivo.</p><p>É fundamental a conscientização dos benefícios do esporte em todas as</p><p>esferas da sociedade. O ambiente escolar é forte influenciador da prática</p><p>esportiva, Florindo & Ribeiro (2009) apontam que os programas educativos</p><p>que promovem a prática da atividade física, os investimentos de locais e a</p><p>formação de profissionais nas escolas contribuem para otimizar o nível de</p><p>atividades físicas na infância e adolescência.</p><p>O esporte escolar é, muitas vezes, o único contato da criança com o</p><p>exercício físico, seja devido à classe social ou a falta de tempo do cotidiano</p><p>dos adultos para inseri-la em uma atividade extra. A escola é uma das</p><p>ferramentas de conscientização sobre a importância da prática esportiva na</p><p>infância, pois fortalece a importância da promoção da saúde, combate o</p><p>sedentarismo e promove diversão e lazer.</p><p>Acerca dos benefícios da atividade esportiva inserida na vida infantil, é</p><p>possível concluir a eficácia de efeitos positivos da atividade física como</p><p>contribuição para a vida social e para a saúde física e mental da criança e do</p><p>adolescente, seja ela uma prática esportiva ou atividades que estimulem a</p><p>motricidade, como, por exemplo, brincadeiras ou andar de bicicleta. É</p><p>importante ressaltar que a prática esportiva na infância ou em qualquer outra</p><p>faixa etária precisa estar atestada através de consultas e exames individuais.</p><p>E, além disto, deve ser supervisionada por profissionais capacitados e</p><p>especializados auxiliando o praticante durante a atividade, priorizando em</p><p>primeiro lugar sua saúde.</p><p>2.3 Prontidão esportiva e nível biopsicossocial</p><p>Vargas Neto (2000, p. 45) expõe que “o esporte por si só não é bom ou</p><p>ruim, dependerá basicamente da forma com que é utilizado e dos processos</p><p>didáticos e pedagógicos empregados em seu ensino”. Ressaltam também que,</p><p>para compreender a criança inserida na prática esportiva, é necessário</p><p>enxergar o atleta infanto-juvenil de maneira multidisciplinar. A partir desta</p><p>visão, é possível perceber a importância além dos resultados que o esporte</p><p>pode proporcionar, priorizando a formação integral do jovem atleta como</p><p>objetivo principal.</p><p>O fator que mais exige equilíbrio entre a prática esportiva e o</p><p>desenvolvimento da criança é a competição. Para Weinberg & Gould (2001), a</p><p>competição pode ser entendida como um processo de recompensas recebidas</p><p>através do desempenho de resultados entre grupos diferentes. A competição e</p><p>o treinamento esportivo podem gerar comparações, pressão, exaustão, falta</p><p>de confiança e ansiedade excessiva se não estiver de acordo com a etapa do</p><p>desenvolvimento da criança praticante. Por outro lado, uma competição e um</p><p>treinamento adaptado, ao nível biopsicossocial oportunizam boas</p><p>consequências como aprendizagens e autoconfiança ao indivíduo. Tanto a</p><p>competição quanto o treinamento esportivo podem ser positivos ou negativos,</p><p>dependendo da sua aplicabilidade. Cada criança reage de maneira diferente</p><p>frente a competitividade, a evolução do treinamento, a internalização de</p><p>valores e as pressões sociais; e há também o tempo certo de alcançar sua</p><p>maturidade esportiva.</p><p>Existe um conceito de prontidão esportiva, construído por Robert Malina</p><p>[ 32</p><p>]. É caracterizado pelo equilíbrio entre o desenvolvimento da maturação</p><p>biopsicossocial e a demanda competitiva. Quando a demanda competitiva for</p><p>mais elevada do que as aptidões individuais, é possível concluir que a criança</p><p>não está pronta para competir (Malina como citado em Leite, 2007).</p><p>A prontidão esportiva não está apenas relacionada ao nível de performance</p><p>do aspecto biológico, mas constituída a partir da esfera biopsicossocial. Ou</p><p>seja, a prontidão além de motora, também é psicológica, moral, social e</p><p>cognitiva. É necessário a criança alcançar a maturidade necessária para</p><p>vivenciar as experiências exigidas pelo esporte e isso dependerá, diretamente,</p><p>do nível no qual o desenvolvimento se encontra.</p><p>A prontidão esportiva caminha em paralelo com o desenvolvimento do</p><p>indivíduo. No momento em que a criança alcança a prontidão esportiva, é</p><p>provável também ter alcançado maturidade suficiente no seu desenvolvimento</p><p>a ponto de compreender as exigências da competição e a necessidade de se</p><p>cumprir regras ou acordo estabelecidos, noções essas que levará do esporte</p><p>para a sua vida de modo geral.</p><p>Ferraz (2009) expõe duas características que devem ser analisadas em</p><p>crianças para sua competição no esporte: o nível de prontidão e o período</p><p>ótimo de aprendizagem. O nível de prontidão refere-se às premissas</p><p>necessárias na relação da criança com as novas experiências. O período</p><p>ótimo de aprendizagem trata-se das vivências que ocorrem no</p><p>desenvolvimento, podem promover novas aprendizagens, manifestando as</p><p>capacidades e a prontidão do indivíduo.</p><p>É necessário perceber se a criança desportista está pronta para vivenciar</p><p>determinadas experiências propostas pelo esporte e que exigem condições</p><p>específicas da sua formação. A importância de perceber se a criança já</p><p>alcançou este nível produz total diferença em seu desenvolvimento. Se este</p><p>nível de prontidão foi alcançado, são internalizados efeitos positivos da</p><p>experiência. Caso contrário, podem-se gerar graves consequências no</p><p>desenvolvimento infantil, pois a criança ainda não se encontrava preparada</p><p>para enfrentar tal situação.</p><p>Matta (2008) argumenta ser crucial o papel do treinador esportivo neste</p><p>aspecto, no qual a intervenção deve ser pautada em critérios científicos. Este</p><p>profissional, além de trabalhar suas técnicas adequadamente, deve preservar</p><p>a ética profissional protegendo, em primeiro lugar, a formação do jovem atleta.</p><p>Para Ferraz (2009), as prontidões sociais e psicológicas se relacionam com</p><p>o fator cultural. Há sociedades que tendem hipervalorizar as vitórias,</p><p>esquecendo-se de promover a ideia da diversão relacionada à prática</p><p>esportiva infantil. A compreensão das relações sociais proporciona à criança</p><p>se beneficiar da prática esportiva. O ideal é que a relação social transfira para</p><p>a criança a importância de explorar os fatores técnicos do esporte, mas,</p><p>sobretudo, a importância de se divertir. Logo, a responsabilidade de vencer</p><p>não se tornará pressão e ansiedade na criança. Caso contrário, a relação</p><p>social pode proporcionar à criança medo, ansiedade e o abandono da prática</p><p>esportiva.</p><p>Quanto à prontidão motora, é necessário que o treinamento esportivo</p><p>proporcione cargas e movimentos referentes ao desenvolvimento ósseo,</p><p>muscular e locomotor da criança praticante, afim de não prejudicar fatores do</p><p>seu desenvolvimento em nenhuma dessas esferas. Ferraz (2009) acentua a</p><p>importância da aprendizagem para o ensino de técnicas motoras, e enfatiza</p><p>que, através deste processo, o repertório motor se torna mais rico e flexível.</p><p>Quando o atleta desenvolve múltiplas aptidões, ele terá uma maior</p><p>facilidade em se adequar em diversas modalidades, podendo escolher, assim,</p><p>aquela que deseja se especializar. Porém, é importante atentar-se quanto ao</p><p>processo de prontidão esportiva, observando a faixa etária e o nível de</p><p>aprendizagem dentro da modalidade, para que não haja prejuízo à saúde do</p><p>atleta e nem um desenvolvimento além do que ele pode ter naquele momento,</p><p>podendo gerar, assim, uma especialização precoce.</p><p>3 Especialização Esportiva Precoce</p><p>3.1 Consequências no desenvolvimento biológico, psicológico e social da</p><p>criança</p><p>Apesar da prática esportiva proporcionar à criança uma enorme gama de</p><p>benefícios, é preciso ter atenção a proposta do treinamento esportivo que</p><p>precisa ser adaptado ao nível de desenvolvimento no qual a criança se</p><p>encontra, caso contrário, a prática esportiva poderá gerar graves</p><p>consequências.</p><p>Pereira, Lupes & Gorski (2011) diferenciam a iniciação esportiva da</p><p>especialização precoce da seguinte maneira: a iniciação esportiva ocorre</p><p>quando a criança começa a aprender o esporte de maneira específica e</p><p>planejada. Já a especialização precoce, é o processo no qual as crianças se</p><p>especializam em determinada modalidade esportiva, antes de possuírem</p><p>idade apropriada para tal prática. Para Kutz (como citado em Pereira et al.,</p><p>2011) a especialização precoce é o processo no qual as crianças são inseridas</p><p>antes da puberdade em um treinamento esportivo planejado a longo prazo,</p><p>que acontece no mínimo três vezes por semana, tendo por objetivo o aumento</p><p>do rendimento da performance esportiva e a frequente participação do jovem</p><p>atleta em competições.</p><p>Cargas excessivas de treinamento, a pressão dos pais, da torcida e do</p><p>treinador, o nível elevado de competição e a busca incansável pela vitória são</p><p>aspectos que podem influenciar negativamente a prática esportiva da criança.</p><p>Samulski (2009) defende que o objetivo do treinamento esportivo infantil</p><p>não deve ser a busca pela performance ideal, mas, o desenvolvimento</p><p>completo da criança dentro das esferas motora, cognitiva, motivacional,</p><p>emocional e social. Na infância, a formação da criança está em construção e</p><p>não é recomendado se dedicar integralmente a uma única atividade. Logo,</p><p>para que esta construção seja completa e alcance diversos níveis, é preciso</p><p>que haja uma conciliação da rotina para que a criança não seja estimulada</p><p>exageradamente a praticar apenas um tipo de atividade. É aconselhável,</p><p>ainda, que essa conciliação proporcione tempo suficiente para as atividades</p><p>escolares, uma alimentação adequada, horas de sono suficientes, a prática</p><p>esportiva e os momentos de lazer e diversão.</p><p>Aspectos relacionados à dedicação exacerbada da criança no alto</p><p>rendimento esportivo podem acarretar danos no curso do desenvolvimento da</p><p>sua personalidade, podem ser esses: estresse, instabilidade emocional,</p><p>introversão, medo e obsessão pelo desempenho (Samulski, 2009).</p><p>Segundo De Rose Jr. (2009) para que haja a competição o atleta precisa</p><p>sobrepor altíssimos níveis de exigência física, técnica, tática e psicológica. A</p><p>partir disso, pode-se perceber a barreira imposta entre a competição e o</p><p>desenvolvimento infantil. A criança em desenvolvimento ainda não formou</p><p>todos os aspectos necessários para responder às exigências impostas pela</p><p>competição.</p><p>O treino excessivo, resultados a curto prazo e a pressão pela vitória –</p><p>transmitida pela sociedade e pessoas responsáveis pela modalidade – podem</p><p>ser aspectos prejudiciais. O treino com foco na competição pode tornar-se</p><p>exagerado e ultrapassar os limites da maturação biológica que a</p><p>criança/adolescente se encontra naquele determinado momento. Logo, a</p><p>criança que não está preparada para receber determinada carga, muitas vezes</p><p>excessiva, pode reagir com sentimentos de frustação e desmotivação,</p><p>podendo gerar estresse e desinteresse pelo esporte fazendo com que o atleta</p><p>deixe a sua prática esportiva.</p><p>De Rose Jr. (2009) destaca a relevância de aspectos favoráveis no</p><p>processo de inserção da criança na prática esportiva, sendo eles: o início</p><p>espontâneo no esporte, experimentar diversas práticas motoras, a</p><p>possibilidade da escolha da modalidade, jogar como possibilidade e não</p><p>obrigação, jogar de acordo com a sua prontidão, divertir-se no jogo e vencer</p><p>se possível.</p><p>A competição não é uma vilã do desenvolvimento infantil, porém precisa ser</p><p>assimilada pela criança de forma lúdica, pois faz parte do processo de</p><p>aprendizagem pelo qual valores são incorporados ao longo de sua</p><p>formação.</p><p>A competição causadora de prejuízos é a que entende a criança como um</p><p>“mini adulto” e propõe altos níveis de treinamento não compatíveis com a faixa</p><p>etária e sua maturação.</p><p>3.2 Síndrome do burnout</p><p>O treinamento excessivo em busca da performance ideal pode</p><p>sobrecarregar atletas nos aspectos físico e emocional. Sendo assim, é</p><p>fundamental treinadores e atletas se conscientizaram de que o treinamento</p><p>ideal varia de atleta para atleta, ou seja, cada atleta possui seu próprio tempo</p><p>para se desenvolver a partir do treinamento oferecido de acordo com o seu</p><p>nível biopsicossocial. Cargas, cobranças e expectativas excessivas podem</p><p>gerar exaustão, estafa e esgotamento físico e/ou mental.</p><p>Smith (como citado em Weinberg e Gould, 2001) conceitua burnout como</p><p>uma resposta psicofisiológica de esgotamento que aparece através de</p><p>esforços frequentes; que envolve esgotamento emocional e/ou físico como</p><p>resposta ao estresse excessivo ou insatisfação de alguma tarefa, antes</p><p>prazerosa.</p><p>Guillén García (2000), ao estudar o burnout em jovens desportistas,</p><p>destaca a ênfase da sociedade para com o indivíduo a conquistar o primeiro</p><p>lugar a qualquer custo e a vitória como única opção. Isto faz com que os</p><p>moldes do esporte profissional sejam ampliados para as categorias inferiores.</p><p>Desta maneira, o padrão de alta performance é imposto aos jovens atletas,</p><p>ainda em fase de desenvolvimento, para receber tais demandas, e, por isso,</p><p>ao serem impostas ou forçadas podem levar ao esgotamento físico e mental.</p><p>Como consequência desse esgotamento, grande parte dos jovens atletas</p><p>respondem à essa grande carga de estresse com o abandono da prática</p><p>esportiva.</p><p>Para Weinberg e Gould (2001), as principais causas do burnout em jovens</p><p>atletas são altas expectativas particulares ou externas, desejo de vencer a</p><p>qualquer custo, pressão dos pais, treinos repetitivos, longos e com pouca</p><p>variedade, treinamento inconsistente, lesões advindas de treinos excessivos,</p><p>demandas de tempo excessivas, altas demandas de viagem, supervalorização</p><p>dos outros nas vitórias e perfeccionismo.</p><p>3.3 Formação esportiva integral da criança</p><p>A prática esportiva apropriada ao desenvolvimento infantil visa</p><p>primeiramente a formação de cidadãos. Logo, para que esta prática seja bem</p><p>desenvolvida, é necessário diferenciá-la da prática esportiva adulta</p><p>profissional, moldando determinados pontos particulares, como, por exemplo,</p><p>redução do tamanho de campos, quadras, traves, bolas e raquetes, ajustes</p><p>nas alturas e comprimentos do espaço esportivo e a redução de cargas e</p><p>tempo de treinamento.</p><p>Ferraz (2009) aponta que as características básicas para estruturar</p><p>programas esportivos adaptados às crianças e aos adolescentes são,</p><p>primeiramente, olhar a prática esportiva e a competição imersos na</p><p>experiência infantil e não com o olhar adulto. Crianças precisam desenvolver</p><p>suas capacidades motoras, psíquicas e emocionais dentro da perspectiva</p><p>infantil. Se há restrições da participação de crianças na prática esportiva, é</p><p>importante o entendimento de que a restrição não se aplica ao esporte em si,</p><p>mas sim, aos moldes da competição e treinamento proposto de maneira</p><p>irregular.</p><p>As relações sociais fazem parte de uma prática esportiva adaptada ao</p><p>jovem atleta. Relações saudáveis e sem cobranças exageradas, auxiliam na</p><p>construção da personalidade e no desenvolvimento completo do indivíduo.</p><p>Machado (1997) enfatiza a influência dos pais e treinadores na formação</p><p>esportiva e no comportamento do jovem atleta. As relações de pais e filhos</p><p>devem ser baseadas em incentivos, na atenção ao comportamento dos filhos,</p><p>no diálogo da experiência e em suas necessidades. A relação entre treinador</p><p>e atleta é de grande influência e cabe a ele transmitir apoio e promover</p><p>treinamentos educativos.</p><p>As amizades também são relações importantes para a formação da criança</p><p>no ambiente esportivo sendo instrumento de socialização e troca de</p><p>experiências. Estimulam o companheirismo, a cooperação e a união. Outro</p><p>tipo de relação indispensável para a formação esportiva integral da criança é o</p><p>acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, afinal, é ela que proporciona</p><p>apoio ao atleta em todas as esferas alcançadas pela prática esportiva cada</p><p>um dentro de sua especificidade de áreas de conhecimento e atuação.</p><p>A equipe multidisciplinar e os pais se adaptam à rotina do jovem atleta,</p><p>agregando benefícios à sua formação. Os pais podem auxiliar quanto às</p><p>necessidades psicofísicas, na conquista de novas amizades, em proporcionar</p><p>um ambiente sadio e no afastamento de atividades inadequadas. Dentro da</p><p>equipe multidisciplinar, os médicos podem promover saúde, combater a</p><p>degeneração hipocinética [ 33 ] e na prevenção de doenças cardiovasculares;</p><p>os nutricionistas auxiliam no tratamento da obesidade e na manutenção do</p><p>peso adequado; os fisioterapeutas são peças fundamentais na reabilitação de</p><p>lesões esportivas e doenças do aparelho locomotor; os educadores reforçam</p><p>conceitos como maturidade, crescimento, desenvolvimento e socialização; os</p><p>psicólogos colaboram na promoção de saúde emocional, no manejo da</p><p>ansiedade e estresse, proporcionam assistência em aspectos como cognição,</p><p>afetividade e agressividade; e os professores de Educação Física propiciam</p><p>aprendizado esportivo, desenvolvimento das habilidades motoras e das</p><p>capacidades físicas (Vargas Neto, 2000).</p><p>3.4 Psicologia do Esporte e a iniciação esportiva</p><p>A Psicologia do Esporte é uma ciência fundamental na prática esportiva</p><p>pois, através de suas intervenções, o atleta pode treinar suas habilidades</p><p>psicológicas, como, por exemplo, atenção e concentração, e, desta maneira,</p><p>melhorar seu desempenho esportivo. A Psicologia do Esporte considera o ser</p><p>humano em sua subjetividade. No esporte infanto-juvenil, a Psicologia do</p><p>Esporte atua, principalmente, no quesito da formação infantil, auxiliando o</p><p>jovem atleta a praticar a modalidade esportiva dentro dos ciclos de seu</p><p>desenvolvimento. Para Nitsch (como citado em Samulski, 2009, p. 3), “a</p><p>função da psicologia do esporte consiste na descrição, na explicação e no</p><p>prognóstico de ações esportivas, com o fim de desenvolver e aplicar</p><p>programas, cientificamente fundamentados, de intervenção”.</p><p>Tubino (2010, p. 81) defende o esporte como uma ferramenta educativa,</p><p>pois através dele pode-se aprender valores e responsabilidade. Para o autor, o</p><p>esporte, como ferramenta da educação, tem o objetivo de “proporcionar aos</p><p>jovens praticantes a corresponsabilidade não só nos processos decisórios,</p><p>como adaptação das regras, medidas organizativas, etc.”</p><p>O lúdico é a maneira mais adequada para se ensinar crianças. Ferraz</p><p>(2009) defende a ludicidade e o ensino através do esporte infanto-juvenil e diz</p><p>que é necessário se colocar no lugar de aprendiz, valorizando assim, o</p><p>processo de ensino e proporcionando sentido à aprendizagem. Outro ponto</p><p>relevante é que o lúdico precisa transmitir prazer no processo de novas</p><p>aprendizagens.</p><p>Vargas Neto (como citado em Vargas Neto, 2000), em sua tese doutoral</p><p>“Esporte e Saúde” realiza um apelo político para as autoridades elaborarem</p><p>leis e programas de conscientização à sociedade objetivando a prática</p><p>adequada à infância alertando também sobre os possíveis prejuízos causados</p><p>pela especialização precoce sem limites. A proposta visa regular o número</p><p>máximo de horas de treinamento de crianças, a intensidade e os objetivos</p><p>deste mesmo treinamento e a formação e a qualidade do ensino da pessoa</p><p>responsável por estas atividades.</p><p>Vargas Neto (2000) faz uma analogia à especialização precoce esportiva</p><p>relacionando com o ingresso de menores no trabalho e De Rose Jr. (como</p><p>citado em De Rose Jr., 2009) diz que a especialização precoce seria correr,</p><p>antes mesmo de aprender a andar. A partir dessas analogias evidencia-se o</p><p>quão prejudicial para a vida do indivíduo pode ser especializar-se</p><p>precocemente, uma vez que, para atingir níveis mais altos, crianças e</p><p>adolescentes estariam pulando etapas básicas de seu desenvolvimento. Logo,</p><p>esse atleta deixaria de desenvolver habilidades primordiais pelo desejo de</p><p>se</p><p>atingir o topo, muitas vezes estimulado pelos pais e/ou técnicos.</p><p>Diante disto, é possível concluir que crianças podem ser inseridas na</p><p>prática esportiva dentro dos modelos adaptados que respeitem seu</p><p>desenvolvimento integral. No Brasil e em outros lugares do mundo, ainda se</p><p>especializa precocemente no esporte utilizando moldes engessados ao</p><p>modelo adulto, sem respeitar as necessidades da criança e sua formação</p><p>enquanto sujeito biopsicossocial.</p><p>Considerações finais</p><p>A partir das referências e teorias defendidas pelos autores citados ao longo</p><p>do texto percebe-se a importância que a prática esportiva adaptada ao nível</p><p>do desenvolvimento infantil possui na formação da personalidade da criança e</p><p>também no seu desenvolvimento físico e motor. A partir disso, é possível</p><p>concluir a enorme relevância que as relações interpessoais incluídas na vida</p><p>esportiva infantil podem proporcionar ao jovem atleta.</p><p>Crianças e adolescentes se encontram em constantes mudanças e em</p><p>formação de diversos aspectos físicos e psicológicos. Logo, o esporte aplicado</p><p>de maneira inadequada pode acarretar graves consequências nesta formação</p><p>podendo se estender à vida adulta. Com base nisso, é papel fundamental dos</p><p>pais e dos profissionais do âmbito esportivo proporcionarem à criança uma</p><p>prática esportiva que esteja de acordo com seu desenvolvimento</p><p>biopsicossocial, afim de não acarretar traumas e problemas na saúde do</p><p>jovem atleta.</p><p>A sobrecarga de estresse no atleta pode acarretar problemas físicos e</p><p>psicológicos, podendo chegar em seu ponto mais catastrófico, o burnout.</p><p>Dentro de uma prática esportiva adequada e multidisciplinar, é possível</p><p>prevenir que o burnout aconteça, preservando, assim, a integridade física,</p><p>emocional e moral do atleta.</p><p>A iniciação esportiva pode ser benéfica na vida da criança, mas é preciso</p><p>estar atento à sua aplicabilidade. A prática esportiva necessita estar de acordo</p><p>com a prontidão da criança nas esferas física, cognitiva, social e psicológica,</p><p>além de utilizar moldes e instrumentos que diferem do modelo adulto, isto é,</p><p>adaptado à idade e as condições físicas do jovem atleta. Desta maneira, a</p><p>prática esportiva saudável pode gerar saúde física e mental, além de contribuir</p><p>para a estimulação da cognição e das habilidades psicológicas.</p><p>Conforme exposto, o grande erro de se especializar crianças precocemente</p><p>em uma modalidade esportiva está em priorizar a evolução da performance</p><p>em detrimento ao pessoal. A prática esportiva em consonância com o</p><p>desenvolvimento infantil preconiza a formação integral do jovem atleta e,</p><p>somente após isso, seu rendimento esportivo. Trata-se de um processo a</p><p>longo prazo que ocorre em paralelo ao desenvolvimento infantil. Por fim, é</p><p>possível perceber a importância de se considerar o jovem atleta como um ser</p><p>humano em construção que precisa se desenvolver plenamente nos setores</p><p>físico, psicológico e social.</p><p>Questões de revisão e reflexão</p><p>1. Reflita acerca dos principais conceitos da formação da personalidade.</p><p>Quais as esferas o desenvolvimento infantil precisa estabelecer vínculo</p><p>para que a criança adquira benefícios na formação de sua personalidade?</p><p>2. Diferencie a iniciação esportiva da especialização esportiva precoce.</p><p>3. Quais são os componentes positivos e negativos que o esporte na infância</p><p>pode agregar ao desenvolvimento da criança?</p><p>4. Como o burnout pode prejudicar a vida do jovem atleta e de que maneira</p><p>ele pode ser evitado?</p><p>5. Considerando a criança inserida na prática esportiva, reflita de que maneira</p><p>as relações sociais podem interferir e contribuir com o desenvolvimento</p><p>infantil.</p><p>6. Descreva como seria a prática esportiva ideal para o desenvolvimento</p><p>infantil. E elabore ideias que contribuam para esta prática.</p><p>Referências bibliográficas</p><p>Almeida, L.T. (1996). Iniciação desportiva na escola: a aprendizagem dos esportes coletivos.</p><p>Perspectivas em Educação Física Escolar, Especial: 41-51. Recuperado de</p><p>http://www.uff.br/gef/tadeu_esp.htm, consultado em 20 abril, 2017.</p><p>Becker Jr., B.; Teloken, E. (2000). A criança no esporte. In: Becker Jr., B. (Org.). Psicologia</p><p>aplicada à criança no esporte (pp. 15-30). Novo Hamburgo: Feevale.</p><p>Cheik, N.C.; Reis, I.T.; Heredia, R.A.G.; Ventura, M.L.; Tufik, S.; Antunes, H.K.M.; Mello, M.T.</p><p>(2003). Efeitos do exercício e da atividade física na depressão e ansiedade em indivíduos</p><p>idosos. R. bras. Ci. e Mov. 11(3): 45-52. Recuperado de</p><p>https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/viewFile/509/534, consultado em 08</p><p>abril, 2018.</p><p>Chiappin, A. (2012). Formação da Personalidade (8a ed.). Porto Alegre: EDIPUCRS.</p><p>De Rose Jr., D. (2009). Esporte, competição e estresse: implicações na infância e na</p><p>adolescência. In: De Rose Jr., D. & Cols. Esporte e Atividade Física na Infância e na</p><p>Adolescência: uma abordagem multidisciplinar (pp. 103-114 2a ed.). Porto Alegre: Artmed.</p><p>Ferraz, O.L. (2009). O esporte, a criança e o adolescente: consensos e divergências. In: De</p><p>Rose Jr., D. & Cols. Esporte e Atividade Física na Infância e na Adolescência: uma</p><p>abordagem multidisciplinar (pp. 45-60 2a ed.). Porto Alegre: Artmed.</p><p>Filho, I.; Ponce, R.; Almeida, S. (2009). As compreensões do humano para Skinner, Piaget,</p><p>Vygotsky e Wallon: pequena introdução às teorias e suas implicações na escola. Psicologia</p><p>da Educação versão impressa ISSN 1414-6975 Psicol. educ. nº.29. Recuperado de</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141469752009000200003,</p><p>consultado em 19 março, 2017.</p><p>Florindo, A.A.; Ribeiro, E.H.C. (2009). Atividade física e saúde em crianças e adolescentes. In:</p><p>De Rose Jr., D. & Cols. Esporte e Atividade Física na Infância e na Adolescência: uma</p><p>abordagem multidisciplinar (pp. 23-44 2a ed.). Porto Alegre: Artmed.</p><p>Guillén García, F. (2000). O burnout em jovens desportistas. In: Becker Jr., B. (Org.).</p><p>Psicologia aplicada à criança no esporte (pp. 58-82). Novo Hamburgo: Feevale.</p><p>Leite, W.S.S. (2007). Especialização precoce: os danos causados à criança. Revista Digital –</p><p>Buenos Aires – Año 12 – N° 113. Recuperado em</p><p>http://www.efdeportes.com/efd113/especializacao-precoce-os-danos-causados-a-</p><p>crianca.htm, consultado em 08 abril, 2018.</p><p>Machado, A.A. (1997). Psicologia do Esporte: temas emergentes. Jundiaí: Ápice.</p><p>Matta, M. (2008). A importância do controle de carga de treinamento de jovens atletas. Revista</p><p>Científica da FAMINAS v. 4, n. 3. Recuperado em</p><p>http://periodicos.faminas.edu.br/index.php/RCFaminas/article/view/218/196, consultado em</p><p>26 abril, 2017.</p><p>Mussen, P. H. (1966). O desenvolvimento psicológico da criança. Rio de Janeiro: Zahar</p><p>Editores.</p><p>Pereira, D.L.; Lupes, R.; Gorski, G.M. (2011). Iniciação esportiva e especialização precoce nos</p><p>esportes coletivos. Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154. Recuperado de</p><p>http://www.efdeportes.com/efd154/iniciacao-esportiva-e-especializacaoprecoce.htm,</p><p>consultado em 01 maio, 2017.</p><p>Piaget, J.; Inhelder, B. (1999). A Psicologia da Criança (16a ed.). Rio de Janeiro: Bertrand</p><p>Brasil.</p><p>Piaget, J. (1995). Seis estudos de Psicologia (21a ed.). Rio de Janeiro: Forense Universitária.</p><p>Rech, S.; Siqueira, P. (2010). Obesidade infantil: a atividade física como aspecto preventivo.</p><p>Revista Digital – Buenos Aires – Año 15 – Nº 143. Recuperado de</p><p>http://www.efdeportes.com/efd143/obesidade-infantil.htm, consultado em 20 abril, 2017.</p><p>Rubio, K. (2003). Psicologia do Esporte Aplicada (1a ed.). São Paulo: Casa do Psicólogo.</p><p>Samulski, D. (2009). Psicologia do Esporte: conceitos e novas perspectivas (2a ed.). Barueri:</p><p>Manole.</p><p>Sanches, S.; Rubio, K. (2011). A prática esportiva como ferramenta educacional: trabalhando</p><p>valores e a resiliência. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 825-842.</p><p>Recuperado de http://www.revistas.usp.br/ep/article/view/28304/30157, consultado em 22</p><p>abril, 2017.</p><p>Tubino, M. (2010). Estudos brasileiros sobre o esporte: ênfase no esporte-educação. Maringá:</p><p>EDUEM.</p><p>Tubino, M. (2006). O que é esporte (3a ed.). São Paulo: Brasiliense.</p><p>Vargas Neto, F.X. (2000). A iniciação e a especialização esportiva de crianças. In: Becker Jr.,</p><p>B. (Org.). Psicologia aplicada à criança no esporte (pp. 44-57). Novo Hamburgo: Feevale.</p><p>Weinberg, R. S.; Gould, D. (2001). Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício (2a</p><p>ed.). Porto Alegre: Artmed.</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S14146975200900</p><p>http://www.efdeportes.com/efd113/especializacao-precoce-os-danos-causados-a-crianca.htm</p><p>http://periodicos.faminas.edu.br/index.php/RCFaminas/article/view/218/196</p><p>http://www.efdeportes.com/efd154/iniciacao-esportiva-e-especializacaoprecoce.htm</p><p>http://www.revistas.usp.br/ep/article/view/28304/30157</p><p>UNIDADE II</p><p>M������ �� E����� � A��������</p><p>CAPÍTULO 5</p><p>Abordagens Qualitativas em Psicologia do Esporte</p><p>Juliana A. de Oliveira Camilo</p><p>Introdução</p><p>Este capítulo tem como ponto de partida a compreensão de que o campo</p><p>esportivo apresenta situações e processos complexos que contém múltiplas</p><p>dimensões e que, só podem ser acessados, por meio da contribuição de</p><p>várias disciplinas. Isso posto, compreende-se que, tanto o ato da pesquisa</p><p>como as práticas em psicologia do esporte, possuem diversas formas</p><p>metodológicas para compreender a realidade a ser investigada.</p><p>Parte-se aqui inicialmente dos argumentos de Minayo (1993) ao mostrar</p><p>que não há um método melhor do que o outro. Para a autora, o método é o</p><p>‘caminho do pensamento’, ‘alma do conteúdo’, ou seja, o bom método será</p><p>sempre aquele capaz de conduzir o investigador a alcançar as respostas para</p><p>as perguntas formuladas, ou, dizendo de outra forma, a desenvolver o objeto,</p><p>explicá-lo ou compreendê-lo, dependendo da proposta do trabalho. Os</p><p>números, reduto das abordagens quantitativas e uma das formas explicativas</p><p>da realidade, são também uma linguagem, como os métodos qualitativos.</p><p>Trata-se, portanto, de duas formas de comunicação, devendo ambas convergir</p><p>para a compreensão das múltiplas realidades (Minayo, 1993).</p><p>É importante dizer que parece ainda vigorar no campo esportivo o caminho</p><p>aparentemente seguro da quantificação das metodologias objetivas, com o</p><p>seu apelo a uma lógica de fidedignidade, assim como o desejo de elaboração</p><p>de leis gerais que possa predizer e controlar o comportamento. Mas seria essa</p><p>a única forma de trabalho possível e necessária? Nesse cenário, sobretudo no</p><p>alto-rendimento, que tem como balizador principal modos objetivantes de</p><p>conceber o bom desempenho (vitórias, ranking, número de acertos,</p><p>efetividade nos golpes, etc.), parece deixar pouco (ou menos) espaço para as</p><p>metodologias e ferramentas qualitativas. Estas, quando são empregadas,</p><p>parece não receber a mesma atenção por parte dos diferentes membros da</p><p>comissão técnica.</p><p>Vale se perguntar: quanto tempo é empregado por uma equipe em análises</p><p>numéricas e objetivas do desempenho? Quanto tempo é empregado em</p><p>observações e conversas? Pergunte-se agora sobre os modos e cuidados que</p><p>são empregados nas análises objetivas nas comissões técnicas em</p><p>comparação com as metodologias qualitativas. Provavelmente você identificou</p><p>uma assimetria, uma tendência a se debruçar mais tempo nos números e</p><p>menos em outras ferramentas, muito provavelmente porque os números têm</p><p>um suposto apelo “a verdade”, ao que é “real”, ao que é “certo” e “exato”.</p><p>Bruno Latour (2000) se debruça sobre essa questão, empregando argumentos</p><p>contundentes para mostrar que nenhuma das ciências, sejam elas humanas,</p><p>sociais ou exatas, podem pleitear a verdade, pois todas elas estão sujeitas as</p><p>falhas inerentes aos humanos e as falhas inerentes aos não-humanos</p><p>(computadores, sistemas de controle, relógios de medição, equipamentos de</p><p>biofeedback, etc.).</p><p>Isso sem falar dos atravessamentos de poder que permeiam nossas</p><p>práticas profissionais em psicologia do esporte. Tal como um dirigente que só</p><p>quer o endosso de que um atleta é o melhor, e que o outro é o pior. Assim</p><p>como, do nosso próprio desejo de criar realidades, de provar com nossas</p><p>técnicas as verdades que nós, ou nossa equipe, quer ver. Por isso é que</p><p>nossa atuação, independente de nossas técnicas, requer um olhar</p><p>desfamiliarizado, de estranhamento contínuo, de desconstrução permanente.</p><p>Na postura assumida pleiteia-se ter o contínuo estranhamento: o que será que</p><p>está acontecendo aqui?</p><p>Isso não é nem de longe simples, pois requer um questionamento</p><p>constante, um trabalho permanente e, sobretudo, entendermos que o nosso</p><p>próprio trabalho possui (e sempre possuirá) buracos e falhas, independente da</p><p>metodologia usada. Como nos falaria Ian Hacking (1999), o X (um fenômeno</p><p>qualquer) não precisaria ser como é, portanto, trata-se de entender a</p><p>historicidade de nossas práticas e das teorias que construímos sobre elas,</p><p>situando-as como produtos humanos, histórica e socialmente localizados.</p><p>A técnica de observações</p><p>Cada equipe, cada atleta e cada modalidade esportiva tem suas histórias,</p><p>seus processos de trabalho, suas exigências, suas expectativas, forças</p><p>políticas, disputas de poder e formas de produção de subjetividade que pode</p><p>ou não ser compartilhada pelos seus membros. Tais fatores nos dizem que,</p><p>quando começamos um trabalho, somos estrangeiros tentando entender um</p><p>mundo novo, desafiador e, por vezes, caótico. Uma série de perguntas</p><p>passeia por nossa mente: quem são essas pessoas? Quais são os vínculos</p><p>que são estabelecidos? O que está acontecendo nesse local? Quem são as</p><p>lideranças? Quais são os problemas pouco visibilizados? E por aí vai uma</p><p>infinidade de questões.</p><p>A observação, passa, assim, a ser uma maneira fundamental de captar</p><p>alguns acontecimentos, criando elos, vínculos, fazendo emergir dúvidas,</p><p>dilemas ou possibilidades de atuação. Observar significa usar os sentidos</p><p>para, só depois, tentar dar significado aos eventos (Novaes, 2012; Wacquant,</p><p>2002). Essa técnica nos permite buscar informações, em função de objetivos</p><p>delimitados e que, quando estão suficientemente claros e bem organizados,</p><p>nos permite traçar caminhos de atuação.</p><p>No contexto do esporte, em termos institucionais, esse método nos ajuda a</p><p>entender como a equipe se organiza para a escolha dos atletas (as peneiras e</p><p>as convocações), aos diferentes treinamentos, as competições, ou pós-</p><p>competições. Nessa lógica, para que seja possível sustentar uma maior</p><p>profundidade nas observações faz-se importante reunir as seguintes</p><p>condições:</p><p>Que seja parte de uma problemática, uma dúvida que se tenha, e que</p><p>possa propiciar uma análise mais ampla;</p><p>Que seja feita de modo sistemático, considerando a realidade na qual se</p><p>está inserido;</p><p>Que esteja relacionada com determinados objetivos institucionais ou do</p><p>atleta que se está atendendo;</p><p>Que empregue um protocolo de documentação e sistematize o registro.</p><p>Sobre o protocolo de documentação e sistematização dos registros é</p><p>importante que o mesmo contenha as informações relevantes ao seu objeto</p><p>de estudo, não sendo extenso (que pode se tornar posteriormente uma</p><p>“burocracia” a ser seguida ao invés de um instrumento para ajudar o</p><p>profissional na compreensão de seu campo) e, igualmente, simplista demais</p><p>(que pode reduzir a complexidade). A seguir se apresenta um dos modos</p><p>possíveis de sistematização:</p><p>Figura 1: protocolo de sistematização para registro de eventos</p><p>Protocolo de registro:</p><p>a. Nomes dos observadores</p><p>b. Objetivo da observação</p><p>c. Data</p><p>d. Horário de início:</p><p>Horário de término:</p><p>e. Descrição do ambiente físico: onde ocorreu, quais eram as condições do local</p><p>f. Descrição das pessoas do local: quem eram, com quem estavam, como se</p><p>apresentavam e se relacionavam</p><p>g. Descrição da observação (tal como os eventos ocorreram)</p><p>h. Hipóteses e percepções</p><p>A observação é aqui compreendida como um empreendimento dialógico</p><p>que possui imprevisibilidades, envolvendo, em alguma medida, tanto os</p><p>conflitos, quanto a colaboração entre as diferentes pessoas do local (Cardona,</p><p>Cordeiro, & Brasilino, 2014). Imprevisibilidades porque, constantemente, por</p><p>mais que tenhamos um roteiro muito bem desenhado e objetivado,</p><p>acontecimentos mudam o curso da prática observada e, com isso, a ênfase da</p><p>nossa observação.</p><p>Imaginemos que estamos acompanhando um treinamento de futebol com o</p><p>objetivo</p><p>de entender a adaptação dos novos jogadores ao clube. Temos um</p><p>roteiro, um local privilegiado para observação, um caderno de notas e um</p><p>tempo razoável para a tarefa. Tudo ocorre como o planejado, até que o</p><p>jogador principal da equipe, provoca uma lesão grave, aparentemente sem</p><p>intenção, em um outro jogador veterano do time. O que faremos nessa</p><p>observação? Continuamos com o nosso olhar direcionado para os que</p><p>chegaram recentemente? Ou olhamos para o todo? Talvez deixar a atenção</p><p>flutuar um pouco?</p><p>O evento que acaba de acontecer nos pede a ampliação da nossa</p><p>observação. Manter a observação fiel ao roteiro pré-estabelecido aponta</p><p>rigidez (que é diferente de rigor metodológico), ou seja, é importante ter</p><p>flexibilidade para não sustentarmos uma visão simplista e limitada. Aqui vale a</p><p>pena algumas diferenciações importantes. Contar com organização, método</p><p>de trabalho, roteiros e instrumentos não quer dizer que vamos controlar toda a</p><p>realidade que possa se apresentar, mas sim, dizer que iremos planejar nossas</p><p>atividades e distribuí-las em um tempo específico.</p><p>Ainda que nossa observação no contexto do esporte tenha toques de</p><p>objetividade (objetivos claros, levantamento prévio de hipóteses), há de se</p><p>levar em conta também a necessidade de um estranhamento contínuo e livre,</p><p>tal como: o que será que está acontecendo aqui? É o que Bleger (2003, p. 19)</p><p>chamaria de importância da imaginação ou fantasia: “(...) observar, pensar e</p><p>imaginar coincidem totalmente e formam parte de um só e único processo</p><p>dialético. Quem não utiliza a sua fantasia poderá ser um bom verificador de</p><p>dados, porém nunca um investigador”.</p><p>Digamos que a chegada do psicólogo em uma determinada equipe ou para</p><p>acompanhar determinado atleta, requer necessariamente observações diretas</p><p>e fluídas. É um ponto de passagem obrigatório, uma condição sine qua non</p><p>para que se possa caminhar naquele local. Mas as observações são</p><p>fundamentais não apenas na chegada, mas igualmente, durante toda a nossa</p><p>estada naquele contexto esportivo. Aliás, realizar continuamente observações</p><p>talvez seja um de nossos maiores desafios pois, com o passar do tempo,</p><p>nossa agenda de compromissos pode tornar essa tarefa uma ação de menor</p><p>calibre.</p><p>As observações podem contar também com diferentes aparatos técnicos</p><p>(gravadores de áudio, vídeo, fotos e cadernos de registros). Nestes casos,</p><p>recomenda-se que tais materiais sejam mantidos em sigilo, em um local</p><p>privado e seguro, evitando assim o mau uso dos mesmos. É importante</p><p>considerar que, se o uso for feito no contexto de pesquisas acadêmicas e/ou</p><p>visem a divulgação mais ampla, é necessária a construção de um projeto que</p><p>justifique o uso de tais ferramentas, submissão e aprovação deste em um</p><p>comitê de ética em pesquisas.</p><p>Como tantos outros métodos, as observações possuem limitações, mas</p><p>estas não devem inviabilizar o seu uso, apenas apontar seus esgotamentos e</p><p>necessidade de articulação com outros métodos. São algumas limitações:</p><p>a. A percepção particular do observador/a pode captar uma amplitude de</p><p>fenômenos que sejam difíceis de serem assimilados em um curto espaço</p><p>de tempo;</p><p>b. As múltiplas facetas que podem cegar quem observa;</p><p>c. O fato de que o(a) observador(a) forma parte daquilo que é observado e</p><p>que é difícil separar o próprio desejo e expectativa dos do time e/ou do(a)</p><p>atleta.</p><p>Finalmente, consideramos a observação como um método fundamental</p><p>para nos possibilitar a compreensão das realidades que envolvem os/as</p><p>atletas e seu entorno. Ainda que seja parte vital do nosso trabalho, por vezes,</p><p>damos pouca atenção, sobretudo, quando já estamos razoavelmente</p><p>familiarizados com o local e as pessoas.</p><p>A anamnese</p><p>Anamnese é uma palavra polissêmica e, com isso, portadora de múltiplos</p><p>sentidos. A palavra grega ana, pode significar trazer de novo ou trazer de</p><p>volta, assim como parte (em anatomia) ou semelhança (em analogia). Já</p><p>mnesis significa memória. Em outras palavras, aponta para uma “memória em</p><p>partes”, na tentativa de retratar as histórias pessoais. Em psicologia é uma</p><p>técnica que busca, de modo estruturado, retomar todos os fatos que se</p><p>relacionam com a pessoa atendida e os fatos que são importantes para a</p><p>demanda posta.</p><p>Bastante usada em contextos de atendimento em saúde, como a psicologia</p><p>clínica, a anamnese é um procedimento inicial de atendimento em que a</p><p>preocupação reside na compilação de dados essenciais para a continuidade</p><p>do atendimento e/ou futuras intervenções. Caso a pessoa em atendimento não</p><p>forneça as informações necessárias, o profissional deve fazê-las de outro</p><p>modo, com outras palavras ou com paráfrases, reformulando-as, até que se</p><p>obtenha as respostas necessárias (Bleger, 2003). Neste procedimento se tem</p><p>a suposição de que o atendido conhece suficientemente sua própria história</p><p>de vida, e que ele tem condições para responder ao profissional. Temos aqui</p><p>uma diferença essencial entre a anamnese e a entrevista, já que neste outro</p><p>procedimento (que falaremos adiante), muitas vezes temos que inferir o que o</p><p>atendido não sabe sobre si mesmo, ou ainda, tomamos o comportamento não-</p><p>verbal ou as contradições na fala, para compor uma análise (Bleger, 2003).</p><p>Na anamnese temos, quase sempre, um formulário com questões básicas,</p><p>que retoma a história clínica, informações sociais ou fisiológicas. Os itens</p><p>levantados devem ser ordenados, claros e concisos, com começo, meio e fim.</p><p>Deve permitir uma síntese da situação presente, tal como a história mais</p><p>ampla do sujeito, desde sua vinculação ao esporte até o momento presente.</p><p>Estas informações devem ser organizadas no prontuário do atleta, de modo</p><p>físico (papel) ou informatizado (arquivos e programas em computador) e</p><p>acessíveis ao atleta ou a outros possíveis profissionais de psicologia que</p><p>possam atendê-lo (Conselho Federal de Psicologia, 2009).</p><p>No Quadro 1 será apresentado um roteiro, mas é importante dizer que o</p><p>mesmo requer adaptações dependendo do contexto e da clientela envolvida.</p><p>Quadro 1: Anamnese em Psicologia do Esporte</p><p>Nome:________________________________________________________</p><p>Data de Nascimento:_____/_____/_____</p><p>Profissão:_____________________________</p><p>Tel.:______________________________________Email:________________</p><p>_______</p><p>Estado civil (se o paciente se considera casado(a): -</p><p>_______________________</p><p>( ) Atleta – Modalidade:___________________________</p><p>Nível: ( ) iniciação ( ) reabilitação ( ) recreativo/lazer ( ) alto-rendimento</p><p>1. Já fez terapia ou teve acompanhamento psicológico? ( ) SIM ( ) NÃO</p><p>a) De qual tipo?________________</p><p>b) Duração: ___________________</p><p>2. Expectativas e objetivos do atleta com o esporte:</p><p>_______________________________________________________________</p><p>_____________________________________________________________</p><p>3. Expectativas e objetivos do atleta com a psicologia do esporte:</p><p>_______________________________________________________________</p><p>_____________________________________________________________</p><p>4. Um médico já disse que você tinha alguns dos problemas que se seguem?</p><p>______ Doença cardíaca</p><p>______ Derrame cerebral</p><p>______ Epilepsia</p><p>______ Batimentos cardíacos irregulares</p><p>______ Diabetes</p><p>______ Hipertensão</p><p>______ Câncer</p><p>______ Problemas ortopédicos</p><p>Por favor, explique:</p><p>_______________________________________________________________</p><p>_____________________________________________________________</p><p>Liste os medicamentos que você está tomando (nome e motivo)</p><p>_______________________________________________________________</p><p>_____________________________________________________________</p><p>5. Aspectos Emocionais e Cognitivos</p><p>Choro frequente ( ) Sim ( ) Não</p><p>Queixa de tristeza/solidão ( ) Sim ( ) Não</p><p>Nota problemas com a atenção e concentração ( ) Sim ( ) Não</p><p>Nota problemas com a memória ( ) Sim ( ) Não</p><p>Usuário de: ( ) Álcool ( ) Drogas ( ) outros</p><p>6. Estado de humor</p><p>( ) Insegurança/medo ( ) Culpa</p><p>( ) Raiva ( ) Ansiedade ( ) Luto</p><p>7. Avaliação do relacionamento interpessoal com a equipe/grupo do esporte</p><p>( ) satisfatório ( ) regular ( ) insatisfatório</p><p>Queixas:</p><p>_______________________________________________________________</p><p>_____________________________________________________</p><p>8. Quantas horas dedica aos treinamentos por semana?</p><p>a) Total de minutos dispendidos em atividades aeróbias por semana:</p><p>______ 1 – 2 horas /semana</p><p>______ 3 – 4 horas/semana</p><p>______ 5 – 6 horas/semana</p><p>______ 7 – 8 horas /semana</p><p>______ mais de 8 horas. Quantas? _________________</p><p>9. Verifique a descrição que melhor representa a quantidade de estresse que</p><p>você tem durante um dia típico (normal):</p><p>( ) sem estresse ( ) estresse leve ocasional</p><p>( ) estresse moderado frequente ( ) estresse elevado frequente</p><p>( ) estresse elevado constante</p><p>10. Como é o sono em uma noite típica (normal)</p><p>____ calmo</p><p>____ tenho bruxismo (ranger de dentes)</p><p>____ sono agitado</p><p>____ falo dormindo</p><p>____ tenho pesadelos normalmente</p><p>____ acorda várias vezes a noite</p><p>Obs: Quantas horas costuma dormir? ________</p><p>11. Como é o sono em noites antes de competições</p><p>____ calmo</p><p>____ tenho bruxismo (ranger de dentes)</p><p>____ sono agitado</p><p>____ falo dormindo</p><p>____ tenho pesadelos normalmente</p><p>____acorda várias vezes a noite</p><p>Obs: Quantas horas costuma dormir? ___________</p><p>_____/______/______ Horário:_____h____</p><p>Observações:</p><p>As entrevistas</p><p>As entrevistas têm sido uma das técnicas qualitativas mais utilizadas no</p><p>campo da psicologia, seja para produzir pesquisas, seja para estabelecer os</p><p>primeiros contatos com os diferentes atores sociais presentes no campo. Há</p><p>de se salientar que, geralmente, a opção pela entrevista ocorre sem muita</p><p>reflexão, é como se ela fosse uma técnica obrigatória, um ponto de passagem</p><p>que, de forma sine qua non, é impossível trabalhar naquele local. Retomamos</p><p>aqui a necessidade de reflexão da escolha do método, já que a entrevista é</p><p>tão somente uma técnica, dentre outras tantas fontes de informação possível</p><p>(Aragaki, Piani, & Spink, 2014).</p><p>Entendemos por entrevista a técnica específica que promove um</p><p>intercâmbio verbal entre o entrevistador(a) e o entrevistado(a), em um</p><p>momento específico em que se tem perguntas e respostas (Delgado &</p><p>Gutiérrez, 1999). Como um primeiro passo fundamental, o entrevistador</p><p>precisa estabelecer uma relação de confiança e clarificar ao entrevistado suas</p><p>pretensões. É importante também pensar o momento de realização dessa</p><p>entrevista, nos seus objetivos, no seu enquadramento, no seu tempo de</p><p>duração e nos atores que serão envolvidos (Bleger, 2003; Ocampo & Arzeno,</p><p>2011).</p><p>A entrevista marca também uma possibilidade de vínculo de colaboração</p><p>entre o psicólogo e o atleta, que poderá ser ou não duradouro, ou nas</p><p>palavras de Pichón-Rivière (1991): “um vínculo normal”. Pichón-Rivière irá</p><p>definir o vínculo normal em termos de comunicação e aprendizagem, sendo</p><p>que seu desenvolvimento normal pressupõe uma permanência, franqueza,</p><p>trocas francas, diretas e dialéticas.</p><p>Outro ponto fundamental, sobretudo no contexto esportivo, parece-nos ser</p><p>a adequação da linguagem ao entendimento do entrevistado. Entender as</p><p>peculiaridades da modalidade, seus jargões, gírias, neologismos, assim como</p><p>as suas entonações que podem ser usadas para descrever as situações que,</p><p>às vezes, só faz sentido naquele contexto. A partir disso, perceber a própria</p><p>assimetria de poder refletida nas respostas do entrevistado, ou seja, há de se</p><p>considerar as diferenças educacionais, socioeconômicas, idade, sexo e classe</p><p>social, tanto para estruturar as perguntas, quanto para a interação em si ou</p><p>para compreender as respostas recebidas.</p><p>A entrevista é um instrumento comumente empregado na fase de</p><p>preparação psicológica ou para o psicodiagnóstico particular do atleta. Pode</p><p>vir associado com a anamnese, como uma forma de explorar em detalhes os</p><p>elementos inicialmente expostos em um formulário específico (tal como</p><p>modelo apresentado aqui). Para Rubio (2010), devem ser explorados aspectos</p><p>como: a história esportiva do atleta; suas atitudes em treinamentos e</p><p>competições; a influência da prática esportiva na família e o papel do atleta</p><p>nesta; as expectativas com relação a prática e; o clima da organização em que</p><p>está inserido o atleta.</p><p>De acordo com Bleger (2003) a entrevista pode ser aberta ou fechada. Na</p><p>primeira o entrevistador tem liberdade para as perguntas ou intervenções,</p><p>permitindo-se flexibilidade de caso a caso, possibilitando que o entrevistado</p><p>configure o campo da entrevista segundo a necessidade posta naquela</p><p>situação particular. Nesta entrevista pode-se fazer uma pergunta inicial ou</p><p>disparadora, não sendo necessária ou fundamental a intervenção do(a)</p><p>entrevistador(a) ao longo da mesma (a menos que seja para elucidar algum</p><p>tema). Usa-se frequentemente este método para compreensões associativas</p><p>(Ex: por que se jogou bem melhor contra um time ou invés do outro?), ou</p><p>ainda, para as falas narrativas, como as descrições de eventos específicos ou</p><p>para a construção da história de vida. A entrevista aberta possibilita uma</p><p>análise ampla e profunda sobre determinada questão.</p><p>Figura 2: Exemplos de questões para entrevista aberta</p><p>Fale sobre sua trajetória no esporte.</p><p>Conte-me como foi seu último ano na equipe ?</p><p>Como você está se sentindo?</p><p>Como você se sentiu quando chegou nessa equipe?</p><p>Já, na entrevista fechada, as perguntas são anteriormente previstas, assim</p><p>como sua ordem, não permitindo ao entrevistador alterar nenhuma destas</p><p>disposições.</p><p>Este tipo de método está próximo dos questionários. É aplicável ao contexto</p><p>esportivo quando se necessita coletar informações padronizadas acerca de</p><p>algum fenômeno (inventários de estresse competitivo, elementos relacionados</p><p>ao rendimento esportivo versus fatores psicológicos e sociais, etc.). São</p><p>perguntas objetivas que cabem respostas igualmente objetivas, como o sim ou</p><p>o não, ou ainda, alguma informação concreta (atualmente jogo como</p><p>armadora). A entrevista fechada permite uma melhor comparação sistemática</p><p>de dados e acompanhamento de determinados fatores em um tempo</p><p>específico.</p><p>Figura 3: Exemplos de questões para entrevistas fechadas</p><p>Qual a sua posição no time?</p><p>Por mais quantos anos pretende jogar?</p><p>Você ficou ansioso(a) na última competição?</p><p>Você tem conseguido entender as instruções dadas pelo técnico?</p><p>Acha que o seu desempenho tem sido exigido demais nas competições?</p><p>Acrescenta-se nesse raciocínio as entrevistas semidirigidas ou</p><p>semiestruturadas. Para Ocampo e Arzeno (2011) estas se caracterizam por</p><p>contar com um roteiro ligeiramente estruturado, que contém vetores a serem</p><p>seguidos, mas que objetivam incentivar a fala e a articulação do</p><p>entrevistado/a. No contexto esportivo, pensando na iniciação esportiva,</p><p>podemos exemplificar com as seguintes questões:</p><p>Figura 4: Exemplos de questões para entrevista semidirigida</p><p>O que sua família tem falado sobre sua atuação?</p><p>Qual foi a influência, ou não, da sua família na escolha da modalidade?</p><p>É comum ficar ansioso/a às vésperas de uma competição. Como você normalmente</p><p>fica?</p><p>Como tem sido sua dedicação nos treinamentos?</p><p>Dependendo do contexto, objetivo e tempo disponível é possível também</p><p>unir os métodos. Por vezes iniciamos uma entrevista de modo mais aberto e</p><p>livre e, no desenrolar da mesma, fazemos perguntas que se voltam para</p><p>temas específicos (entrevista semidirigida) ou, ainda, colocamos perguntas</p><p>fechadas sobre algum elemento que requer comparação (entrevista fechada).</p><p>A entrevista pode ter usos distintos, como em pesquisas científicas, em</p><p>situações investigativas (quando estamos tateando nossos atendidos, a</p><p>comissão técnica, os familiares, entre outros), em análises diagnósticas (que</p><p>pode estar vinculada com o uso de testes de personalidade, de atenção e</p><p>concentração, projetivos, entre outros) ou ainda ser uma entrevista de</p><p>acompanhamento. Independente do seu uso, há aqui um fio condutor que as</p><p>vinculam e que é necessário não perder de vista: o foco nos fatores</p><p>psicológicos.</p><p>Diferentemente de outros contextos em que uma entrevista é empregada</p><p>em um ambiente restrito, fechado, com boa ventilação e iluminação</p><p>(consultório, empresa, escola, etc.), no esporte</p><p>temos muitas vezes uma</p><p>realidade bastante distinta. Nosso consultório pode seguir os moldes</p><p>tradicionais, em espaço privado como se é conhecido, mas nosso local de</p><p>trabalho também pode ser o tatame, a quadra, o campo, a pista, a rua. No</p><p>entanto, o que poderia vulnerabilizar nosso trabalho, muitas vezes é</p><p>exatamente o que nos potencializa e nos aproxima de nossos atendidos. Estar</p><p>no local da prática do exercício cria elos de comunicação e de relacionamento,</p><p>contribuindo para minimizar a entrevista como um instrumento de poder e de</p><p>dominação. Com isso é possível sustentar entrevistas mais fluídas, com troca</p><p>e negociação de sentidos (Aragaki et al., 2014).</p><p>Mas, é importante frisar que, dependendo do nosso entrevistado/a, esse</p><p>espaço terá que manter alguma privacidade, como um espaço isolado no local</p><p>de treinamento, um horário alternativo ou quando não há fluxo de pessoas.</p><p>Isso se faz necessário, pois muitas vezes lidamos com conflitos, situações</p><p>angustiantes e/ou decisões importantes que serão tomadas. Além disso, é</p><p>dever fundamental dos psicólogos a garantia do sigilo profissional (Conselho</p><p>Federal de Psicologia, 2014), que pode ficar comprometido em ambientes</p><p>muito abertos e com fluxo intenso de pessoas.</p><p>Deste modo, o importante é retomar que, independentemente do local da</p><p>entrevista, os resultados, as coisas ditas ou não ditas, fazem parte de uma</p><p>série de outras variáveis presentes (se o treinador está por perto, se o time</p><p>ganhou ou perdeu, se se está no começo ou no final de uma temporada, etc.).</p><p>Todos esses elementos estão em ação durante a entrevista e podem,</p><p>juntamente com as falas, compor a análise e a compreensão da mesma.</p><p>As conversas</p><p>A junção entre a Psicologia do Esporte e as conversas como método de</p><p>trabalho é uma combinação bastante simpática e que possui relação direta e</p><p>permanente. Se tal como apontamos anteriormente, não é possível, na prática</p><p>da PE, pensar o(a) psicólogo(a) neutro, que fica em uma sala fechada</p><p>estudando e esperando que sua clientela o procure, então nosso lugar é o</p><p>todo lugar. O fazer da psicologia está no movimento, na transitoriedade,</p><p>naquilo que está entre o dito e o não dito, o humano e o não humano, o</p><p>esporte e o não esporte. Esse fazer entre é diferente de um fazer neutro.</p><p>Neutralidade é ingênua, não é possível. Já o caminho, o movimento, o trajeto,</p><p>esse sim é possível. A ideia de um local fechado, privado e distanciado do(a)</p><p>psicólogo(a) naturalizam um tipo de psicologia distante do esporte, esconde as</p><p>realidades, distancia as pessoas e o contato com os impasses do dia a dia.</p><p>Estamos sempre em múltiplos campos, próximos da equipe: na sala de</p><p>treinamento, na quadra, na torcida, no banco com a equipe técnica, na</p><p>estrada, no voo, no vestiário, no hospital, na comemoração, ou nos cantos</p><p>escuros em que é permitido chorar e ter medo.</p><p>E o que é possível fazer nesses lugares? Conversar! É essa forma de</p><p>trabalho que nos permite movimento, fluidez e proximidade, mostrando a vida</p><p>como ela é, e não um universo distante, separado, não relacionado. Podemos</p><p>negociar nosso acesso às partes mais densas do campo e em consequência</p><p>de um senso de estar mais presente no seu cotidiano (Spink, 2003).</p><p>De certo modo, as ciências fogem das conversações no cotidiano,</p><p>sobretudo pela nossa tradição cartesiana, que acaba por enrijecer e controlar</p><p>nossas ações. Com isso, nossas práticas não controladas são, por vezes,</p><p>negadas ou até mesmo eliminadas do nosso trabalho. Não é possível seguir</p><p>os atores o tempo todo com gravadores e roteiros predeterminados de</p><p>entrevista, além do que, o que é falado em uma entrevista para o/a</p><p>entrevistador/a e seu gravador (que pode se multiplicar rapidamente e</p><p>geograficamente o que ali foi produzido) tem efeitos distintos das</p><p>conversações. A dose de liberdade das conversações pressupõe que os</p><p>atores produzem conhecimento o tempo todo e que podem nos comunicar</p><p>coisas a qualquer momento. Podem repelir gravadores. Podem até repelir a</p><p>formalidade de um roteiro de entrevista.</p><p>As conversas entram e saem a todo o tempo. Podem ser intencionais ou</p><p>espontâneas (tanto por parte do psicólogo do esporte como por parte de sua</p><p>clientela). Ora se chocam, ora se complementam. Por vezes parecem sem</p><p>lógica, mas por vezes é a peça que faltava no quebra-cabeça.</p><p>Independentemente deste possível caos, é importante dizer que as conversas</p><p>sempre nos oferecem pistas preciosas para nossa atuação.</p><p>Às vezes, temos a oportunidade de sentar-se ao lado de alguém e puxar</p><p>um dedo de prosa (Batista, Bernardes e Menegon, 2014). Em algumas</p><p>ocasiões o objetivo pode ser entender melhor algum evento específico ou a</p><p>ação de alguma pessoa. Em outros momentos, pode ser simplesmente com o</p><p>objetivo de interagir, brincar com alguma situação ou evento do cotidiano.</p><p>E como ordenar o suposto caos produzido pelas conversas? Nada melhor</p><p>que um caderninho simpático, ou para quem tem mais afinidade com a</p><p>tecnologia, um tablet ou similar, para registrar todo o material coletado.</p><p>Chamamos esse ordenador de Diário de Campo ou simplesmente Diário. O</p><p>objetivo deste é não perder de vista os movimentos constantes dos atores e</p><p>registrar o possível. É importante que o Diário, tenha uma lógica: as datas,</p><p>quem interagiu com quem, quais foram os possíveis efeitos e relações e,</p><p>obviamente, as falas. Pode-se incluir também o local da interação, cidade em</p><p>que ocorreu, se era um dia de treinamento, competição ou avaliação, eventos</p><p>externos que poderiam ter influenciado o grupo, sentimentos (incluindo os</p><p>seus próprios) e dúvidas. O registro pode ser feito no local da interação, assim</p><p>como em um outro local mais privado. No entanto, para que as falas não se</p><p>percam, sugere-se registar sempre no próprio dia, evitando o esquecimento de</p><p>informações importantes.</p><p>É fundamental também pontuar que toda prática psicológica sistemática</p><p>deve ser formalizada em forma de registros documentais, para que sejam</p><p>possíveis a orientação e a fiscalização sobre o serviço prestado e a</p><p>responsabilidade técnica adotada. Sobre esta questão, faz-se imprescindível a</p><p>leitura atenta da Resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP Nº</p><p>001/2009).</p><p>Para a escrita dos relatórios, recomenda-se fluidez: uma descrição com</p><p>menos filtros e mais profundidade sobre os eventos tal como ocorreram. As</p><p>falas e conversas podem ser escritas de modo literal, de acordo como haviam</p><p>transcorrido durante as interações. Contudo, como não se trata de entrevistas</p><p>gravadas e transcritas, algumas falas podem acabar recebendo alterações</p><p>para dar sentido ao texto, o que não quer dizer que se crie uma ficção ou que</p><p>a escrita não seja confiável. Como nos diria Latour (2012, p.182): “quando</p><p>estamos no meio das coisas, de olhos e ouvidos bem abertos, não captamos</p><p>tudo que aconteceu”. Não há conteúdo finalizado no discurso, já que estamos</p><p>sempre (re)criando, (re)pensando, (re)construindo.</p><p>Há de se problematizar os aspectos éticos envolvidos aqui. Não podemos</p><p>simplesmente e aparentemente sentar ao lado de alguém, começar a</p><p>conversar, registrar tudo e, posteriormente, usar esse material de modo</p><p>indiscriminado. O que se pretende apontar é que as conversas são potentes e</p><p>fundamentais e, sobretudo após uma avaliação formal e prévia, passam a</p><p>compor a rotina de nosso trabalho, ocupando um tempo importante de nossa</p><p>atuação.</p><p>Portanto, quando algo despertar a atenção, que se entenda que requer um</p><p>aprofundamento, pode-se questionar nesse mesmo setting a opinião do sujeito</p><p>a respeito. Por exemplo:</p><p>Atleta: Odeio o Carlos, cara arrogante! Não sabe dosar a força no treinamento e já</p><p>machucou seriamente o Zeca e João.</p><p>Psicólogo/a: E como o grupo lidou com isso?</p><p>Atleta: todo mundo fingiu que não viu, que não foi culpa dele. Até o técnico. Bem, na</p><p>verdade não sei se o técnico viu.</p><p>Psicólogo/a: Isso parece ser muito importante. Bem, você é o mais graduado da equipe,</p><p>sugere que façamos algo?</p><p>Atleta: Nessas horas dá raiva de ser o mais graduado! Mas acho que eu devo conversar</p><p>com ele primeiro.</p><p>Vejamos, não foi sugerido atacar o Carlos, fofocar, ou incentivar o conflito.</p><p>Tampouco,</p><p>podemos assumir o problema como nosso, da psicologia, e já</p><p>partir para a resolução de um possível conflito, com uma denúncia para o</p><p>técnico ou usando uma dinâmica de grupo. Independente das diferenças</p><p>epistemológicas de intervenção em psicologia, no caso apresentado, pouco</p><p>sabemos do que aconteceu. Incentivamos o diálogo, acompanhamos,</p><p>registramos e nos fazemos presentes.</p><p>Pode ser que em um determinado treinamento, duas semanas após essa</p><p>conversa, acidentalmente nosso atleta machuque severamente o Carlos. Não</p><p>podemos, igualmente, tomar essa segunda ocorrência como proposital, mas</p><p>sim que ela irá compor um diagnóstico da situação apresentada. Tão pouco</p><p>podemos procurar o técnico e denunciar o exposto na conversa semanas</p><p>atrás. Esta conduta seria uma falha ética, além do que traria um diagnóstico</p><p>consistente, podemos apenas levantar mais fantasias e angústias em todos.</p><p>Com crianças e adolescentes as conversas são igualmente importantes e,</p><p>às vezes, nesse ambiente informal de conversação, nos trazem de fato os</p><p>dilemas vividos.</p><p>Atleta de iniciação: Sabe, eu não quero competir. Gosto mesmo dos amigos, do clube, da</p><p>recreação, mas meus pais querem que seu seja uma supercampeã. Eu não quero.</p><p>Psicólogo(a): Você já conversou com eles?</p><p>Atleta de iniciação: Não, tenho medo. Não sei como fazer. Me ajuda?</p><p>Essa situação nos mostra múltiplas faces e possibilidades de atuação, parte</p><p>de um campo vivido e repleto de tensões, ansiedades e de conflitos. Mas</p><p>certamente uma possibilidade única para entendimento, aprofundamento e</p><p>intervenção.</p><p>Os incidentes críticos</p><p>Um atleta de alto-rendimento se acidenta gravemente e, em questão de</p><p>instantes, a mídia mundial noticia ser o fim de uma era o fim de um herói. Uma</p><p>criança se recusa a competir e seus pais tentam obrigá-la a participar da</p><p>competição. O time, favorito a ganhar o campeonato, é desclassificado na</p><p>“primeira rodada” da competição, deixando a todos desolados.</p><p>Temos nessas experiências os chamados incidentes críticos. São aqueles</p><p>momentos difíceis em que normalmente somos chamados(as) a atuar, como</p><p>se fossemos conseguir rapidamente passar uma borracha por cima do que</p><p>aconteceu para que as coisas voltem a ser como antes. Sabemos, no entanto,</p><p>que essa não é a realidade, ou nossa possibilidade de atuação. Podemos sim,</p><p>construir caminhos para o enfrentamento dessas situações, sempre com as</p><p>pessoas do local e nunca trazendo ou impondo a nossa verdade, o nosso</p><p>saber.</p><p>Mas o que os incidentes críticos nos ajudam a pensar, metodologicamente,</p><p>nossa atuação em Psicologia do Esporte? O que é possível aprender e</p><p>articular com essas experiências?</p><p>Os incidentes críticos são experiências intensas que, por mais dolorosas</p><p>que sejam, nos dão um posto privilegiado de observação e análise, que nos</p><p>conduz por entre o emaranhado de contestações, articulações, significações e</p><p>posicionamentos que o grupo pode, ou não, assumir perante essas</p><p>ocorrências extremas. O uso de tal recurso é indicado, quando se pretende</p><p>fazer uma análise profunda que mobilizou visivelmente o grupo/atletas. É uma</p><p>técnica menos recomendada para o estudo de situações lineares (Dolores &</p><p>Vilela, 2014).</p><p>Falando a partir da Teoria Ator-Rede (TAR), Bruno Latour (2000), Jonh Law</p><p>& Annemarie Mol (2008) usaram os chamados incidentes críticos para</p><p>desenrolar e descrever as situações e os atores que estavam envolvidos</p><p>quando determinados eventos ocorreram. Latour (2000) seguiu os cientistas</p><p>para descrever o modo como os fatos científicos (ou as verdades) foram</p><p>construídas em laboratórios. Jonh Law e Annemarie Mol (2008) desenrolaram</p><p>o caso da febre aftosa, que ocorreu no Reino Unido em 2001, apontando a</p><p>forma como as diferentes ações e atores se agruparam e se reagrupam, na</p><p>tentativa de criarem versões únicas e estáveis.</p><p>Os incidentes críticos apontam, em consonância com o postulado pela TAR,</p><p>que um ator não age sozinho. Ele(a) age em conjunto com muitos/as</p><p>outros/as, ou seja: “o ator é aquilo que muitos outros levam a agir” (Latour,</p><p>2012, p. 75). E quem são os atores envolvidos em um incidente crítico? São</p><p>os humanos e não humanos que, de algum modo, mobilizam outros atores e</p><p>produzem efeitos (Latour, 2000, 2012; Law& Lien, 2013; Law& Mol, 2008).</p><p>Para notarmos melhor a importância dos não humanos que atuam, basta</p><p>pensar em, por exemplo, uma medalha ou um troféu na cena em que o</p><p>incidente crítico aconteceu. Provavelmente os atletas, comissão técnica,</p><p>público presente e mídia terão comportamentos diferentes pela simples</p><p>presença destes objetos (Camilo, 2016).</p><p>Diferente dos humanos, objetos não são capazes de raciocinar ou delegar</p><p>tarefas. Objetos se articulam com os humanos e, ainda que não tenham</p><p>intenção no controle, ajudam a criar realidades. A questão não reside na</p><p>intencionalidade da ação, ou em um antropomorfismo, mas sim, o quanto</p><p>contribuem para alterar determinada realidade, produzindo efeitos.</p><p>No contexto do esporte, realizamos constantemente e intuitivamente</p><p>diagnósticos sobre os incidentes críticos. Compomos análises, tendências e</p><p>somos chamados(as) a dar nossa opinião, tanto perante a equipe a que</p><p>estamos envolvidos, quando (e perigosamente) na mídia. Contudo, propomos</p><p>aqui, a tentativa de organizar a complexidade envolvida nesses casos. Isso</p><p>significa amarrar e desamarrar as relações estabelecidas no entorno desse</p><p>evento (considerando o antes, o durante e o depois), os diferentes atores</p><p>presentes (humanos e não-humanos), os argumentos expostos (quem falou o</p><p>que e para quem), e os efeitos (a lesão do atleta, o conflito, a recusa em</p><p>competir). Pode-se inclusive contar com o uso de materiais e documentos que</p><p>dialoguem com a situação exposta. De acordo com Dolores e Vilela (2014) há</p><p>inúmeros desafios para o uso dos incidentes críticos, a saber:</p><p>a. Dificuldade metodológica em ordenar os diferentes materiais;</p><p>b. A tendência em generalizar as ações o os efeitos do incidente ocorrido.</p><p>Nesse caso, vale dizer que toda situação é única e que, por mais que</p><p>possamos aprender com ela, sempre teremos imprevisibilidade;</p><p>c. Os critérios adotadospara a escolha dos incidentes devem ser claros e</p><p>assim, igualmente, entendidos pelo grupo/atletas.</p><p>Tal como outras ferramentas metodológicas, teremos que fazer escolhas e</p><p>realizar afunilamentos. A tentativa de esmiuçar detalhadamente a rede de</p><p>relações e articulações em torno de um evento considerado crítico,</p><p>provalvente nos levará para longos e complexos caminhos, que talvez nos</p><p>distancie do nosso foco de atuação no contexto da psicologia do esporte</p><p>aplicada. Ainda assim, trata-se de uma importante ferramenta de trabalho,</p><p>leitura e intervenção, ainda mais quando falamos que são nesses eventos,</p><p>que somos chamados(as) para atuar.</p><p>Considerações Finais</p><p>E qual metodologia devo empregar em minha prática? A opção pela</p><p>escolha do método, da ferramenta, do momento, de com quem devo aplicar o</p><p>quê, deve se debruçar sobre as realidades vivenciadas pela equipe e seus</p><p>atletas. Deve levar em consideração o fluxo dos acontecimentos e seus</p><p>diferentes atores sociais envolvidos, assim como as possibilidades que se tem</p><p>ou não se tem (orçamentos, tempo, espaços, etc.). Deve lutar para não cair na</p><p>armadilha dos inúmeros diagnósticos, mapas, tendências e análises, sem,</p><p>contudo, conseguir atuar sobre eles.</p><p>É importante que se tenha clareza do referencial teórico-metodológico</p><p>escolhido, que será o balizador das análises, intervenções e expectativas de</p><p>resultados das atuações posteriores. Uma prática sem referencial teórico-</p><p>metodológico é um barco à deriva. Ainda que estejamos nesse momento</p><p>tecendo aportes epistêmicos de dentro da psicologia do esporte (e esse é um</p><p>campo em intensa construção, tensão e produção), é importante contar com</p><p>um aporte, ainda que parcial e provisório, sobre as escolhas e os caminhos</p><p>que se pretende percorrer (aspectos ontológicos, epistemológicos e</p><p>metodológicos).</p><p>Referências bibliográficas</p><p>Aragaki, S. S., Piani, P. P., & Spink, M. J. (2014). Entrevistas: negociando sentidos e</p><p>coproduzindo versões de realidade. In: A produção de informação</p><p>na pesquisa social:</p><p>compartilhando ferramentas (pp. 229–246). Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas</p><p>Sociais.</p><p>Batista, N. C. S., Bernardes, J., & Menegon, V. S. M. (2014). Conversas no cotidiano: um dedo</p><p>de prosa na pesquisa. In: A produção de informação na pesquisa social: compartilhando</p><p>ferramentas (pp. 97–122). Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais.</p><p>Bleger, J. (2003). Temas de psicologia: Entrevista e Grupos. São Paulo: Martins Fontes.</p><p>Camilo, J. A. de O. (2016). Trabalhador, ídolo, sobrevivente, “casca-grossa” e humano:um</p><p>estudo sobre versões de atletas de Mixed Martial Arts. Tese de doutorado em Psicologia</p><p>Social, Pontifícia Univesidade Católica de São Paulo, São Paulo.</p><p>Cardona, M. G., Cordeiro, R., & Brasilino, J. (2014). Observação no cotidiano: um modo de</p><p>fazer pesquisa em psicologia social. In: A produção de informação na pesquisa social:</p><p>compartilhando ferramentas (pp. 123–166). Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas</p><p>Sociais.</p><p>Conselho Federal de Psicologia. (2009). Resolução CFP nº 001/2009. Brasília, DF.</p><p>Conselho Federal de Psicologia. (2014). Código de ética profissional do psicólogo. Brasília.</p><p>Delgado, J.M. y Gutiérrez, J. (1995). Métodos y técnicas cualitativas de investigación en</p><p>ciencias sociales. Madrid: Síntesis.</p><p>Dolores, G., & Vilela, R. M. (2014). Jogos de armar: narrativas como modo de articulação de</p><p>múltiplas fontes no cotidiano da pesquisa. In: A Produção de informação na Pesquisa</p><p>Social: compartilhando ferramentas (pp. 295–323). Rio de Janeiro: Centro Edelstein de</p><p>Pesquisas Sociais.</p><p>Guareschi, P. (1998). Quantitativo versus Qualitativo: uma falsa dicotomia. Revista Psico,</p><p>29(1), 165–174.</p><p>Günther, H. (2006). Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão?</p><p>Psicologia: Teoria E Pesquisa, 22(2), 201–209.</p><p>Hacking, I. (2001). ¿La construcción social de qué? Barcelona: Paidos.</p><p>Latour, B. (2000). Ciencia em ação. São Paulo: Unesp.</p><p>Latour, B. (2012). Reagregando o Social.Salvador – Bauru: Edufba.</p><p>Law, J. & Lien, M. (2013). Slippery: Field Notes on Empirical Ontology. In: Social Studies of</p><p>Science (pp. 1-16). Recuperado de</p><p>http://www.sv.uio.no/sai/english/research/projects/newcomers/publications/working-papers-</p><p>web/Slippery%20revised%2013%20WP%20version.pdf</p><p>Law, J., & Mol, A. (2008). The actor-enacted: Cumbrian sheep in 2001. In C. Knappett & L.</p><p>Malafouris (Eds.). Material Agency: towards a non-anthropocentric approach (pp. 57-77).</p><p>New York, NY: Springer.</p><p>Novaes, J.V.(2012) Corpo arma, corpo ferramenta ou corpo capital? Escutando lutadores de</p><p>MMA. In: Vilhena & Novaes (orgs) Corpo para que te quero? Usos abusos e desusos. Rio</p><p>de Janeiro. Eds. Appris/PUC.</p><p>Ocampo, M. L. S., & Arzeno, M. E. G. (2011). A entrevista inicial. In: O processo diagnóstico e</p><p>as técnicas projetivas (pp. 15–46). São Paulo: Martins Fontes.</p><p>Pichón-Rivière, E. (1991). Teoria do vinculo. São Paulo: Martins Fontes.</p><p>Rubio, K. (2010). Psicologia do Esporte: Teoria e Pratica. São Paulo: Casa do Psicólogo.</p><p>Spink, P. K. (2003). Pesquisa de campo em psicologia social: uma perspectiva pós-</p><p>construcionista. Psicologia & Sociedade, 15(2), 18–42.</p><p>Wacquant, L. (2002). Corpo e Alma: notas etnográficas de um aprendiz de boxe. Rio de</p><p>Janeiro: Relume Dumará.</p><p>CAPÍTULO 6</p><p>Métodos quantitativos de avaliação psicológica na Psicologia</p><p>do Esporte</p><p>Gislane F. de Melo</p><p>Alberto Filgueiras</p><p>1. Introdução</p><p>O técnico da equipe que você trabalha como psicólogo do esporte pergunta</p><p>se um de seus atletas está ansioso para o campeonato que vai ocorrer no</p><p>próximo final de semana. Você observa alguns indícios, mas não consegue ter</p><p>certeza. Pergunta ao atleta que, por sua vez, afirma categoricamente que está</p><p>tranquilo e que, se parece que está nervoso, não é ansiedade, mas foco na</p><p>competição. A explicação não lhe parece satisfatória e você, de fato, levanta a</p><p>hipótese de que seu atleta está ansioso, mas não consegue compreender (ou</p><p>aceitar) isso conscientemente. Finalmente, você decide utilizar um teste</p><p>psicológico que dimensione a quantidade de ansiedade sentida pelo atleta</p><p>naquele momento. Findado o preenchimento do questionário, você soma os</p><p>escores de cada um dos itens da escala e gera o resultado bruto. Depois, você</p><p>usa a tabela de escore padronizado e descobre que seu atleta está com a</p><p>ansiedade no percentil 80; e de acordo com a interpretação do manual do teste,</p><p>isso significa ansiedade alta. O teste o ajuda corroborar sua hipótese de</p><p>ansiedade pré-competitiva e você traça uma estratégia de intervenção para</p><p>diminuí-la o quanto possível, com a ajuda do técnico e do próprio atleta que</p><p>agora está consciente da situação e aceita o trabalho.</p><p>Esse exemplo é uma realidade cotidiana para o psicólogo do esporte com</p><p>formação sólida e ampla. Sua observação, seu instinto e seu treinamento</p><p>podem ser turvados por diversas variáveis que influenciam sua prática, o que</p><p>significa que nem sempre o psicólogo está preparado para avaliar através da</p><p>observação, do contexto e da fala do atleta seu verdadeiro estado psíquico. A</p><p>avaliação quantitativa, que não é limitada a testes psicológicos como veremos</p><p>nesse capítulo, auxilia o profissional a responder perguntas, testar hipóteses e</p><p>dá um panorama sobre o atleta a partir de uma perspectiva que nem sempre é</p><p>a mesma da comissão técnica e do próprio psicólogo.</p><p>Há diversas formas e contextos para se usar a avaliação quantitativa. Na</p><p>prática cotidiana do profissional que trabalha diretamente com atletas, serve</p><p>com balizador de seu próprio trabalho, possibilitando vislumbrar a evolução</p><p>longitudinal das dimensões psicológicas como atenção concentrada e dividida,</p><p>tomada de decisão, capacidade de resolver problemas e manejo da ansiedade.</p><p>O dado quantitativo vai mudar de acordo com a intervenção e sua eficácia,</p><p>permitindo projetar as técnicas mais eficazes para cada desportista.</p><p>De outro lado, muitas comissões técnicas, federações e clubes utilizam a</p><p>avaliação psicológica quantitativa para informar suas ações, compreender como</p><p>o técnico deve lidar com seus atletas e quais desportistas demandam um</p><p>trabalho mais próximo. Muitas vezes, psicólogos do esporte são contratados em</p><p>modalidades de consultoria ou assessoria somente para fazer a avaliação e, a</p><p>partir dela, os órgãos vão gerenciar da forma como melhor entendem a variável</p><p>psicológica no esporte. Uma boa avaliação quantitativa pode revelar coisas</p><p>extremamente importantes sobre um atleta, como sua condição psíquica,</p><p>possíveis psicopatologias, dimensões a serem trabalhadas ou potencializadas e</p><p>que repercutem não somente na performance, mas também na qualidade de</p><p>vida dessas pessoas.</p><p>A avaliação psicológica quantitativa no esporte deve ser compreendida como</p><p>uma prática imprescindível ao profissional da Psicologia do Esporte que deseja</p><p>ser completo em seu repertório de técnicas. Esse capítulo vai ajudar o leitor a</p><p>compreender quais as bases epistemológicas e as principais técnicas utilizadas</p><p>na avaliação psicológica quantitativa dentro do ambiente esportivo. Para isso,</p><p>dar-se-á uma pincelada básica nos conceitos principais de estatística de modo</p><p>a permitir que questões como percentil, normalidade e padronização de escores</p><p>sejam compreendidos. Depois, entender-se-á a distinção entre avaliação</p><p>psicológica e testagem psicológica, cada qual com suas características e como</p><p>elas se aplicam no contexto do esporte. Técnicas quantitativas de avaliação de</p><p>dimensões psicológicas serão apresentadas e seu uso será explicado para já</p><p>integrar o corpo de possibilidades do psicólogo do esporte que tem acesso a</p><p>esse material. Por fim, considerações sobre as limitações da avaliação</p><p>psicológica quantitativa no contexto do esporte serão feitas, refletindo a</p><p>realidade dos problemas da avaliação como um todo. Mas, lembre-se, tudo</p><p>começa compreendendo estatística como conceito, e sem matemática.</p><p>2. Princípios básicos de estatística</p><p>A Estatística é uma ciência derivada da Matemática que tem como questão</p><p>fundamental fazer previsão de padrões populacionais com base em amostras.</p><p>Para entender, portanto, como funciona</p><p>[...] quanto interventiva atuando diretamente na transformação de</p><p>padrões de comportamento que interferem na prática da atividade física regular e/ou</p><p>competitiva. Realiza estudos e pesquisas individualmente ou em equipe multidisciplinar,</p><p>observando o contexto da atividade esportiva competitiva e não competitiva, a fim de</p><p>conhecer elementos do comportamento do atleta, comissão técnica, dirigentes e torcidas;</p><p>[...] elabora e participa de programas e estudos de atividades esportivas educacionais, de</p><p>lazer e de reabilitação, orientando a efetivação do esporte não competitivo de caráter</p><p>profilático e recreacional, para conseguir o bem-estar e qualidade de vida dos indivíduos.</p><p>[...]. (CFP, 2007, p.20).</p><p>Além dos objetivos no esporte citados acima como a iniciação esportiva,</p><p>reabilitação, lazer e recreação ou ao esporte de alto rendimento, a atuação do</p><p>psicólogo do esporte ainda inclui o cuidado da pessoa que pratica atividade</p><p>física, independentemente da faixa etária ou da modalidade esportiva.</p><p>Essa amplitude de atuação da psicologia do esporte favorece a existência</p><p>de definições diversas como ilustram Rodrigues e Azzi (2007) em sua obra</p><p>Trilhando Caminhos em busca de iniciação na área. Para a Federação</p><p>Europeia de Psicologia do Esporte (FEPSAC) a psicologia do esporte</p><p>compreende “[...] os fundamentos psicológicos, processos e consequências da</p><p>regulação psicológica de atividades relacionadas com o esporte de uma ou</p><p>várias pessoas atuando como sujeito da atividade. [...]”. (p.23)</p><p>Weinberg e Gould (2008) a denominam como Psicologia do Esporte e do</p><p>Exercício, afirmando que “[...] é o estudo científico de pessoas e seus</p><p>comportamentos em atividades esportivas e atividades físicas e a aplicação</p><p>desse conhecimento [...]”. (p.28). Compartilham dessa ideia Barreto (2003) e</p><p>Samulski (2002), para citar algumas publicações precursoras. Contudo, além</p><p>da perspectiva competitiva e de alto rendimento esportivo, a PE contempla</p><p>também a iniciação esportiva, as atividades físicas em geral, assim como as</p><p>atividades em tempo livre e de reabilitação (Rubio, 2003).</p><p>Observa-se nas definições apresentadas que a inserção da Psicologia no</p><p>cenário esportivo prescinde de uma interface das teorias e fenômenos</p><p>psicológicos com a atividade física e a prática esportiva em geral. Torna-se</p><p>fundamental, ainda, uma interlocução multidisciplinar com os demais saberes</p><p>e profissionais que atuam no universo esportivo.</p><p>Esporte como fenômeno moderno e social</p><p>É inequívoco que a Era Moderna propicia mudanças e novos padrões</p><p>sociais. Neste sentido, o esporte não fica fora dessas transformações. Mas</p><p>para entender melhor a inserção da Psicologia no universo esportivo é</p><p>importante considerar a perspectiva sociológica de esporte como fenômeno</p><p>social moderno ocidental.</p><p>Na virada do século XVIII para o XIX o esporte tinha a função de entreter e</p><p>satisfazer as pessoas, além de controlar seus impulsos. Para Capraro (2009)</p><p>as sociedades europeias utilizavam-se das atividades esportivas para manter</p><p>um rígido controle da violência através de situações de competitividade e</p><p>rivalidade legalizadas e regulamentadas. Além disso, o esporte servia de</p><p>autocontrole, pois era um dos fatores fundamentais para o fortalecimento de</p><p>uma nação e identidade nacional. Veremos mais adiante que, no Brasil do</p><p>século XX, o cenário de surgimento da Psicologia do esporte não foi muito</p><p>diferente.</p><p>Além de uma atividade de lazer, o esporte ganhou potencial representativo</p><p>em diversas nações europeias, incluindo a possibilidade de superioridade</p><p>racial, haja vista os Jogos Olímpicos de Berlim (1936) (Capraro, 2009).</p><p>Para o historiador inglês Hobsbawn (1990) a rivalidade amistosa entre</p><p>nações e as disputas institucionalizadas regulares serviam de válvulas de</p><p>escape para tensões grupais. Assim, “o esporte como um espetáculo de</p><p>massa foi transformado numa sucessão infindável de contendas, onde se</p><p>degladiavam pessoas e times simbolizando Estados-nações, o que hoje faz</p><p>parte da vida global” (p.170).</p><p>Algumas modalidades rapidamente se destacavam nesse formato, como o</p><p>futebol, onde o contraste entre classes sociais se faz presente. No entanto, o</p><p>historiador alerta para o fato de existirem outros elementos socioculturais para</p><p>se pensar o esporte além do aspecto econômico. Além disso, Elias e Dunning</p><p>(1990) apontam que o esporte, como o concebemos na contemporaneidade,</p><p>difere da atividade física existente em outras épocas como a caça e a pesca,</p><p>as quais garantiam a sobrevivência; jogos gregos e romanos, entre outras</p><p>práticas, onde o rígido controle de regras não estaria presente. Com o</p><p>surgimento das regras, era necessário fiscalizá-las. O cenário moderno criou,</p><p>então, a necessidade de institucionalizar as práticas esportivas.</p><p>Assim, o acordo sobre as regras e condutas sociais relacionadas ao esporte necessitava</p><p>de uma entidade soberana que pudesse exercer fiscalização e cumprimento de todas as</p><p>regras e normas, surgindo nesse momento os árbitros e fiscais. (Capraro, 2009, p.20).</p><p>É neste contexto da Era Moderna que a Psicologia brasileira também se</p><p>constitui como disciplina científica autônoma e insere-se em diversos saberes.</p><p>No âmbito da prática esportiva, os fenômenos psicológicos presentes nas</p><p>demandas da atividade física e do esporte moderno aproximam a Psicologia</p><p>da Educação Física [ 8 ].</p><p>Assim, a Psicologia do Esporte (PE), como especialidade do saber</p><p>psicológico, ilustra mais uma faceta da modernidade, onde o individualismo se</p><p>estabelece mediante um confronto entre as demandas externas impostas à</p><p>pessoa (controle do corpo, resultados de rendimento, superação de limites,</p><p>etc.), às suas necessidades e limitações internas.</p><p>Indícios de surgimento da Psicologia do esporte no Mundo</p><p>Mundialmente, tanto na Europa como nos EUA, essa área de atuação dá</p><p>indícios de surgimento no fim do século XIX, com ênfase nos estudos norte-</p><p>americanos os quais obtiveram destaque em função de ampla divulgação,</p><p>favorecendo maior possibilidade de acesso aos estudos de seus</p><p>pesquisadores. De acordo com Rubio (2000) e Weinberg e Gould (2008) e os</p><p>primeiros registros da Psicologia do Esporte norte-americana datam de 1890.</p><p>São os estudos sobre ciclismo de Norman Triplett, psicólogo da Universidade</p><p>de Indiana e pesquisador sobre as motivações que levavam ciclistas a treinar</p><p>em grupo e terem melhor desempenho sobre aqueles que treinavam sozinhos.</p><p>Tais estudos figuram próximos ao surgimento do Movimento Olímpico, em</p><p>1896, criado com o objetivo de promover a paz entre os povos através do</p><p>esporte.</p><p>No cenário norte-americano nos anos 1920 e 1930, Coleman Griffith (1893-</p><p>1966) também se destacou por sua atuação na Psicologia do Esporte.</p><p>Publicou vários artigos e livros voltados à temática – Psicologia de Técnicos</p><p>(1926), Psicologia de Atletas (1928) – e dirigiu o primeiro laboratório de</p><p>Investigação em Atletismo na Universidade de Illinois, onde também criou, em</p><p>1925, o primeiro curso de Psicologia do Esporte (Green, 2003).</p><p>Na Europa, em meados do século XX, os estudos do médico russo Pyotr</p><p>Fanzevich Lesgaft (1837-1909) serviram de base para o sistema de Educação</p><p>Física soviético. Para Riordan (2009), tais estudos descreviam possíveis</p><p>benefícios psicológicos da atividade física utilizando noções como “[...]</p><p>harmonious development’, of social awareness and self-realisation through</p><p>physical education, of the principle of gradual and consistent training,[...]”. (p.7)</p><p>A Psicologia, voltada ao esporte na antiga União Soviética, recebeu em</p><p>função da relevância dada aos resultados esportivos, todo apoio do governo</p><p>da época, pois utilizavam indicadores comparativos entre as potências</p><p>capitalistas e comunistas, impulsionando as atividades de seleção,</p><p>treinamento e preparação dos atletas de alto rendimento realizadas por</p><p>psicólogos locais.</p><p>Entre as décadas de 20 a 50 outros médicos russos, Avksenty Cezarevich</p><p>Puni (1898-1986) e Peter Rudik, foram responsáveis pela inclusão da</p><p>disciplina Psicologia do Esporte nos cursos de Educação Física daquele país,</p><p>além de organizarem eventos e publicações na</p><p>a Estatística, primeiro alguns conceitos</p><p>são importantes. População é o todo, o conjunto total de indivíduos com uma</p><p>mesma dada característica e que o pesquisador ou estatístico desejam</p><p>observar; por exemplo: todos os brasileiros são uma população, mas também o</p><p>são: todos os condomínios de um edifício, todas as mulheres de uma sala de</p><p>aula, os jogadores de futsal de uma certa categoria ou faixa etária, os</p><p>jogadores de basquete de um mesmo time ou campeonato, ou todos os atletas</p><p>de uma determinada modalidade. O célebre estatístico Andy Field (2009) nos</p><p>ensina que quem estabelece a população é quem quer conhecer os seus</p><p>parâmetros. No âmbito do esporte, geralmente o psicólogo deseja conhecer a</p><p>performance de seu atleta em uma tarefa cognitiva ou emocional em relação à</p><p>população de atletas dessa mesma modalidade, ou atletas de elite em geral.</p><p>Essa é a população alvo, mesmo que o atleta faça parte de uma população</p><p>ainda maior que é a de seres humanos.</p><p>Para se obter o dado mais confiável, é necessário eliminar todos os</p><p>fenômenos externos que podem afetar o desempenho da pessoa na tarefa:</p><p>iluminação, hora do dia, quantidade de barulho, climatização e muitas outras</p><p>questões. Por isso, diz-se que é impossível avaliar toda uma população ao</p><p>mesmo tempo. Então, os parâmetros populacionais são igualmente impossíveis</p><p>de serem conhecidos, porque na prática é assim que funciona. Já que não é</p><p>possível examinar toda a população, os estatísticos desenvolveram métodos de</p><p>inferência que permitem coletar os dados em uma parcela menor de indivíduos</p><p>e extrapolar esses resultados para a população; a essa parcela menor de</p><p>membros da população dá-se o nome de amostra. A amostra serve como fonte</p><p>de informação para praticamente todas as pesquisas científicas realizadas em</p><p>todos os âmbitos, desde biomédicas até físico-químicas (Field, 2009).</p><p>Pesquisas com amostras podem comparar dados de populações diferentes e</p><p>apresentar o grau de certeza que o pesquisador tem sobre seus achados. Por</p><p>exemplo, uma amostra de atletas de futebol pode ser comparada com uma</p><p>amostra de jogadores de basquete em relação à sua atenção concentrada, isso</p><p>significa que os resultados desse estudo podem ser extrapolados para a</p><p>comparação da população de jogadores de futebol e a população de jogadores</p><p>de basquete. O pesquisador, no entanto, precisa apresentar dados estatísticos</p><p>que representam o poder de inferência (ou extrapolação) que seu estudo</p><p>possui, porque, como nos ensina Field (2009) quanto menos participantes de</p><p>uma amostra e menor sujeitos representativos da população em termos de</p><p>características gerais, menor a capacidade de generalizar os resultados.</p><p>Um dos elementos mais importantes a serem considerados pela Estatística</p><p>sobre uma população é a distribuição do fenômeno estudado. Os</p><p>pesquisadores Michael Furr e Verne Bacharach (2013) contam que o primeiro a</p><p>observar o fenômeno da distribuição foi o matemático Abraham de Moivre, em</p><p>1738, que trabalhava com teoria das probabilidades. Sua questão central</p><p>versava sobre como prever a probabilidade de um fenômeno ocorrer, dada uma</p><p>população infinita de possibilidades.</p><p>Perceba: se você pega dois dados de seis lados cada, qual a chance da</p><p>soma dos dois depois de lançados ser dois? De todas as dezoito combinações</p><p>possíveis, apenas uma pode propiciar esse resultado: quando ambos os dados</p><p>caem com a face do número 1 voltados para cima. Significa, então, que a</p><p>chance da soma ser dois é a de um-dezoito avos (aproximadamente 6%). Por</p><p>isso, no cassino, os apostadores de dados preferem o resultado de soma</p><p>equivalente a sete quando lançam dois dados de seis lados, são seis</p><p>combinações possíveis que geram esse mesmo resultado: (1) quatro e três, (2)</p><p>três e quatro, (3) cinco e dois, (4) dois e cinco, (5) seis e um, e (6) um e seis,</p><p>gerando uma chance de um terço (ou próximo de 33%) de acerto. Na medida</p><p>em que distanciamos a probabilidade da soma de sete, também distanciamos</p><p>do número de possibilidades daquele resultado aparecer, por exemplo, se</p><p>pensarmos no resultado da soma como sendo seis, então há cinco</p><p>possibilidades de combinação dos dados: (1) quatro e dois, (2) dois e quatro,</p><p>(3) cinco e um, (4) um e cinco e (5) três e três. A seguir, na figura 5, pode-se</p><p>observar que a probabilidade no lançamento de dados não é a mesma para</p><p>todos os resultados, lembrando que chance pode também ser representada por</p><p>porcentagem e quando dividimos um por três temos uma dízima infinita, por</p><p>isso a representação da linha de tendência não é a mesma que a das barras.</p><p>Carl Friederich Gauss conseguiu resolver a questão de Moivre para</p><p>probabilidades infinitas, propondo que a distribuição dos possíveis resultados</p><p>teria a forma de uma curva sinoidal (no formato de um sino, semelhante à linha</p><p>de tendência da figura 6) e que ela poderia ser calculada a partir da média</p><p>aritmética da amostra coletada e de seu desvio-padrão. Apesar de ter sido a</p><p>monografia de Gauss em 1809 que sugeriu a primeira função matemática para</p><p>explicar a distribuição das probabilidades com limite tendendo ao infinito, foi</p><p>Pierre Simon de Laplace que apresentou oficialmente o algoritmo à Academia</p><p>Francesa de Ciências em 1810 acrescentando alguns elementos ao que ficou</p><p>conhecido pelo mundo da ciência como Teorema Central do Limite, Função de</p><p>Distribuição de Gauss-Laplace ou simplesmente: Curva Normal. Isso significa</p><p>que o conceito de normalidade vem da astrofísica e não da Psicopatologia</p><p>como muitos psicólogos tendem a acreditar.</p><p>Figura 5. Representação gráfica do número de possibilidades de resultados da soma de dois</p><p>dados e curva de tendência da probabilidade da ocorrência desses resultados.</p><p>Evidentemente que, desde os primeiros estudos de Wundt em seu</p><p>laboratório em Leipzig, a Psicologia vem tentando quantificar o comportamento</p><p>humano. A avaliação quantitativa vai se alicerçar nas bases da Estatística,</p><p>supondo que o número de possibilidade de comportamentos é infinito e que os</p><p>comportamentos, assim como as estrelas, possuem certos padrões mais</p><p>comuns (a parte do meio da curva, a soma de sete nos dois dados) e</p><p>comportamentos mais raros de serem observados (as pontas da curva, as</p><p>somas dois ou doze nos dois dados).</p><p>Ao longo dos últimos cento e trinta e nove anos de Psicologia, aqueles</p><p>pesquisadores que se debruçam sobre os métodos quantitativos investigaram</p><p>milhares de fenômenos outro milhar de vezes cada um. Alguns desses</p><p>fenômenos como as capacidades da memória de trabalho, da atenção</p><p>concentrada ou o campo léxico da linguagem apresentam sim uma distribuição</p><p>Gaussiana em praticamente todas as amostras que foram coletadas ao redor</p><p>do planeta. Por outro lado, fenômenos como a aquisição da psicomotricidade</p><p>fina, perda de funções cognitivas ao longo da vida ou aquisição da primeira</p><p>língua não apresentam esse mesmo padrão de distribuição. Gauss era um</p><p>astrofísico e queria possibilitar a seus colegas a realização de cálculos de</p><p>probabilidade, mesmo que não fosse possível conhecer toda a população de</p><p>corpos celestes. Até hoje, alguns astrofísicos hipotetizam que o universo é</p><p>infinito e por isso o trabalho de Gauss se tornou tão importante. Agora você</p><p>deve estar se perguntando, por que um teorema oriundo da astrofísica está</p><p>sendo discutido em um livro sobre Psicologia do Esporte? A resposta é simples:</p><p>porque as populações humanas são tão distintas e seus comportamentos tão</p><p>imprevisíveis que eles também podem ser considerados como tendentes ao</p><p>infinito. Portanto, toda Estatística usada nas ciências humanas segue o</p><p>Teorema Central do Limite como um a priori. Atletas são seres humanos, logo,</p><p>seus comportamentos também podem ser descritos por essa função</p><p>matemática (Furr & Bacharach, 2014)</p><p>Determinar se um fenômeno psicológico respeita ou não o Teorema Central</p><p>do Limite é essencial para escolher qual método estatístico deve ser usado. Os</p><p>testes paramétricos são baseados no cálculo das médias e desvios padrões</p><p>utilizando dados que pressupõem uma distribuição normal. Para os estudos</p><p>com variáveis quantitativas, os testes paramétricos são mais indicados</p><p>por</p><p>serem mais robustos, sendo mais sensíveis à detecção de diferenças. Existem</p><p>vários testes paramétricos, sendo que os mais conhecidos são o teste t de</p><p>Student, Análise de Variância, Correlação de Pearson. Já, os testes não</p><p>paramétricos utilizam postos ou posições, não necessitando seguir a</p><p>distribuição da curva gaussiana. Os testes não paramétricos mais utilizados são</p><p>o teste U de Mann-Whitney, Correlação de Spearman, teste de Kruskal-Wallis,</p><p>teste Qui-Quadrado.</p><p>Diz-se paramétrico, porque se conhecem os parâmetros da amostra e, por</p><p>inferência, também os parâmetros da população. Há testes estatísticos para</p><p>determinar se a distribuição dos dados coletados por um pesquisador são ou</p><p>não normais, como o teste de Kolmogorov-Smirnov ou os testes de Skewness e</p><p>Kurtosis. Lembre-se que ao conhecer a média aritmética e o desvio-padrão,</p><p>conhece-se a distribuição normal. Isso acontece, porque quando se pega a</p><p>média, soma-se e subtrai-se o valor de um desvio-padrão, tem-se o total de</p><p>68,26% de pessoas de uma população entre esses valores. Por exemplo,</p><p>considere que a população-alvo de uma pesquisa sobre estatura seja a de</p><p>adolescentes brasileiros entre 12 e 18 anos de idade; agora hipotetize que você</p><p>coletou em uma amostra de 10.000 indivíduos dessas faixas etárias a estatura</p><p>de cada um, e você descobriu que a média aritmética da sua amostra foi de</p><p>1,50 metros de altura. Você também calculou o desvio-padrão (representado</p><p>pela letra grega sigma: σ) e chegou ao valor de 10 centímetros. Com isso você</p><p>gera a figura 6 com a distribuição dos participantes da sua pesquisa.</p><p>Figura 6. Curva normal dos valores de estatura de adolescentes em metros.</p><p>Como sua pesquisa teve 10.000 participantes, sua média aritmética foi de</p><p>150 centímetros e o seu desvio-padrão de 10 centímetros (σ=10), respeitando o</p><p>Teorema Central do Limite, 6.826 adolescentes (dentre todos os pesquisados</p><p>na amostra) apresentarão estatura entre 140 e 160 centímetros (média</p><p>aritmética ± desvio-padrão). Se aumentar o parâmetro para dois desvios-</p><p>padrões, tem-se o total de 95% de toda a amostra, portanto 9.500 participantes,</p><p>dentre os 10.000, terão a altura entre 130 e 170 centímetros. Para três desvios-</p><p>padrões temos o total de 99,73% da amostra e dentro de quatro desvios-</p><p>padrões temos 99,99% da amostra. Isso significa que ainda é possível</p><p>encontrar indivíduos acima de quatro desvios-padrões, portanto, adolescentes</p><p>acima de 190 centímetros, mas essa ocorrência é de 0,003%, ou de 3 a cada</p><p>100.000 indivíduos na população.</p><p>A razão porque isso é importante é para demonstrar que não somente os</p><p>fenômenos psicológicos são, em sua esmagadora maioria, descritos pelo</p><p>Teorema Central do Limite, mas também para compreender como se pode, a</p><p>partir dos resultados de um teste psicológico, comparar um indivíduo com sua</p><p>população-alvo. Para facilitar e desenvolver indicadores comparativos, os</p><p>métodos quantitativos de avaliação usam o conceito de percentil e escore</p><p>padronizado na hora de calcular os resultados de uma pessoa em um teste.</p><p>Percentil é o percentual de indivíduos que se encontra abaixo do escore</p><p>obtido, ao passo que o escore padronizado é a classificação, o posto ou o</p><p>ranqueamento de uma pessoa que permite a comparação dela com sua</p><p>população. Vamos pegar um exemplo concreto: um pesquisador em Psicologia</p><p>do Esporte desenvolveu um instrumento cujo objetivo é quantificar a habilidade</p><p>de um atleta em conduzir imagens mentais (ou visualizações).</p><p>O nome desse instrumento é Sport Imagery PETTLEP Inventory (SIPI, título</p><p>e abreviatura em inglês do Inventário PETTLEP de Imagética no Esporte, em</p><p>uma tradução livre) e ele avalia a habilidade global do atleta além de</p><p>habilidades específicas envolvidas com a prática de visualizações, mais</p><p>especificamente sete aspectos: físico, ambiental, tarefa, tempo, aprendizagem,</p><p>emoção e perspectiva (Filgueiras, 2017). Cada um desses aspectos é avaliado</p><p>por quatro itens, o que faz com que o total de questões no instrumento sejam</p><p>vinte e oito. As evidências empíricas coletadas até hoje nas Ciências do</p><p>Esporte sobre Imagens Mentais sugere que esse fenômeno possui distribuição</p><p>normal, portanto, respeita o Teorema Central do Limite. O pesquisador coletou</p><p>dados em mais de quatrocentos atletas e desenvolveu parâmetros a partir</p><p>dessa amostra. Esses parâmetros estão representados aqui na Tabela 1, que</p><p>apresenta a média aritmética da soma dos escores de cada uma das</p><p>dimensões avaliadas pelo SIPI, bem como o seu total, que é considerado a</p><p>habilidade global do atleta de produzir Imagens Mentais de qualidade.</p><p>Agora digamos que um atleta com quem você está trabalhando responda ao</p><p>SIPI. Quando ele o faz, a soma total de seus itens alcança 115 pontos. Agora</p><p>você vai na tabela e vê que ele está muito próximo do valor de 114,9 que, na</p><p>tabela, representa o percentil 55. Isso significa que, em relação à população</p><p>geral de atletas, ele se encontra a frente (com desempenho melhor em</p><p>visualização) de 55% dos demais desportistas. Em outras palavras, ele está</p><p>entre os 45% melhores. Por enquanto isso não diz muita coisa, por isso usamos</p><p>o escore padronizado. Segundo a tabela, o escore padronizado do atleta é</p><p>equivalente a 11. Agora, vá na Nota 1 abaixo da tabela e leia a interpretação</p><p>dos dados proposta pelo autor: escores padronizados entre 6 e 15 são</p><p>considerados medianos ou na média, significa que a maioria dos atletas está</p><p>compreendida entre esses valores. O seu atleta tem, portanto, uma habilidade</p><p>média em produzir visualizações quando comparado com o resto da população</p><p>de desportistas.</p><p>Aprender a ler e usar as tabelas de resultados apresentados nos artigos</p><p>científicos e nos manuais dos instrumentos psicológicos é essencial na</p><p>avaliação quantitativa e espera-se que, depois de ler esse capítulo você</p><p>entenda o básico no que diz respeito aos princípios que norteiam essa área. A</p><p>avaliação psicológica quantitativa no esporte demanda indicadores estatísticos</p><p>precisos e bem estudados para ser aplicada. Para isso, há uma série de</p><p>procedimentos que serão apresentados aqui e ilustrados com exemplos</p><p>práticos. Os conceitos estatísticos são essenciais para a compreensão desses</p><p>exemplos e por essa razão foram apresentados no início desse texto.</p><p>Tabela 1. Percentil, escore padronizado e média aritmética da soma dos itens de cada escala e</p><p>do total do instrumento SIPI.</p><p>Nota 1: A intepretação dos resultados se dá, de acordo com o autor (Filgueiras, 2017) da seguinte maneira: abaixo do escore</p><p>padronizado 1, considera-se valor baixo; entre 1 e 5, considera-se abaixo da média; entre 6 e 15, considera-se valor na média;</p><p>entre 16 e 18, considera-se acima da média; e escore padronizado 19 ou 20 é considerado alto.</p><p>Nota 2: Material disponível no artigo “Development and Psychometric Properties of the Sport Imagery PETTLEP Inventory</p><p>(SIPI)” publicado na Revista Brasileira de Psicologia do Esporte e divulgado na forma de material aberto, do tipo open access.</p><p>3. Avaliação e testagem psicológica no contexto dos esportes</p><p>Avaliação psicológica tem diversas definições na literatura. Variam de acordo</p><p>com a abordagem e a escola dentro da psicologia, bem como o país e a</p><p>finalidade da definição. Um dos maiores autores contemporâneos da área,</p><p>Ronald Jay Cohen, define avaliação psicológica como um complexo e</p><p>intrincado processo de elaboração de respostas a perguntas acerca de</p><p>valências psicológicas no qual o teste psicológico é apenas uma das diferentes</p><p>ferramentas para coletar dados relevantes a esses questionamentos (Cohen &</p><p>Swerdlik, 2009). Outra autora igualmente importante no cenário mundial de</p><p>pesquisadores em avaliação e testagem psicológica, Jane Framingham (2014),</p><p>propõe que a avaliação psicológica é um processo contínuo de levantamento</p><p>de hipóteses acerca dos comportamentos, personalidade e capacidades de um</p><p>indivíduo ou grupo, que usa a combinação de técnicas quantitativas e</p><p>qualitativas na busca de corroborar ou refutar as hipóteses iniciais. A razão pela</p><p>qual o processo de avaliação é contínuo pode ser compreendida de acordo</p><p>com as mudanças</p><p>que ocorrem no próprio sujeito ou no grupo que mudam de</p><p>acordo com as situações e experiências. Logo, não há uma avaliação fechada,</p><p>final, acerca das variáveis psicológicas de outrem (Framingham, 2014).</p><p>No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) determina em um grupo</p><p>de resoluções o papel, a função e apresenta a definição de avaliação</p><p>psicológica: “A avaliação psicológica é um processo técnico e científico</p><p>realizado com pessoas ou grupos de pessoas que, de acordo com cada área</p><p>do conhecimento, requer metodologias específicas” (CFP, 2007). A avaliação,</p><p>segundo a Resolução Normativa número 007/2003 do CFP, deve levar em</p><p>consideração os aspectos individuais, mas também os fenômenos sociais,</p><p>econômicos e históricos em torno do avaliado (indivíduo ou grupo) para que a</p><p>atuação do psicólogo ocorra no sujeito e no seu entorno, o trabalho do</p><p>psicólogo com base na avaliação é, em suma, uma ferramenta para</p><p>transformação social.</p><p>Com base nas definições de avaliação psicológica, é possível inferir uma</p><p>apresentação única do que representa a avaliação no contexto do esporte. Na</p><p>seara esportiva, as demandas são das mais diversas: da performance à</p><p>reabilitação, da formação da personalidade ao aprendizado motor. A decisão do</p><p>profissional pelo método de avaliação deve respeitar as perguntas que estão</p><p>sendo feitas e as hipóteses levantadas. Por exemplo, um atleta por procurar o</p><p>psicólogo do esporte para identificar problemas com seu desempenho em</p><p>competições. Podem ser várias as causas dessa limitação de performance,</p><p>incluindo questões da ordem afetiva e/ou cognitiva. Portanto, o profissional</p><p>deve pautar sua avaliação psicológica com base nessa demanda e não em</p><p>outra. Quaisquer outras questões que apareçam ao longo do processo</p><p>avaliativo devem ser sinalizadas ao atleta, mas a principal demanda e fonte de</p><p>dados no processo deve se manter no desempenho esportivo como ponto de</p><p>referência. Podemos dizer, portanto, que a avaliação psicológica no contexto do</p><p>esporte é um processo técnico-científico complexo e abrangente de construção</p><p>de hipóteses e levantamento de dados quantitativos e qualitativos pessoais,</p><p>sociais e históricos acerca das dimensões psicológicas de um indivíduo ou um</p><p>grupo em determinado tempo que usa diferentes técnicas para corroborá-las ou</p><p>refutá-las.</p><p>A avaliação psicológica distingue-se da testagem em termos de abrangência</p><p>e objetivo. Em relação ao objetivo, a avaliação levanta hipóteses acerca do</p><p>estado psíquico, enquanto a testagem é um método rigoroso e sistemático de</p><p>levantamento de dados quantitativos que servem para responder perguntas</p><p>experimentais específicas, comparar um indivíduo a uma norma populacional,</p><p>ou para compreender melhor uma diversidade de fenômenos e processos</p><p>psicológicos. Logo, enquanto na avaliação não existe um a priori, no teste, há</p><p>uma norma a ser correspondida pelo escore do sujeito ou grupo. O objetivo do</p><p>teste psicológico é gerar um escore que vai permitir relativizar esse resultado</p><p>em face da população, enquanto na avaliação psicológica, o interesse é</p><p>conhecer o estado psicológico em suas mais diversas dimensões em um dado</p><p>momento (Cohen & Swerdlik, 2009).</p><p>A testagem é uma das diversas técnicas usadas na avaliação, uma fonte de</p><p>informação quantitativa e normalizada, enquanto na avaliação não há o</p><p>compromisso concreto de relativizar os seus resultados com a população, mas</p><p>investigar como o psicólogo pode atuar de modo mais abrangente. Nesse</p><p>sentido, o teste é uma parcela da avaliação no processo de levantamento de</p><p>dados psicológicos (Framingham, 2014). Contudo, não deve ser considerado</p><p>uma condição sine qua non, principalmente se considerarmos a multiplicidade</p><p>de atuações e epistemes na psicologia. Para ser efetiva na prática clínica ou</p><p>em assessoria, é importante que as medidas obtidas com testes sejam</p><p>articuladas com informações obtidas através de entrevistas, observação de</p><p>comportamentos e outras estratégias de avaliação qualitativas</p><p>A testagem psicológica também possui suas próprias definições com</p><p>diferentes compreensões. Alguns autores elevam a testagem ao mesmo status</p><p>da avaliação, chegando a afirmar que, apesar de distintas, é possível fazer uma</p><p>avaliação somente com base em testes psicológicos (Framingham, 2014). Por</p><p>outro lado, a maioria dos autores concorda que a testagem é um método</p><p>objetivo, padronizado e normalizado de mensurar uma amostra de um dado</p><p>comportamento (Anastasi, 1990). Significa, portanto, que um teste psicológico</p><p>precisa cumprir uma série de critérios para ser usado: ser válido, possuir</p><p>normas que permitam comparar o escore do sujeito à população, ser</p><p>padronizado em sua formatação e passar pelo crivo estatístico dos critérios</p><p>estabelecidos pela psicometria contemporânea.</p><p>No Brasil, os limites e diretrizes para a construção de testes e seus usos</p><p>estão estabelecidos nas Resoluções Normativas 002/2003 e 005/2012. Além de</p><p>passar pelos crivos da psicometria e da pesquisa quantitativa na psicologia, os</p><p>resultados dos estudos devem passar pela avaliação de especialistas na área a</p><p>fim de serem aceitos para uso na população brasileira. Esse sistema de</p><p>avaliação é conhecido como SATEPSI (Sistema de Avaliação de Testes</p><p>Psicológicos), entidade do CFP formada por pareceristas e professores com</p><p>notória expertise que processam e julgam a qualidade dos testes produzidos no</p><p>Brasil (CFP, 2003a, 2012a). Somente se aprovado um teste pode ser</p><p>comercializado e utilizado por psicólogos. Em outras palavras, é nevrálgico que</p><p>o psicólogo vá ao website do SATEPSI para investigar se o teste está aprovado</p><p>para uso. Usar instrumentos não aprovados é um risco tão grave que constitui</p><p>infração ética (CFP, 2003b). Isso ocorre porque a mensuração equivocada pode</p><p>gerar interpretações distorcidas do aparelho psicológico de um indivíduo ou de</p><p>um grupo, levando a atuação ineficaz por parte do profissional.</p><p>O teste psicológico é a principal fonte de informação quantitativa durante o</p><p>processo de avaliação psicológica, mas não é o único. Mais a diante, nesse</p><p>capítulo veremos como protocolos experimentais e psicofísicos podem ser</p><p>usados com o devido cuidado no processo de investigação de hipóteses e</p><p>levantamento de dados. A principal razão para usar o teste psicológico no</p><p>contexto da avaliação é permitir a comparação do indivíduo ou grupo com</p><p>normas populacionais. Saber se dado comportamento está sendo emitido de</p><p>maneira exagerada ou aquém do esperado é essencial para desenvolver</p><p>estratégias que contribuam para os objetivos daquele trabalho psicológico.</p><p>Esse tipo de confiança só pode ser extraída de dados quantificados. A despeito</p><p>da importância do dado qualitativo, o teste não passa pela interpretação e pelas</p><p>limitações do próprio psicólogo-observador. Nesse sentido, o dado gerado pelo</p><p>teste diminui as incertezas, mas não as elimina. O recomendado é usar pelo</p><p>menos dois testes que avaliam a mesma dimensão psicológica para que um</p><p>corrobore os resultados do outro. Discrepâncias podem significar tendência ou</p><p>enviesamento da resposta do avaliado. No entanto, sabemos onde está o</p><p>problema. A incongruência na observação de certos comportamentos por parte</p><p>do psicólogo pode ser consequência da oscilação desse comportamento ou</p><p>divergências na observação.</p><p>Os requisitos mínimos da avaliação no Brasil são estabelecidos pela</p><p>Resolução 007/2003 (CFP, 2003b). Primeiro, toda avaliação precisa ter uma</p><p>demanda, seja ela do cliente ou de outrem. A necessidade, portanto, deve</p><p>pautar as decisões sobre os métodos e técnicas adotados. Segundo, coleta de</p><p>informações e dados que vão delinear o estado psicológico do avaliado naquele</p><p>tempo. Aqui, tanto métodos quantitativos (testes, questionários, escalas,</p><p>paradigmas psicofísicos, contagem de comportamentos aparentes [scouting</p><p>comportamental], técnicas de imageamento como eletroencefalograma e</p><p>espectrografia, indicadores fisiológicos como nível de cortisol, coerência</p><p>cardiorrespiratória e condutância dérmica, dentre outros possíveis), quanto</p><p>técnicas qualitativas (entrevistas, questionários abertos, dinâmicas,</p><p>observações, dramatizações/role-play,</p><p>questionamento socrático, escuta ativa,</p><p>escuta passiva, dentre outras possíveis) são essenciais para traçar o melhor</p><p>estado do indivíduo ou do grupo (Filgueiras, 2016a). As técnicas, as mais</p><p>diversas, possuem cada qual a sua especificidade e adequação. Cabe ao</p><p>psicólogo identificar, diante das demandas e hipóteses, quais delas melhor se</p><p>encaixam para responder suas perguntas.</p><p>Terceiro, vem o processo cognitivo do profissional de concatenar os dados e</p><p>testar suas hipóteses iniciais, buscando confirmá-las ou refutá-las, com base</p><p>nos dados coletados. Essa tarefa, via de regra, deve ser tomada de uma</p><p>autoavaliação do psicólogo que, por diversas vezes, deseja estar certo e anseia</p><p>por corroborar com suas próprias concepções previamente estabelecidas. O</p><p>confronto das expectativas do psicólogo com a realidade dos dados pode turvar</p><p>e distorcer sua interpretação e, por isso, é imperativo uma visão crítica de si</p><p>mesmo e, se jugar necessário, recorrer a supervisão externa.</p><p>Quarto e último requisito da avaliação psicológica é a comunicação de seus</p><p>resultados extraídos com base na demanda inicial através dos documentos</p><p>afins, nas normas da Resolução Normativa 002/2003 que descreve como</p><p>devem ser apresentados os laudos e relatórios psicológicos, instrumentos mais</p><p>usados e adequados para a apresentação dos achados da avaliação</p><p>psicológica.</p><p>Talvez um dos maiores desafios para a psicologia do esporte no que se</p><p>refere à avaliação quantitativa possa estar na escassez de instrumentos</p><p>normalizados e disponíveis para uso específicos para o esporte. Há diversas</p><p>medidas que mensuram os construtos típicos da atividade esportiva, como</p><p>adesão à prática física (Gonçalves & Alchieri, 2010), coesão de grupos</p><p>esportivos (Pieri, Pires, Filgueiras, & Oliva, 2016), prática de imagens</p><p>mentais/treinamento mental (Filgueiras, 2016b), ansiedade pré-competitiva</p><p>(Brasil, Baltar, Barreto, & Filgueiras, 2017), dentre outras dimensões igualmente</p><p>importantes no esporte. Apesar disso, não há nenhuma escala para o esporte</p><p>que tenha sido normalizada, padronizada, validada e tenha passado por todos</p><p>os crivos do CFP dentro do SATEPSI (CFP, 2017). Portanto, constitui um ponto</p><p>nevrálgico na ciência da psicologia do esporte desse início do século XXI que</p><p>pesquisadores se debrucem no esforço de trazer ao psicólogo o material</p><p>necessário para testagem dessas dimensões psicológicas.</p><p>Os métodos quantitativos, como visto previamente, não se limitam aos testes</p><p>(CFP, 2003b, 2007), podendo incluir: o scouting comportamental, técnicas de</p><p>imageamento como eletroencefalograma e espectrografia, indicadores</p><p>fisiológicos como nível de cortisol, coerência cardiorrespiratória e condutância</p><p>dérmica. No entanto, um dos mais poderosos indicadores que pode ser</p><p>adotado a favor da avaliação psicológica quantitativa em atletas são os</p><p>paradigmas experimentais psicofísicos (Conde et al., 2012; Filgueiras, 2010;</p><p>Filgueiras, Fioravanti-bastos, Charchat-Fichman, Cheniaux, & Landeira-</p><p>Fernandez, 2012; Filgueiras, Fioravanti-bastos, & Conde, 2010; Silva & Ribeiro-</p><p>Filho, 2006).</p><p>A psicofísica é a área da psicologia que estuda de que maneira os</p><p>fenômenos físicos tais como a luz, o som e a textura são percebidos e</p><p>processados pelo indivíduo (Silva & Ribeiro-Filho, 2006). Nesse sentido,</p><p>podemos dizer que os paradigmas experimentais são aqueles que examinam a</p><p>forma como o sujeito percebe e processa cada informação física que o</p><p>ambiente ou seu corpo o impõem. Esses procedimentos são desenvolvidos a</p><p>partir da lógica da ciência experimental que investiga ou busca examinar o</p><p>fenômeno diretamente pelo seu fato, sem depender das interpretações</p><p>humanas. Há uma série de limitações nos testes psicológicos que podem ser</p><p>resolvidos com o uso desses instrumentos psicofísicos.</p><p>Aqui neste subtópico, apresentaremos quatro instrumentos que podem ser</p><p>usados na avaliação de diferentes variáveis cognitivas e afetivas gratuitamente</p><p>com escores de referência e dados consistentes na literatura científica. Esse</p><p>material pode servir como norma e critério na avaliação quantitativa de atletas.</p><p>Começaremos pelo indicador quantitativo mais usado na psicologia do esporte</p><p>que ajuda a mapear comportamentos desejados e disfuncionais de um</p><p>desportista em relação à sua modalidade: o scouting comportamental (Löw,</p><p>Pithan, Blazek, Saad, & Stoll, 2014; Welling, 2013); depois abordaremos uma</p><p>tarefa simples que demanda altos níveis de atenção sustentada, coordenação</p><p>motora fina e manejo da ansiedade, problemas em uma dessas dimensões</p><p>encontrados nos testes podem ser confirmados pelo uso dessa tarefa: o</p><p>empilhamento de cubos (Filgueiras et al., 2010). No viés tecnológico, dois</p><p>aplicativos de smartphones, celulares e tablets podem ser usados na avaliação</p><p>das funções executivas: o Super N-Back (Nguyen, 2016) e o Digit Span Test</p><p>(UCLA, 2014) que são essenciais para a capacidade do atleta de gerir e tomar</p><p>decisões.</p><p>3.1. Scouting Comportamental</p><p>O scouting comportamental é uma técnica simples de observação, elenco e</p><p>contagem de certos comportamentos que ocorrem durante a prática do esporte.</p><p>Para o psicólogo, é importante que a contagem desses comportamentos venha</p><p>com uma hipótese a priori, que será ou não confirmada dada a frequência de</p><p>dada ação. Por exemplo, alguns comportamentos associados à ansiedade são</p><p>comuns e já mapeados entre indivíduos que apresentam essa emoção:</p><p>sudorese na palma das mãos, diminuição da temperatura nas extremidades do</p><p>corpo, eriçamento do pelos, aumento da frequência cardiorrespiratória,</p><p>enrijecimento da musculatura, aumento do foco na atenção concentrada e dos</p><p>níveis do sistema de vigilância (Egloff & Schmukle, 2002). Cabe ao psicólogo</p><p>do esporte mapear entre as atividades da modalidade quais os</p><p>comportamentos que estão associados ou são influenciados pela ansiedade,</p><p>por exemplo: movimentos amplos que parecem travados, excesso de rituais</p><p>antes da execução de uma tarefa de precisão motora, fadiga excessiva oriunda</p><p>do somatório do aumento da frequência cardiorrespiratória com a própria</p><p>demanda da atividade física, hipersensibilidade a fenômenos externos como</p><p>torcida, treinador e árbitro, excesso de frustração e lamentação nos erros de</p><p>execução, entre outros comportamentos, podem simbolizar o aumento da</p><p>ansiedade do desportista.</p><p>O scouting comportamental pode ser dividido em termos de prática em dois</p><p>momentos distintos: (1) habituação e elenco, e (2) contagem e análise. No</p><p>momento inicial, o de habituação e elenco, o psicólogo vai entrar em contato</p><p>com a modalidade, entendendo regras, técnica, biomecânica, tática, estratégia,</p><p>planejamento e as mais diversas variáveis envolvidas na modalidade. A partir</p><p>de um padrão de excelência ou norma de boa conduta, o psicólogo vai começar</p><p>a entender quais são os comportamentos desejados e quais são disfuncionais</p><p>para os atletas, hipotetizando nesse momento possíveis variações no sistema</p><p>psicológico que possam explicar sua ocorrência. Munido dessas informações, o</p><p>profissional vai elencar na forma de lista quais comportamentos parecem estar</p><p>associados com cada uma das valências psicológicas importantes para o</p><p>esporte. Essa lista vai servir de referência para o segundo momento da</p><p>aplicação da técnica.</p><p>Tabela 2. Exemplo de scouting comportamental de um atleta de boxe em um treino observado</p><p>pelo psicólogo.</p><p>Comportamento Polaridade Número de ocorrências</p><p>Não olha nos olhos do sparring Disfuncional llll (4)</p><p>Fair-play com o sparring Desejado ll (2)</p><p>Aparente concentração Desejado l (1)</p><p>Rispidez e impaciência no treino Disfuncional lllll (5)</p><p>Uso eficaz da respiração Desejado l (1)</p><p>Lamentação do erro Disfuncional llllll (6)</p><p>Soco bem dado Desejado l (1)</p><p>Soco encurtado Disfuncional llllll (6)</p><p>Soco demasiado longo Disfuncional ll (2)</p><p>Jab bem executado Desejado ll (2)</p><p>Falta de movimentação Disfuncional lll (3)</p><p>Tranquilidade e domínio do ringue Desejado ll (2)</p><p>Desequilíbrio Disfuncional lllll (5)</p><p>Excessivamente falante Disfuncional ll (2)</p><p>Displiscência Disfuncional lllll (5)</p><p>Na contagem e análise, o psicólogo do esporte vai acompanhar</p><p>os treinos</p><p>buscando contar mecanicamente cada vez que um dado comportamento</p><p>elencado aparecer. Por exemplo, o atleta José pode ter: discutido duas vezes</p><p>com o técnico, discutido uma vez com o Sparring no treino, dado cinco socos</p><p>com o alcance menor do que deveria, dado três chutes com a altura mais baixa</p><p>do que deveria e feito comentários agressivos uma vez sobre a forma de</p><p>condução do treinamento. Esse pode ser o padrão de normalidade do José que</p><p>faz isso, ou próximo disso, todos os dias. Nesse caso, não há o que o scouting</p><p>comportamental possa contribuir a não ser constatar o padrão de</p><p>comportamentos do desportista. Por outro lado, se José é um sujeito amável,</p><p>raramente discute, costuma obedecer às regras do técnico e é cordial e leal</p><p>com seus Sparring, então esses comportamentos são indicadores de alguma</p><p>coisa que pode estar afetando sua performance. Essa é uma ferramenta</p><p>interessante e que ilustra para o atleta e comissão numericamente suas</p><p>mudanças de comportamento e padrões disfuncionais na prática esportiva.</p><p>3.2. Empilhamento de cubos</p><p>A tarefa de empilhar cubos em uma torre única, sem a possibilidade de</p><p>ajeitá-los ou recolocá-los, demanda uma série de funções motoras e cognitivas</p><p>que parecem ser essenciais para o desenvolvimento e performance de atletas</p><p>(Filgueiras et al., 2010). De fato, a complexidade de capacidades exigida nessa</p><p>simples tarefa pode servir de indicador para o psicólogo do esporte no seu</p><p>trabalho cotidiano, sem a demanda do investimento em testes caros ou</p><p>demasiadamente extensos.</p><p>A avaliação da coordenação motora fina já foi examinada em crianças e</p><p>evidências sugerem que a tarefa de empilhar cubos se correlaciona com a</p><p>idade motora e cronológica (Silveira, Gobbi, Caetano, Rossi, & Candido, 2005).</p><p>Significa dizer que o amadurecimento cognitivo tem uma relação íntima com a</p><p>capacidade de empilhamento. Dentre as dimensões cognitivas envolvidas</p><p>nessa tarefa estão: planejamento, memória de trabalho visuo-espacial e</p><p>atenção concentrada. Por outro lado, o estabelecimento de um tempo</p><p>específico (20 segundos) para a realização da tarefa pode ser considerado</p><p>como um fator ansiogênico que demandaria do avaliado controle sobre suas</p><p>emoções que podem perturbar sua performance tanto nas funções cognitivas</p><p>demandadas quanto na sua motricidade fina (Lam, Maxwell, & Masters, 2009).</p><p>Em outras palavras, a ansiedade de fazer a tarefa corretamente no menor</p><p>espaço de tempo adiciona uma camada emocional à já complexa dialógica das</p><p>variáveis cognitivas e motoras.</p><p>Para avaliar planejamento, memória de trabalho visuo-espacial, atenção</p><p>concentrada, ansiedade e psicomotricidade fina, Filgueiras et al. (2010)</p><p>desenvolveram um protocolo de fácil utilização que consegue prever o nível de</p><p>performance de atletas sob condições de pressão. Os seus resultados mostram</p><p>de que maneira o indivíduo lida com a ansiedade e pressão do tempo em uma</p><p>tarefa de demanda essas dimensões psicológicas sob seu controle. Avaliados</p><p>que obtém sucesso nessa avaliação tendem a apresentar controle das</p><p>emoções durante em condições competitivas que demandam precisão na</p><p>execução.</p><p>Os materiais do protocolo envolvem: 20 cubos de madeira com altura igual a</p><p>2 centímetros, cronômetro, mesa com superfície plana e alinhada (é</p><p>interessante usar um nível como instrumento para garantir a horizontalidade do</p><p>local do teste), ambiente bem iluminado, silencioso, arejado e isolado.</p><p>Preferencialmente o local tem de contar com o mínimo possível de estímulos</p><p>distratores como quadros, esculturas, estantes e prateleiras. O psicólogo vai</p><p>espalhar os cubos na direção da mão dominante do sujeito deixando-os todos</p><p>no mesmo nível (não pode haver cubo sobre o outro). Assim que o indivíduo</p><p>estiver bem assentado, as primeiras instruções do avaliador devem ser: “Você</p><p>está vendo esses cubos? Você precisa construir a torre mais alta que você</p><p>conseguir em vinte segundos. Você só pode empilhá-los com uma mão, não</p><p>pode usar a ajuda da outra. Uma vez que você soltar o cubo, não pode mais</p><p>encostar nele; deve passar para o próximo. Você quer tentar um pouco? ”</p><p>O psicólogo então deixa o participante mexer livremente nos cubos e tentar</p><p>empilhá-los em uma torre única sem que haja cronometria. Depois de um</p><p>minuto de movimentos livres, sendo corrigidos pelo avaliador quando forem</p><p>executados fora das regras, o psicólogo dirá: “Agora vamos começar. Eu vou</p><p>começar a cronometrar quando eu disser ‘já’ e você deverá empilhar os cubos</p><p>na torre mais alta que conseguir até eu dizer ‘chega’, quando eu disser ‘chega’,</p><p>você para imediatamente de empilhar e espera eu contar para começar de</p><p>novo. Eu vou te dar cinco chances para conseguir o mais alto que puder em</p><p>vinte segundos.” O psicólogo deve mostrar o cronômetro para o avaliado e</p><p>dizer logo depois: “Já.” Ao fim dos vinte segundos, o avaliador dirá “Chega.” Se</p><p>em alguma das tentativas a torre cair, o psicólogo deve instruir: “Recomece,</p><p>ainda dá tempo.” E permita que o avaliado refaça a torre dentro do tempo que</p><p>continuará correndo.</p><p>O avaliado deverá fazer a tarefa cinco vezes seguidas. Em cada intervalo, o</p><p>avaliador deve dar-lhe 40 segundos para se preparar para a próxima vez.</p><p>Depois desse tempo, o psicólogo deverá dizer: “Prepare-se, já.” E recomeça a</p><p>cronometrar o tempo de execução. Cada tentativa terá um escore específico: o</p><p>número de cubos empilhados ao final dos 20 segundos, e um escore geral: a</p><p>média aritmética das cinco tentativas. Caso a torre caia e o avaliado não</p><p>consiga refazê-la durante o intervalo de tempo, o escore atribuído é zero (0). O</p><p>escore geral (média aritmética das cinco tentativas) deve ser comparado com a</p><p>tabela 3 (Filgueiras et al., 2010).</p><p>A interpretação dos resultados deve seguir as classificações sugeridas por</p><p>Filgueiras et al. (2010): muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto. Indivíduos</p><p>com escore muito baixo mostram que não conseguem lidar com a pressão do</p><p>tempo, têm dificuldade de planejamento ou lidar com a ansiedade, tendo</p><p>dificuldade de controlar sua coordenação motora diante de situações difíceis. O</p><p>escore baixo representa indivíduos com alguma dificuldade de lidar com a</p><p>pressão, geralmente por falta de maturidade emocional, mas mostram algum</p><p>nível de atenção concentrada a ponto de conseguirem manejar seu</p><p>planejamento mostrando potencial de melhora. Os sujeitos com escores médios</p><p>mostram planejamento, atenção, motricidade fina e ansiedade sob controle,</p><p>ficando na média geral da população.</p><p>O escore alto representa indivíduos capazes de lidar bem com a pressão,</p><p>planejam e executam tarefas de precisão acima da média, mostrando tendência</p><p>à alta performance. Por último, o escore muito alto é o desejado somente para</p><p>atletas de alto rendimento com total controle das emoções e manejo das</p><p>funções cognitivas de acordo com a demanda motora. O empilhamento de</p><p>cubos, por ser uma tarefa simples e de material fácil de conseguir, é uma opção</p><p>muito valiosa para o psicólogo do esporte na avaliação quantitativa.</p><p>3.3. Aplicativos gratuitos para smartphones</p><p>Os smartphones, tablets e celulares capazes de rodar aplicativos e</p><p>programas transformaram a prática do psicólogo na contemporaneidade. Diante</p><p>dessa demanda, o Conselho Federal de Psicologia regulamentou o uso de</p><p>ferramentas tecnológicas e online a cinco questões específicas: (I) orientações</p><p>psicológicas, (II) processos prévios de seleção de pessoal, (III) aplicação de</p><p>testes, (IV) supervisão de trabalho de forma eventual, e (V) atendimento de</p><p>clientes de maneira eventual quando estes ou seus psicólogos estiverem em</p><p>trânsito (CFP, 2012b). Apesar das limitações estabelecidas pela resolução</p><p>normativa para o psicólogo, não há qualquer delimitação de uso do público</p><p>leigo de programas que se vendem como “treinamento mental”, “ginástica</p><p>cerebral” e outros materiais extremamente questionáveis em termos científicos.</p><p>Como se sabe, é inevitável que esse tipo de tecnologia chegue aos pacientes e</p><p>aos atletas. Para tanto, conhecer aplicativos e programas com boas</p><p>características científicas e chancela da literatura é nevrálgico para um bom</p><p>trabalho de avaliação e acompanhamento.</p><p>O primeiro aplicativo recomendado é o Super N-Back (Nguyen, 2016)</p><p>disponível para iOS. O protocolo N-Back pode ser descrito como a lembrança e</p><p>atualização de uma informação recentemente apresentada, o que demanda</p><p>flexibilidade cognitiva e memória de trabalho. Um bom indicador para essa</p><p>medida é o aproveitamento do sujeito na medida em que a tarefa vai ficando</p><p>mais difícil. O programa inicia com configurações padrão para 1-Back (o sujeito</p><p>aperta o botão toda vez que a imagem e/ou o som que aparece é o mesmo que</p><p>o exatamente anterior, ou 1-atrás) para som e posição. Essa configuração é</p><p>ruim e difícil uma vez que constitui uma tarefa dupla devendo o avaliado</p><p>responder sobre dois inputs de estímulo diferentes: o visual e o auditivo. Nesse</p><p>caso, o ideal é escolher apenas uma fonte de estímulos e ir aumentando a</p><p>dificuldade na medida em que a tarefa vai ganhando complexidade. Com 2-</p><p>Back (2-atrás) o participante precisa apertar o botão que aparece na tela toda</p><p>vez que o estímulo for igual ao que foi apresentado duas telas atrás e assim por</p><p>diante. Também é recomendável aumentar o número de turnos (number of</p><p>turns) devendo ser de um mínimo de 60 para que se tenha uma boa</p><p>distribuição dos estímulos certos e errados. A principal fonte de informação</p><p>para avaliação é até qual N-Back o sujeito chegou com aproveitamento superior</p><p>a 70%. Um indivíduo que consegue fazer o 3-Back com porcentagem de</p><p>acertos maior que esse ponto-de-corte pode ser reconhecido como possuidor</p><p>de uma ótima memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. O normal é que</p><p>uma pessoa alcance esse valor para o 2-Back, mas não para o 3-Back. Um</p><p>indivíduo que não consegue passar do 1-Back (só precisa se lembrar do</p><p>anterior), está mostrando dificuldade cognitiva e, provavelmente, prejuízo na</p><p>atenção que precisa ser trabalhado por técnicas que promovam esse tipo de</p><p>valência psicológica.</p><p>Na avaliação da memória de curto prazo, variável psicológica que prediz</p><p>aprendizado motor, de novas habilidade e de estratégias de jogo ou planos de</p><p>jogo (Verburgh, Scherder, van Lange, & Oosterlaan, 2014), está o Digit Span</p><p>Test (UCLA, 2014) também para iOS. A tarefa de span é muito usada para</p><p>avaliar a capacidade de um indivíduo em reter e evocar informações</p><p>recentemente fornecidas por qualquer meio. A média das pessoas nesse tipo</p><p>de tarefa são 5 estímulos gravados, variando entre 3 e 7. Valores acima de 7</p><p>são de pessoas com grande capacidade mnemônica ao passo que o oposto</p><p>ocorre com escores menores que 3. Esse programa é capaz de avaliar a</p><p>memória de curto prazo em oito rodadas de teste, pedindo ao avaliado que</p><p>digite os números que lembrar na ordem certa dentre aqueles que aparecem na</p><p>tela. A forma visual do aplicativo é recomendada, já que a forma auditiva fala os</p><p>números em inglês.</p><p>Esses dois instrumentos são bem valiosos na avaliação das funções</p><p>cognitivas mais concentradas nos circuitos pré-frontais dos cérebros envolvidos</p><p>com tarefas complexas e que impactam diretamente na performance.</p><p>Indivíduos com essas dimensões psíquicas privilegiadas tendem a apresentar</p><p>alto rendimento em seus esportes sendo considerados talentos e extremamente</p><p>eficazes na execução de seus desportos (Verburgh et al., 2014).</p><p>4. Limitações ao uso de testes na Psicologia do Esporte</p><p>A Psicologia do Esporte tem suas próprias especificidades, tanto na atuação</p><p>quanto na coleta de dados psicológicos. Essas particularidades permitem que o</p><p>uso de testes nesse contexto tenha questões que ultrapassam as já conhecidas</p><p>críticas a esses instrumentos tanto dentro da seara da Avaliação Psicológica,</p><p>quanto no saber psicológico de modo mais abrangente.</p><p>A primeira questão acerca do teste no ambiente do esporte é a</p><p>padronização. Testes em psicologia são padronizados para a população</p><p>brasileira (CFP, 2012a). Não há o que se discutir que os atletas fazem parte da</p><p>população em geral. De fato, em relação a psicopatologias como transtornos de</p><p>depressão, os atletas apresentam a mesma prevalência e incidência que a</p><p>população em geral (Yang et al., 2007): enquanto atletas apresentam 4,8% de</p><p>risco de depressão (considerando o intervalo de confiança de 95%, a</p><p>prevalência varia entre 0,9% e 26,1%), a população mundial apresenta 4.4% de</p><p>risco de depressão segundo a Organização Mundial da Saúde (considerando o</p><p>intervalo de confiança de 95%, a prevalência varia entre 0,9% e 26,1%)(World</p><p>Health Organization, 2010). Isso significa que ser atleta não é sinônimo de</p><p>prevenção de risco em relação à saúde mental. Porém, há uma série de</p><p>evidências que mostram que atletas de alto rendimento possuem menores</p><p>índices de prevalência de diabetes, hipertensão arterial e isquemia coronariana</p><p>que a população em geral (Kujala, Kaprio, Taimela, & Sarna, 1994), ao passo</p><p>que apresenta maiores níveis de prevalência de estresse (Sundgot-Borgen &</p><p>Torstveit, 2001), depressão (variando entre 15% e 25%)(Hammond, Gialloreto,</p><p>Kubas, & Davis, 2013; Nixdorf, Frank, Hautzinger, & Beckmann, 2013) e risco</p><p>de distúrbios alimentares (Sundgot-Borgen & Torstveit, 2004).</p><p>Isso significa que atletas de alta performance tendem a ser uma população</p><p>diferente das demais pessoas, demandando suas próprias normas e</p><p>indicadores. Nesse sentido, os testes brasileiros aprovados (CFP, 2017) não</p><p>contam com normas específicas para desportistas e isso depõe contra o uso de</p><p>testes já que não estão adaptados à essa realidade.</p><p>A segunda questão em relação ao uso de testes na Psicologia do Esporte é</p><p>a disparidade educacional dos atletas. Alguns testes consideram esse aspecto,</p><p>propondo normas adaptadas para a realidade da população, mas outros</p><p>pressupõem que essas variáveis não vão influenciar os resultados dos testes.</p><p>Nesse quesito, o nível educacional afeta a interpretação de itens,</p><p>principalmente nas escalas de personalidade. É importante que o teste se</p><p>preocupe com a capacidade do respondente de compreender o que está</p><p>sugerindo. Talvez os testes de itens muito longos possam ser excluídos da</p><p>avaliação com atletas, principalmente dada a disparidade dos níveis de</p><p>educação entre esses indivíduos.</p><p>A terceira e última questão acerca dos testes psicológicos na Psicologia do</p><p>Esporte é a validade ecológica. Muitos autores vêm discutindo a capacidade do</p><p>resultado de um teste ser estendido para compreender um grupo de</p><p>comportamentos práticos dos sujeitos (Anastasi, 1990; Cohen & Swerdlik, 2009;</p><p>Framingham, 2014). O ditado diz que: a prática é diferente da teoria, e é disso</p><p>que se trata a validade ecológica: será que os resultados de um teste de</p><p>ansiedade realmente vão levantar indicadores confiáveis para o repertório de</p><p>comportamentos que um atleta vai apresentar numa final de campeonato? A</p><p>resposta para essa pergunta é: depende. Pode sim ser que o resultado do teste</p><p>se correlacione com comportamentos ansiosos do atleta durante a competição,</p><p>no entanto, a maioria dos instrumentos que avaliam emoções e afetos</p><p>validados no Brasil (CFP, 2017) se propõem levantar indicadores associados a</p><p>transtornos, à psicopatologias. Logo, não há o que associar uma emoção</p><p>pontual com a doença, o que pode mascarar a realidade tanto no teste quanto</p><p>no treinamento e na competição.</p><p>Por essas três questões, o acompanhamento do atleta durante treinos e</p><p>competições, a combinação de técnicas qualitativas e quantitativas e a</p><p>observação longitudinal do atleta ou do grupo são nevrálgicos no processo de</p><p>Avaliação Psicológica. O teste não pode ser o bastião de todas as verdades</p><p>psicológicas, mas uma ferramenta a ser usada por um profissional capacitado e</p><p>que compreende suas qualidade e limitações. Adicionalmente, Anastasi (1990)</p><p>aponta que outra limitação do teste é a tendenciosidade ou desejabilidade</p><p>social do respondente. Esse fenômeno, conhecido como “efeito do observador”</p><p>(Gazzaniga & Heatherton, 2010), pode ser definido como o desejo do sujeito de</p><p>tentar demonstrar para o avaliador aquilo que ele pensa ser desejável</p><p>socialmente e, com isso, não ser completamente honesto em sua resposta</p><p>como recomendado para a confiabilidade dos testes. Colocando</p><p>de modo mais</p><p>simples, o indivíduo mente no teste para transparecer a autoimagem desejada.</p><p>Mentir num teste psicológico invalida seus resultados. Há alguns instrumentos</p><p>como o Inventário Fatorial de Personalidade (Pasquali, Azevedo, & Ghesti,</p><p>1998) que contam com subescalas de desejabilidade social ou tendenciosidade</p><p>de resposta, o que ajuda a mensurar o quanto uma pessoa está enviesando</p><p>seus resultados. Mesmo assim, basta o mero conhecimento do procedimento</p><p>de soma dos escores e pontuação para que o avaliado consiga modificar o</p><p>próprio resultado no teste.</p><p>Evidente que o sujeito não é, necessariamente, desonesto em um teste</p><p>psicológico. Elementos de sua própria personalidade podem afetar os escores.</p><p>Há evidências que sugerem que as pessoas tendem a superestimar habilidades</p><p>cognitivas. Por exemplo, as pessoas tendem a avaliar suas performances em</p><p>tarefas múltiplas (os conhecidos multitasks) acima dos níveis que realmente</p><p>alcançam (Burgess, Veitch, Costello, & Shallice, 2000). O mesmo acontece com</p><p>inteligência, indivíduos tendem a estimar sua inteligência acima dos seus</p><p>escores reais em testes padronizados (Stanovich, West, & Toplak, 2013). Então</p><p>se você tem um teste que avalie a estimação do sujeito acerca da própria</p><p>inteligência, de seu desempenho multitarefa ou outra dimensão cognitiva, é</p><p>provável que seus indicadores sejam superestimados em virtude das crenças</p><p>pessoais do sujeito acerca de suas próprias capacidades. Por essa razão que</p><p>variáveis cognitivas tendem a ser testadas por tarefas que demandam</p><p>performance na sua execução, em detrimento a perguntas que demandam</p><p>autoavaliação (Framingham, 2014). Entretanto, a maioria dos testes de</p><p>personalidade, emocionalidade e afeto são autoavaliativos, portanto, seus</p><p>resultados parecem limitados pela honestidade e autocrítica do respondente.</p><p>Se há interesse em quantificar essas valências psicológicas de modo preciso e</p><p>eficaz, outras medidas, além dos testes, devem ser adotadas. Um dos</p><p>exemplos dessas técnicas são os testes de associação implícita que podem ser</p><p>adotados para identificar atitudes dos atletas em relação a diferentes</p><p>dimensões psicológicas como ansiedade (Filgueiras et al., 2012), preferências</p><p>pessoais (Filgueiras & Pires, 2012) e moralidade em relação à prática de doping</p><p>(Brand, Wolff, & Thieme, 2014). Significa que os testes são nevrálgicos na</p><p>mensuração das dimensões emocionais do sujeito, mas não podem ser a única</p><p>ferramenta.</p><p>Foi com esse pensamento que diversos pesquisadores começaram a</p><p>desenvolver métodos de quantificação de comportamentos e respostas que</p><p>envolvem os paradigmas psicofísicos e outros métodos experimentais muito</p><p>mais difíceis de serem burlados ou enviesados pela desejabilidade social do</p><p>respondente.</p><p>Questões com base no conteúdo do capítulo</p><p>1. Qual a importância de conhecer Estatística para o psicólogo?</p><p>2. De onde se origina a distribuição gaussiana?</p><p>3. Qual a diferença entre testagem psicológica e avaliação psicológica?</p><p>4. Quais os requisitos mínimos para a avaliação psicológica?</p><p>5. Digamos que um atleta fique no percentil 75 de um teste, o que isso</p><p>significa?</p><p>6. Por que os paradigmas experimentais contribuem com a avaliação</p><p>quantitativa?</p><p>7. Como combinar o scouting comportamental e o empilhamento de cubos?</p><p>8. Quais as três grandes limitações no uso de testes na Psicologia do Esporte?</p><p>9. O que é e por que a validade ecológica é importante na Psicologia do</p><p>Esporte?</p><p>Referências bibliográficas</p><p>Anastasi, A. (1990). Psychological Testing. New Jersey, NY: Prentice-Hall.</p><p>Brand, R., Wolff, W., & Thieme, D. (2014). Using response-time latencies to measure athletes’</p><p>doping attitudes: the brief implicit attitude test identifies substance abuse in bodybuilders.</p><p>Substance Abuse Treatment, Prevention, and Policy, 9(1), 36. https://doi.org/10.1186/1747-</p><p>597X-9-36</p><p>Brasil, T., Baltar, Y., Barreto, B., & Filgueiras, A. (2017). Estrutura latente da versão brasileira do</p><p>Sport Anxiety Scale-2: Escala de Ansiedade no Esporte. In 8º Congresso Brasileiro de</p><p>Avaliação Psicológica (pp. 690–1). São Paulo: Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica.</p><p>Retrieved from http://www.ibapnet.org.br/congresso2017/anais/resumos/R0690-1.html</p><p>Burgess, P., Veitch, E., Costello, A. de L., & Shallice, T. (2000). The cognitive and</p><p>neuroanatomical correlates of multitasking. Neuropsychologia2, 38(6), 848–863.</p><p>https://doi.org/10.1016/S0028-3932(99)00134-7</p><p>CFP. Resolução Nº002/2003-Conselho Federal de Psicologia (2003). Brazil. Retrieved from</p><p>http://pol.org.br/legislacao/pdf/resolucao2003_2.pdf</p><p>CFP. (2003b). Resolução Normativa 007/2003. Brasília: Conselho Federal de Psicologia – CFP.</p><p>CFP. (2007). Cartilha Avaliação Psicológica. Brasília: Conselho Federal de Psicologia – CFP.</p><p>CFP. (2012a). Resolução Normativa 005/2012. Brasília: Conselho Federal de Psicologia – CFP.</p><p>CFP. (2012b). Resolução Normativa 011/2012. Brasília: Conselho Federal de Psicologia – CFP.</p><p>CFP. (2017). Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos SATEPSI. (SATEPSI, Ed.). Brasília:</p><p>Conselho Federal de Psicologia – CFP. Retrieved from</p><p>http://www.pol.org.br/satepsi/sistema/dmin.cfm?lista1=sim</p><p>Cohen, R. J., & Swerdlik, M. (2009). Psychological Testing and Assessment (7th ed.). New York:</p><p>McGraw-Hill Humanities/Social Sciences/Languages.</p><p>https://doi.org/10.1186/1747-597X-9-36</p><p>http://www.ibapnet.org.br/congresso2017/anais/resumos/R0690-1.html</p><p>https://doi.org/10.1016/S0028-3932(99)00134-7</p><p>Conde, E., Filgueiras, A., Matos, J., Andrade, R. B. De, Ribeiro, P., Lacerda, A. De, & Takaze, E.</p><p>(2012). Estudo de Caso Aspectos neurais em chutes no futebol : um estudo de caso sobre a</p><p>adaptação de técnicas cinemétricas para avaliação e treinamento cognitivo Neural aspects in</p><p>soccer kicks : a case study about kinemetrics techniques adaptation for assessment. Ciências</p><p>& Cognição, 17(2), 177–184.</p><p>Egloff, B., & Schmukle, S. C. (2002). Predictive validity of an implicit association test for</p><p>assessing anxiety. Journal of Personality and Social Psychology, 83(6), 1441–1455.</p><p>https://doi.org/10.1037//0022-3514.83.6.1441</p><p>Field, A. (2009). Discovering Statistics Using SPSS (3rd ed.). New York: Lawrence Erlbaum</p><p>Associates.</p><p>Filgueiras, A. (2010). Abordagem neuropsicológica dos processos de orientação da atenção</p><p>visuo-espacial e manutenção da concentração em atletas da categoria sub-13 de futebol de</p><p>campo. Ciências & Cognição, 15(2), 142–154.</p><p>Filgueiras, A. (2016a). Imagery for the Improvement of Serving in Beach Volleyball: A Single</p><p>Case Study. Revista Brasileira de Psicologia Do Esporte, 6(3), 57–76.</p><p>Filgueiras, A. (2016b). Translation and cross-cultural adaptation of the Sport Imagery</p><p>Questionnaire to Brazilian Portuguese. Brazilian Journal of Sport Psychology, 6(2), 72–84.</p><p>Filgueiras, A. (2017). Development and Psychometric Properties of the Sport Imagery PETTLEP</p><p>Inventory (SIPI). Revista Brasileira de Psicologia Do Esporte, 7(1), 1–22.</p><p>Filgueiras, A., Fioravanti-bastos, A. C. M., Charchat-Fichman, H., Cheniaux, E., & Landeira-</p><p>Fernandez, J. (2012). Avaliação da ansiedade por meio do teste de associação implícita. In J.</p><p>Landeira-Fernandez & S. Fukusima (Eds.), Métodos em Neurociência (1st ed., pp. 218–228).</p><p>Rio de Janeiro: Editora Manole.</p><p>Filgueiras, A., Fioravanti-bastos, A. C. M., & Conde, E. (2010). A Tarefa De Empilhar Cubos</p><p>Como Estratégia Para Avaliação Motora Fina e Treinamento Mental De Atletas. Coleção</p><p>Pesquisa Em Educação Física, 9(6), 35–42.</p><p>Filgueiras, A., & Pires, P. (2012). Validade Preditiva do Teste de Associações Implícitas ( TAI )</p><p>para Prognóstico de Comportamentos de Consumo, 161–171.</p><p>Framingham, J. (2014). What is Psychological Assessment? Newburyport: Psych Central.</p><p>Furr, R. M., & Bacharach, V. R. (2014). Psychometrics: An Introduction (2nd ed.). Los Angeles:</p><p>Sage Publications.</p><p>Gazzaniga, M., & Heatherton, T. (2010). Ciência Psicológica (20th ed.). Porto Alegre: Artmed.</p><p>Gonçalves, M. P., & Alchieri, J. C. (2010). Adaptação e Validação da Escala de Motivação à</p><p>Prática de Atividades Físicas (MPAM-R). Avaliação Psicológica, 9, 129–138.</p><p>Hammond, T., Gialloreto, C., Kubas,</p><p>H., & Davis, H. (2013). The Prevalence of Failure-Based</p><p>Depression Among Elite Athletes. Clinical Journal of Sport Medicine, 23(4), 273–277.</p><p>https://doi.org/10.1097/JSM.0b013e318287b870</p><p>Kujala, U. M., Kaprio, J., Taimela, S., & Sarna, S. (1994). Prevalence of diabetes, hypertension,</p><p>and ischemic heart disease in former elite athletes. Metabolism, 43(10), 1255–1260.</p><p>https://doi.org/10.1016/0026-0495(94)90219-4</p><p>Lam, W. K., Maxwell, J. P., & Masters, R. (2009). Analogy learning and the performance of</p><p>motor skills under pressure. Journal of Sport & Exercise Psychology, 31(3), 337–57. Retrieved</p><p>from http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19798997</p><p>Löw, M.-O., Pithan, J. M., Blazek, I., Saad, A. R., & Stoll, O. (2014). Behavioral Scouting:</p><p>Validierung eines (Talent-)Beobachtungsinstruments im Fußball. In Performing Under</p><p>Pressure – Internationales und interdisziplinäres Symposion (p. 46). Mansoura: ASP-</p><p>Jahrestagung der Arbeitsgemeinschaft für Sportpsychologie & Art in Motion.</p><p>Nguyen, P.-A. (2016). Super N-Back. Paris: Apple Inc.</p><p>Nixdorf, I., Frank, R., Hautzinger, M., & Beckmann, J. (2013). Prevalence of Depressive</p><p>Symptoms and Correlating Variables among German Elite Athletes. Journal of Clinical Sport</p><p>Psychology, 7(4), 313–326. https://doi.org/10.1123/jcsp.7.4.313</p><p>Pasquali, L., Azevedo, M. M., & Ghesti, I. (1998). Inventário Fatorial de Personalidade (1st ed.).</p><p>São Paulo: Casa do Psicólogo.</p><p>https://www.doi.org/10.1037//0022-3514.83.6.1441</p><p>https://doi.org/10.1097/JSM.0b013e318287b870</p><p>https://doi.org/10.1016/0026-0495(94)90219-4</p><p>http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19798997</p><p>https://doi.org/10.1123/jcsp.7.4.313</p><p>Pieri, R. de V., Pires, P., Filgueiras, A., & Oliva, Â. D. (2016). Adaptação Transcultural e</p><p>Validação de Conteúdo do Questionário de Coesão no Esporte Infantil para o Português do</p><p>Brasil. Revista Brasileira de Psicologia Do Esporte, 6(2), 14–25.</p><p>Silva, J. A. da, & Ribeiro-Filho, N. P. (2006). Avaliação e Mensuração de Dor: Pesquisa, Teoria e</p><p>Prática. Ribeirão Preto: Funpec Editora.</p><p>Silveira, C. R. A., Gobbi, L. T. B., Caetano, M. J. D., Rossi, A. C. S., & Candido, R. P. (2005).</p><p>Avaliação motora de pré-escolares: relações entre idade motora e idade cronológica. EF</p><p>Deportes Revista Digital, 10(83), 1–6.</p><p>Stanovich, K. E., West, R. F., & Toplak, M. E. (2013). Myside Bias, Rational Thinking, and</p><p>Intelligence. Current Directions in Psychological Science, 22(4), 259–264.</p><p>https://doi.org/10.1177/0963721413480174</p><p>Sundgot-Borgen, J., & Torstveit, M. K. (2001). Prevalence of stress and urge urinary</p><p>incontinence in elite athletes and controls. Medicine and Science in Sports and Exercise,</p><p>33(11), 1797–1802. https://doi.org/10.1097/00005768-200111000-00001</p><p>Sundgot-Borgen, J., & Torstveit, M. K. (2004). Prevalence of eating disorders in elite athletes is</p><p>higher than in the general population. Clinical Journal of Sport Medicine : Official Journal of</p><p>the Canadian Academy of Sport Medicine, 14(1), 25–32. Retrieved from</p><p>http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14712163</p><p>UCLA. (2014). Digit Span Test. Los Angeles: University of California. Retrieved from</p><p>https://appadvice.com/app/digit-span-test/834048597</p><p>Verburgh, L., Scherder, E. J. A., van Lange, P. A. M., & Oosterlaan, J. (2014). Executive</p><p>Functioning in Highly Talented Soccer Players. PLoS ONE, 9(3), e91254.</p><p>https://doi.org/10.1371/journal.pone.0091254</p><p>Welling, J. (2013). Behavioral Scouting – An evaluation tool for mental qualities and mental skills</p><p>in ice hockey. Haaga-Helia University of Applied Sciences.</p><p>World Health Organization. (2010). mhGAP Intervention Guide: for mental neurological and</p><p>substance use disorders in non-specialized health settings. Geneva: World Health</p><p>Organization Press.</p><p>Yang, J., Peek-Asa, C., Corlette, J. D., Cheng, G., Foster, D. T., & Albright, J. (2007).</p><p>Prevalence of and Risk Factors Associated With Symptoms of Depression in Competitive</p><p>Collegiate Student Athletes. Clinical Journal of Sport Medicine, 17(6), 481–487.</p><p>https://doi.org/10.1097/JSM.0b013e31815aed6b</p><p>https://doi.org/10.1177/0963721413480174</p><p>https://doi.org/10.1097/00005768-200111000-00001</p><p>http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14712163</p><p>https://www.appadvice.com/app/digit-span-test/834048597</p><p>https://doi.org/10.1371/journal.pone.0091254</p><p>https://doi.org/10.1097/JSM.0b013e31815aed6b</p><p>CAPÍTULO 7</p><p>Treinamento de Competências Psicológicas – Planejamento</p><p>e Periodização</p><p>Maurício Pinto Marques</p><p>Marisa Markunas</p><p>Quando há um resultado adverso, atletas, treinadores, dirigentes, imprensa,</p><p>pais, torcedores, etc., costumam justificar este desempenho citando mais</p><p>razões psicológicas que físicas, técnicas ou táticas. Mesmo erros destas</p><p>outras esferas geralmente são explicados em conjunto com uma explicação</p><p>psicológica: Faltou concentração para fazer o ponto decisivo, ou A equipe</p><p>perdeu a atenção por um momento e sofreu o revés, ou ainda, Estava</p><p>fisicamente preparado para fazer um tempo, mas cansei antes da hora por</p><p>nervosismo.</p><p>Esta mesma indissociação entre mente e corpo, rendimento e bem-estar</p><p>psicológico, se observa em relatos de campeões ao explicarem seus êxitos</p><p>por se sentirem confiantes, com a ansiedade controlada ou estarem fortes</p><p>mentalmente. Por esse motivo, psicólogos do esporte são procurados por</p><p>questões como falta de motivação, excesso de ansiedade, dificuldade de</p><p>concentração, etc. Isto explica o fato do treinamento de habilidades</p><p>psicológicas, ou THP, ser um dos tópicos mais recorrentes dentro da</p><p>psicologia do esporte e da atividade física (Weinberg e Gould, 2001).</p><p>Contudo, há uma grande discussão e divergência de conceitualização sobre</p><p>o que são habilidades, competências, técnicas, perfis ou traços de</p><p>personalidade. Tomando como exemplo o pensamento positivo, ele pode ser</p><p>uma característica de personalidade, uma habilidade desenvolvida através de</p><p>treinamento ou, ao mesmo tempo, uma técnica utilizada para trazer benefícios</p><p>sobre a motivação e redução de ansiedade.</p><p>Loehr (1986), por exemplo, estudou o que chamou de “PPP” ou</p><p>Performance Psychological Profile – perfil psicológico de performance, em que</p><p>buscava avaliar níveis de preparação mental de atletas de alto-rendimento</p><p>campeões. Para tanto, classificava o treinamento dos fatores: autoconfiança,</p><p>negativismo (controle de pensamentos negativos), atenção, visualização,</p><p>motivação, pensamento positivo e atitude competitiva; em relação à sua</p><p>frequência, sendo a prevalência considerada como inexistente ou fraca,</p><p>mediana ou ainda sistêmica (consistente). O autor apontava que uma alta</p><p>frequência na maioria dos fatores estaria relacionada à atuação de atletas de</p><p>alto rendimento treinados ou naturalmente praticantes destas competências.</p><p>Na mesma época, Mahoney, Gabriel e Perkins (1987) desenvolveram o</p><p>Psychological Skills Inventory for Sports – PSIS R-5, onde avaliam as</p><p>seguintes competências psicológicas: controle de ansiedade, concentração,</p><p>autoconfiança, preparação mental (visualização, ensaio mental), motivação e</p><p>espirito de equipe; fatores segundo os quais a performance pode ser prevista,</p><p>de acordo com os autores. Em seu clássico manual de psicologia do esporte</p><p>Weinberg e Gould (2001) colocam como principais ênfases do THP: regulação</p><p>de ativação, mentalização, autoconfiança, estabelecimento de metas e</p><p>concentração. É importante salientar que muitos desses conceitos citados</p><p>entre autores com nomes diferentes podem se referir às mesmas</p><p>competências/habilidades ou às consequências que se busca, no entanto, por</p><p>motivos de tradução, base teórica, ou mera preferência do pesquisador,</p><p>acabam recebendo outra denominação.</p><p>No Brasil, estudos e práticas em psicologia do esporte têm sido</p><p>influenciados principalmente pelos referenciais oriundos da literatura norte-</p><p>americana e europeia, em particular pela existência da tradução de material</p><p>escrito para nossa língua, ou em alguns casos pelo acesso à literatura</p><p>portuguesa. Os livros publicados no país no início dos anos 2000 aproximaram</p><p>os conhecimentos já acumulados em outras culturas aos leitores brasileiros,</p><p>em especial os livros de Weinberg e Gould (2001), Martin (2001) e Samulski</p><p>(2002). Obviamente outras publicações no Brasil, durante os anos de 1990 e</p><p>início dos anos 2000 são responsáveis pela crescente divulgação de</p><p>conhecimento científico e orientações à prática profissional, como por</p><p>exemplo, os manuais de Becker Jr. (2000) e Becker Jr. e Samulski (1998) e as</p><p>publicações organizadas no âmbito do Conselho Regional de Psicologia de</p><p>São Paulo, Rubio (2000a e 2000b).</p><p>Para Becker Jr e Samulski (1998:09): “o treinamento psicológico não é algo</p><p>isolado, mas que faz parte de uma estrutura muito importante chamada</p><p>Programa de Psicologia Aplicada ao Esporte”. No mesmo sentido, Markunas</p><p>(2003) afirma que o treinamento psicológico é um dos componentes da</p><p>preparação psicológica, além do acompanhamento/apoio psicológico;</p><p>aconselhamento/orientação e avaliação psicológica.</p><p>A preparação psicológica e o treinamento de habilidades psicológicas (THP)</p><p>são delineados a partir de necessidades identificadas e/ou objetivos previstos</p><p>no ciclo de treinamento esportivo. Em outras palavras, embora pareça que o</p><p>treinamento de habilidades psicológicas (ou treinamento psicológico)</p><p>corresponde à organização de estratégias e aplicação de técnicas</p><p>previamente escolhidas para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de</p><p>conteúdos cognitivos e emocionais no ambiente de treinamento esportivo (e</p><p>visando a otimização da performance atlética), a prática profissional e</p><p>descrições de literatura têm demonstrado que é necessário estabelecer um</p><p>plano de trabalho mais amplo, viabilizando a preparação para lidar com</p><p>situações inesperadas ou ainda com conteúdo necessários à formação</p><p>pessoal do atleta e até mesmo de outros profissionais envolvidos.</p><p>No artigo intitulado “Nos Jogos Olímpicos, tudo é uma questão de</p><p>performance” MCcan (2008) apresenta uma lista de fatores que os psicólogos</p><p>do comitê olímpico estadunidense já haviam enfrentado em diversas edições</p><p>dos Jogos. Questões clínicas (por exemplo: depressão, abuso de</p><p>medicamentos para dormir, abuso de álcool, pensamentos obsessivos,</p><p>distúrbios alimentares), conflitos interpessoais (envolvendo agentes,</p><p>treinadores ou colegas de equipe), demandas para lidar com fatores externos</p><p>(falecimento ou hospitalização de familiares e amigos, crises no casamento,</p><p>crises financeiras entre outros), distrações durante os Jogos (questões com</p><p>patrocinadores, mídia e situações de envolvimento sexual) e obviamente</p><p>aspectos ligados à pressão de performance propriamente dita foram</p><p>apresentados no artigo.</p><p>Ao comentar o artigo acima, Terry e Si (2015) afirmam que Sean MacCann</p><p>Sean McCann sedimentou a ideia de que o trabalho no campo psicológico</p><p>durante os Jogos Olímpicos chega a ser uma aventura imprevisível. A lista de</p><p>estressores e as ameaças ao equilíbrio emocional e em última instância à</p><p>performance dos atletas, treinadores e equipe profissional é aparentemente</p><p>interminável. Em outra publicação a respeito da prática de psicólogos do</p><p>esporte com atletas olímpicos, diferentes autores da região da Ásia e sul do</p><p>Pacífico (Terry et al., 2014), apontam a necessidade de uma abordagem ampla</p><p>em que os consultores estejam aptos a lidar com uma variedade de fatores.</p><p>Em diferentes relatos desta publicação, reforça-se a ideia de que o</p><p>treinamento de habilidades psicológicas é uma das tarefas dos psicólogos</p><p>enfatizando o espectro da performance em busca do equilíbrio emocional e</p><p>controle cognitivo necessários ao alto rendimento. A esse despeito, as</p><p>ressalvas apontam a necessidade de intervenções variadas e que nem</p><p>sempre podem ser previstas. Os autores organizaram relatos de práticas e</p><p>estudos de caso a respeito das características psicológicas e/ou habilidades</p><p>mentais de atletas de elite como, por exemplo, o papel da espiritualidade para</p><p>boxeadores filipinos ou a estruturação de um programa de preparação</p><p>psicológica de esquiadoras chinesas que integra três níveis de intervenção.</p><p>Neste último caso a prática é estruturada considerando um sistema de valores</p><p>(que inclui história e filosofia reforçando aspectos culturais sobre</p><p>autoconfiança e autocontrole – ligando aspectos da vida comum e da carreira</p><p>esportiva), educação psicológica (a respeito da motivação, cognição,</p><p>personalidade e relações sociais entre outros) e o ensino de técnicas básicas</p><p>do treinamento de habilidades psicológicas tais como relaxamento,</p><p>estabelecimento de metas e controle de pensamentos. Neste sistema os</p><p>atletas não estão focados apenas em aprender técnicas mas realizar todo seu</p><p>potencial a partir do envolvimento de todas as esferas de aperfeiçoamento</p><p>pessoal e busca de metas.</p><p>De acordo com Vealey (2007), o treino de habilidades psicológicas evoluiu</p><p>da aplicação descontextualizada de técnicas para melhora de performance</p><p>esportiva aos processos de intervenção sistematizados com seus próprios</p><p>pressupostos e protocolos de ação (e as respectivas técnicas e estratégias</p><p>específicas) em relação a diversos contextos sócio culturais. Segundo a</p><p>autora, o processo de treinamento mental depende da perspectiva filosófica</p><p>que o profissional que o aplica tem: as ideias e crenças sobre a natureza das</p><p>habilidades mentais influenciam os objetivos do programa proposto assim</p><p>como o papel dos diversos participantes no processo de treinamento, quer</p><p>seja atleta, treinador ou o proponente do trabalho em psicologia. Neste</p><p>sentido, é importante destacar o artigo de Ryba et al. (2009) que apresentam o</p><p>modelo soviético de preparação psicológica proposto por Avksenty C. Puni. Tal</p><p>modelo atingiu o continente americano a partir da importação destes</p><p>conhecimentos à ilha de Cuba.</p><p>Segundo os autores portugueses, Cruz e Viana (1996), é possível encontrar</p><p>Programas de Treinamento de Competências Psicológicas mais voltados à</p><p>performance (competências de performance) e outros que conciliam aspectos</p><p>do desenvolvimento pessoal ao longo da carreira esportiva (competências de</p><p>vida). Os autores apresentam uma análise de diversas publicações a respeito</p><p>das competências psicológicas mais relevantes para a preparação de atletas,</p><p>destacando o controle de stress e de ansiedade e a autoconfiança como</p><p>habilidades centrais; o treino de atenção e de concentração, o uso de</p><p>imaginação e visualização e a formulação de objetivos (dentre técnicas mais</p><p>comuns), além das habilidades de comunicação e coesão, em esportes</p><p>coletivos.</p><p>De acordo com Casal e Brandão (2007), as tarefas do psicólogo do esporte</p><p>são organizadas em ensino de habilidades psicológicas básicas ao rendimento</p><p>esportivo, bem como trabalho educativo-preventivo e de psico-higiene. Um</p><p>interessante exemplo sobre temática pertinente é o relato sobre a promoção</p><p>de um programa de prevenção de DSTs e Aids entre jogadores de futebol</p><p>juniores, embora não tenha sido realizado por profissionais do esporte, mas</p><p>especialistas em saúde (Wilson et al.,2002).</p><p>A partir de todas as considerações acima, sugerimos que a expressão</p><p>Preparação Psicológica seja utilizada em relação ao conjunto mais amplo de</p><p>atividades do psicólogo do esporte conciliando desde a caracterização das</p><p>demandas institucionais – tipo de modalidade esportiva; sua sub-cultura; o</p><p>contexto de treinamento e nível competitivo – até a organização e</p><p>planejamento de conteúdos de trabalho com o público-alvo (demandas</p><p>relativas à carreira esportiva, faixa etária dos atletas, temas para psico-</p><p>educação, participação de familiares e outros pertinentes) e as necessidades e</p><p>atividades específicas do treino de competências psicológicas. Entendemos</p><p>que o termo Competências Psicológicas é mais amplo e engloba o domínio de</p><p>técnicas e habilidades psicológicas, intrapessoais e interpessoais, favoráveis à</p><p>performance esportiva, ainda que historicamente sejam utilizados os termos</p><p>THP (treinamento de habilidades psicológicas), treinamento psicológico e o</p><p>treinamento mental [ 34 ], como identificado nas publicações já citadas.</p><p>Segundo Vealey (1988) o termo THP foi elaborado ao longo dos anos 1970</p><p>para descrever técnicas e estratégias destinadas a ensinar ou aprimorar</p><p>habilidades mentais que facilitam a performance e a abordagem positiva da</p><p>competição esportiva, como por exemplo o</p><p>uso de imaginação, relaxamento e</p><p>auto falas usadas para auxiliar no gerenciamento do stress competitivo,</p><p>facilitar o controle de concentração e melhorar a autoconfiança. Neste artigo a</p><p>autora propõe a distinção entre habilidades psicológicas e técnicas ou</p><p>ferramentas psicológicas. Balagué (2000) discute tal organização de</p><p>habilidades e estabelece uma reestruturação dos seus conteúdos da seguinte</p><p>forma: habilidades básicas (motivação, auto consciência e habilidades</p><p>interpessoais), habilidades de performance (auto eficácia – que inclui as ideias</p><p>de auto estima e autoconfiança; auto regulação da ativação física; auto</p><p>controle cognitivo e emocional e auto regulação da atenção); habilidades</p><p>facilitadoras (controle do estilo de vida e – muito útil para atletas de alto</p><p>rendimento: habilidades para manejar a comunicação com mídia,</p><p>patrocinadores entre outros). Em publicação posterior, Vealey (2007) reitera</p><p>que as quatro técnicas básicas utilizadas predominantemente em intervenções</p><p>em psicologia do esporte são a imaginação, estabelecimento de metas,</p><p>autofala e relaxamento.</p><p>Martens (1987) dividiu o THP geral em três fases. A primeira etapa é</p><p>chamada de fase educativa, aquela em que há explicações teóricas a respeito</p><p>das habilidades fundamentais para a modalidade esportiva ou aquelas</p><p>habilidades que deverão ser treinadas, na fase seguinte. O segundo momento</p><p>corresponde à fase de aquisição de habilidades em que o treinamento</p><p>propriamente dito irá ocorrer, com a repetição de exercícios e</p><p>experimentações práticas, para serem aplicados na última fase, a fase da</p><p>prática. Nesta etapa há integração dos exercícios para as situações</p><p>competitivas reais.</p><p>Por isso, as técnicas a seguir foram selecionadas por serem consideradas</p><p>clássicas, as mais relatadas na literatura e presente em manuais:</p><p>Relaxamento, Visualização, Autofala e Estabelecimento de Metas, além do</p><p>Mindfulness, uma nova ferramenta que está bastante em voga na atualidade.</p><p>Independente da divisão e nomenclatura, essas técnicas, ou estratégias</p><p>têm como objetivo aumentar as chances de que atletas possam competir</p><p>próximos aos seus máximos níveis dentro de condições com muitos</p><p>estressores, pressão e, até, hostis (Birrer, Röthlin e Morgan, 2012). As</p><p>sínteses de Cruz e Viana (1996) e Birrer e Morgan (2010) apresentam as</p><p>principais competências psicológicas trabalhadas por diversos autores na</p><p>história da psicologia do esporte. De acordo com essas publicações, busca-se</p><p>que os atletas desenvolvam sua auto regulação e atinjam: níveis ótimos de</p><p>confiança, concentração, atenção, motivação, controle de pensamentos</p><p>(eliminar pensamentos negativos e/ou substituí-los por positivos),</p><p>modulação/redução de ansiedade, aumento de tolerância à dor, melhor</p><p>enfrentamento de estresse, maior desenvolvimento motor e recuperação de</p><p>lesões, adequado estabelecimento, seguimento e conquista de metas. Cremos</p><p>assim, que o treinamento de competências psicológicas corresponde ao</p><p>trabalho de combinação de técnicas e estratégias em relação ao</p><p>desenvolvimento de habilidades específicas.</p><p>Controle de ativação – Relaxamento</p><p>São técnicas que objetivam a regulação dos níveis de ativação, ou auxiliar</p><p>na autorregulação de atletas, principalmente quando estão com elevada</p><p>ansiedade ou demandam estratégias para o gerenciamento de estresse. Para</p><p>tanto, é necessário o atleta ter a consciência deste estado, ou do nível de</p><p>ativação ideal para atingir sua melhor performance. O controle da ansiedade</p><p>competitiva é uma das demandas mais comuns solicitadas aos psicólogos do</p><p>esporte, por isso, as técnicas de relaxamento acabam sendo muito comuns na</p><p>literatura a respeito. Como a ansiedade tem fatores somáticos (ativação física)</p><p>e cognitivos (preocupação e pensamentos), o relaxamento busca reduzir a</p><p>tensão muscular e cognitiva, e também tem um componente importante de</p><p>contribuir com a consciência de respostas corporais.</p><p>São diversas e frequentemente relatadas na literatura as principais técnicas</p><p>(Weinberg e Gould, 2001) utilizadas: controle da respiração, relaxamento</p><p>autógeno e relaxamento progressivo. Para maiores descrições recomenda-se</p><p>o Manual de Becker Jr. e Samulski (1998). Uma respiração suave, ritmada e</p><p>profunda está naturalmente associada a estados de tranquilidade e controle</p><p>psicológico. Ao passo que uma respiração acelerada, curta e irregular está</p><p>diretamente ligada a estados de estresse e pressão, fazendo parte das</p><p>reações de luta e fuga (i.e. aumento de pressão, taquicardia, sudorese, dor de</p><p>barriga, enrijecimento muscular e dificuldade de raciocinar claramente) que</p><p>tem nosso corpo em momentos de ameaça e tensão. Por isso a</p><p>psicoeducação sobre como nosso organismo se comportam em distintos</p><p>momentos é a base utilizada para introduzir o controle respiratório. Pode-se</p><p>induzir um estado de relaxamento e tranquilidade ao se executar uma</p><p>respiração diafragmática lenta. Alguns psicólogos sugerem que diferença de</p><p>tempo entre inspirar e expirar seja de 2 para 1, ou seja, que se solte o ar duas</p><p>vezes mais lentamente que a inspiração, nota-se que é uma das técnicas</p><p>básicas utilizadas para conter picos de ansiedade na psicologia clínica. Por</p><p>outro lado, para quem deseja um estado de ativação é recomendada a</p><p>respiração pulmonar acelerada.</p><p>O relaxamento progressivo, ou técnica de Jacobson, pelo nome de seu</p><p>criador, envolve tensionar e relaxar diferentes músculos ou grupos</p><p>musculares. Esta simples técnica se baseia na percepção das diferenças entre</p><p>os estados de tensão e sua ausência, que são antagônicos, conscientizando</p><p>sobre como nossos músculos se encontram em determinada situação e que a</p><p>diminuição da tensão mental acompanhará o relaxamento muscular. A partir</p><p>dessa diretriz, diversos protocolos e programas de treinamento são</p><p>implementados para que atletas possam conhecer melhor seu corpo e buscar</p><p>equilíbrio em meio a competições.</p><p>Já o treinamento autógeno de Schultz é uma técnica de auto-hipnose, isto</p><p>é, de autossugestão de estados de calor, peso, regulação cardíaca e</p><p>respiratória. Com frases repetidas por um instrutor ou autoverbalizadas como:</p><p>Minha perna direita está pesada, pesada, como um saco de areia, e também:</p><p>meu abdômen está agradavelmente quente como em um mergulho em uma</p><p>banheira de água morna se induz estados de relaxamento. Busca-se um</p><p>ambiente tranquilo, estimula-se uma música tranquila e que a voz do guia seja</p><p>lenta, pausada e agradável para facilitar o processo. Como com o relaxamento</p><p>de Jacobson, é bastante comum que essas técnicas gerem sonolência,</p><p>levando muitos atletas a dormirem em suas práticas principalmente se</p><p>aplicadas após sessões intensas de treinamento.</p><p>Visualização</p><p>Também chamada de mentalização, imagética, imaginação ativa, prática</p><p>encoberta, é outra das principais técnicas utilizadas na psicologia do esporte,</p><p>tanto que em diversos estudos é usada como sinônimo de treinamento</p><p>psicológico. Visualização é a capacidade de ver na sua mente uma cena, ou</p><p>de elaborar um cenário, a partir dos sentidos internos, são treinos de</p><p>imaginação. Os efeitos positivos da visualização são relatados em uma série</p><p>de estudos no contexto da psicologia do esporte e treinamento de atletas</p><p>(Feltz e Landers, 1983; Slimani, Tod, Chaabene, Miarka e Chamari, 2016;</p><p>Filgueiras, 2016).</p><p>Utilizada desde os primórdios da psicologia esportiva, com o avanço da</p><p>tecnologia se teve a comprovação científica a possibilidade de treinar sem</p><p>treinar, ou seja, o cérebro é capaz de responder à imaginação de forma</p><p>bastante aproximada da situação real. Ou seja, ativa muitas das mesmas</p><p>áreas que uma prática real, gerando inclusive respostas fisiológicas como</p><p>aumento da irrigação sanguínea em determinadas áreas, elevação dos</p><p>batimentos cardíacos e respostas musculares.</p><p>Ainda que associada à imaginação visual, é importante a utilização do</p><p>máximo de sentidos na criação ou recriação de uma experiência na mente.</p><p>Quanto maior a riqueza de detalhes associando elementos visuais,</p><p>sinestésicos, auditivos, táteis e olfativos, mais eficaz será o treinamento. A</p><p>visualização é utilizada em diversas situações com distintos</p><p>área, paralelamente à criação</p><p>dos Institutos para a Cultura Física de Moscou e Leningrado – considerados o</p><p>marco inicial da Psicologia do Esporte na antiga União Soviética (Rodrigues,</p><p>2006).</p><p>Outros países também aparecem nesse contexto como a Itália, que sedia</p><p>em Roma, no ano de 1965, o primeiro Congresso Mundial de Psicologia do</p><p>Esporte, fato que levou à fundação, no mesmo ano, da International Society of</p><p>Sport Psychology (ISSP), com objetivo de promover e disseminar informações</p><p>sobre a PE em todo o mundo. Ainda nos EUA, Rubio (2000) informa que, em</p><p>1968, foi criada a Sociedade Americana para a Psicologia do Esporte e</p><p>Atividade Física (NASPSPA) e, em 1985, a Associação para Progresso da</p><p>Psicologia do Esporte (AAASP), objetivando divulgar o trabalho de instituições</p><p>ligadas à área. Vieira et al. (2010) acrescentam que, em 1986, é formada na</p><p>American Psychological Association (APA) a divisão 47 (Sport and Exercise</p><p>Psychology) com objetivo de especificar a qualificação necessária para se</p><p>tornar um psicólogo esportivo.</p><p>Os fatos mencionados ilustram o percurso de construção e legitimação</p><p>dessa área em outros países, permeados pelo avanço de uma aplicação</p><p>técnica e de produtividade científica, levando a Psicologia do Esporte a</p><p>destacar-se como prática no cenário mundial desde o início do século XX. O</p><p>Brasil, ao mesmo em tempo que acompanha alguns desses eventos, trilha seu</p><p>próprio rumo.</p><p>Percurso histórico no Brasil</p><p>A Segunda Guerra Mundial deixara vários resquícios, mas o Brasil vivia as</p><p>expectativas do progresso e do desenvolvimento industrial em meio a um</p><p>período de oito anos de regime autoritário, o Estado Novo, e Getúlio Vargas dá</p><p>início à segunda parte de seu domínio político no país (1937-1945). Nesse</p><p>momento, a Educação Física torna-se obrigatória no currículo escolar pelo</p><p>artigo 131 da Constituição de 1937 com a inserção da ginástica nos</p><p>programas escolares e a noção de educação integral, que passam a ser temas</p><p>comuns nos debates dos anos 1940.</p><p>Na década de 50, a nação brasileira viveu o fim da Era Vargas, incluindo</p><p>seu suicídio em 1954, seguido, logo após, do ousado e polêmico governo de</p><p>Juscelino Kubitschek (1956-1961). O Brasil, como outros países, sofreu com a</p><p>depressão econômica do pós-guerra e, de acordo com Skidmore (2007), o</p><p>país não possuía outro caminho, senão a industrialização, para que se</p><p>transformasse em uma potência mundial. Em meio a uma instabilidade</p><p>econômica com índices inflacionários crescentes nos cenários político e</p><p>econômico dessa época, o projeto de civilização do povo brasileiro, criado por</p><p>Vargas, se mantinha. A ideia principal de construir uma nação potente</p><p>precisava de homens fortes não só no vigor da saúde física, mas que o</p><p>processo de educação do indivíduo, abarcasse o todo, ou seja, intelectual,</p><p>moral ou comportamental – a chamada educação integral era uma educação</p><p>baseada na disciplina e no controle. [ 9 ]</p><p>Na Psicologia, as escolas normais, fundadas ainda no século XIX, também</p><p>tinham objetivo de formar um corpo docente competente e adequado às</p><p>necessidades do sistema educacional brasileiro e continham, dentre outras, a</p><p>disciplina “Psicologia aplicada ao desenvolvimento da criança”. Nas primeiras</p><p>décadas do século XX surgiam os primeiros laboratórios experimentais</p><p>sinalizando um forte movimento no Brasil para seguir os modelos vigentes no</p><p>cenário social e cultural internacional da ciência moderna e objetiva (Massimi,</p><p>2006). Assim, paralelamente aos acontecimentos políticos, o Brasil vivia um</p><p>momento de sedimentação de alguns saberes, além da Educação, a Medicina;</p><p>afinal, se o país precisava se desenvolver com ordem e progresso, a</p><p>educação e a saúde e eram prioritárias.</p><p>Importava, portanto, que a sociedade se transformasse de acordo com os</p><p>objetivos da Modernidade e o país se tornasse desenvolvido, mas para tanto,</p><p>era necessário que o corpo dos indivíduos fosse fisicamente educado e</p><p>favorecesse o desenvolvimento de faculdades morais mais elevadas (Lenharo,</p><p>1986). Esse contexto cria um cenário favorável para que a Educação Física</p><p>também se estabeleça como um saber científico, útil à sociedade. O saber</p><p>psicológico, como mais um produto da Modernidade, assimila as influências</p><p>desse período caracterizado pela ruptura com a tradição e estímulo ao novo e</p><p>ao progresso, entendendo as demandas emergentes como fruto da</p><p>capacidade e da potencialidade humana (Jacó-Vilela, 2001).</p><p>No cenário dos grandes eventos esportivos, o Brasil iniciava sua</p><p>participação nos Jogos Olímpicos de 1948 [ 10 ], onde passou a estar presente,</p><p>sempre com medalhistas, em todas as demais edições. Apesar das precárias</p><p>condições técnicas e estruturais de preparo para essas competições, além dos</p><p>desportistas civis, o Brasil contava com a participação dos militares [ 11 ], em</p><p>especial da Marinha e do Exército.</p><p>Uma década depois, o Brasil sagra-se Campeão da Copa do Mundo na</p><p>Suécia (1958) e leva em sua comissão técnica um sociólogo paulista chamado</p><p>João Carvalhaes [ 12 ] (1917-1976) ou professor Carvalhaes, como era</p><p>conhecido. Ainda que a Psicologia só tenha sido regulamentada em 1962, a</p><p>formação já existia desde 1950 e muitos profissionais de outras áreas</p><p>exerciam práticas psicológicas, legitimando o fazer psi. Era o caso de João</p><p>Carvalhaes que, desde os anos 1950, transitava no mundo esportivo,</p><p>inicialmente publicando artigos sobre o boxe, em jornais da época, com o</p><p>pseudônimo de João do Ringue. Mas foi sua experiência profissional nas</p><p>empresas que corroborou para sua atuação na Psicologia. Segundo Costa</p><p>(1950), Carvalhaes ocupa de 1942 a 1946 os cargos de Escriturário e, depois,</p><p>como encarregado do Setor de Seleção de Pessoal na Light & Power onde</p><p>executou, a título experimental, trabalhos relativos à aplicação de testes de</p><p>nível mental, de interesses e de personalidade. Logo após, trabalhou</p><p>inicialmente como Assistente Técnico da Divisão de Psicologia e Formação</p><p>Profissional na Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC) (1947-</p><p>1970), uma Companhia de transportes da cidade de São Paulo.</p><p>O mundo “respirava um ar” de período pós-revolução industrial, marcado</p><p>por avanços científicos, tecnológicos e novas exigências à mão de obra</p><p>trabalhadora. O Brasil tentava avançar em seu processo de desenvolvimento</p><p>industrial e a mão de obra qualificada se fazia necessária, razão pela qual os</p><p>conhecimentos e a experiência de Carvalhaes no âmbito da então psicologia</p><p>industrial, hoje do trabalho foram necessários para atender a uma demanda</p><p>social de seleção de pessoas no âmbito das industrias.</p><p>Tal experiência possibilitou uma conexão com o universo esportivo, onde a</p><p>seleção de atletas capazes e adequados à sua função também já se fazia</p><p>necessária. Assim, na Federação Paulista de Futebol (1954-1959), João</p><p>Carvalhaes aplicou seus conhecimentos de psicotécnica [ 13 ] à realidade</p><p>esportiva, implantando uma unidade de seleção para árbitros de futebol,</p><p>atuando também na preparação psicológica destes e junto à Seleção</p><p>Brasileira de Futebol (Waeny & Azevedo, 2003). No mesmo período prestou</p><p>serviços de avaliação psicológica no São Paulo Futebol Clube, utilizando</p><p>testes de inteligência, personalidade e de habilidades específicas a fim de</p><p>melhor orientar os atletas para suas atividades.</p><p>Vale destacar que, embora João Carvalhaes seja uma referência</p><p>significativa na história de constituição da Psicologia do esporte no Brasil, ele</p><p>não foi o único. Além disso, no cenário atual, 50 anos após essa reconhecida</p><p>participação de Carvalhaes no futebol brasileiro, ainda temos uma Psicologia</p><p>do Esporte buscando reconhecimento social no futebol. Pouco a pouco, a</p><p>partir dos anos 70 e 80 outras modalidades esportivas começam a absorver</p><p>psicólogos, por iniciativas isoladas. Com os Jogos Olímpicos de 2016, no</p><p>Brasil, as federações receberam incentivos financeiros para contratar</p><p>psicólogos, o que favoreceu a atuação de psicólogos do esporte em diversas</p><p>modalidades esportivas.</p><p>Sobre Carvalhaes não ser a única referência histórica, como dito</p><p>anteriormente, sua experiência profissional configura uma tentativa clara de</p><p>objetivos como:</p><p>Aquisição de uma nova habilidade, por exemplo, repassar uma nova</p><p>coreografia. Técnica historicamente utilizada na ginástica artística, pois há a</p><p>vantagem de se treinar e repassar mentalmente passo a passo o movimento,</p><p>porém sem o risco e o impacto da execução nos aparelhos.</p><p>Manutenção de técnica e estratégia, onde há a repetição de um gesto</p><p>técnico ou de uma jogada ensaiada. Este recurso é empregado na</p><p>recuperação de atletas lesionados, pois a imaginação sistemática de certos</p><p>movimentos pode evitar a diminuição da motricidade. Recurso também</p><p>utilizado para reabilitação de pessoas que tiveram membros danificados, onde</p><p>se instrui que o paciente treine um movimento mentalmente antes de tentar</p><p>sua execução.</p><p>Gerar confiança ao se recordar de uma grande atuação, ou então ao</p><p>imaginar um rendimento perfeito. No segundo caso há que se cuidar para não</p><p>elevar demasiado as expectativas para situações irrealistas que podem gerar</p><p>frustração ou bloqueio, por isso a importância da intenção colocada em</p><p>prática. Alguns atletas de futebol às vezes se imaginam realizando jogadas</p><p>incríveis fora de seu padrão, contudo, com o intuito de entreter a mente e não</p><p>para replicar em campo a fantasia.</p><p>Ensaio mental na preparação para atuação onde se repassa toda a rotina</p><p>prévia a uma prova para se fazer um checklist mental, ou então para diminuir a</p><p>ansiedade e emoções negativas treinando na mente situações adversas, e</p><p>sua superação.</p><p>Por não necessitar de equipamentos, local específico, ou recursos, a</p><p>visualização é um grande trunfo para a preparação de atletas e econômica</p><p>para dirigentes. Contudo, há que se reforçar constantemente a necessidade</p><p>da prática sistemática para que tenha efeito, como o treino físico, pois</p><p>depende do engajamento do atleta que deve estar convencido da sua eficácia.</p><p>Autofala</p><p>Conhecida como diálogo interior, monólogo interno, ou autoverbalização, é</p><p>entendida de forma geral como o que uma pessoa fala para si mesma, seja</p><p>em voz alta ou como uma voz dentro de suas cabeças. Nesta conversa interna</p><p>o atleta interpreta sentimentos, percepções, regula e altera julgamentos e</p><p>crenças. Nota-se que esta fala pode ter conteúdo positivo, negativo ou,</p><p>raramente, neutro (Theodorakis, Weinberg, Natsis, Doumas, e Kazakas,</p><p>2000). Especula-se que autoverbalizamos entre 300 e 1000 palavras por</p><p>minuto, e há certa dificuldade de conceptualização entre o que é somente</p><p>pensado e o que é realmente verbalizado. Após encontrar diversas definições</p><p>em sua revisão de literatura, Hardy (2006), definiu a autofala como:</p><p>a. Uma verbalização dirigida a si mesmo;</p><p>b. de natureza multidimensional;</p><p>c. que tem elementos de interpretação associados com o conteúdo das</p><p>instruções usadas</p><p>d. que é relativamente dinâmico;</p><p>e. que serve pelo menos para instruir ou motivar.</p><p>Os programas de Treino de Competências Psicológicas trabalham com</p><p>duas grandes classes de autofala: a Instrutiva, direcionada ao foco de</p><p>atenção, informações técnicas ou decisões táticas; e a Motivacional, dirigida à</p><p>confiança, esforço e atitude positiva; e. Estes programas buscam melhorar o</p><p>foco atencional (concentração), incrementar confiança, diminuir ansiedade de</p><p>rendimento, regular o esforço, controlar reações cognitivas e emocionais e</p><p>anteceder execuções automáticas como gestos técnicos (ex. um saque no</p><p>tênis, um arremesso no basquete). O aumento de desempenho seria</p><p>sustentado pela tomada de consciência de certa função cognitiva, ou a</p><p>substituição de sentenças negativas, pela recordação de metas, ou ao foco</p><p>em elementos reais ou imaginários.</p><p>A autofala instrutiva é muito utilizada para a aprendizagem ou melhoria de</p><p>uma técnica. Em estudo clássico Ziegler (1987) aplicou a técnica para tenistas</p><p>iniciantes. A autora usou palavras-chave como bola, pique, bate e pronto. Sua</p><p>intenção era ajudar aos jogadores a concentrar sua atenção em todos os</p><p>momentos da tarefa a partir das informações mais relevantes para execução.</p><p>Depois de ver que os jogadores tinham melhorado o seu desempenho, o autor</p><p>concluiu que a autofala pode ajudar os iniciantes na aquisição de</p><p>competências específicas que lhes ajudam a se concentrar na rotina da tarefa.</p><p>É importante que os jogadores podem experimentar altos níveis de satisfação</p><p>mesmo perdendo partidas, caso consigam resultados parciais ou melhoras no</p><p>processo de execução.</p><p>Da mesma forma, os jogadores podem experimentar níveis mais baixos de</p><p>satisfação se eles percebem que mesmo ganhando um jogo sua execução</p><p>piorou, ou não se alcançou as metas de desempenho previamente planejadas.</p><p>Por isso o estabelecimento de metas é um aliado da autofala nos programas</p><p>de treinamento de competências psicológicas. Outros estudos também</p><p>mostraram que a autofala além de ajudar a melhorar o desempenho também</p><p>serve para reduzir o número de pensamentos intrusivos, pois ao escolher o</p><p>que se vai pensar/falar o atleta não deixa esse lugar vago para pensamentos</p><p>negativos contraproducentes, mesmo que sejam sobre o foco atencional</p><p>(Latinjak, Torregrosa e Renom, 2011).</p><p>Para analisar sua autofala é necessário que o atleta possa primeiramente</p><p>ter consciência dos seus pensamentos. Por isso, alguns psicólogos do esporte</p><p>aplicados usam a técnica dos 3 Ps (Permanência, Presença e Pessoal, em</p><p>livre tradução) para ajudar seus atletas a trocarem pensamentos negativos por</p><p>positivos ou mais funcionais. Pessimistas costumam pensar que seus</p><p>problemas serão permanentes, ou terão longa duração, que são universais</p><p>(que a situação ruim se aplica a todas as situações parecidas) e que são</p><p>pessoais, culpabilizando-se por qualquer resultado adverso ou falha. Esta</p><p>técnica sugere que em resposta a esses três pensamentos se argumente</p><p>mentalmente que problemas e coisas ruins são temporários (podem acontecer</p><p>ocasionalmente), que tem causas específicas não sendo universais como uma</p><p>conspiração divina contra a pessoa, e que não são sua culpa, com</p><p>pensamentos como: Eu sou bom nisso, mas hoje não foi meu dia de sorte.</p><p>Estabelecimento de Metas</p><p>O estabelecimento de metas é um tópico geralmente apresentado na</p><p>psicologia do esporte como um subtema da motivação, entendido como uma</p><p>forma de aumentar ou manter o nível motivacional de atletas e equipes</p><p>(Fournier, Calmels, Durand-Bush, e Salmela, 2005). Ainda que pareça</p><p>extremamente fácil e intuitivo definir objetivos, há uma área de estudos que</p><p>busca auxiliar pessoas a definirem onde, ou o que, desejam. E tão importante</p><p>quanto determinar esta meta é a abordagem para persegui-la, por isso</p><p>costuma-se escutar sobre estabelecimento e seguimento de metas. Weinberg</p><p>e Gould (2001) citam que há três tipos de metas comumente traçadas por</p><p>atletas: de resultado, de desempenho e de processo:</p><p>As metas de resultado se referem a um resultado específico como alcançar</p><p>um lugar ao pódio, ganhar uma prova e ou uma competição. Entretanto, esse</p><p>tipo de objetivo não depende somente dos esforços de um atleta, ou de uma</p><p>equipe, pois não se pode dominar e controlar totalmente um adversário (ou</p><p>vários). Mesmo com um ótimo desempenho, talvez o melhor de sua vida, um</p><p>atleta pode não vencer pelo fato dos oponentes terem feito melhor ainda,</p><p>gerando a sensação de frustração.</p><p>As metas de desempenho objetivam atingir um desempenho que dependam</p><p>somente da execução, ou controle, de quem a traça. Como atingir certo tempo</p><p>para uma maratona ou melhorar o aproveitamento de saques dentro da</p><p>quadra de vôlei ou tênis.</p><p>Já as metas de processo, são normalmente focadas na execução, ou</p><p>técnica, que pode vir a geral melhores atuações, como aperfeiçoar o gesto de</p><p>um arremesso no basquete, ou a técnica de um estilo de nado em provas</p><p>aquáticas. Este último tipo de metas costuma ser aplicadas em protocolos de</p><p>TCP em conjunto com o autofala instrucional.</p><p>Ainda que seja pensada como uma técnica para alcançar grandes objetivos,</p><p>uma das principais indicações para o estabelecimento de metas é criar o</p><p>caminho para este feito a partir de metas de curto e médio prazos,</p><p>principalmente para que o atleta mantenha a motivação ao longo do percurso.</p><p>Como essa há uma série de recomendações</p><p>apresentadas por Kyllo e</p><p>Landers (1995) a partir de revisão de literatura sobre o assunto:</p><p>Específicas, metas que indiquem claramente o que fazer traz melhores</p><p>resultados que outras vagas como se esforce ao máximo. Por isso, se forem</p><p>mensuráveis, se pode quantificar o sucesso, ou o grau de avanço mesmo que</p><p>não seja atingida em sua totalidade. Que sejam orientadas a ação também</p><p>facilita que o atleta identifique as condutas desejadas para que possam ser</p><p>reforçadas. As metas devem ser realistas, e de preferência, desafiadoras, mas</p><p>não quase impossíveis. Metas difíceis costumam trazer melhores</p><p>desempenhos que faça seu melhor, metas muito fáceis ou inexistentes. E</p><p>finalmente, que tenham prazo definido com planejamento realista de tempo</p><p>em que possa ser alcançada, mas não com demasiado espaço para que</p><p>sejam postergadas. Para recordar estas pautas, estadunidenses usam a sigla</p><p>SMART (esperto em inglês, compostas por Specific, Mesurable, Action-</p><p>Oriented, Realistic e Timely – Específica, Mensurável, Orientadas a Ação,</p><p>Realistas e Oportunas) (Weinberg e Gould, 2001).</p><p>Todos esses passos não excluem os sonhos, ou grandes e longas metas</p><p>que geralmente tem jovens atletas que buscam o alto rendimento, como</p><p>participar de Jogos Olímpicos ou Copa do Mundo. Porém, é aconselhável que</p><p>a meta seja quebravél, dividida, em etapas menores, para que a grande</p><p>distância entre desejo e realidade momentânea não desmotive o praticante.</p><p>Por isso a importância de se comemorar as pequenas e escalonáveis vitórias,</p><p>como parte da realização de um grande objetivo. Como se fala popular mente</p><p>sempre feliz, nunca satisfeito por completo. Dan Pink, autor da teoria</p><p>motivacional Drive Theory (2009), coloca que uma das mais eficazes fontes de</p><p>motivação para o ser humano é apercepção de progresso, reforçando que os</p><p>registros e o consequente reconhecimento de logros pode ser uma útil</p><p>ferramenta para psicólogo e atletas.</p><p>Em um programa de TCP a visualização é uma técnica que complementa e</p><p>fortalece o estabelecimento de metas, pois ao imaginar um cenário positivo</p><p>reforça a confiança e pode auxiliar na redução de ansiedade. Bem como a</p><p>imaginação do cenário de conquista de um objetivo pode ser útil para manter a</p><p>motivação e o engajamento nos momentos rotineiros, como treinos banais,</p><p>que fazem diferença na preparação para competições. Tendo em conta duas</p><p>citações de treinadores vencedores: “Todo mundo quer vencer, essa não é a</p><p>questão. A vontade de se preparar deve ser maior que a vontade de vencer</p><p>(Bob Knight)”; e: “Ser um treinador é fazer com que as pessoas façam coisas</p><p>que não desejam para alcançar o que desejam (Tom Landry)”; referenciados</p><p>por outro campeão, Bernardinho, em seu livro “Transformando suor em ouro”,</p><p>o estabelecimento de metas é uma ferramenta importante para o tão</p><p>comentado foco nos treinos, que preparam para as partidas e competições.</p><p>Em consonância a isso, o Mindfulness como técnica vem ganhando espaço na</p><p>psicologia do esporte moderna.</p><p>Mindfulness</p><p>A técnica para Atenção Plena (tradução mais aceita) ou atenção cuidadosa,</p><p>é um tópico recente na psicologia do esporte. A mídia esportiva internacional</p><p>relata sua prática por grandes astros como o tenista Novak Djokovic conta em</p><p>seu livro “Sirva para vencer”, e o jogador de basquetebol LeBron James (com</p><p>o apoio de Bob Rotella), entre outros. O uso de elementos existentes em</p><p>algumas escolas de meditação como parte do treinamento de equipes ganhou</p><p>destaque com as múltiplas vitorias das equipes lideradas por Phil Jackson,</p><p>seis vezes campeão da NBA pelo Chicago Bulls e cinco pelo Los Angeles</p><p>Lakers (Jackson e Delehanty, 2014). As bases deste trabalho estão descritas</p><p>no livro The Mindful Athlete, de George Mumford, que trabalhava diretamente</p><p>com Phill Jackson.</p><p>Contudo, há muita confusão entre o que é mindfulness e outras técnicas,</p><p>principalmente de meditação e/ou ioga. Ainda que tenha raízes em práticas</p><p>meditativas orientais, principalmente ligadas ao Zen-budismo, o mindfulness é</p><p>uma abordagem científica sem objetivos religiosos que busca auxiliar seus</p><p>praticantes a ter foco no momento presente, ou de forma mais ampla viver o</p><p>aqui agora (Kee e Wang, 2008).</p><p>É uma prática de monitoramento da atenção e flexibilidade cognitiva que</p><p>objetiva observar o que acontece em nossa mente e entorno, com um atitude</p><p>não-julgadora, de aceitação e compaixão. Isso se dá a partir de âncoras para</p><p>autorregularmos nossa atenção para o momento presente, como perceber a</p><p>respiração ou sensações corporais, que auxiliam ao praticante a reconhecer</p><p>seu fluxo de pensamento, identificando se sua atenção está no presente,</p><p>passado ou futuro. Desta forma, acaba por aumentar a consciência de seu</p><p>estado atual lhes permitindo responder habilmente aos processos mentais que</p><p>contribuem para a diminuição de estresse, dos pensamentos ruminativos e</p><p>evitam comportamentos desadaptativos (Bishop et al., 2004). Ou seja, ainda</p><p>que o objeto não seja alterar respostas fisiológicas ou mentais, um atleta com</p><p>esse treinamento tende a perceber mais facilmente estados não funcionais</p><p>para seu desempenho, e assim utilizar outras técnicas do TCP na busca de</p><p>outros mais favoráveis.</p><p>Por vezes ao instruir ao praticante que observe sua respiração, o</p><p>mindfulness acaba sendo confundido com técnicas de relaxamento ou</p><p>meditativas. Afinal, a sua prática pode levar a um atleta fatigado a perceber</p><p>seu estado de cansaço e ter a sensação de sono. O que difere do relaxamento</p><p>que tem como objetivo realmente induzir este estado intencionalmente,</p><p>principalmente pela manipulação da respiração e sugestões de visualizações</p><p>e autoverbalizações, técnicas citadas anteriormente. O mindfulness tão pouco</p><p>sugere um estado de iluminação ou esvaziar a mente como algumas das</p><p>diversas escolas de meditativas existentes.</p><p>O mindfulness também está associado com as experiências de flow ou</p><p>estado de fluidez, tema pesquisado por Mihaly Csikszentmihalyi (livro “Flow”,</p><p>2008) que estuda sobre estados de consciência em que a pessoa está</p><p>absorvida em suas ações e está associada a grandes atuações de atletas de</p><p>elite. Bernier, Thienot, Codron e Fournier (2009) pesquisaram o mindfulness</p><p>em esportes de alto rendimento e concluiram que o estado de fluxo e o</p><p>mindfulness compartilham de algumas características como a consciência da</p><p>integração corpo e mente, a aceitação dessa percepção, a imersão no</p><p>momento presente e na tarefa realizada. Assim, concluem que a prática do</p><p>mindfullness pode facilitar o estado de fluxo e as peak performances</p><p>(melhores atuações). Georgakaki e Karakasidou (2017) recentemente</p><p>estudaram que o autofala motivacional pode auxiliar na redução da ansiedade</p><p>competitiva e aumento da autocompaixão, um dos elementos do mindfulness</p><p>ainda pouco estudado no esporte, mas que pode ser muito útil em situações</p><p>em que o rendimento está aquém do esperado, gerando grande autocrítica e</p><p>baixa autoestima.</p><p>Periodização e Treinamento Esportivo</p><p>Para Cruz e Gomes (2001) é necessário que os psicólogos possam aplicar</p><p>programas estruturados e organizados ao longo de várias sessões a respeito</p><p>das competências psicológicas úteis aos melhores níveis de rendimento.</p><p>A preparação psicológica e o treinamento de competências ocorrem no</p><p>âmbito do treinamento esportivo e o maior desafio tem sido coordenar estas</p><p>práticas. Para Casal e Brandão (2007) o ensino de habilidades mentais como</p><p>uma tarefa separada da prática esportiva implica em separar a preparação</p><p>psicológica e o treinamento esportivo, o que por sua vez reduz a efetividade e</p><p>por vezes a própria aplicabilidade dos conhecimentos e técnicas úteis ao</p><p>rendimento do atleta ou equipe. Para os autores, a relação entre os</p><p>conhecimentos psicológicos e os princípios e leis do treinamento esportivo</p><p>devem ser estreitos e aplicados de modo que as etapas da execução das</p><p>rotinas e atividades atléticas coordenem os conteúdos da preparação física,</p><p>técnica, tática e psicológica em clara interrelação. O psicólogo deve fazer um</p><p>planejamento de acordo com as atividades de treinamentos para que os</p><p>atletas desenvolvam e aperfeiçoem as habilidades</p><p>psicológicas pertinentes e</p><p>necessárias à cada etapa do treinamento.</p><p>Para adequada aplicação deste trabalho é necessário identificar quais são</p><p>as demandas psicológicas mais pertinentes à modalidade esportiva, suas</p><p>características e exigências físicas, técnicas e táticas a fim de conciliar os</p><p>métodos de trabalho e facilitar sua efetividade. Segundo Birrer et al. (2012) há</p><p>uma grande diferença entre as modalidades esportivas no que diz respeito às</p><p>demandas físicas e psicológicas e por isso a caracterização é imprescindível</p><p>para decidir que tipo de intervenção e quais as competências psicológicas irão</p><p>otimizar a performance atlética.</p><p>Para Bompa (1999), o principal objetivo do treinamento esportivo é fazer</p><p>com que o atleta ou equipe alcance a máxima performance possível num</p><p>momento determinado, o período competitivo. Para o autor a boa forma</p><p>atlética e o alto nível de desempenho ocorrerão quando o treinamento</p><p>esportivo é realizado em alto nível e o padrão psicológico é favorável, o que</p><p>por sua vez depende de adequada periodização.</p><p>A periodização corresponde à divisão do tempo total do ciclo de</p><p>treinamento esportivo em períodos menores denominados fases. É importante</p><p>atentar para a diferenciação entre a periodização como planejamento anual de</p><p>treinamento (dividido em 3 grandes períodos: preparatório, competitivo e de</p><p>transição) e a periodização das capacidades biomotoras: neste caso, a</p><p>prioridade é a adaptação fisiológica e sua relação a partir do controle de</p><p>cargas, seu volume e intensidade (Bompa,1999). Segundo Monteiro e Lopes</p><p>(2009), os modelos conhecidos em periodização do treinamento esportivo</p><p>estão organizados em dois grupos, clássicos e contemporâneos, dos quais se</p><p>depreendem instruções especificas sobre como elaborar a prescrição das</p><p>atividades atléticas nos períodos acima nomeados e suas respectivas</p><p>subdivisões, a partir de um ciclo temporal mais extenso (macrociclo) e outros</p><p>menores (mesociclo e microciclo) até as sessões de treinamento, que por sua</p><p>vez correspondem às atividades de um único período de atividade esportiva</p><p>(por exemplo uma sessão de duas horas de trabalho de preparação técnico-</p><p>tática específica).</p><p>O conceito de organização cíclica das cargas de treinamento, proposto por</p><p>Matveev, em que a relação esforço e recuperação devem ser alternados em</p><p>um ritmo específico é central na periodização do treinamento. O processo de</p><p>treinamento esportivo implica, portanto em complexa organização em que os</p><p>objetivos finais serão atingidos a partir da coordenação de diversos estímulos,</p><p>métodos e estratégias de preparação em relação aos adequados sistemas de</p><p>recuperação do organismo, que em última instância significa um adequado</p><p>gerenciamento de stress (relação demanda/estímulo-recuperação) (Monteiro e</p><p>Lopes, 2009).</p><p>Periodização do Treino de Competências Psicológicas</p><p>Balagué (2000) apresentou um modelo para o treinamento de habilidades</p><p>psicológicas de acordo com o conceito de periodização acima. Segundo a</p><p>autora é necessário esclarecer que as habilidades psicológicas correspondem</p><p>a constructos que podem ser treinados tal como as habilidades físicas,</p><p>portanto não se trata de traços ou padrões de personalidade.</p><p>Por outro lado, entendemos que de acordo com a abrangência do trabalho</p><p>a ser realizado junto aos atletas (e suas equipes e contextos) é necessário</p><p>fazer o planejamento da preparação psicológica, e não se ater somente com o</p><p>treino de competências psicológicas. Neste planejamento devem ser</p><p>considerados a organização do trabalho transdisciplinar, a análise da dinâmica</p><p>de relações, a distribuição de conteúdos educativos, o ciclo de treinamento e</p><p>competições esportivas propostos (por exemplo, as circunstâncias que</p><p>envolvem um ciclo olímpico ou as necessárias orientações aos adolescentes</p><p>em durante as categorias de formação esportiva). Enquanto o planejamento</p><p>da preparação psicológica leva em conta aspectos macro-culturais, de</p><p>organização institucional e os relacionamentos interpessoais (abarca muitas</p><p>vezes as habilidades fundamentais e facilitadoras), a periodização do</p><p>treinamento de competências é a articulação do ensino, aperfeiçoamento e</p><p>prática das ferramentas e técnicas específicas para produzir e/ou otimizar as</p><p>habilidades psicológicas de performance. Deve-se considerar ainda que além</p><p>de atuar diretamente com atletas, muitas vezes a principal atuação do</p><p>psicólogo do esporte é apoiar a liderança do treinador principal, oferecendo</p><p>feedback em relação à gestão de equipe multiprofissional e atletas,</p><p>potencializando seu repertório comportamental.</p><p>Segundo Stonecypher et al. (2015), a adequação do treino de habilidades</p><p>psicológicas em relação à periodização do treinamento esportivo foi</p><p>inicialmente proposta por Balagué (2000) e Blumenstein et al. (2005). Os</p><p>autores destacam as proposições de Holliday, et. al. (2008) como importante</p><p>referencial de discussão do assunto e Guenthner, et. al. (2010) como um</p><p>estudo de caso que afirma a efetividade da periodização.</p><p>De acordo com Holliday et al. (2008) o treino de habilidades mentais (ou</p><p>treinamento psicológico) cresceu em popularidade ao longo dos 20 anos</p><p>anteriores à publicação – entre 1988 e 2008. Dez anos depois, no Brasil,</p><p>temos cada vez mais acesso às publicações, conhecimentos e experiências</p><p>internacionais, o que tem sido facilitado pela internet e, sobretudo pelo</p><p>aumento de profissionais brasileiros participantes de encontros científicos</p><p>internacionais.</p><p>Para Holliday et. al. (2008) alguns passos são necessários para a</p><p>estruturação de um Programa de Periodização Mental (equivalente à</p><p>Periodização do Treino de Competências Psicológicas em nossa</p><p>conceituação), a saber: conhecer o macrociclo, as fases específicas do</p><p>treinamento e seus objetivos e demandas; identificar e conciliar as</p><p>competências psicológicas pertinentes às necessidades específicas de cada</p><p>fase. Para os autores a quantidade de exercícios para desenvolvimento e</p><p>aprimoramento de diversas técnicas em relação a diferentes habilidades</p><p>psicológicas define o volume do treinamento psicológico, enquanto a</p><p>especificidade, dificuldade, complexidade destes conteúdos (técnicas e</p><p>habilidades) e o próprio risco competitivo definem a intensidade do THP</p><p>(novamente, TCP em nossa proposta).</p><p>No exemplo de (Holliday et al., 2008) sugere-se que as habilidades básicas</p><p>sejam estimuladas/trabalhadas no período básico (como por exemplo, a</p><p>orientação da motivação e o treino de auto consciência); o ensino e</p><p>aperfeiçoamento das técnicas (e estratégias) psicológicas sejam realizados no</p><p>período preparatório (aplicação de auto falas, imaginação e relaxamento),</p><p>para que no período competitivo seja possível atingir o domínio das</p><p>habilidades de performance (tais como autoconfiança, controle de atenção e</p><p>refocalização) e o atleta apresente a prontidão mental necessária para o</p><p>enfrentamento e sucesso na competição esportiva (utilizando rotinas mentais</p><p>de preparação, durante a execução de técnicas ou táticas e de recuperação</p><p>entre as disputas competitivas). Exemplos bem detalhados sobre como fazer a</p><p>periodização do treino de habilidades psicológicas em modalidades individuais</p><p>e coletivas pode ser encontrado na publicação de Lidor et al. (2007a).</p><p>Embora não contenha um exemplo prático, Markunas (2003) descreveu</p><p>princípios propostos por autores cubanos (que utilizam o modelo soviético) a</p><p>respeito da periodização da preparação psicológica, partindo da</p><p>caracterização psicológica da modalidade esportiva e em seguida da</p><p>proposição que a aplicação de um plano de trabalho deve considerar o tempo</p><p>e dinâmica disponíveis em relação ao conteúdo específico a ser desenvolvido</p><p>– neste caso, descritos nas esferas psicológicas (intelectual, afetiva,</p><p>motivacional, volitiva, atitudes, aptidões, psicossocial e formação psicológica).</p><p>A organização do trabalho em períodos deve seguir a estrutura e objetivos das</p><p>fases da periodização. O uso de ferramentas para o aprimoramento de</p><p>competências psicológicas assumirá diversas funções em relação a essas</p><p>etapas, a saber: reguladora /controladora / estabilizadora/ ativadora/</p><p>programadora/ neutralizadora / avaliativa/ orientadora/ organizativa/ diretiva/</p><p>corretiva. Isto significa dizer que cada etapa do treinamento esportivo contém</p><p>uma demanda psicológica por si só e o tipo de atividade proposta no</p><p>treinamento psicológico deverá ser integrado a ponto de exercer função</p><p>específica e/ou complementar.</p><p>Utilizando a mesma base conceitual Korsakas e Marques (2005),</p><p>apresentam uma discussão sobre a preparação psicológica como componente</p><p>do treinamento esportivo no basquetebol. No artigo de Lidor et al. (2007b) é</p><p>possível encontrar a descrição de uma prática em basquetebol europeu,</p><p>integrando o treino de habilidades psicológicas, técnicas e planos em relação</p><p>às fases do treinamento esportivo. Sugerimos ainda o estudo de outra</p><p>publicação muito completa (Buceta, 1998) cujo autor também utiliza diversas</p><p>referencias de sua experiência com basquetebol entre outras. O autor</p><p>apresenta nesta publicação uma extensa descrição de aplicações para</p><p>aderência ao treinamento esportivo, aprendizagem e aperfeiçoamento de</p><p>comportamento técnico e tático, utilizando programas de intervenção</p><p>psicológica.</p><p>Para maior efetividade dos resultados esportivos é necessário que haja a</p><p>conciliação de saberes e práticas de diferentes áreas de conhecimento, o</p><p>planejamento da periodização e sua execução devem ser fundamentados em</p><p>uma metodologia de trabalho multidisciplinar integrado (Bompa, 1999 e</p><p>Monteiro e Lopes, 2009).</p><p>Trabalho multiprofissional: atuação interdisciplinar e comunicação</p><p>transdisciplinar</p><p>Para Bompa (2009), os treinadores e atletas precisam do auxílio dos</p><p>cientistas esportivos (fisiologista, nutricionista e psicólogo) durante o</p><p>treinamento a partir da combinação de todos os componentes em um conjunto</p><p>de conhecimentos coordenados, denominado periodização integrada. Em</p><p>termos práticos, o ambiente de treinamento esportivo passa a ser composto</p><p>por profissionais formados em diversas especialidades cujos objetivos devem</p><p>ser complementares na otimização da performance atlética. Contudo, sabe-se</p><p>que esta não é tarefa simples, havendo inclusive divergências sobre o papel</p><p>de cada área de conhecimento, ora descritas em equipes multiprofissionais,</p><p>ora em atuações interdisciplinares. Ao debater sobre integração de</p><p>conhecimento e realização de pesquisas em ciências do esporte Rigolin et al</p><p>(2006) afirmam:</p><p>Em alguns casos os autores empregam o termo interdisciplinar, quando na verdade a</p><p>pesquisa é multidisciplinar e em outros casos, utilizam a terminologia transdisciplinar,</p><p>quando o estudo é interdisciplinar ou multidisciplinar. O que pode diferenciara</p><p>transdisciplinaridade da interdisciplinaridade e da multidisciplinaridade é que, para as duas</p><p>últimas, o processo de relação, integração ou conexão do conhecimento parte das</p><p>disciplinas, podendo haver hierarquização entre elas em razão do status acadêmico que</p><p>cada uma possui. Na transdisciplinaridade, o ponto de partida pode ser o objeto, e não há</p><p>distinção do grau de importância de qualquer disciplina. O importante nesse processo é</p><p>entender os fenômenos a partir das relações, interações ou conexões de suas</p><p>características (p. 343).</p><p>Para Bompa (1999) a periodização das capacidades biomotoras é o</p><p>referencial para a periodização integrada, que em nosso entendimento</p><p>potencializa a perspectiva multidisciplinar. A conexão entre os conhecimentos</p><p>muitas vezes é feita a partir da troca de informações entre pares, ou seja, os</p><p>diversos profissionais relatam ao treinador principal suas atuações, porém</p><p>pouco combinam ações integradas para os atletas. Embora existam esforços</p><p>desta integração, como nos exemplos de Holliday et al. (2008) e Camiré</p><p>Trudel (2014) em que um psicólogo do esporte canadense auxilia treinadores</p><p>a implementar um programa de treinamento de habilidades psicológicas na</p><p>sua prática de treinamento, o mais comum é que a preparação esportiva</p><p>integral ocorra em uma estrutura interdisciplinar. Isso se dá essencialmente</p><p>pelas dificuldades de comunicação entre os participantes. No artigo em</p><p>questão, os autores demonstram que ao longo da temporada o interesse e a</p><p>efetiva participação dos treinadores a respeito do trabalho proposto pelos</p><p>psicólogos diminuíram, quer seja pelo modelo proposto, quer seja pela</p><p>priorização das demandas de treinamento das capacidades físicas, técnica e</p><p>táticas na preparação para as competições.</p><p>Em termos ideais um psicólogo do esporte deveria desenvolver e</p><p>administrar um programa de preparação psicológica, de modo que o caráter</p><p>colaborativo entre atleta, técnico e psicólogo pode ser evidenciado</p><p>(Stonecypher, et al., 2015), refletindo, portanto, uma atuação transdisciplinar,</p><p>aumentando a efetividade de todo o programa para o alcance da performance</p><p>atlética. Neste caso, o foco do trabalho de todos os profissionais envolvidos é</p><p>adequar o treinamento esportivo ao atleta (suas características e</p><p>necessidades; otimizando suas potencialidades e controlando/alterando suas</p><p>fraquezas) e não apenas obrigar o(s) atleta(s) a seguir um plano de</p><p>treinamento.</p><p>Entendemos que se não houver conhecimento técnico específico, profundo</p><p>e fundamentado de cada área haverá dificuldades, mas se não houver</p><p>habilidades de comunicação entre todos não há conhecimento científico</p><p>suficiente para o sucesso do trabalho. O maior desafio para os profissionais</p><p>está na compreensão do fenômeno atlético, do desempenho e performance</p><p>esportiva, seus determinantes e sobretudo as ações integradas para</p><p>potencialização dos resultados. A busca de compreensão das relações e</p><p>determinações mútuas entre as diversas valências implica que os profissionais</p><p>precisam estar abertos à comunicação genuína, ao debate dos fatos e</p><p>estratégias mais favoráveis ao desenvolvimento da performance de cada</p><p>atleta nas diversas competições-alvo em oposição a posturas individualistas</p><p>em que cada um “defende sua disciplina e atua numa disputa de</p><p>especialidades que precisam de mais dedicação, tempo ou importância na</p><p>rotina de treinamento.</p><p>Deste modo, a comunicação deve considerar a ótica de outra área de</p><p>conhecimento além da prescrição dos exercícios e tarefas a partir da</p><p>periodização de cada área. Consideremos os exemplos de integrar a prática</p><p>de auto falas e diálogo interior em situações de treinamento físico ou</p><p>visualização durante sessões de fisioterapia. Numa prática interdisciplinar o</p><p>psicólogo do esporte orienta o atleta nestes exercícios com a anuência do</p><p>preparador físico ou fisioterapeuta, mas numa prática transdisciplinar todos os</p><p>profissionais envolvidos realizam orientações simultaneamente, numa</p><p>atividade em que as instruções e feedbacks são realizados no mesmo</p><p>momento, havendo posterior troca das informações entre os profissionais. A</p><p>partir disso, analisam-se as execuções em função dos efeitos no desempenho</p><p>do atleta e não apenas identificando a eficiência de cada especialidade – ou</p><p>seja, cada um fez sua parte, o atleta fez o treinamento mental e o psicólogo</p><p>fica satisfeito, enquanto o outro profissional (preparador físico ou</p><p>fisioterapeuta) observa a execução de sua prescrição e também fica satisfeito.</p><p>O trabalho transdisciplinar implica em olhar conjuntamente o produto final</p><p>como função da integração e não a execução compartimentalizada das</p><p>disciplinas/especificidades como objeto principal; a atuação de cada área é</p><p>meio para uma finalidade específica: a potencialização da performance</p><p>competitiva. Portanto, o relacionamento interpessoal entre profissionais é parte</p><p>fundamental do processo de periodização integrada.</p><p>No relato sobre o trabalho integrado de preparação do time da China para</p><p>os Jogos Olímpicos de Inverno de 2010, os autores (Terry et al., 2014)</p><p>descrevem as altas performances alcançadas foram resultado de um esforço</p><p>de toda equipe professional, incluindo o líder, os treinadores, profissionais da</p><p>preparação física e psicologia do esporte. Neste exemplo, o destaque além da</p><p>integração profissional está na descrição de um modelo de prática</p><p>declaradamente adequado à perspectiva cultura daquele país.</p><p>Neste sentido, consideramos imprescindível utilizar o exemplo</p><p>para sugerir</p><p>a reflexão a respeito da necessidade de conhecermos os diversos modelos</p><p>conceituais, os exemplos de aplicação prática bem como os debates sobre os</p><p>resultados atingidos, os desafios encontrados e as estratégias de superação</p><p>(sobre os Programas Integrados de Treinamento Esportivo, Preparação</p><p>Psicológica ou Treinamento de Competências Psicológicas – de acordo com</p><p>as conceituações utilizadas pelos diversos autores estudados) para identificar</p><p>e delinear a adequação e as necessárias adaptações (de todos os referenciais</p><p>estudados) à cultura e circunstâncias da realidade brasileira. Isto significa</p><p>dizer que o campo de atuação e construção de conhecimentos específicos</p><p>sobre o planejamento da preparação psicológica e a periodização do treino de</p><p>competências psicológicas no Brasil tem um amplo horizonte de construção e</p><p>demandas de publicações.</p><p>Referências bibliográficas</p><p>Balagué, G. (2000). Periodization of psychological skills trainning. Journal of Science and</p><p>Medicine in Sport, 3 (3), 230-237.</p><p>Becker Jr., B. e Samulski, D., (2000). Manual de Psicologia do Esporte e Exercício. Porto</p><p>Alegre: Novaprova.</p><p>Bernier, M., Thienot, E., Codron, R., e Fournier, J.F. (2009). Mindfulness and Acceptance</p><p>Approaches in Sport Performance. Journal of Clinical Sports Psychology, 4, 320-333.</p><p>Birrer, D., e Morgan, G. (2010). Psychological skills training as a way to enhance an athlete’s</p><p>performance in high-intensity sports. Scandinavian Journal of Medicine e Science in Sports,</p><p>20 (2), 78–87.</p><p>Birrer, D., Rothlin, P., e Morgan, G. (2012). Mindfulness to Enhance Athletic Performance:</p><p>Theoretical Considerations and Possible Impact Mechanisms. Mindfulness, 3, 235-246.</p><p>https://doi.org/10.1007/s12671-012-0109-2</p><p>Bishop, S., Lau, M., Shapiro, S., Carlson, L., Anderson, N., Carmody, J., et al. (2004).</p><p>Mindfulness: A proposed operational definition. Clinical Psychology: Science and Practice,</p><p>11, 230–241.</p><p>Bompa, T. O. (1999) Periodização. Teoria e metodologia do treinamento. Phorte Editora.</p><p>Buceta, J. (1998). Psicología del Entrenamiento Deportivo. Madri: Editorial Dykinson</p><p>Camiré, M e Trudel, P. (2014). Helping youth sport coaches integrate psychological skills in</p><p>their coaching practice. Qualitative Research in Sport, Exercise and Health. 6 (4) 617-634.</p><p>http://dx.doi.org/10.1080/2159676x.2013.841281</p><p>Casal, H., Brandão, M. (2007). Modelos de prática profissional na psicologia do esporte. In:</p><p>Brandão, M. e Machado, A. (Eds.). Coleção psicologia do esporte e do exercício: teoria e</p><p>aplicação. São Paulo: Atheneu.</p><p>Cruz, J.F e Gomes, A.R. (2001). A preparação mental e psicológica dos atletas e os factores</p><p>psicológicos associados ao rendimento desportivo. Treino Desportivo. 3, 16, 37-40.</p><p>Cruz, J. e V. (1996). O treino das competências psicológicas e a preparação mental para a</p><p>competição. In: Cruz, J.F. A (ed). Manual de Psicologia do Desporte S.H.O. Ltda, Portugal.</p><p>Feltz, D., e Landers, D. (1983). The effects of mental practice on motor skill learning and</p><p>performance: A meta-analysis. Journal of Sport Psychology, 5, 25-57.</p><p>Filgueiras, A. (2016). Imagery for the Improvement of Serving in Beach Volleyball: A Single</p><p>Case Study. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, 3(6): 57-76.</p><p>Fournier, J., Calmels, C., Durand-Bush, N., e Salmela, J. (2005). Effects of a season-long PST</p><p>program on gymnastic performance and on psychological skill development. International</p><p>Journal of Sport and Exercise Psychology, 3, 59-77.</p><p>Georgakaki, S. K., e Karakasidou, E. (2017). The Effects of Motivational Self-Talk on</p><p>Competitive Anxiety and Self-Compassion: A Brief Training Program among Competitive</p><p>Swimmers. Psychology, 8 (5) 677-699. https://doi.org/10.4236/psych.2017.85044</p><p>Hardy, J. (2006). Speaking clearly: A critical review of the self-talk literature. Psychology of</p><p>Sport and Exercise, 7, 81-97. Doi:10.1016/j.psychsport.2005.04.002.</p><p>Holliday, B., Burton, D., Sun, G., Hammersmeister, J., Naylor, S. e Freigang, D. (2008) Building</p><p>the better mental training mousetrap: is periodization a more systematic approach to</p><p>promoting performance excellence? Journal of Applied Sport Psychology, 20, 199-219.</p><p>Gallwey, T. (1996). O jogo interior de tênis. São Paulo: Textonovo.</p><p>Jackson, J. e Delehanty, H. (2014). Onze Anéis. Rio de Janeiro: Rocco.</p><p>Kee, Y., e Wang, C. (2008). Relationships between mindfulness, flow dispositions and mental</p><p>skills adoption: A cluster analytic approach. Psychology of Sport and Exercise, 9, 393-411.</p><p>Kyllo, L., e Landers D., (1995) Goal-setting in sport and exercise: A research synthesis to</p><p>resolve the controversy. Journal of Sport and Exercise Psychology, 17, 117-137.</p><p>Korsakas, P. e Marques, J.A.A. (2005) In: De Rose Jr., D. e Tricoli, W. (orgs). Basquetebol:</p><p>uma visão integrada entre ciência e prática. São Paulo: Manole.</p><p>Latinjak, A., Torregrosa, M., e Renom, J. (2011). Aplicando el Auto habla con Tenistas Adultos:</p><p>La Familiarización con la Técnica. Apunts de Educació Física i Esports, 103, (1) 9-15.</p><p>Lidor, B., Blumenstein, B. and Tenenbaum, G. (2007a) Periodization of Psychological</p><p>Preparation in Individual and Team Sports. In: Blumenstein, B., Lidor, R. e Tenenbaum, G.</p><p>(Eds.) Perspectives on Sport and Exercise Psychology. Vol. 2. Psychology of Sport Training.</p><p>Oxford/UK: Meyer e Meyer Sport.</p><p>Lidor, B., Blumenstein, B. and Tenenbaum, G. (2007b) Psychological Aspects of Training in</p><p>European Basketball: Conceptualization, Periodization and Planning. The Sport</p><p>Psychologist, 21, 353-367.</p><p>Loehr, J. E. (1986). Mental toughness training for sports: Achieving athletic excellence.</p><p>Lexington, MA: Stephen Greene.</p><p>https://doi.org/10.1007/s12671-012-0109-2</p><p>http://dx.doi.org/10.1080/2159676x.2013.841281</p><p>https://doi.org/10.4236/psych.2017.85044</p><p>Mahoney, M., Gabriel, T., e Perkins, T. (1987). Psychological skills and exceptional athletic</p><p>performance. The Sport Psychologist, 1, 181-199.</p><p>Martens, R. (1987). Coaches guide to sport psychology. Champaign, IL: Human Kinetics</p><p>Books.</p><p>Martin, G.L. (2001) Consultoria em psicologia do esporte: orientações práticas em análise do</p><p>comportamento. IAC. Campinas.</p><p>Markunas, M. (2003) Periodização da Preparação e do Treinamento Psicológico. In: Rubio, K.</p><p>(Org). Psicologia do Esporte: teoria e prática. São Paulo: Casa do Psicólogo.</p><p>McCann, S. (2008). At the Olympics, Everything is a Performance Issue. International Journal</p><p>of Sport and Exercise Psychology, 6 (3), 267-276.</p><p>Monteiro, A. e Lopes, C. (2009). Periodização Esportiva: estruturação do treinamento. São</p><p>Paulo: AG Editor.</p><p>Rigolin da Silva, L.R., Bohme, M.T.S e Pessoa Jr., O.F (2006) Uma discussão sobre as formas</p><p>de integração do conhecimento: pesquisas multidisciplinares, interdisciplinares e</p><p>transdisciplinares. Anais do XI Congresso de Educação Física e Ciências do Desporte dos</p><p>Países de Língua Portuguesa. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. São Paulo,</p><p>v. 20, p.339-343. Suplemento n.5 Disponível in:</p><p>http://citrus.uspnet.usp.br/eef/uploads/arquivo/69_Anais_p339.pdf Acesso em 15/09/2017.</p><p>Rubio, K. (2000a). Psicologia do Esporte: interfaces, pesquisa e intervenção. São Paulo: Casa</p><p>do Psicólogo.</p><p>Rubio, K. (2000b). Encontros e Desencontros: descobrindo a psicologia do esporte. São</p><p>Paulo: Casa do Psicólogo.</p><p>Ryba, T. Stambulova, N e Wrisberg, C. A. (2009). Forward to the past: Puni’s model of</p><p>Volitional Preparation. Sport International Journal of Sport and Exercise Psychology, 7 (5)</p><p>275-291.</p><p>Samulski, D. (2002). Psicologia do Esporte. São Paulo: Manole.</p><p>Slimani, M., Tod, D., Chaabene, H., Miarka, B. e Chamari, K. (2016) Effects of mental imagery</p><p>on muscular strength in healthy and patient participants: a systematic review. Journal of</p><p>Sports Science and Medicine, 15 (3), 434-450.</p><p>Stonecypher, J. Leitzelar, B e Judge, L.W. (2015) Creation an instruction of a coach-</p><p>implemented mental periodization plan. The Journal of Sport: 4, (2), 12-35.</p><p>Terry, P.C., Li-Wei, Z., YoungHo, K., Morris, T., Hanrahan, S. (2014). Secrets of Asian Sport</p><p>Psychology. ASPASP: University of Southern Queensland.</p><p>Terry, P.C. e Si, G. (2015).</p><p>Introduction to the special issue on Providing sport psychology</p><p>support for Olympic athletes: International perspectives. International Journal of Sport and</p><p>Exercise Psychology, 13 (1), 1-3.</p><p>Theodorakis, Y., Weinberg, R., Natsis, P., Douma, E., e Kazakas, P. (2000). The effects of</p><p>motivational versus instructional self-talk on improving motor performance. The Sport</p><p>Psychologist, 14 (3), 253-271.</p><p>Vealey, R. (1988). Future directions in psychological skills training. The Sport Psychologist, 2,</p><p>318-336.</p><p>Vealey, R. (2007). Mental Skills training in sport. In: Handbook of Sport Psychology.</p><p>Tenenbaum, G. e Eklund, R (ed.) 3ª. Edição.</p><p>Ziegler, S. (1987). Effects of stimulus cueing on the acquisition of groundstrokes by beginning</p><p>tennis players. Journal of Applied Behavior Analysis, 20 (4), 405-411.</p><p>Weinberg, R. e Gould, D. (2001). Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. Porto</p><p>Alegre: Artmed.</p><p>Wilson. A., Buchalla, C.M., Paiva V., Latorre, M.R.D.O, Stall, R. e Hearst, N. (2002) Revista</p><p>Prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e Aids entre jogadores juniores. Revista</p><p>de Saúde Pública, 36 (4), 68-75.</p><p>http://citrus.uspnet.usp.br/eef/uploads/arquivo/69_Anais_p339.pdf</p><p>CAPÍTULO 8</p><p>Modelos de atuação multidisciplinar e interdisciplinar em</p><p>Psicologia do Esporte e do Exercício</p><p>Andréa Duarte Pesca</p><p>Roberto Moraes Cruz</p><p>A construção de um campo de conhecimento e intervenção reúne um sentido</p><p>de corpus (repertórios, conjunto de conceitos, dados e informações) e habitus</p><p>(conjunto de características, práticas e procedimentos). A moderna produção de</p><p>conhecimentos gerou procedimentos técnico-científicos cada vez mais</p><p>especializados (o que se pode conceituar de disciplinaridade), fragmentando de</p><p>ações e comprometendo o espírito da complexidade dos objetos de interesse</p><p>da ciência e das profissões (Cruz, 2016a; de Oliveira, Fiorin, Lopes, Gomes, de</p><p>Oliveira Coelho, & Morra, 2011). Os avanços no conhecimento, assim como os</p><p>desafios em curso na sociedade e nas profissões, resultado da intensificação</p><p>dos modos de conhecer, interagir, agir e avaliar, exigem processos de formação</p><p>orientados às necessidades de desenvolvimento de competências científico-</p><p>profissionais baseados na integração dos processos de investigação e</p><p>intervenção no campo das ciências do esporte e do exercício (Cruz & Schultz,</p><p>2009; Cruz, 2016).</p><p>Assim, o processo de formação do profissional em psicologia do esporte e do</p><p>exercício, de uma forma geral, deve proporcionar o desenvolvimento de um</p><p>conjunto de competências técnico-científicas, capaz de identificar demandas e</p><p>necessidades, promover processos de investigação e/ou avaliação, intervir,</p><p>avaliar os resultados produzidos e comunicar os conhecimentos obtidos,</p><p>visando promover mudanças ou melhorias naquilo que foi demandado (Figura</p><p>7). Condutas profissionais são construídas e aperfeiçoadas ao longo de um</p><p>processo de formação integral, organizado em torno de demandas da</p><p>sociedade, práticas supervisionadas, disseminação de conhecimentos técnico-</p><p>científicos, desenvolvimento de processos de ensino-aprendizagem, confronto</p><p>de interesses de grupos específicos e de diferenças culturais, assim como</p><p>processos de cooperação e colaboração entre pares nas práticas profissionais</p><p>em equipes e nas instituições nas quais há vínculos profissionais.</p><p>Figura 7. Competências científico-profissionais na formação do Psicólogo do Esporte e do</p><p>Exercício. Fonte: adaptado de Cruz (2016a).</p><p>As ciências do esporte e do exercício, por sua vez, abrangem um conjunto</p><p>de disciplinas que estudam o funcionamento do corpo humano e o</p><p>comportamento humano nas diferentes modalidades esportivas e nas práticas</p><p>de atividade física como promotoras da saúde, da qualidade de vida ou do</p><p>desempenho competitivo profissional. Tradicionalmente, vinculam-se às</p><p>ciências do esporte do exercício as subáreas ou disciplinas: fisiologia do</p><p>exercício, anatomia, biomecânica, cinesiologia, bioquímica, medicina do</p><p>esporte, psicologia do esporte e do exercício, psicometria, psicologia social,</p><p>nutrição, treinamento desportivo, dentre as principais.</p><p>A Psicologia do Esporte emergiu como uma disciplina das ciências do</p><p>esporte e do exercício no final da década de 1960 (Alderman, 1984; Feltz,</p><p>1987). O “guarda-chuva” do escopo da Psicologia do Esporte, frequentemente</p><p>definido amplamente por sua produção e comunicação acadêmicas, nem</p><p>sempre incorporou, com flexibilidade, as experiências e práticas profissionais</p><p>de um conjunto de pessoas ligadas às práticas esportivas e da mobilização de</p><p>processos educativos e sociais ligados às atividades físicas (Aoyagi, Portenga,</p><p>Poczwardowski, Cohen, & Statler, 2012), o que a levou, necessariamente a</p><p>incorporar, por definição, o termo psicologia do esporte e do exercício ao longo</p><p>das últimas décadas. Além disso, historicamente, nem sempre os profissionais</p><p>que ensinam ou pesquisam na área, trabalham ou desenvolvem ações diretas</p><p>no campo, o que provoca, muitas vezes, lacunas no desenvolvimento de</p><p>competências para o trabalho em equipes técnicas e para mudanças</p><p>gerenciais/institucionais. Felizmente, com os avanços das pesquisas e práticas</p><p>bem-sucedidas na área, o status dos profissionais envolvidos com as</p><p>demandas cada vez mais exigentes e competitivas de instituições do ramo tem</p><p>crescido, amplificando o reconhecimento social dos resultados alcançados (Tod</p><p>& Andersen, 2005).</p><p>Ao longo de sua trajetória de constituição como uma subárea do</p><p>conhecimento científico em Psicologia, houve um esforço significativo em</p><p>procurar aplicar teorias e métodos psicológicos no estudo do comportamento</p><p>esportivo e do desempenho psicomotor, com ênfase nos estudos sobre</p><p>personalidade, motivação, reforço social, controle psicomotor e mobilização</p><p>para a ação. Nesse percurso, e especialmente ao final do século XX, é possível</p><p>perceber a crítica dos pesquisadores sobre o potencial de explicação do</p><p>comportamento esportivo por meio de teorias psicológicas gerais, muitas vezes</p><p>sem o devido desenvolvimento e aperfeiçoamento de quadros teóricos válidos à</p><p>compreensão das variáveis incidentes no mundo do esporte e do exercício</p><p>(Rejeski & Brawley,1983). Ou seja, havia necessidade de desenvolver teorias</p><p>no mundo real do esporte, em vez de aplicar teorias psicológicas em contextos</p><p>artificiais e laboratoriais (Alderman, 1984; Dishman, 1983).</p><p>Desde, então, a Psicologia do Esporte e do Exercício, enquanto ciência e</p><p>profissão, cresceu e ampliou seu campo de interesses, construindo modelos</p><p>teóricos, métodos e instrumentos oriundos de dados obtidos no mundo do</p><p>esporte, definido seu escopo de pesquisa e intervenção como “o ramo que</p><p>procura fornecer respostas a perguntas sobre o comportamento humano no</p><p>esporte e no exercício” (Gill, 1986). Com o processo de especialização das</p><p>ciências e das disciplinas, a necessidade de produzir e publicar pesquisas na</p><p>perspectiva monodisciplinar (Burwitz, Moore, & Wilkinson, 1994) fez com que a</p><p>Psicologia do Esporte e do Exercício criasse “musculatura” interna na</p><p>Psicologia (em termos de fundamentos e aplicações), permitindo estabelecer</p><p>uma plataforma teórico-metodológica para o estudo de fenômenos e processos</p><p>psicológicos e, ao mesmo tempo, servir de fonte para o estudo de fenômenos</p><p>de natureza biológica e cultural, tendo em vista a complexidade dos problemas</p><p>e necessidades que envolvem o mundo do esporte e do exercício.</p><p>Diante desse espectro de construção disciplinar, a Psicologia do Esporte e</p><p>do Exercício, frente às demandas e necessidades específicas, desenvolveu um</p><p>processo racional para investigar, analisar e gerenciar aspectos do</p><p>comportamento humano nesse contexto, conforme demonstrado na Figura 8.</p><p>Figura 8. Perspectiva disciplinar em Psicologia do Esporte e do Exercício. Fonte: elaborado</p><p>pelos autores (2018).</p><p>Essa perspectiva disciplinar em Psicologia do Esporte e do Exercício</p><p>contribuiu para o aperfeiçoamento das práticas profissionais dos psicólogos em</p><p>termos de desenvolvimento de habilidades para produzir, comunicar</p><p>conhecimentos e promover ações voltadas à resolução de problemas no</p><p>âmbito</p><p>do desempenho e do rendimento, em diferentes frentes de atuação no mundo</p><p>esportivo e das práticas saudáveis de mobilização do corpo. Foram</p><p>aperfeiçoados conceitos, métodos de investigação, procedimentos para busca</p><p>de evidência de validade e confiabilidade de instrumentos de avaliação, assim</p><p>como de feedback e follow up (acompanhamento e monitoramento de</p><p>processo, uma vez desencadeados ao longo de um determinado tempo, a fim</p><p>de verificar a sua efetividade em relação à demanda e ao curso das</p><p>intervenções implementadas).</p><p>Esse fluxo de ações e operações, em torno da busca por modelos de</p><p>investigação e intervenção, enfatizou a contribuição dos psicólogos nas</p><p>ciências do esporte e do exercício, ao mesmo tempo em que ampliou a</p><p>necessidade de estabelecer canais de comunicação com disciplinas e</p><p>profissionais de outras áreas do conhecimento. O monitoramento da</p><p>intervenção, por meio de procedimentos de follow up mobilizou o trabalho nas e</p><p>das equipes técnicas, promovendo a necessidade de compartilhamento de</p><p>informações acerca do desempenho e rendimento de atletas profissionais</p><p>(elite), universitários e amadores, acentuando a participação dos psicólogos na</p><p>gestão da demanda e da intervenção nas instituições e programas esportivos.</p><p>Psicólogos do esporte e do exercício, especialmente de origem norte-</p><p>americana e britânica, contribuíram significativamente durante os anos de</p><p>desenvolvimento desse campo, definindo o seu escopo de estudos e de</p><p>intervenção num sentido mais amplo, incluindo a aprendizagem motora,</p><p>desenvolvimento psicomotor, a psicologia social do esporte e a psicologia do</p><p>exercício (Biddle, 1989; Feltz, 1987). Os estudos em Psicologia do Esporte</p><p>passaram a focar, nas últimas décadas, ao mesmo tempo, fenômenos</p><p>psicológicos de interesse no contexto esportivo, tais como estilos de</p><p>personalidade, humor, estados emocionais, coping, atenção, cognição,</p><p>ansiedade, auto eficácia, autoconfiança, motivação, carreira, dentre outros,</p><p>associados, em maior ou menor escala, a fenômenos biológicos e culturais,</p><p>convivendo com paradigmas psicológicos, psicobiológicos e sociopsicológicos</p><p>(Dishman, 1983; Feltz, 1982), assim como abordagens quantitativas e</p><p>qualitativas (Mohan, 2015; Smith & McGannon, 2018) e, mais recentemente,</p><p>pesquisas com abordagens mistas (Sparkes, 2015).</p><p>Essa tradição de convivência de diferentes paradigmas, modelos teóricos e</p><p>estudo de fenômenos associados, influenciado pelo avanço do processo de</p><p>globalização e de desenvolvimento tecnológico, incentivou o que já estava no</p><p>DNA da Psicologia do Esporte: o desenvolvimento de um campo científico e de</p><p>práticas profissionais multidisciplinares e interdisciplinares. Mas o que significa</p><p>isso?</p><p>Perspectiva multidisciplinar em Psicologia do Esporte e do Exercício</p><p>Historicamente, a aplicação de conhecimentos científicos oriundos,</p><p>especialmente da biomecânica, fisiologia e psicologia no campo do esporte e</p><p>no exercício, gerou consequências importantes para o desenvolvimento e</p><p>aperfeiçoamento do desempenho esportivo e competitivo, assim como teve, e</p><p>continua tendo, um papel central na elaboração e avaliação de programas</p><p>físicos e desportivos voltados à melhoraria da saúde da população em geral</p><p>(Reilly, 2001). Embora esses conhecimentos, de forma majoritária, ainda sejam</p><p>aplicados de maneira diferente, em cada disciplina que pertence ao campo do</p><p>esporte e exercício, têm sido ampliadas as contribuições multiprofissionais.</p><p>Ao longo das últimas décadas, pesquisadores da ciência do esporte, de uma</p><p>variedade de disciplinas (por exemplo, psicologia do esporte, sociologia do</p><p>esporte, marketing esportivo) estenderam suas investigações em em torno de</p><p>temas transversais ao mundo do esporte, tais como a compreensão das ações</p><p>e atitudes dos fãs do esporte, do fenômeno da violência nas mobilizações</p><p>esportivas, dos papéis sociais e itinerários de carreira de atletas, da</p><p>participação de esportistas no mercado da promoção da imagem pessoal e</p><p>institucional.</p><p>O termo multidisciplinar significa, genericamente, reunir várias disciplinas em</p><p>busca da compreensão de um objeto de interesse em comum ou para cumprir</p><p>um objetivo final. Etimologicamente, multi é um termo de origem latina (multus),</p><p>que significa múltiplo, ou seja, aquilo que abrange muitos fatores e, disciplina,</p><p>que se refere a um determinado campo do conhecimento que se utiliza para</p><p>fins de estudo e intervenção específicas (Wehrden et al., 2017).</p><p>A perspectiva multidisciplinar compreende que os desafios e avanços</p><p>teórico-metodológicos experimentados no âmbito da Psicologia do Esporte e do</p><p>Exercício, especialmente neste século XXI, refletem a intensificação de</p><p>pesquisas e intervenções compartilhadas em diferentes níveis por parte dos</p><p>profissionais vinculadas ao campo, com contribuições relevantes ao</p><p>desenvolvimento da ciência e das práticas profissionais no campo do esporte e</p><p>do exercício.</p><p>A Figura 9, procura demonstrar que pesquisas e práticas disciplinares e</p><p>profissionais, com suas fronteiras de conhecimentos e competências</p><p>específicas podem estabelecer “pontes” ou ligações entre disciplinas, em</p><p>função da necessidade de compreender, intervir e buscar soluções com algum</p><p>grau de compartilhamento, tendo em vista objetos de interesse em comum,</p><p>independente das suas perspectivas disciplinares.</p><p>Em termos de população alvo, a Psicologia do Esporte e do Exercício abarca</p><p>atletas ou praticantes de exercícios, assim como uma gama de profissionais</p><p>que atuam no desempenho esportivo, técnico e na qualidade de vida, tais</p><p>como: psicólogo, educadores físicos, nutricionistas, fisioterapeutas, médicos,</p><p>assitentes sociais, analistas de desempenho, técnicos, além dos gestores de</p><p>instituições desportivas ou academias, arbitragem, instâncias fiscalizadoras,</p><p>jornalistas e agências de comunicação, mídia especializada e espectadores</p><p>(Van Raalte, Vincent, & Brewer, 2016; Tod, D. 2007). É importante considerar</p><p>que o contexto esportivo é um arranjo complexo de necessidades, exigências e</p><p>desafios individuais e coletivos, que incluem não somente os principais</p><p>protagonistas do esporte.</p><p>O crescente número de pesquisadores e profissionais formados nos</p><p>programas de pós-graduação stricto sensu em diferentes áreas do</p><p>conhecimento (psicologia, educação, física, fisioterapia, medicina), assim como</p><p>nos cursos de especialização lato sensu em ciências do esporte e do exercício,</p><p>têm acentuado o caráter multiprofissional da qualificação de recursos humanos</p><p>neste âmbito. A criação de entidades profissionais especializadas em psicologia</p><p>do esporte e do exercício no Brasil, assim como a intensificação de eventos</p><p>técnico-científicos nesse âmbito, tem se construído em importantes fóruns</p><p>técnico-científicos para comunicação de pesquisa e práticas profissionais,</p><p>amplificando redes de trocas e interações entre membros de equipes técnicas,</p><p>pesquisadores, gestores e estudantes interessados no aperfeiçoamento de sua</p><p>formação. Na prática, a participação de diferentes profissionais na análise e</p><p>intervenção no comportamento de atletas e praticantes de exercício, com suas</p><p>diferentes contribuições no processo de gerenciamento de procedimentos e</p><p>programas de melhorias de resultados individuais, coletivos e institucionais, no</p><p>contexto do esporte e no exercício, têm acentuado a perspectiva multidisciplinar</p><p>nesse campo.</p><p>Figura 9. Perspectiva multidisciplinar em Psicologia do Esporte e do Exercício. Fonte: elaborado</p><p>pelos autores (2018).</p><p>Perspectiva interdisciplinar em Psicologia do Esporte e do Exercício</p><p>Do ponto de vista interdisciplinar, a psicologia do esporte e do exercício, em</p><p>função de sua inserção cultural, no mundo dos valores e práticas sociais</p><p>voltadas ao comportamento saudável, funcional e estético, também têm sido</p><p>objeto de reflexão interdisciplinar por meio de discursos não tradicionais e</p><p>baseados em reflexões sobre diferenças socioculturais, gênero e</p><p>comportamento alimentar (Ryba, 2005), assim como acerca de políticas</p><p>públicas voltadas à promoção da cidadania e direitos, o que necessariamente,</p><p>refletem perspectivas multidisciplinar</p><p>e interdisciscipinar de interpretação e</p><p>intervenção social neste âmbito.</p><p>Interdisciplinar é um adjetivo que qualifica o que é comum a duas ou mais</p><p>disciplinas ou outros ramos do conhecimento ou, ainda, o processo de ligação</p><p>entre as disciplinas. Etimologicamente, a palavra interdisciplinar é formada pela</p><p>união do prefixo “inter”, que exprime a ideia de “dentro”, “entre”, “em meio”, com</p><p>o termo “disciplinar”, que exprime o sentido pedagógico de instruir nas regras e</p><p>preceitos de alguma arte (Bromham, Dinnage, & Hua, 2016). Para Piaget</p><p>(1973), assim como para Gattás e Furegato (2006), a interdisciplinaridade é o</p><p>grau mais elevado de interação entre disciplinas, em que é possível vislumbrar</p><p>o compartilhamento uma mesma plataforma de trabalho, atuando sobre</p><p>conceitos em comum e esforçando-se para que ocorram as mais eficientes</p><p>trocas profissionais, o que permite considerar o sentido de equipe ou time.</p><p>A interdisciplinaridade surge como uma possibilidade de resposta à</p><p>necessidade de um diálogo epistemológico entre as diferentes disciplinas que</p><p>compõe o campo do esporte e do exercício, tendo em vista o processo de</p><p>fragmentação dos conhecimentos em disciplinas cada vez mais especializadas</p><p>do ponto de vista teórico e aplicado que ocorre nos diferentes campos do</p><p>conhecimento científico. Promover a interdisciplinaridade é, portanto, buscar</p><p>integrar conceitos, recursos metodológicos e análises teóricas para produzir</p><p>novos conhecimentos que possam compartilhados entre as várias disciplinas e,</p><p>ao mesmo tempo, elaborar soluções técnicas para os problemas e desafios</p><p>enfrentados pelos profissionais no seu cotidiano de trabalho.</p><p>A Figura 10, procura demonstrar de que maneira pesquisas e práticas</p><p>disciplinares e profissionais, com fronteiras de conhecimentos menos rígidas</p><p>induzir estudos e intervenções com alto grau de compartilhamento, em torno de</p><p>objetos de interesse em comum.</p><p>Uma abordagem interdisciplinar no âmbito do esporte e do exercício, nesse</p><p>sentido, pressupõe o compartilhamento de ideias e conhecimentos entre</p><p>pesquisadores e uma atuação em conjunto e integrada entre profissionais da</p><p>área, tais como psicólogos, psicoterapeutas, médicos, nutricionistas. A</p><p>pesquisa interdisciplinar deve envolver, necessariamente, uma forte integração</p><p>de informações entre as disciplinas da ciência do esporte e do exercício, seja</p><p>no plano da investigação, da intervenção ou da gestão (Burwitz et al., 1994).</p><p>Hardy e Jones (1994) definem uma abordagem interdisciplinar à medida que</p><p>mais de uma área do esporte e da ciência do exercício trabalham em conjunto</p><p>de forma integrada e coordenada para resolver um problema. Na prática, a</p><p>interdisciplinaridade é um esforço de superar a fragmentação do conhecimento,</p><p>tornar este relacionado com a realidade, com os problemas e necessidades das</p><p>pessoas. Na ciência e no exercício profissional, os esforços se dirigem para a</p><p>busca de respostas, muitas vezes um empreendimento difícil, quando as fontes</p><p>do conhecimento são oriundas de conhecimentos fragmentados de uma única</p><p>área especializada.</p><p>Figura 10. Perspectiva interdisciplinar em Psicologia do Esporte e do Exercício. Fonte:</p><p>elaborado pelos autores (2018).</p><p>Assim, pesquisas e práticas profissionais multidisciplinares envolvem menos</p><p>integração das disciplinas do campo do esporte e do exercício, ou seja, cada</p><p>disciplina tende a trabalhar em paralelo em um tópico comum (Burwitz et al.,</p><p>1994). Assim como pesquisas e práticas profissionais interdisciplinares,</p><p>envolvem mais de um esporte trabalhando juntos, mas a diferença é que eles</p><p>trabalham juntos de forma isolada, unitária e coordenada (Miles et al 1997). De</p><p>fato, a principal diferença entre interdisciplinaridade e multidisciplinaridade está</p><p>na linearidade de ambas. Enquanto que o interdisciplinar visa o agrupamento</p><p>de diversos ramos do conhecimento, seguindo um objetivo em comum, como</p><p>um assunto ou tema específico, por exemplo, o método multidisciplinar não visa</p><p>a linearidade dos assuntos. O multidisciplinar pode ser um conjunto de</p><p>disciplinar de são estudadas de maneira simultânea, mas sem a necessidade</p><p>de estarem relacionadas entre si.</p><p>Em uma abordagem multidisciplinar, cada disciplina procurará problemas</p><p>para uma solução dentro dessa disciplina, por exemplo, um fisiologista verá</p><p>como o corpo responde ao exercício ou um psicólogo observará a capacidade</p><p>de concentração de um atleta frente ao esforço (Burwitz et al., 1994). Cada</p><p>profissional, com sua respectiva formação e competências procura, então,</p><p>reunir suas descobertas e proposição de soluções. De outra maneira, do ponto</p><p>de vista clínico, especialistas das áreas da fisioterapia, psicologia,</p><p>fonoaudiologia, medicina e nutrição, podem estar trabalhando em conjunto para</p><p>recuperação de atletas e na prevenção de lesões ao longo de sua carreira.</p><p>Alternativamente, em uma abordagem interdisciplinar, o fisiologista pode</p><p>trabalhar em conjunto com um especialista em biomecânica e um psicólogo</p><p>para verificarem se a taxa de fadiga muda com o uso de uma técnica muscular</p><p>diferente ou com o aperfeiçoamento de um repertório de flexibilidade cognitiva.</p><p>Desse modo, deficiências na integração de recurso técnicos-científicos e</p><p>competências profissionais tendem a comprometer a busca das melhores e</p><p>mais integradas formas de compreensão e resolução de problemas. Ou seja,</p><p>aumentar o intercâmbio mútuo e integração de conhecimentos de forma</p><p>racional e coordenada.</p><p>Independentemente das diferenças de perspectivas e práticas de trabalho, é</p><p>relevante destacar que multidisciplinaridade e interdisciplinaridade são desafios</p><p>atuais aos profissionais que atuam nesse contexto. Abordagens</p><p>multidisciplinares, ainda que preservam as particularidades e fronteiras das</p><p>disciplinas e profissões, devem combinar direções e propósitos para promover</p><p>análise e intervenções mais robustas, tendo em vista a complexidade das</p><p>demandas e busca de soluções de problemas enfrentados pelos profissionais e</p><p>equipes de gestão (Burwitz et al 1994).</p><p>As abordagens interdisciplinares, por sua vez, e de forma enfática,</p><p>incentivam trocas e compartilhamentos técnico-científicos em torno da</p><p>compreensão e busca de solução para problemas comuns, e isso exige</p><p>desprendimento e comprometimento com a desfragmentação das análises e</p><p>propostas de mudanças. Por exemplo, no caso de um processo de reabilitação</p><p>de atletas com histórico de lesões é necessário um grupo de profissionais que</p><p>planejam e atuem para a melhoria das condições físicas e técnicas do atleta, o</p><p>que requer troca de informações, muitas vezes oriundas de fontes diferentes</p><p>(clínicas, familiares, institucionais), visando o melhor processo de reabilitação e</p><p>retorno às práticas desportivas (Nair Sivaraman & Wade, 2003).</p><p>A adoção dessas abordagens nas práticas profissionais poderá acentuar</p><p>conflitos e manutenção de posições disciplinares, tendo em vista que a</p><p>formação básica dos profissionais do esporte e do exercício ainda carecem do</p><p>compartilhamento nos processos de pesquisa e intervenção. Desenvolver</p><p>competências profissionais para superar fragmentações entre as áreas técnico-</p><p>científicas parece ser uma necessidade e um desafio para currículos, práticas</p><p>de estágio e de pesquisa nas instituições formadoras.</p><p>Conclusão</p><p>O campo do esporte e do exercício é, por essência, um campo</p><p>multidisciplinar e interdisciplinar, e as diferentes fontes de conhecimento e</p><p>práticas profissionais enriquecem trocas e colaborações que contribuem para a</p><p>compreensão e a intervenção no âmbito do comportamento humano e do</p><p>rendimento esportivo. É importante considerar que as diferentes disciplinas e</p><p>profissões que integram as ciências do esporte e do exercício exercem</p><p>contribuições especificas, em razão das demandas e procedimentos inerentes</p><p>às suas respectivas especialidades e competências profissionais.</p><p>Os desafios atuais à Psicologia do Esporte e do Exercício incluem,</p><p>especialmente, a necessidade de integrar diferentes perspectivas de análise e</p><p>intervenções, dado que tendências monodisciplinares, nesse campo,</p><p>geralmente reduzem a chance de compreensão</p><p>da complexidade dos</p><p>problemas e da busca de soluções envolvidos no campo do esporte e do</p><p>exercício. Multidisciplinaridade e interdisciplinaridade em Psicologia do Esporte</p><p>e do Exercício, portanto, são condições geradoras de estudos e intervenção</p><p>que levam em conta a complexidade das demandas e eventos produzidos</p><p>neste âmbito.</p><p>Referências bibliográficas</p><p>Alderman, R.B. (1984). The future of sport psychology. In: J.M. Silva & R.S. Weinberg (Eds.).</p><p>Psychological foundations of sport (pp. 45-54). Champaign, IL: Human Kinetics.</p><p>Aoyagi, M.W., Portenga, S.T., Poczwardowski, A., Cohen, A.B., & Statler, T. (2012). Reflections</p><p>and directions: The profession of sport psychology past, present, and future. Professional</p><p>Psychology, Research and Practice, 43, 32-38.</p><p>Biddle, S. (1989). Applied sport psychology: A view from Britain. Journal of Applied Sport</p><p>Psychology, 1(1), 23-34.</p><p>Bromham, L., Dinnage, R., & Hua, X. (2016). Interdisciplinary research has consistently lower</p><p>funding success. Nature, 534(7609), 684.</p><p>Burwitz, L., Moore, P. M., & Wilkinson, D. M. (1994). Future directions for performance‐related</p><p>sports science research: An interdisciplinary approach. Journal of sports sciences, 12(1), 93-</p><p>109.</p><p>Cruz, R. M. (2016). Formação científica e profissional em psicologia. Psicologia: ciência e</p><p>Profissão, 36(1), 3-5.</p><p>Cruz, R. M. (2016a). Competências científicas e profissionais e exercício profissional do</p><p>psicólogo. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(2), 251-254.</p><p>Cruz, R. M., & Schultz, V. (2009). Avaliação de competências profissionais e formação de</p><p>psicólogos. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 61(3), p. 117-127.</p><p>de Oliveira, E. R. A., Fiorin, B. H., Lopes, L. J., Gomes, M. J., de Oliveira Coelho, S., & Morra, J.</p><p>S. (2011). Interdisciplinaridade, trabalho em equipe e multiprofissionalismo: concepções dos</p><p>acadêmicos de enfermagem. Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde/Brazilian Journal of</p><p>Health Research, 13(4): 28-34</p><p>Dishman, R.K. (1983). Identity crisis in North American sport psychology: Academics in</p><p>professional issues. Journal of Sport Psychology, 5, 123-134.</p><p>Feltz, D. L. (1987). Advancing knowledge in sport psychology: strategies for expanding our</p><p>conceptual frameworks. Quest, 39(3), 243-254.</p><p>Feltz, D. L. (1982). Path analysis of the causal elements in Bandura’s theory of self- efficacy and</p><p>an anxiety-based model of avoidance behavior. Journal of Personality and Social Psychology,</p><p>42(4), 764-781.</p><p>Gattás M.L.B, Furegato A.R.F. (2006). Interdisciplinaridade: uma contextualização. Acta Paul</p><p>Enferm. 19 (3), 323-27.</p><p>Gill, D. L. (1986). Psychological dynamics of sport. Champaign: Human Kinetics.</p><p>Hardy, L. & Jones, G. (1994). Current issues and future directions for performance-related</p><p>research in sport psychology. Journal of Sports Sciences, 12(1), 61-92.</p><p>Mohan, J. (2015). Sport Psychology: the Ultimate Spring Board of Excellence. Journal of the</p><p>Indian Academy of Applied Psychology, 41(3), 50-65.</p><p>Nair Sivaraman, K. P. & Wade, D. T (2003) Satisfaction of members of interdisciplinary</p><p>rehabilitation teams with goal planning meetings. Arch Phys Med Rehabil., 84, 1710-3.</p><p>Piaget J. (1973). Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olímpio.</p><p>Reilly, T. (2001). Research in sport and exercise science: the cutting edge. Journal of sports</p><p>sciences, 19(3), 161.</p><p>Rejeski, W.J., & Brawley, L.R. (1983). Attribution theory in sport: Current status and new</p><p>perspectives. Journal of Sport Psychology, 5, 77-99.</p><p>Ryba, T. V. (2005). Sport psychology as cultural praxis: Future trajectories and current</p><p>possibilities. Athletic insight, 7(3), 14-22.</p><p>Smith, B., & McGannon, K. R. (2018). Developing rigor in qualitative research: Problems and</p><p>opportunities within sport and exercise psychology. International review of sport and exercise</p><p>psychology, 11(1), 101-121.</p><p>Sparkes, A. C. (2015). Developing mixed methods research in sport and exercise psychology:</p><p>Critical reflections on five points of controversy. Psychology of Sport and Exercise, 16, 49-59.</p><p>Tod, D. (2007). The long and winding road: Professional development in sport psychology. The</p><p>Sport Psychologist, 21(1), 94–108</p><p>Van Raalte, J. L., Vincent, A., & Brewer, B. W. (2016). Self-talk: Review and sport-specific</p><p>model. Psychology of Sport and Exercise, 22, 139-148.</p><p>Wehrden, H. V., Guimarães, M. H., Bina, O., Varanda, M., Lang, D. J., John, B., ... & White, A.</p><p>(2017). Interdisciplinary and transdisciplinary research: Finding the common ground of multi-</p><p>faceted concepts. 3rd INTREPID Report.</p><p>CAPÍTULO 9</p><p>Modelos de atuação com base tecnológica em Psicologia do</p><p>Esporte</p><p>Erick Conde</p><p>Juliana Rodrigues</p><p>O termo tecnologia tem assumido diferentes conotações e formas de</p><p>interpretação ao longo da história. Atualmente, existe um certo consenso de</p><p>que o referido termo se caracteriza pelo ato de estudo da técnica (Veraszto et</p><p>al., 2017), uma vez que o significado original surge com a junção dos</p><p>componentes techn e logos (técnica e razão, em grego). Alguns pesquisadores</p><p>afirmam que seria possível estabelecer uma relação de causalidade entre a</p><p>capacidade do progresso da humanidade como reflexo do desenvolvimento</p><p>tecnológico (Lowe, 1995). A transferência desse conhecimento pode estar</p><p>incorporada em equipamentos, produtos ou sistemas manufaturados, os quais</p><p>também acabam recebendo a alcunha de tecnologia. Logo, a tecnologia pode,</p><p>portanto, se constituir na utilização científica de instrumentos, equipamentos,</p><p>sistemas, máquinas e protocolos. Contudo, tal utilização vai sempre depender</p><p>de um componente técnico, que se caracteriza nos procedimentos humanos</p><p>adotados na atividade fim. Nesta relação, a tecnologia deve servir ao</p><p>aprimoramento ou facilitação da técnica e esta, influenciará substancialmente</p><p>todo o processo e os resultados a serem obtidos.</p><p>O uso de tecnologias no contexto do esporte e do exercício tem se</p><p>caracterizado como uma prática cada vez mais usual em uma diversidade de</p><p>aplicações (Liebermann et al., 2002; Loland, 2002; Varriale e Tafuri, 2015;</p><p>Varriale e Tafuri, 2016). Tal apropriação tecnológica tem repercutido na</p><p>qualidade e nos recursos oferecidos por equipamentos e materiais utilizados</p><p>por atletas e praticantes de exercícios físicos durante suas práticas, treinos e</p><p>competições, bem como nas soluções empregadas por treinadores,</p><p>preparadores físicos, fisiologistas e demais profissionais da equipe técnica na</p><p>assistência multidisciplinar oferecida aos atletas e desportistas (Loland, 2002;</p><p>Burkett, 2010; Varriale e Tafuri, 2015). No campo dos esportes, tais inovações</p><p>têm sido atribuídas à interdisciplinaridade estabelecida em articulação entre</p><p>áreas como engenharia, biomedicina, psicologia, neurociências, fisiologia e</p><p>ciências da computação, entre outras (Loland, 2002; Varriale e Tafuri, 2015).</p><p>Diante dessa inserção cada vez mais comum, o presente capítulo tem a</p><p>pretensão de apresentar e problematizar a utilização de abordagens com base</p><p>tecnológica no contexto da Psicologia do Esporte e do Exercício (PEE),</p><p>considerando principalmente as aplicações para fins de avaliação, intervenção</p><p>e treinamento mental.</p><p>Soluções tecnológicas para avaliação cognitiva</p><p>As funções cognitivas são processos que viabilizam a produção de</p><p>conhecimento e também a interação humana com estímulos do meio ambiente,</p><p>dentre os quais se destacam os processos decisórios, a representação</p><p>simbólica, capacidades atencionais, metacognição, planejamento, controle</p><p>inibitório, memória e resolução de problemas, entre outros (Faw, 2003;</p><p>Goldberg & Elkhonon, 2002). Aliadas ao processamento sensorial, tais</p><p>capacidades são essenciais para a interação das pessoas entre si e destas</p><p>com estímulos disponíveis no meio ambiente (Faw, 2003; Scott, 2004; Wolpert</p><p>& Ghahramani, 2000).</p><p>Empiricamente, vemos que todas essas capacidades são fundamentais para</p><p>a prática esportiva. Ainda assim, muitas evidências científicas demonstraram</p><p>que o esporte exige muito de tais capacidades, as quais são capazes de</p><p>influenciar até mesmo o desempenho técnico e tático (Houlston e Lowes, 1993;</p><p>Ripoll, 1991).</p><p>Embora a psicologia do esporte já tenha se apropriado de</p><p>instrumentos para avaliar tais funções cognitivas, como testes psicológicos,</p><p>escalas e inventários, muitas críticas têm sido feitas a essas medidas por conta</p><p>de possíveis limites introspectivos, possibilidades de mentiras e outras</p><p>fragilidades usualmente atribuídas às medidas explícitas, mas, principalmente,</p><p>pela dificuldade e tempo despendido para correção e análise.</p><p>Na revisão de Yarrow, Brow e Krakauer (2009), os pesquisadores sugerem</p><p>que técnicas e tecnologias desenvolvidas no âmbito das neurociências tem</p><p>contribuído muito para ampliar o conhecimento sobre como os processos</p><p>cognitivos são afetados e influenciam o desempenho esportivo. O artigo fala</p><p>sobre possibilidades de medidas de funções importantes para a interação</p><p>humana com estímulos disponíveis no contexto esportivo, dentre as quais</p><p>destacam-se as capacidades de estimativa do ambiente externo, processos de</p><p>tomada de decisão, habilidades de resolução de problemas, atenção espacial,</p><p>modelos de representação interna, entre outros. Dentre os métodos abordados</p><p>no referido estudo, é possível se deparar com referências à medida do tempo</p><p>de reação, procedimentos de neuroimagem, modelagem computacional e</p><p>eletrofisiologia.</p><p>A avaliação cognitiva no contexto do esporte e do exercício pode atender a</p><p>objetivos muito diversos, como para avaliar o efeito da prática de exercícios</p><p>físicos nas capacidades executivas, para acompanhar o desenvolvimento</p><p>cognitivo de atletas em formação, como estratégia para avaliação do</p><p>desempenho de atletas (Conde et al., 2009; Webbe, 2010) ou para responder</p><p>perguntas experimentais pertinentes a esse contexto (Carreiro, Ferreira e</p><p>Machado-Pinheiro, 2009). Nesse âmbito, especificamente falando das medidas</p><p>informatizadas do desempenho cognitivo, temos as técnicas de medida do</p><p>Tempo de Reação Manual (TRM) que tem servido ao estudo de funções</p><p>motoras, psicofísicas, neuropsicológicas e cognitivas. A medida do TRM se</p><p>estabelece com a mensuração do intervalo de tempo despendido entre o</p><p>surgimento de um estímulo sensorial e a execução de uma resposta motora</p><p>(Gawryszewski et al., 2006) e permite avaliar tanto aspectos funcionais básicos</p><p>quanto processos cognitivos mais complexos, como a velocidade do raciocínio,</p><p>habilidades na tomada de decisão, capacidades de memória, entre outras</p><p>funções diversas, através de diferentes protocolos disponíveis (Conde,</p><p>Filgueiras & Lameira, 2009; Carreiro et al., 2009; Collie et al. 2001; Eckner</p><p>Kutcher e Richardson, 2010; Filgueiras, 2010).</p><p>É importante destacar que tais modelos avaliativos se diferenciam das</p><p>medidas de auto-relato por permitirem inferências acerca da capacidade de</p><p>integração sensorial com processos cognitivos e com a programação de</p><p>movimentos, aspectos fundamentais ao alto rendimento esportivo (Ripoll, 1991;</p><p>Eckner et al., 2010, Sanders e Sanders, 2013). Para ilustrar a diversidade de</p><p>aplicações com os testes de TRM, podemos citar o trabalho de Carreiro e</p><p>colaboradores (2009), que se propuseram a avaliar a especialização de</p><p>circuitos atencionais em jogadores de Voleibol. Os autores avaliaram</p><p>capacidades de orientação automática e voluntária da atenção e verificaram</p><p>que jogadores de vôlei são mais rápidos em orientar a atenção de forma</p><p>voluntária quando comparados as pessoas que não praticam esportes. No</p><p>entanto, no teste no teste de orientação atencional automática, não foram</p><p>verificadas diferenças significativas entre os dois grupos. Em conclusão, o</p><p>protocolo de TRM permitiu aos pesquisadores a compreensão acerca da</p><p>existência de uma especialização dos circuitos da atenção espacial em atletas</p><p>de vôlei. Tal achado demonstra que o protocolo para avaliar capacidades de</p><p>orientação atencional voluntária se mostra sensível às alterações cognitivas</p><p>desencadeadas pela prática esportiva, o que agrega potencial ao referido</p><p>protocolo para acompanhar o desenvolvimento cognitivo de atletas em</p><p>formação.</p><p>Outras aplicações dessas medidas com TRM se estabelecem na avaliação</p><p>do efeito da prática de exercícios físicos nas capacidades executivas, em</p><p>quadros clínicos ou em outras condições nas quais tais funções são afetadas</p><p>ou diminuídas, como no caso das pessoas em idade avançada (Collie et al.,</p><p>2001; Coppin et al., 2006; Hausdorff, Yogev, Springer, Simon & Giladi, 2005;</p><p>Taddei et al. 2012), uma vez que já foi comprovado que o esporte e o exercício</p><p>físico são capazes de estimular e desenvolver tais funções. Nesse âmbito</p><p>também se torna importante destacar os protocolos mais utilizados para além</p><p>dos que foram mencionados. Logo, convém destacar o Cogstate (Mielke et al.,</p><p>2014), que se caracteriza como uma bateria de teses cognitivos que permitem o</p><p>monitoramento de funções como a memória, atenção, atenção concentrada,</p><p>tomada de decisão e velocidade de raciocínio. Uma das suas utilidades é</p><p>determinar se um treinamento, estimulação, concussão, tratamento ou</p><p>intervenção apresenta efeitos positivos ou negativos sobre o desempenho</p><p>cognitivo. Adicionalmente, a empresa desenvolvedora tem como proposta uma</p><p>bateria específica para avaliação no contexto do esporte e do exercício,</p><p>conhecida como CogSport (Collie et al., 2001; Eckner, Kutcher e Richardson,</p><p>2010).</p><p>Schatz e Zillmer (2003) compararam caraterísticas do CogSport com outros</p><p>testes cognitivos computadorizados amplamente utilizados no âmbito das</p><p>ciências dos esportes, dentre os quais destacam-se o ImPACT (Immediate Post</p><p>Concussion Assessment Cognitive Testing) e o CRI (Concussion Resolution</p><p>Index). Segundo os autores, o CogSport avalia funções como percepção e</p><p>integração sensório-motora através de protocolos que envolvem a medida do</p><p>tempo de reação simples; processos decisórios através de testes de tempo de</p><p>reação de escolha; atenção sustentada; memória de curta duração (com</p><p>adaptação do protocolo one back), aprendizagem associativa e incidental. O</p><p>ImPACT parece oferecer uma avaliação mais ampla dos processos cognitivos,</p><p>ao viabilizar não apenas a avaliação da percepção, da integração sensório-</p><p>motora (também através do Tempo de reação simples) e de processos</p><p>decisórios (Tempo de reação de escolha), mas de processos atencionais</p><p>(através de protocolo conhecido como Cued RT), reconhecimento visual,</p><p>processamento simbólico e capacidade de decodificação. Enquanto o CRI</p><p>possui tarefas que exigem discriminação de palavras, memória de trabalho</p><p>visual, avaliação da amplitude visuo-atencional, processamento simbólico e de</p><p>processos decisórios (Schatz e Zillmer, 2003).</p><p>Schatz e Zillmer (2003) ainda enfatizam a relevância de que medidas</p><p>computacionais sejam utilizadas primordialmente no acompanhamento das</p><p>alterações cognitivas em atletas de modalidades de contato (como futebol,</p><p>lutas, rugby entre outras), em função destes estarem comprovadamente mais</p><p>suscetíveis a concussões e alterações cognitivas decorrentes de impactos na</p><p>cabeça. Nesse caso, as medidas computacionais seriam mais indicadas, dado</p><p>que as alterações verificadas nas medidas informatizadas se correlacionaram</p><p>com alterações nos padrões de conectividade neuronal em estudos com</p><p>neuroimagem (Zhu et al., 2014).</p><p>Conde e colaboradores (2014) demonstraram que um outro protocolo</p><p>específico de TRM, conhecido como teste de Simon, pode servir para avaliação</p><p>cognitiva periódica durante o acompanhamento psicológico de atletas de alto</p><p>rendimento, independente de concussões, uma vez que as habilidades</p><p>cognitivas podem sofrer influências de diferentes fatores e variáveis.</p><p>Adicionalmente, para os autores, tal aplicação se mostra ainda mais pertinente</p><p>no caso do judô, em função das especificidades dessa modalidade onde o</p><p>tempo de reação com as mãos pode ser um fator crucial para domínio da</p><p>manga do adversário, o que poderia definir inclusive o resultado do combate</p><p>nessa modalidade. Nessa perspectiva, os autores propuseram a realização de</p><p>avaliações semanais que possibilitassem análises sobre possíveis evoluções,</p><p>oscilações ou prejuízos no desempenho cognitivo. No referido estudo de caso,</p><p>atletas da Confederação Brasileira de Judô foram avaliados semanalmente,</p><p>aplicação dos conhecimentos da psicologia no universo esportivo através da</p><p>seleção de pessoas. Mas segundo Carvalho (2012), esse tipo de iniciativa já</p><p>dava sinais de existir há pelo menos uma década no Rio de Janeiro. A autora,</p><p>em pesquisa realizada nos primeiros periódicos brasileiros da Educação</p><p>Física [ 14 ], identifica artigos em todos os referidos documentos tratando de</p><p>fenômenos psicológicos, direcionando-os para uma aplicação da psicologia no</p><p>universo esportivo desde os anos 1940, como pode-se constatar pelos</p><p>seguintes títulos: “Psicologia aplicada à torcida” (1944, Inezil Pena Marinho),</p><p>“Um estudo de Psicologia Social em uma equipe de futebol profissional” (1944,</p><p>Pio Piano Junior) [ 15 ], “O Campo Psicológico da dança” (1946, Maria Helena</p><p>Pabst de Sá Earp), “A investigação psicológica no controle científico das</p><p>atividades desportivas” (1954-1955,Carlos Sanchez de Queiroz),</p><p>“Necessidade de orientação na prática de atividades desportivas” (1962,</p><p>Cecília Torreão Stramandinolli) [ 16 ].</p><p>Assim, a descoberta desses outros personagens nos confirma que a</p><p>história da psicologia no universo desportivo vem sendo escrita por diversas</p><p>mãos, além de João Carvalhaes e antes mesmo dos anos 1950.</p><p>Carlos Sanchez Queiroz por exemplo, em seu artigo “A investigação</p><p>psicológica no controle científico das atividades desportivas” (1954/1955),</p><p>publicado na Revista Arquivos da ENEFD, propõe às entidades desportivas de</p><p>todo o país o controle psicológico de seus atletas através de “psicólogos</p><p>autênticos” para atuar na seleção e orientação dos desportistas através da</p><p>“Psicologia Aplicada”. Queiroz (1954-1955) informa que após consultar</p><p>bibliografia nacional e estrangeira concluiu que os estudos em torno do tema</p><p>se limitavam às condições somáticas apresentadas pelos desportistas antes,</p><p>durante e depois das competições. Para o autor, a estrutura somática é</p><p>condição e não causa do comportamento do atleta.</p><p>Queiroz (1954/1955) baseia seus argumentos nos estudos da Psicologia da</p><p>Gestalt, tanto através do trabalho de Christian Von Ehrenfels (1859-1932)</p><p>quanto de Khölher, para explicar a fragilidade do determinismo causal na</p><p>Psicologia. O referido autor alerta veementemente para que o controle</p><p>científico das atividades desportivas não se limite ao levantamento das</p><p>condições somáticas dos atletas, e que o controle psicológico seja</p><p>recomendado às entidades desportivas com o objetivo de promover e</p><p>selecionar os atletas para a prática desportiva de modo mais eficaz, desde que</p><p>tal controle “[...] seja realizado por especialistas esclarecidos e seguros,</p><p>diplomados por institutos de ensino superior, onde se ministre o ensino</p><p>sistemático da Psicologia científica e, não, por meros ‘amadores’,</p><p>improvisados no manejo das técnicas psicológicas, com total ignorância dos</p><p>fundamentos científicos” (p.114).</p><p>Já se observa aqui uma preocupação com os excessos e equívocos na</p><p>aplicação de testes psicológicos, uma vez que nas primeiras décadas do</p><p>século XX as possibilidades de controle e mensuração que a psicometria</p><p>oferecia favoreceram à chegada dos primeiros testes, entre eles os de</p><p>personalidade, promovem a abertura de um canal de aproximação e inserção</p><p>do saber psicológico com as indústrias, oferecendo os serviços na avaliação</p><p>psicológica. Vale ressaltar que os especialistas citados por Queiroz</p><p>(1954/1955) ainda não eram os psicólogos, mas médicos, considerando a</p><p>inexistência da profissão de psicólogo, para ele, os médicos devido à sua</p><p>extensa formação científica, teriam autoridade e competência incontestáveis.</p><p>[...] dentre os especialistas capazes de investigar o sentido normativo desta síntese</p><p>prospectiva representada pela integração do preparo físico, técnico, tático e psicológico</p><p>dos atletas, antes durante e após as competições, creio não ser injusto nem exagerado ao</p><p>afirmar serem os médicos desportivos os profissionais mais habilitados face a alta e</p><p>extensa formação científica que recebem, o que sem favor lhes dá autoridade e</p><p>competência incontestáveis [...]. (Queiroz, 1963, p.129).</p><p>A regulamentação da Psicologia como profissão ocorre em 1962, logo,</p><p>vários “psicologistas”, como eram chamados os praticantes do fazer psi na</p><p>época, em geral, médicos, educadores e filósofos, se apropriavam do</p><p>conhecimento já legitimado da psicologia como disciplina e ciência e</p><p>exercitavam aplicações nas diversas áreas que vinham se estabelecendo no</p><p>Brasil, sendo que o esporte era mais uma delas.</p><p>Outro exemplo de aplicação do saber psicológico no universo esportivo é a</p><p>iniciativa da professora assistente da cátedra de Psicologia aplicada da</p><p>ENEFD, Stramandinolli (1964) que se propõe a orientar um trabalho de</p><p>investigação sistemática das aptidões e traços psicológicos dos desportistas</p><p>campeões, comparando-os com as qualidades requeridas para as atividades</p><p>desportistas. Tais iniciativas visam a estabelecer o perfil profissional dos</p><p>atletas, mas em uma prática profissional, indicando um movimento de</p><p>ampliação da aplicação da Psicologia ao Esporte. “[...] Assim como a</p><p>Orientação profissional é capaz de indicar o melhor trabalho para cada</p><p>homem, visando o bem-estar individual e social, a orientação desportiva</p><p>indicará o melhor desporto ao desportista” (p. 88).</p><p>Na conclusão de seu artigo, Stramandinolli (1964) ainda apresenta</p><p>princípios gerais da orientação profissional aplicados à orientação desportiva</p><p>diante da iniciação esportiva, no que diz respeito a orientar na escolha do</p><p>desporto e reajustar os já orientados diante das dificuldades. Tais ações</p><p>estariam a serviço dos estudantes e amadores do esporte, das escolas e dos</p><p>clubes desportivos, assim como aos adultos nas horas de lazer e recreação.</p><p>Além disso, os beneficiados por esse tipo de serviço, como indica a autora,</p><p>incluiriam profissionais dos desportos e dirigentes de clubes, que teriam a</p><p>possibilidade de contratar jogadores mais capazes, além dos técnicos</p><p>desportivos. Stramandinolli (1964) já descrevia alguns dos principais campos</p><p>de atuação da Psicologia do esporte, como iniciação esportiva, alto</p><p>rendimento, recreação e lazer, que só serão melhor delimitados a partir dos</p><p>anos 1980.</p><p>Psicologia na atualidade e campos de atuação</p><p>A presença da Psicologia no cenário esportivo, como dito anteriormente,</p><p>possibilita uma interface entre psicologia e educação física, além de outros</p><p>campos de conhecimento dedicados ao esporte e à atividade física. Embora</p><p>essa relação comporte tensões no que tange aos limites e possibilidades de</p><p>atuação entre os profissionais dessas áreas, é possível e necessário um</p><p>trabalho multidisciplinar.</p><p>Tais conflitos já eram sinalizados por Brandão (1995) e Rubio (1999)</p><p>quando apontavam a presença de diversos profissionais como engenheiros,</p><p>médicos, ex-atletas se que tornaram técnicos ou treinadores, sem uma</p><p>preparação acadêmica adequada. Essa realidade retratada nos anos 1990</p><p>ainda se faz presente na atualidade, mas com algumas inovações. Além dessa</p><p>falta de formação acadêmica apropriada e de especializações na área,</p><p>profissionais oriundos de formações distintas vêm surgindo para ‘treinar</p><p>mentalmente’ os atletas – coaches [ 17 ] ou motivadores. Apesar de esse</p><p>assunto ser atual e estar em discussão entre os profissionais da área, o</p><p>mesmo não faz parte do escopo desse capítulo.</p><p>Para Vieira et al. (2010) o papel do psicólogo esportivo distribui-se na</p><p>seguinte classificação, considerando a realidade de outros países além da</p><p>brasileira: ensino – atuando como professor; pesquisa – na função de</p><p>pesquisador; e Intervenção – como consultor. Inclui todas as modalidades</p><p>esportivas, quaisquer tipos de atividade física, sem distinção de gênero ou</p><p>faixa etária, que seja voltado aos praticantes iniciantes e amadores ou aos</p><p>atletas profissionais do alto rendimento.</p><p>As funções de professor e pesquisador se complementam uma vez que</p><p>podem ser funções ocupadas conjuntamente. Como professor, o psicólogo</p><p>dedica-se a lecionar as disciplinas de psicologia aplicada ao esporte tanto nos</p><p>cursos de Educação Física como de Psicologia, em nível de graduação e Pós-</p><p>Graduação nas Instituições</p><p>durante o período de um mês, viabilizando informações sobre variações no</p><p>desempenho cognitivo individual entre as diferentes sessões. Em conclusão, as</p><p>evidências suportaram a utilização do referido teste como estratégia de</p><p>avaliação cognitiva no esporte de alto rendimento, uma vez que demonstrou</p><p>sensibilidade às variações individuais no desempenho cognitivo e também</p><p>obedeceu ao princípio da individualidade biológica, permitindo a distinção dos</p><p>padrões de resposta entre os atletas avaliados. No estudo, os autores</p><p>defenderam a relevância de medidas com TRM como forma alternativa de</p><p>avaliação cognitiva na psicologia do esporte e complementar aos métodos</p><p>tradicionais.</p><p>Em suma, pode-se observar que os protocolos informatizados para medidas</p><p>cognitivas têm realmente servido ao propósito avaliativo no contexto do esporte</p><p>e do exercício. Devemos, contudo, frisar que além das baterias e testes</p><p>supracitados, muitos estudos e aplicações têm sido realizados com versões</p><p>computadorizadas de testes cognitivos clássicos, como o teste de Stroop</p><p>(atenção seletiva e controle inibitório), o teste go/no go e Stop Signal (controle</p><p>inibitório), o Continuous Performance Task (CPT, atenção), tempo de reação</p><p>simples, entre outros (Webbe, 2010). Adicionalmente, tal como mencionado no</p><p>capítulo anterior, testes disponíveis em aplicativos para smartphones também já</p><p>podem ser encontrados no mercado, sendo que muitos possuem propriedades</p><p>validadas e adequam-se muito bem à dinâmica do contexto esportivo.</p><p>Para além dos testes neuropsicológicos e psicofísicos, sistemas rastreadores</p><p>do olhar têm possibilitado estimativas importantes sobre o desempenho</p><p>atencional de atletas em situações específicas da prática esportiva. Tais</p><p>sistemas possibilitam estimativas mais ecológicas sobre a exploração visual do</p><p>atleta no momento em que planeja, executa ou inibe uma ação motora. Tal</p><p>estimativa é viabilizada através de um sistema que faz o registro de imagens</p><p>oculares obtidas de uma de uma microcâmara, situada próxima aos olhos e</p><p>uma outra pequena filmadora, direcionada ao ambiente. Com o software é</p><p>possível monitorar em tempo real a sobreposição das imagens obtidas dessas</p><p>duas fontes de aquisição.</p><p>A atenção visual tem sido considerada como um fator preponderante ao</p><p>desempenho em diferentes modalidades e categorias esportivas, dado que a</p><p>execução de movimentos necessita de uma correta orientação atencional</p><p>(Harle e Vickers, 2001; Rodrigues et al., 2001; Savelsbergh et al., 2002; Miller e</p><p>Clapp, 2011). Em uma revisão recente, verificamos que existe uma certa</p><p>variedade de técnicas e tecnologias para avaliação e treinamento da atenção</p><p>visual (da Silva Júnior et al., 2016), dentre os quais muitas contribuições</p><p>importantes aconteceram com a utilização de sistemas de rastreamento ocular,</p><p>em diferentes circunstâncias e momentos esportivos. Tais aplicações mudaram</p><p>completamente a compreensão sobre como os atletas realizam a exploração</p><p>visual circunstâncias e demandas esportivas, bem como em momentos de alta</p><p>e baixa proficiência (Harle e Vickers, 2001; Rodrigues et al., 2001; Savelsbergh</p><p>et al., 2002; Vickers, 2004). Para estudiosos do comportamento visual nos</p><p>esportes, as principais variáveis capazes de influenciar o desempenho final em</p><p>um lance esportivo são: tremores oculares, a direção e duração da última</p><p>fixação visual, a realização de movimentos com os olhos durante a realização</p><p>do movimento (Vickers e Williams, 2007; Vickers, 2004). Para além da</p><p>avaliação, tais sistemas de rastreamento ocular têm sido utilizados em</p><p>protocolos aplicados ao treinamento atencional, como indicam os trabalhos de</p><p>com atletas de elite no golfe (Vine et al. 2011), com lance livre no basquete</p><p>(Harle e Vickers, 2001), no tênis de mesa (Rodrigues et al., 2001) e com chutes</p><p>a gol no futebol (Wood e Wilson, 2011).</p><p>Avaliação e treinamento psicofisiológico</p><p>Sistemas capazes de registrar a atividade de diferentes tipos de sinais</p><p>fisiológicos têm propiciado importantes evidências acerca das interações entre</p><p>a psiquê humana e o soma. Medidas periféricas, como a variabilidade cardíaca,</p><p>a tensão muscular, a resposta galvânica, a frequência respiratória, têm sido</p><p>utilizadas principalmente para evidenciar alterações na homeostase entre os</p><p>sistemas simpático e parassimpático. As atividades de tais sistemas podem ser</p><p>consideradas como indicadores de reatividade emocional, estresse, ansiedade</p><p>e/ou relaxamento.</p><p>Os indicadores psicofisiológicos também se tornaram estratégias importantes</p><p>para a avaliação de atletas e desportistas (Pagani, Lombardi e Malliani, 1993).</p><p>Dentre as diferentes funções cognitivas avaliadas, as capacidades de</p><p>autorregulação têm sido especialmente considerada no trabalho com atletas</p><p>(Dupee e Werthner, 2011). É possível avaliar as capacidades de autorregulação</p><p>em tempo real através da observação sobre como tais dados se modificam a</p><p>partir de uma linha de base traçada antes de qualquer estratégia</p><p>autorregulatória ou intervenção (Appelhans e Luecken, 2006). A linha de base</p><p>deve ser adquirida através do registro dos sinais com a pessoa em repouso,</p><p>condição que servirá como controle à intervenção ou autorregulação. Após a</p><p>obtenção deste parâmetro, a pessoa pode tentar deliberadamente alterar seus</p><p>estados mentais se estiverem conscientes da sua própria atividade fisiológica.</p><p>Essa prática de autorregulação pode desenvolver habilidades de controle</p><p>emocional e cognitivo através e é conhecida como biofeedback.</p><p>O biofeedback é uma técnica de treinamento baseada na aprendizagem</p><p>operante, onde os sinais fisiológicos, são retroalimentados ao sujeito através de</p><p>uma interface lúdica, permitindo que ele amplie a sua consciência</p><p>psicofisiológica e aprenda a controlar seus estados mentais e sua própria</p><p>fisiologia (Hammond, 2007; Linden e Strack, 2011; van Quekelberghe, 1995).</p><p>Existem muitas evidências de que o treinamento com biofeedback pode ajudar</p><p>a promover a alta performance de atletas (Dupee e Werthner, 2011; Wilson e</p><p>Peper, 2011). Tais benefícios podem ser obtidos em diferentes modalidades</p><p>esportivas (Hammond, 2007) pois, mesmo que cada uma tenha especificidades</p><p>em demandas cognitivas, as diversidades de protocolos de treinamento podem</p><p>permitir ganhos importantes em habilidades específicas e gerais. A melhoria no</p><p>rendimento é atribuída a uma maior capacidade de controle emocional,</p><p>cognitivo e/ou fisiológico.</p><p>Dentre os sinais fisiológicos mais utilizados para avaliação e treinamento</p><p>com biofeedback, destacamos que as medidas da condutividade da pele tem</p><p>sido utilizadas em diversos estudos como indicador adequado para mensuração</p><p>do nível de ativação do sujeito, mediada pelo sistema nervoso simpático (Bauer,</p><p>1998; Bee, André, Prendinger, Nakasone, & Ishizuka, 2006; Bradley, 2009;</p><p>Codispoti, Surcinelli, & Baldaro, 2008; Cuthbert et al., 2000; Gao, Raine,</p><p>Dawson, Venables, & Mednick, 2007; Lang et al., 1998a; Lin et al., 2006;</p><p>Lykken & Venables, 1971; Pastor et al., 2008; Scheirer, Fernandez, Klein, &</p><p>Picard, 2002; Wieser et al., 2009; Wilson & Angela Sasse, 2004). Sua unidade</p><p>de medida usual é micro Siemens (Bauer, 1998), apesar de também ser</p><p>possível utilizar ohm (Lykken & Venables, 1971). Os níveis basais da</p><p>condutividade da pele variam de pessoa para pessoa, momentos do dia,</p><p>ambientes e temperatura. Mesmo com as variáveis ambientais controladas, as</p><p>medidas GSR não se caracterizam como uma constante, tendo em vista as</p><p>modificações de ativação do sistema autonômico, em função de eventos</p><p>externos ou estados internos ao indivíduo (Bradley, 2009)</p><p>As medidas cardiorrespiratórias também têm sido muito utilizadas para</p><p>avaliação da reatividade do sistema nervoso autônomo e como base para</p><p>treinamento com biofeedback. Estudos apontam correlação entre as variáveis</p><p>da variabilidade da freqüência cardíaca e o desempenho cognitivo (Lin et al.,</p><p>2006; Luft et al., 2009; Teixeira, 2008), assim como com o processamento de</p><p>informações emocionais (Appelhans & Luecken, 2006; Bradley, 2009; Christie &</p><p>Friedman, 2004; Codispoti, Bradley, & Lang, 2001; Codispoti et al., 2008;</p><p>Cuthbert</p><p>de Ensino Superior. Como pesquisador, o</p><p>psicólogo realiza pesquisa e estudos referentes à área, considerando a</p><p>interface com outros saberes e a prática da psicologia do esporte. Dentre os</p><p>temas presentes nas pesquisas estão personalidade e esporte, influência da</p><p>torcida, relação técnico – atleta, entre outros.</p><p>Considerando os campos relativos à intervenção, apresentaremos os que</p><p>estão presentes na realidade brasileira, porém sem aprofundamento quanto à</p><p>abrangência de atuação em cada um deles, os quais poderão ser conhecidos</p><p>em outros capítulos desse livro, conforme os relatos de experiência.</p><p>Esporte educativo ou iniciação esportiva: voltado a crianças e</p><p>adolescentes ou adulto iniciante que praticam as atividades físicas e</p><p>esportivas em clubes ou instituições escolares. Tem como objetivo principal</p><p>a formação norteada pelos princípios sócioeducativos. O psicólogo do</p><p>esporte busca compreender e analisar os processos de formação e</p><p>desenvolvimento relativos à educação e socialização a partir da prática</p><p>esportiva. Também pode auxiliar o professor de educação física ou o</p><p>treinador na aplicação de seus métodos educativos e de treinamento</p><p>respeitando as fases do desenvolvimento cognitivo, emocional e</p><p>psicossocial. Um exemplo são as escolinhas de natação ou futebol e o</p><p>esporte escolar.</p><p>Práticas de tempo livre ou lazer: são práticas voluntárias que buscam o</p><p>bem-estar físico e mental. O psicólogo atua nesse contexto analisando o</p><p>comportamento recreativo dos praticantes de diferentes faixas etárias,</p><p>níveis sociais ou atuações profissionais. Importante identificar as atitudes,</p><p>pensamentos ou motivações relacionadas à prática esportiva dos</p><p>praticantes para contribuir com o aumento da qualidade de vida. Exemplos</p><p>dessas atividades: corridas de rua, caminhadas e exercícios funcionais,</p><p>academias, entre outros.</p><p>Alto rendimento: a intervenção psicológica voltada ao alto rendimento visa</p><p>aprimorar ou desenvolver processos psicológicos (percepção, atenção</p><p>concentração), além de outros fenômenos como motivação, liderança,</p><p>coesão grupal, entre outros determinantes para o aumento da performance</p><p>dos atletas ou grupos esportivos em um contexto institucional e formal.</p><p>Nesse campo de atuação encontram-se os atletas profissionais das</p><p>diversas modalidades, integrantes de instituições públicas ou privadas,</p><p>associações ou federações esportivas;</p><p>Reabilitação esportiva: voltado para a prevenção e intervenção aos</p><p>esportistas portadores de alguma lesão decorrente da prática esportiva ou</p><p>que sejam portadores de algum tipo de deficiência física ou mental. A</p><p>atuação do psicólogo pode ocorrer em qualquer nível desde a iniciação ao</p><p>alto rendimento, como junto aos atletas paralímpicos. Para Noce e Melo</p><p>(2017) a reabilitação através da atividade física é um meio favorável e</p><p>eficaz à reinserção social, melhoria de qualidade de vida e lazer.</p><p>Projetos sociais: esse campo de atuação da Psicologia do Esporte tem</p><p>como objetivo promover a inclusão social dos indivíduos em vulnerabilidade</p><p>social e psíquica, através de uma equipe multidisciplinar e do uso de</p><p>ferramentas pedagógicas associadas a práticas esportivas. Carvalho, Seda</p><p>e Santo (2013) ressaltam que a realidade brasileira reúne fatores diversos</p><p>envolvendo discriminação econômica e cultural, política e étnica, além da</p><p>inacessibilidade e falta de equidade social. Os projetos sociais surgem</p><p>como alternativa para minimizar os efeitos desse tipo de violência e</p><p>exclusão social, entre outros.</p><p>Dessa forma, a hipercompetitividade e a pressão pelos resultados não</p><p>são prioridades como no alto rendimento, tampouco a escolha de novos</p><p>talentos. Para Garcia e Zaremba (2017) “focar no jovem esportista e em</p><p>seu desenvolvimento pessoal, reflete antes de tudo uma atitude de cuidado</p><p>[...].” (p.90). Logo, o psicólogo deve considerar os aspectos socioeducativos</p><p>(disciplina, socialização, regras, entre outros) presentes em cada</p><p>modalidade esportiva, com o objetivo de promover uma formação social e</p><p>cidadã aos praticantes.</p><p>Clínica do esporte: esse campo no Brasil tem atuações recentes, mas já</p><p>se apresenta como uma proposta de intervenção eficaz e necessária.</p><p>Embora seja uma atuação clínica pertinente à formação de psicólogo,</p><p>diferencia-se da psicoterapia tradicional por direcionar o foco para a relação</p><p>entre os fenômenos pessoais e as demandas esportivas que os praticantes</p><p>ou atletas experienciam.</p><p>Considerações finais</p><p>Durante o percurso de elaboração deste capítulo, fizemos o caminho de</p><p>surgimento das primeiras inserções da psicologia no universo esportivo e da</p><p>atividade física, afim de ilustrar o processo de constituição da Psicologia do</p><p>Esporte no Brasil que, conforme Carvalho (2012), caracteriza-se em duas</p><p>fases: a primeira, denominada de psicologia complementar (1930-1940),</p><p>caracteriza-se pela inserção da psicologia como disciplina nos cursos de</p><p>educação física, através de outros profissionais, como médicos, filósofos,</p><p>militares, interessados em conhecer melhor os fenômenos humanos diante da</p><p>prática de atividade física e dos esportes.</p><p>Tal inserção resultou nas primeiras iniciativas de aplicação da psicologia no</p><p>cenário esportivo do alto rendimento e em várias publicações em periódicos da</p><p>época; a segunda fase, prática psicológica (1950-1960) configura-se pelas</p><p>aproximações possíveis entre esses dois campos de conhecimento Psicologia</p><p>e Educação Física, ilustrando aplicações da psicologia no cenário esportivo</p><p>que só se tornam conhecidas socialmente a partir da segunda metade desse</p><p>mesmo século, com a atuação de João Carvalhaes na seleção brasileira de</p><p>futebol, em 1958.</p><p>Sem dúvida, esse percurso revela a construção de um campo de</p><p>conhecimento que, aos poucos, foi ganhando consistência teórica e</p><p>metodológica, ampliando seus focos de atuação a ponto de ser reconhecida</p><p>como uma área de atuação e especialidade na psicologia, como a</p><p>conhecemos hoje. O psicólogo do esporte, portanto, dedica-se a cuidar da</p><p>pessoa que pratica atividade física, em todas as faixas etárias, nas diversas</p><p>modalidades esportivas, desde à iniciação esportiva ao esporte profissional de</p><p>alto rendimento, incluindo a reabilitação, práticas em tempo livre ou lazer,</p><p>projetos sociais e a clínica do esporte.</p><p>Contudo, além dos conhecimentos que envolvem as modalidades</p><p>esportivas, da formação em Psicologia, vale ressaltar que para utilizar as</p><p>técnicas e os pressupostos da Psicologia no esporte, o profissional psicólogo</p><p>deverá conhecer mais sobre outras ciências esportivas, como: fisiologia do</p><p>exercício, biomecânica, periodização de treinamentos, entre outros. Faz-se</p><p>necessário atentar aos limites pessoais e à faixa etária dos atletas ou</p><p>praticantes esportivos, exercendo uma atuação ética e multidisciplinar, sem</p><p>deixar de considerar os elementos econômicos, políticos e socioculturais</p><p>também presentes nesse cenário que permeiam a atuação do psicólogo do</p><p>esporte.</p><p>Exercite-se e atualize-se!</p><p>1. Descreva como a psicologia do esporte desponta no cenário mundial.</p><p>2. A história da psicologia do esporte no Brasil no século XX se inclui na</p><p>história da psicologia brasileira. Quais fatos podem ilustrar isso?</p><p>3. João Carvalhaes é considerado um personagem fundamental na história da</p><p>psicologia do esporte brasileira. Identifique outros nomes que também</p><p>contribuíram para construção dessa área.</p><p>4. O que faz da psicologia do esporte uma especialidade da psicologia?</p><p>5. Quais os campos de atuação são possíveis ao psicólogo do esporte?</p><p>Referências bibliográficas</p><p>Achcar, R. (Org.). (1994). Psicólogo Brasileiro: práticas emergentes e desafios para a</p><p>formação. São Paulo: Casa do Psicólogo/Conselho Federal de Psicologia.</p><p>Barreto, J. A. (2003). Psicologia do esporte para o atleta de alto rendimento. Rio de Janeiro:</p><p>Shape.</p><p>Brandão, M. R. (1995). Psicologia do esporte. In: A. Ferreira Neto, S. V. Goellner, & V. Bracht</p><p>(Orgs.). As ciências do esporte no Brasil. Campinas: Autores Associados.</p><p>Capraro, A. M. (2009). A breve história Social do Esporte: dialogando com Norbert Elias e Eric</p><p>Hobsbawn. In G. Gaetner (Org.). Psicologia e ciências do esporte</p><p>(pp. 15-25). Curitiba:</p><p>Juruá.</p><p>Carvalho, C. A. (2012). Para além do tempo regulamentar: uma narrativa sobre a história da</p><p>psicologia do esporte no Brasil. Tese de doutorado não publicada, Universidade do Estado</p><p>do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.</p><p>Carvalho, C. A., & Jaco-Vilela, A. M. (2009). Psicologia do esporte no Brasil em dois tempos:</p><p>uma história contada e uma história a ser contada. In Associação Brasileira de Psicologia</p><p>Social (Org.), Anais da XV Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social</p><p>(pp. 1-7). Alagoas: Faculdade Integrada Tiradentes. Recuperado de</p><p>http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/206.%20psicologia%</p><p>20do%20esporte%20no%20brasil%20em%20dois%20tempos.pdf.</p><p>Carvalho, C. A., Seda, D. M., & Espírito Santo, A. A. (2013). Garimpando talentos no futebol:</p><p>uma pratica de inclusão ou exclusão social? In I. S. Carvalho, & R.F. Ferreira, (Orgs.).</p><p>Processos de exclusão na sociedade contemporânea (p. 233-258). São Luís: Edufma.</p><p>Conselho Federal de Psicologia [CFP]. (2012). Práticas emergentes e inovadoras de</p><p>psicólogos (as ) no campo das políticas públicas de centros de atenção psicossocial: álcool</p><p>e drogas. Brasília: CFP. Recuperado de: https://site.cfp.org.br/wp-</p><p>content/uploads/2012/03/praticasinovadoras_xlcool_e_drogas.pdf.</p><p>Conselho Federal de Psicologia [CFP]. (2016). CFP e Apaf divulgam nota de esclarecimento</p><p>sobre a Psicologia do Esporte e coaching. Recuperado de: http://site.cfp.org.br/cfp-e-apaf-</p><p>divulgam-nota-de-esclarecimento-sobre-a-psicologia-do-esporte-coaching-e-sistema-</p><p>conselhos/.</p><p>Conselho Federal de Psicologia [CFP]. (2017). Título de especialista. Recuperado de:</p><p>http://site.cfp.org.br/servicos/titulo-de-especialista/</p><p>Conselho Federal de Psicologia [CFP]. Resolução n. 13, de 13 de fevereiro de 2007. Institui a</p><p>Consolidação das Resoluções do Conselho Federal de Psicologia. Recuperado de</p><p>https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2007/02/resolucao2007_3.pdf.</p><p>Conselho Federal de Psicologia [CFP]. Resolução n. 14, de 20 de dezembro de 2000. Institui o</p><p>título profissional de Especialista em Psicologia e dispõe sobre normas e procedimentos</p><p>http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/206.%20psicologia%20do%20esporte%20no%20brasil%20em%20dois%20tempos.pdf</p><p>https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/03/praticasinovadoras_xlcool_e_drogas.pdf</p><p>http://site.cfp.org.br/cfp-e-apaf-divulgam-nota-de-esclarecimento-sobre-a-psicologia-do-esporte-coaching-e-sistema-conselhos/</p><p>http://site.cfp.org.br/servicos/titulo-de-especialista/</p><p>https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2007/02/resolucao2007_3.pdf</p><p>para seu registro. Recuperado de http://site.cfp.org.br/wp-</p><p>content/uploads/2000/12/resolucao2000_14.pdf.</p><p>Costa, A. M. (1950). Psicologia e o ensino da educação física infantil. Revista de Educação</p><p>Física, 18(64), p. 5-8.</p><p>Degani-Carneiro, F. (2014). 27 de agosto: o processo de regulamentação da profissão de</p><p>psicólogo no Brasil. Recuperado de https://ripehp.com/2014/08/27/27-de-agosto-o-processo-</p><p>de-regulamentacao-da-profissao-de-psicologo-no-brasil/.</p><p>Elias, N., & Dunning, E. (1990). A busca da excitação. Lisboa: Difel.</p><p>Garcia, R. P., & Zaremba, R. (2017). Esporte e cuidado: a prática esportiva como ferramenta</p><p>de formação pessoal e transformação social. In C. Medeiros, & A. Lacerda (Orgs.).</p><p>Psicologia e esporte na atualidade: reflexões necessárias (pp. 87-104). São Paulo:</p><p>Psavento.</p><p>Green, C. D. (2003). Psychology strikes out: Coleman R. Griffith and the Chicago Cubs.</p><p>History of Psychology, 6(3), p. 267-283.</p><p>Hobsbawn, E. J. (1990). Nações e nacionalismo desde 1870. Rio de Janeiro: Paz e Terra.</p><p>Jacó-Vilela, A. M. (2001). Concepções de pessoa e a emergência do indivíduo moderno.</p><p>Revista Interações, 6(12), p. 11-39.</p><p>Lei n. 4.119, de 27 de agosto de 1962 (1962). Dispõe sôbre os cursos de formação em</p><p>psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo. Brasília. 1962. Recuperado de</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4119.htm.</p><p>Lenharo, A. (1986). Sacralização da política. Campinas: Papirus.</p><p>Massimi, M. (2006). O processo de institucionalização do saber psicológico no Brasil do século</p><p>XIX. In A. M. Jacó-Vilela, A.A. L. Ferreira, & F. T. Portugal. (Orgs.). História da psicologia:</p><p>rumos e percursos (p. 159-168). Rio de Janeiro: Nau.</p><p>Noce, F., & Melo, C. C. (2017). Desafios da Psicolgoia esportiva no esporte adaptado. In C.</p><p>Medeiros, & A. Lacerda (Orgs.). Psicologia e esporte na atualidade: reflexões necessárias.</p><p>São Paulo: Psavento.</p><p>Queiroz, C. S. (1954/1955). A investigação psicológica no controle científico das atividades</p><p>desportivas. Arquivos da Escola Nacional de Educação Física e Desportos, 8(8), p. 107-114.</p><p>Riordan, J. (2009). Pyotr Fanzevich Lesgaft (1837-1909): the founder of Russian physical</p><p>education. Moscow: University of Idaho/Center for Ethics. Recuperado de</p><p>http://www.educ.uidaho.edu/center_for_ethics/Center%20Staff/Dr.%20P/PSlesgaft.htm.</p><p>Rodrigues, M. C. P. (2006). Psicologia do esporte: discussões sobre o cenário brasileiro. Tese</p><p>de doutorado não publicada, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.</p><p>Rodrigues, M. C. P., & Azzi, R. G. (Orgs.). (2007). Psicologia do esporte: trilhando caminhos</p><p>em busca de iniciação na área. Baueri: Livraria Universitária.</p><p>Rubio, K. (1999). A psicologia do esporte: histórico e áreas de atuação e pesquisa. Psicologia:</p><p>Ciência e Profissão, 19(3), p. 60-69. doi: 10.1590/S1414-98931999000300007.</p><p>Rubio, K. (2003). Psicologia do esporte: teoria e prática. São Paulo: Casa do Psicólogo.</p><p>Rubio, K. (2004). Heróis olímpicos brasileiros. São Paulo: Zouk.</p><p>Rubio, K. (Org.). (2000). Psicologia do esporte: interfaces, pesquisa e intervenção. São Paulo:</p><p>Casa do Psicólogo.</p><p>Samulski, D. (2002). Psicologia do esporte. Barueri: Manole.</p><p>Skidmore, T. (2007). Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco 1930-1964. Rio de Janeiro:</p><p>Paz e Terra.</p><p>Stramandinolli, C. T. (1964). Contribuição da psicologia à orientação desportiva. Arquivos da</p><p>Escola Nacional de Educação Física e Desportos, 20(19), p. 31-48.</p><p>Vieira, L. F., Vissoci, J. R. N., Oliveira, L. P., & Vieira, J. L. L. (2010). Psicologia do esporte:</p><p>uma área emergente da psicologia. Psicologia em Estudo, 15(2), p. 391-399. doi:</p><p>10.1590/S1413-73722010000200018.</p><p>Waeny, M. F. C., & Azevedo, M. L. B. (2003). João Carvalhaes: pioneiro da Psicologia do</p><p>Esporte. Recuperado de:</p><p>http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2000/12/resolucao2000_14.pdf</p><p>https://ripehp.com/2014/08/27/27-de-agosto-o-processo-de-regulamentacao-da-profissao-de-psicologo-no-brasil/</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4119.htm</p><p>www.crpsp.org.br/crp/memoria/pioneiros/carvalhaes/fr_carvalhaes_artigo.aspx.</p><p>Weinberg, R. A., & Gould, D. (2008). Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 4ª</p><p>ed. Porto Alegre: Artmed.</p><p>http://www.crpsp.org.br/crp/memoria/pioneiros/carvalhaes/fr_carvalhaes_artigo.aspx</p><p>CAPÍTULO 2</p><p>Perspectivas históricas e sociais</p><p>Adriana Bernardes Pereira</p><p>Pretendemos, neste texto, apresentar o que fundamenta as perspectivas</p><p>históricas e sociais da psicologia com seus métodos dialéticos e dialógicos,</p><p>explicitando a noção de conhecimento que as embasa. Para a psicologia</p><p>social, a noção de conhecimento é determinante de toda a sua existência,</p><p>porque define como iremos entendê-la e com ela irá trabalhar. Falamos</p><p>também de psicologia e de esporte, especificamente de sujeitos que nascem,</p><p>crescem e envelhecem sofrendo as influências do contexto do esportivo.</p><p>Assim sendo, desejamos pensar o evento esportivo a partir de tais bases</p><p>epistemológicas, isto é, a condição pós-moderna e, ao mesmo tempo,</p><p>perguntando: o que é pós-moderno nesta reflexão sobre o esporte? Como</p><p>pensar a psicologia do esporte no contexto atual sob a batuta da construção</p><p>sócio cultural e histórica dos sentidos de ser humano e atleta</p><p>simultaneamente?</p><p>A psicologia do esporte surgiu há várias décadas como uma especialidade</p><p>da psicologia geral e se desenvolveu conjuntamente com outros saberes</p><p>disciplinares como especificidade de uma área maior, constituindo as</p><p>chamadas ciências do esporte. Essas subáreas são compostas por múltiplas</p><p>disciplinas que procuram legitimar-se a partir de sua base epistemológica e se</p><p>consolidar como fonte de expressão de um conhecimento novo. Entre elas</p><p>estão sociologia, psicologia, antropologia, filosofia, medicina, fisioterapia,</p><p>nutrição e fisiologia. Esses saberes, com seus graus de especialização,</p><p>definidos pela demanda do contexto esportivo de competição, apresentam a</p><p>necessidade, nem sempre visível em sua prática, de troca entre eles tendo</p><p>como base um objetivo comum. Entretanto, ocorre que tornar comum um</p><p>objetivo, focado na figura do atleta, se torna uma missão um tanto quanto</p><p>difícil quando variados saberes apresentam diferenças da ordem da episteme</p><p>e da ontologia.</p><p>As ciências do esporte, incluindo a psicologia do esporte, focam seus</p><p>trabalhos na adaptação do atleta de modo a potencializar seu desempenho,</p><p>não visando problematizar o sistema que o construiu e que dele é dependente.</p><p>O que acaba por sobressair é a prática do saber que melhor se adequar ao</p><p>sistema econômico e político vigente em uma sociedade, somada aos avanços</p><p>técnico-científicos que cada área conquista e que aumentam o poderio</p><p>legitimador de sua importância frente a outra área. Além disso, há a utilização</p><p>de aparatos e inscrições (Latour, 2000), que demonstram concretamente a</p><p>existência de muito avanço no que é mensurável em detrimento de processos</p><p>formativos e emancipatórios.</p><p>Weinberg e Gould (2001) definem a psicologia do esporte como um estudo</p><p>científico de pessoas e seus comportamentos durante atividades esportivas e</p><p>físicas e a aplicação prática desse conhecimento. Essa definição é</p><p>considerada clássica e descreve uma prática psicológica tradicional pautada</p><p>em: definir características de personalidade do atleta e associá-las a formas</p><p>de conduta e treinamento específicas; gerar inventários e testes para medição</p><p>e detecção de habilidades e aptidão do atleta; criar técnicas que favoreçam a</p><p>regulação e o alto rendimento do atleta; detectar formas de equipar o atleta</p><p>com diferenciais de controle psicofisiológico (Samulski, 2002). Dessa forma,</p><p>busca tratá-lo como peça fundamental da engrenagem de um sistema que</p><p>precisa estar “azeitado” para funcionar bem.</p><p>Tendo como objetivo conseguir o máximo do atleta nas competições, muitas</p><p>vezes a rede social que o cerca age de modo a fazer parecer que os fins</p><p>justificam os meios, o que pode tornar seu caminho de formação um longo e</p><p>penoso exercício de bravura e superação. Nesse percurso, a psicologia do</p><p>esporte e as demais ciências do esporte exercitam seus saberes diante do</p><p>atleta e, em conjunto com ele, visam tirar proveito das possibilidades que sua</p><p>excelência e, por conseguinte, seu sucesso, podem garantir para todos os</p><p>elementos de sua rede. Cabe perguntar se esse indivíduo também deveria ser</p><p>visto e tratado como sujeito que exerce, dentro ou fora da condição de atleta,</p><p>outros tipos sociais que requeiram delem mais que a passividade imposta</p><p>pelos saberes que dele trata quando do exercício de sua profissão. Em</p><p>consequência, estando dentro ou fora da categoria de atleta, ele não deveria</p><p>ter também o conhecimento e a operância sobre o sistema ao qual ele dá</p><p>origem e que não existiria sem a sua participação?</p><p>Como fenômeno social de massa, veículo de grandes somas de dinheiro,</p><p>status de espetáculo e efeito de idealização de heróis, o esporte vem</p><p>adquirindo cada vez maior importância no mundo globalizado. Em decorrência</p><p>dessa importância, a psicologia do esporte tem sido solicitada a comparecer</p><p>com seu saber/saberes, bem como a participar e a intervir nessa rede social.</p><p>Por isso, tem experimentado grande desenvolvimento no campo da</p><p>intervenção e da produção de conhecimento, fruto de esforços crescentes na</p><p>formação do psicólogo do esporte e de tudo o que ele produz nesse âmbito.</p><p>O paradigma positivista e o pragmatismo presentes no contexto esportivo</p><p>da educação física marcaram e definiram um caminho para a psicologia do</p><p>esporte. Atualmente, essa forma de atuar vem se modificando no sentido de</p><p>expandir, a exemplo da própria sociedade. Primar pelo rendimento passou a</p><p>ser apenas uma das formas de considerar o atleta ou o praticante de</p><p>exercícios. Torna-se fundamental pensá-lo sob variados ângulos de caráter</p><p>social: em seu aspecto formativo/emancipatório e não somente adaptativo; em</p><p>sua qualidade de vida; na iniciação esportiva com função socializadora e</p><p>educativa; nos projetos sociais que melhoram a condição de vida e integram</p><p>indivíduo e sociedade; nos sujeitos que necessitam de acompanhamento de</p><p>exercícios em função de uma atividade esportiva reabilitadora; até mesmo no</p><p>atleta de alto rendimento, como profissional e ídolo que um dia, ainda bastante</p><p>jovem, terá de se desligar da condição de atleta e estar preparado para outras</p><p>atividades.</p><p>Técnicas psicológicas são muito úteis para ajudar o atleta a melhorar suas</p><p>capacidades em amplos sentidos, embora a utilização do conhecimento</p><p>acerca da formação humana, por meio de projetos educacionais que envolvam</p><p>o esporte como instrumento de desenvolvimento psíquico e de cidadania,</p><p>possam levá-lo muito mais longe. Sabemos que nem todos os jovens serão</p><p>fenômenos, craques ou heróis, pois estas posições de destaque envolvem</p><p>fatores que vão além de boa técnica. Portanto, é imprescindível incentivar o</p><p>desenvolvimento da capacidade de fazer escolhas criteriosas, ser</p><p>responsável, ético e, talvez, até campeão em alguma modalidade. O contrário</p><p>leva à exclusão prematura e a uma forma de competição na qual os fins</p><p>justificam os meios.</p><p>A psicologia do esporte, dentro desse contexto, iniciou seus estudos a partir</p><p>dos conhecimentos já existentes sobre condicionamentos (reflexos e</p><p>operantes) e todo aparato de uso a contingência tríplice; posteriormente,</p><p>atuando em temas como motivação, nível de ativação, liderança, coesão</p><p>grupal, treinamento mental e controle emocional, foram ganhando espaço na</p><p>mente de pesquisadores curiosos que buscavam alternativas aos inventários,</p><p>testes e treinos da ordem do psicofisiológico. A quantidade e a qualidade dos</p><p>estudos na área dos esportes cresceram vertiginosamente nas últimas</p><p>décadas, acompanhando o crescimento e a espetacularização do esporte e</p><p>sua transformação em fenômeno de massa. Esses últimos com análise que</p><p>incluem outros referenciais teóricos da psicologia. O diferencial para a vitória,</p><p>procurado pelos campeões olímpicos e mundiais, que podiam ser treinados</p><p>psicologicamente, passou a ter um grande valor dentro do contexto esportivo.</p><p>O reconhecimento do aspecto emocional treinável e sua efetiva influência</p><p>sobre os resultados das competições abriram as portas para o campo da</p><p>psicologia do esporte (Pereira, 2015)</p><p>Com o passar dos anos, têm surgido cada vez mais questões sobre como</p><p>criar elementos técnicos para atingir maior controle emocional que leve a</p><p>maior rendimento. No entanto, o resultado do saber psicológico, somado aos</p><p>outros tantos saberes pertencentes às ciências do esporte, bem como suas</p><p>disputas para atender a cada demanda individual, geram pressão sobre os</p><p>esportistas e levam a questionamentos acerca do que esta conduta realmente</p><p>produz no sujeito e no sistema social. Do ponto de vista da psicologia social do</p><p>esporte, essas práticas têm como maior contribuição reafirmar uma ação</p><p>adaptativa à tarefa e pouca ou quase nenhuma função</p><p>formadora/emancipatória.</p><p>A psicologia do esporte tem como meio e fim o estudo e a intervenção no</p><p>ser humano envolvido com a prática de atividade física e esportiva competitiva</p><p>e não-competitiva. Esses estudos podem abarcar os processos de avaliação,</p><p>as práticas de intervenção ou a análise do comportamento social, esta última</p><p>se apresentando na situação esportiva a partir da perspectiva de quem pratica</p><p>ou assiste ao espetáculo (Rúbio, 2004). A psicologia do esporte é a</p><p>transposição da teoria e da técnica das várias especialidades e correntes de</p><p>pensamento da psicologia para o contexto esportivo, no que se refere à</p><p>aplicação de avaliações para a construção de perfis ou ao uso de técnicas de</p><p>intervenção</p><p>para a maximização do rendimento esportivo (Rúbio, 2000; 2004).</p><p>A psicologia social aplicada ao esporte, como utilizada nessa reflexão, tem</p><p>por objetivo demonstrar como foi possível ampliar seus horizontes ao longo</p><p>dessas últimas décadas, dividindo espaço em territórios antes identificados</p><p>como exclusivos do psicólogo do esporte. É consenso que, no contexto</p><p>esportivo, principalmente o de alto rendimento, o trabalho interdisciplinar se</p><p>faz necessário (Rúbio, 2000); nesse caso, o intradisciplinar também. Porém,</p><p>pela falta de clareza e de conhecimento dos limites e especificações de cada</p><p>uma das áreas, aquelas que trabalham aspectos não diretamente observáveis</p><p>e/ou mais críticos do papel do atleta diante da sociedade têm sua prática</p><p>colocada em segundo plano, uma vez que esta não se enquadra diretamente</p><p>no modelo de busca do alto rendimento. A psicologia social do esporte sofre</p><p>desse “preconceito” e precisa ser mais bem apresentada em seus</p><p>fundamentos como teoria e prática.</p><p>Apresentá-la requer explicitar a importância do contexto sócio e histórico na</p><p>qual está inserida sua racionalidade. Além da postura tanto dialética quanto</p><p>dialógica para a compreensão das características da sociedade</p><p>contemporânea, tais como os períodos da sociedade moderna e pós-moderna;</p><p>para explicitar o que é pós-modernidade, fica evidente ser necessário,</p><p>primeiramente, definir o que é modernidade, ou seja, estabelecer o seu</p><p>referencial para a partir dele entender as perspectivas históricas e sociais com</p><p>seus métodos dialéticos e dialógicos que estão localizadas nesses espaços e</p><p>tempos sociais. Faz-se aqui o uso da história para exemplificar sua</p><p>importância enquanto partícipe da psicologia social do esporte como</p><p>proposição.</p><p>A modernidade, delimitada temporalmente, está situada no período entre os</p><p>séculos XVII e XX. Uma de suas principais características foi o surgimento da</p><p>ciência moderna, com o estabelecimento das primeiras correlações</p><p>matemáticas entre os fenômenos naturais (Foucault, 1981; Rouanet, 1998).</p><p>A partir daí a filosofia passou a fazer um contraponto à ciência, buscando</p><p>fundamentos sólidos/concretos para o conhecimento. Dois caminhos se</p><p>apresentavam como possíveis: o racionalismo, que começou com René</p><p>Descartes (1596-1650), e o empirismo, que teve início com John Locke (1632-</p><p>1704). O ponto crucial para qualquer desses caminhos era a tentativa de</p><p>estabelecer uma base segura para o conhecimento.</p><p>Naquele longo período houve grande desenvolvimento das ciências</p><p>naturais e a física, a química e a biologia, entre outros saberes, deram sua</p><p>contribuição nas formas de compreensão da eletricidade e difusão de seu uso,</p><p>produção de vacinas, desenvolvimento do telefone, aprimoramento dos meios</p><p>de transporte e tantos outros avanços. Em suma, as pessoas achavam que</p><p>aquele período, repleto de descobertas, traria um futuro promissor e estavam</p><p>todas diante de uma situação paradisíaca. Finalmente a ciência produzia</p><p>grandes benefícios para a humanidade! Então, viriam pela frente a alegria, a</p><p>satisfação, a ordem e o progresso, pois a ciência iluminaria os caminhos e</p><p>levaria o homem ao auge da satisfação. Razão e método científico passaram a</p><p>ser as únicas fontes de conhecimento válidas. Tudo que parecia dogma,</p><p>interpretação ou fantasia não tinha mais espaço. Universalidade,</p><p>individualidade e autonomia eram os parâmetros a ser alcançados e colocados</p><p>a serviço das forças produtivas.</p><p>O período que se estendeu do final do século XIX até o início do século XX,</p><p>entre os anos de 1870 e 1900, foi pautado por otimismo, esperança e crença</p><p>nas ciências naturais. Ainda nesse período, deu-se o surgimento das ciências</p><p>humanas, uma vez que foi percebida a necessidade de incluir nos estudos</p><p>científicos aspectos subjetivos das pessoas; entretanto, o modelo de ciência</p><p>que vigorava e devia ser seguido era pautado pelos métodos das ciências</p><p>naturais. Sendo assim, em 1879 surgiu a psicologia, com Wilhelm Wundt, e o</p><p>primeiro laboratório de psicofísica, tornando esta nova ciência passível de ser</p><p>estudada nos moldes das ciências naturais. Mesmo antes disso, existiram as</p><p>famosas leis de associação formuladas por David Hume (1711-1776), que</p><p>tomava como modelo a física de Isaac Newton (1643-1727) já como uma</p><p>tentativa de seguir os caminhos das ciências naturais.</p><p>A própria psicanálise de Sigmund Freud (1856-1939), a seguir, foi pensada</p><p>como um tipo de desdobramento da neurologia; o condicionamento clássico</p><p>de Ivan Pavlov (1849-1936) e a Gestalt ou Psicologia das formas e das</p><p>estruturas de Wolfgang Köhler (1887-1967) foram elaboradas por intermédio</p><p>de experimentos de laboratório; e o behaviorismo, a princípio com John</p><p>Watson (1878-1958) e, em suas versões seguintes, com Fred Simmons Keller</p><p>(1899-1996) e Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), encontrou nas ciências</p><p>naturais o seu maior ponto de referência. As ciências, tal como são</p><p>conhecidas hoje, inclusive as ciências humanas, são filhas da modernidade.</p><p>Pode-se dizer que a modernidade é caracterizada por um período de</p><p>delimitações entre verdadeiro/falso, certo/errado, moral/imoral, luz/sombra, as</p><p>quais funcionavam como parâmetros da verdade, responsáveis por um</p><p>movimento em que uma ideia sai de si própria como tese para ser outra coisa</p><p>como antítese e depois regressa à sua identidade, se tornando mais concreta.</p><p>Entendida tanto como método quanto filosofia.</p><p>Discussões teóricas e metodológicas caracterizam as diferentes</p><p>abordagens da psicologia e, por conseguinte, da psicologia do esporte; estas</p><p>se estabeleceram, e tem se mantido, como áreas plurais que não dispõem de</p><p>elementos para a definição de uma área específica como a melhor. É</p><p>interessante citar que nem na matemática, ciência considerada mãe, existe</p><p>consenso quanto às suas teorias. Gomes (2007) nos diz: “A filosofia que se</p><p>escolhe depende do homem que se é”. Dessa forma, escolhe-se, utiliza-se e</p><p>acrescenta-se aos saberes existentes um pouco de cada um que por eles</p><p>passa, de suas crenças e da forma como avança teórica e</p><p>metodologicamente.</p><p>Chegar até aqui para introduzir o que é pós-modernidade nos auxilia a</p><p>contextualizar a origem do termo que, enquanto expressão da filosofia,</p><p>começou a se caracterizar no começo do século XX, com o trabalho de</p><p>Ferdinand de Saussure (1857-1913), intitulado Curso de lingüística geral,</p><p>originalmente publicado em 1916 (Saussure, 1995). O autor introduziu</p><p>precisamente a noção de que a linguagem é uma estrutura dentro da qual</p><p>existem importantes diferenças. Essa estrutura simbólica faz com que cada</p><p>língua seja diferente de outra ou que haja diferentes sentidos na mesma</p><p>língua, dependendo do contexto e, para isso, é necessário que ela tenha uma</p><p>lógica interna pautada em sua estrutura e função. Posteriormente, o</p><p>antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009) retomou, em 1958, em sua obra</p><p>Antropologia estruturalista, a ideia de estrutura na acepção de que as culturas</p><p>podem ser compreendidas como um sistema de relações fechadas,</p><p>organizado e com regras próprias (Lévi-Strauss, 1989). A esse método de</p><p>análise a antropologia chamou de estruturalismo.</p><p>A chamada filosofia pós-moderna tomou esse método a partir de releituras</p><p>do estruturalismo feitas pelos então denominados pós-estruturalistas. Foucault</p><p>(1981, 1986, 1987, 1994, 1995) é, provavelmente, o nome mais importante</p><p>dessa fase e outros, como Deleuze (1974, 1985), Deleuze e Guattari (1995),</p><p>Lyotard (1989) e Rorty (1988, 2000), seguiram desenvolvendo seus temas a</p><p>partir dessa perspectiva. Gostaríamos de deixar claro que são vários os</p><p>elementos que se encontram na base da pós-modernidade e que o</p><p>estruturalismo, bem como as leituras dos pós-estruturalistas, são apenas</p><p>alguns deles.</p><p>Pensando no que é pós-moderno, observamos que é uma característica</p><p>comum entre os autores desta corrente (diferentemente do movimento dos</p><p>autores na modernidade – época de traçar fronteiras, traçar linhas entre</p><p>antinomias) apagar linhas, destruir fronteiras, mostrar a fluidez presente na</p><p>contemporaneidade, enfim, desconstruir para entender. Um ponto importante</p><p>para eles é que, ao estudar a sociedade</p>
- física para engenharia
- Avaliação 1 - Arquitetura de Software
- A partir do contexto apresentado, elabore um texto de 15 a 20 linhas sobre o crescimento da Pedagogia Empresarial e como ela ofere
- 1- Contexto Histórico descreva brevemente a origem da Companhia de Jesus (Jesuítas) e o objetivo da sua fundação
- Com base na reflexão proposta por Circe Bittencourt (2004) sobre a disciplina de História, discuta a importância de compreender a históri
- aula-IFC-SUP-CCO-ArqComp-09-ISA-RECURSOS-NOTAS-AULA
- aula-IFC-SUP-CCO-ArqComp-09-ISA-Desvios-e-TomadasDecisao-e-Lacos-NOTAS-AULA
- aula-IFC-SUP-CCO-ArqComp-09-ISA-Procedimentos-NOTAS-AULA
- aula-IFC-SUP-CCO-ArqComp-08-conjunto-instrucoes-INTRO-NOTAS-AULA
- 270_Informática_Aplicada_Tema_1
- praticas pedagogicas 2
- UNIASSELVI Arquitetura de Computadores (INF14) Avaliacao Final Objetiva
- O tempo necessário para a buscar e execução de uma simples instrução de máquina é?
- Big data é um conceito melhor definido como: Produção, armazenamento, tratamento e exibição de grandes volumes de informação, de fontes diferente...
- Há certas coisas que não podem ser escondidas. Conforme citação de Arantes (2016), "o que mata é a doença, e não a verdade dobre a doença". Certame...
- Escolha uma opção: a. Relacionados com a ingestão de água contaminada por agentes biológicos; e Resultados de contato com a pele. b. Relacionados c...
- O que é um repositório de código binário?
- A conceitualização (também denominada conceituação) de caso é: A aplicação de testes psicológicos durante o processo de avaliação inicial. Um pr...
- 2 De acordo com Marques (2020), "a Pedagogia de Projetos, [...], é uma mudança de pensamento referente a escola e o modo de ensinar, possibilitando...
- segundo a proposta de Keynes, porque e como o estado deve intervir com a politica macroeconomica?
- Das letras a seguir, quais possuem a mesma configuração das mãos? O a. F e T. O b.A e s. O c.UeV. O d. G e Q O e. M e N. PERGUNTA 8 Observe os sina...
- Leia o trecho a seguir:"O anúncio típico da Vodka Absolut mostra a inconfundível garrafa acima de um título de duas palavras que começa com a ...
- Sobre o PSUR, assinale a INCORRETA:Resposta:d- Permite a elaboração de resumos cumulativos, a observação de outras informações relevantes, a e...
- Segundo o texto, a Sociologia, a partir do século XIX, passou a influenciar a educação com base em quais princípios? Normas administrativas e buro...
- A criatividade é uma habilidade valorizada nas equipes, principalmente porque facilita o quê? Questão 2Resposta A. Aumentar a produção em massa. ...
- MATERIA EDUCAÇÃO FÍSICA
- ATPC - 09 -06
Conteúdos escolhidos para você
Grátis
ESTÁCIO
Grátis
UVA
UNIASSELVI
ESTÁCIO
UNICESUMAR EAD
Perguntas dessa disciplina
Grátis
UNISABER/AD1
Grátis